Contos de uma Viajante do Tempo Vol 1 - James Dean escrita por Sofia Casanova


Capítulo 1
Capítulo 1




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Charlottesville - 2017            

 

Olívia estava organizando a última estante de livros daquela tarde. Ela ainda tinha que limpar a sala infantil antes de ir embora. Junho era o mês das férias de verão e os estudantes sumiam do mapa por meses e a biblioteca ficava mais limpa, mais organizada. Como ela amava as férias escolares.

— Ted, terminei de organizar a última prateleira, vou pra sala das crianças agora. Precisa de mim? - perguntou Olívia.

— Não, estou revisando algumas revistas antigas para descartá-las. Quando terminar, você pode ir.

— O senhor vai jogar estas revistas fora?

— Sim. Você as quer?

— Eu queria, sim.

— Por mim, tudo bem. Tenho pena de jogá-las fora. Quando você for embora, pegue-as no balcão.

Após limpar a sala das crianças e separar o lápis de cor dos de cera, tirou o lixo do local e os levou para fora. Eram 18h00min em ponto de uma sexta – feira, três dias antes do feriado. Ela teria três dias em casa.

— Ted, estou indo, até terça.

— Bom feriado, Olívia.

Ela pegou as revistas, colocou-as em sua bolsa de costas e andou em direção ao Kenny’s Burger. Era sexta-feira e ela estava decidida que não ia cozinhar ou fazer coisa alguma. O bom de morar sozinha: fazer o que quiser, quando quiser e ninguém tem nada com isso.

Pediu batatas- fritas, X-Burger com muita batata palha e maionese e na hora de pagar, pediu moedas para pôr na máquina de bolinhas de borracha. Tudo para viagem.

Aqui vão alguns fatos sobre Olívia:

Coleciona bolinhas de borracha

É bibliotecária

Mora só

Viciada em café

Viajante do tempo

            Ao chegar a seu apartamento, largou a bolsa no sofá, a comida no centro da sala, e andou em direção ao banheiro. Após um banho, vestiu seu pijama, colocou refrigerante em um copo, manteve as cortinas da sala fechadas e ligou a televisão. Faria maratona de Arquivo X, porque sim. Desde criança assistia Arquivo X e queria ser agente do FBI, mas não curtia a parada de OVNIS. Aliás, ela acreditava que OVNIS eram demônios manifestados e se visse algum, voaria a Bíblia na cara e fim da história. Após anos de hiato, o seu seriado favorito havia voltado com os personagens oficiais e aquele feriado seria a semana perfeita para sumir, graças ao NETFLIX.

Como já dito anteriormente, Olívia é uma viajante do tempo e ninguém da família apresenta estas características, até onde ela saiba. Desde criança, ela sempre manifestou comportamento diferente das outras: Assistia filmes antigos com o mesmo entusiasmo de quem assisti a um atual, não tinha amigos porque não queria, porque gostava de ficar só com suas leituras de  Edgar Wallace e contos de terror.  Por causa de muitas viagens no tempo e seu gosto peculiar por coisas antigas, não era incomum que ela fosse o diferencial de seu tempo: enquanto as moças se vestiam com roupas mais curtas, ela mandava costurar vestidos de modelos fora de época, estava sempre em sebos procurando por livros usados, antigos e de autores já esquecidos, visitava casas antigas, assombradas ou não, museus de Faroeste e cidades- fantasmas. Ela não conhecia ninguém com quem compartilhar seus gostos, porque ninguém, além dela, podia voltar no tempo.

De todos os lugares que ela vai por causa das antiguidades, há um que ela não pisa: O Museu Nacional da Segunda Guerra. Lá está a foto dela. Sim, ela esteve na Segunda Grande Guerra, mas esta história será contada  em outra ocasião.

Por volta das 9 da noite, entrando pelo 3º episódio da série, a luz havia caído.

— Mas isso é uma... - usando a lanterna do celular, procurou pelas velas na cozinha e acendeu-as na cozinha e na sala. Limpou a bagunça do lanche, escovou os dentes e sentou-se no sofá, sem sono sem nada para fazer. Olhou no relógio: haviam se passado apenas 15 minutos desde que a luz se fora. Parecia uma eternidade. Abriu as cortinas da sala e viu que a rua também estava escura.

            Pegou as revistas antigas da bolsa e começou a folheá-las na mesa da cozinha. Ela nunca tinha visto aquela revista antes, mas aquelas fotos ela já vira em redes sociais do Pinterest e do São Google. As fotos também não lhes eram estranhas, pois já estivera perto de atrizes dos anos 20, 40 e 50, mas sempre se apresentando como camareira ou como a garota da roupa e acabara presenciando algumas daquelas fotos. Ela nunca pedia o autógrafo porque tinha vergonha. A única pessoa para quem pedira o autógrafo foi o seu escritor favorito, Edgar Wallace. Ela lembrou-se de sua primeira aventura nos sets de filmagem de O Vento Levou onde bateu foto com Clark Gable, mas nunca encontrara em lugar algum tal foto e ajudou Vivien Leigh a se vestir em várias cenas. Ela gostava deste filme desde criança, mas Vivien não era uma pessoa fácil de lidar e logo aprendeu que nem todos eram flores que se cheirassem em Hollywood. Tal como Vivien Leigh, assim era Elizabeth Taylor de quem Olívia ouviu falar sobre os barracos que a atriz dava com seus affairs e com a equipe de filmagem. Outros segredos que conhecera daqueles anos dourados do cinema mudo e falado foram as cirurgias plásticas. Como não havia internet e facilmente se podia esconder qualquer pessoa sem que paparazzi os descobrissem, atrizes nem tão bonitas, faziam plásticas nos olhos e no nariz, sem serem notadas, emagreciam, e todas tinham o mesmo padrão de beleza: sobrancelhas finas e longas, olhos semicerrados para dar um ar sensual e cintura modelada à La Pin Up. Algumas atrizes, como Vera Ellen, tinham a cintura tão fina que chegava a ser irreal.

            Estas revistas falam sem dizer ou escrever palavra alguma, que basta ter talento e beleza e consegue o topo, através de fotos que refletem um rosto emoldurado, um olhar penetrante, uma pessoa feliz com aquele momento, com aquela vida. O que veio à luz no inicio do ano passado foi um vídeo pornográfico de Marilyn Monroe. Um anônimo trouxe às manchetes fotos e vídeos de Marilyn sendo filmada fazendo sexo com um desconhecido e datava de anos antes de sua ascensão. Por coincidência, um diário biográfico da atriz revela casos sexuais que ela era forçada a ter, com grandes homens de círculos empresariais e cinematográficos. Verdade ou não, Olívia nunca acreditou que talento era suficiente em Hollywood. Ela viu a foto de Donald O’Connor, o seu ator favorito do seu filme favorito Cantando na Chuva. Ela leu anos depois que Debbie Reynolds, a mãe da Princesa Leia de Star Wars, havia sofrido na mão de Gene Kelly. Ele a humilhava bastante por não ser dançarina profissional como ele e Donald O’Connor e Fred Astaire teve que socorrê-la. Em outras palavras: Cantando na Chuva só aconteceu com ela porque Fred Astaire estava lá. Mas, a questão era Donald O’Connor. Ela havia se apaixonado por ele. Não a Debbie, mas Olívia. Esta história será contada mais adiante.

Seus olhos se detiveram na foto do ator James Dean que morrera aos 24 anos. Sua carreira havia sido meteórica: três anos apenas e logo a estrela havia se apagado. Tinha fama de mulherengo, rebelde e cachaceiro e fora encontrado morto em sua casa. Havia quatro frascos de Whisky baratos, esvaziados e seu corpo jazia no chão. O laudo médico oficial deu que ele havia se afogado na própria bebida.

            Olívia lembrou-se de uma revista de saúde que falava sobre uma doença crônica que James Dean tinha. Ela levou a vela para a sala e procurou no armário sua caixa de revistas Digest. Folheou a matéria de 1995 e encontrou que não era difícil para os atores de Hollywood ter úlceras estomacais ou intestinais devido ao nível de stress, cigarro e álcool.

“James Dean tinha adquirido úlceras crônicas no estômago desde os tempos da Segunda Guerra e era do conhecimento de todos que ele sofria de dores e sangramentos internos que o levava a uma dieta vegetariana.”

— Se ele tinha úlcera no estômago, como foi que ele bebeu tanto e morreu afogado? Não faz sentido.


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