Chamas Negras escrita por Benuzinha


Capítulo 14
Pena Negra


Notas iniciais do capítulo

Eu ia postar só mais um capítulo hihihi mas quando eu vi o bicho tava ficando imenso e ainda faltava um pedação hahaha e também eu estou acabando de ler lost canvas, pra poder colocar certinho o que acontece no final hehehe então acabei dividindo em duas partes



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Regulus acompanhou Elisa até o hospital, antes de se juntar aos companheiros para a investida contra Hades.

— Atena também vai? – Elisa perguntou, surpresa, ao ver Sasha ao lado de Shion e Sísifo no pátio central, onde os guerreiros se reuniam.

— Sim, chegou a hora de irmos com tudo – Regulus respondeu, anormalmente sério. – O tempo está acabando.

— Estarei aqui torcendo por vocês – Elisa uniu as palmas das mãos.

O barco de Atena flutuava majestoso no céu, bem acima do Santuário e, mesmo já bastante danificado pela dura batalha contra Aiacos, ainda parecia incrivelmente imponente e sólido.

— O que houve com Sísifo? – Elisa notou as ataduras que cobriam seus olhos.

— Na luta contra Aiacos ele furou os próprios olhos. – Regulus olhou para o tio.

— Mas por quê? – Elisa perguntou, perplexa.

— Tirando a própria visão ele poderia elevar o próprio cosmo ao máximo.

Ela olhou para o Cavaleiro de Sagitário e pensou no quanto aqueles guerreiros sacrificaram para conseguirem a vitória.

— Tchau, Elisa! - ele acenou e começou a correr na direção dos outros - E se cuida!

— Volta logo! - ela gritou em resposta.

— Voltarei, pode deixar!

Todos no hospital também pareciam apreensivos. Muitos dos pacientes, mesmo não estando ainda completamente restabelecidos, haviam partido para ajudar na batalha final.

Dédalo, no entanto, ainda continuava lá, mesmo querendo muito voltar a lutar. O confronto com Kazuaki não diminuíra sua vontade de se tornar cavaleiro.

— Mas doutor, eu posso...

— Dédalo, não adianta – o médico respondia o rapaz. – O que acha que pode fazer em um campo de batalha nesse estado?

— Mas o senhor liberou o James e o...

— Eu sei que estava em condições de ir ou não – o médico cortou o rapaz.

— Dédalo está inconformado – Melina sussurrou.

— Mas ele mal consegue ficar de pé – Elisa sussurrou de volta.

— Mas se eu elevar o meu cosmo...

— Assunto encerrado, Dédalo.

— Chegou cedo, hoje. – Elisa comentou com a amiga em tom de brincadeira, enquanto observava o aprendiz voltar para o seu leito, amuado.

— Eu acordei bem cedo para poder passar o máximo de tempo possível com Julius antes dele partir para a batalha.

— Seu noivo vai voltar são e salvo, tenho certeza disso. – Elisa apertou a mão da outra.

— Rezo por isso dia e noite.

Na hora em que o navio finalmente partiu, os habitantes remanescentes do Santuário pararam suas atividades e se uniram no pátio central, acenando com entusiasmo para os guerreiros que partiam, na tentativa de encorajá-los para a dura batalha que os esperava.

Bem mais tarde, após a partida de Regulus, Elisa usava a luz das velas para terminar alguns materiais que trouxera do hospital. Como tinha esperança de que ele e os outros cavaleiros voltariam, a pesquisadora decidira levar para casa alguns ramos de ervas que precisavam ser picadas ou maceradas. Eles retornariam provavelmente bastante machucados e, por isso, ela levara o material para casa, para que pudesse adiantar o trabalho.

A lua, encoberta por algumas nuvens, já estava alta no céu e ela se espreguiçou, pronta para dormir depois de já ter trabalhado bastante, quando algo peculiar chamou sua atenção. Uma pena negra apareceu de repente na janela. Intrigada, Elisa se aproximou, mas, ao tocá-la, a pena se desfez em uma chama da mesma cor. Aquilo só poderia ter vindo de uma pessoa.

Apagando a última vela que restara acesa, a garota se levantou e saiu na direção da floresta. Aquela era a primeira vez que ele a chamava e, no entanto, algo lhe dizia que não era uma boa notícia. O céu a cada dia parecia ter mais daquelas estranhas pinturas, que anunciavam que o trabalho de Hades estava cada vez mais adiantado. O Santuário, por sua vez, estava cada vez mais vazio e, agora que Regulus partira, mais solitário também.

Assim que pisou na floresta, aquele calor abafado a saudou quase como um cartão de visitas. Kagaho a esperava e vê-lo ali tão sério, olhando diretamente para ela, fez o coração de Elisa disparar.

— Então era você mesmo. – ela comentou, tentando aparentar uma leveza que não sentia.

— Veio rápido - disse ele.

— Aconteceu alguma coisa? – ela perguntou, pois não sabia muito bem o que dizer.

— Eu me tornei um juiz do inferno – ele respondeu, sem rodeios.

Ao ouvir aquilo, Elisa sentiu um peso em seu estômago. Fora a mesma coisa que ele dissera em seu pesadelo.

— Isso quer dizer que... – ela não conseguiu, apesar de tudo, olhar para outro lugar que não fosse o rosto dele.

— Quer dizer que, agora, meu papel no exército de Hades ficou ainda maior. Logo eu voltarei para o castelo do meu senhor Hades e assumirei meu posto lá.

Aquilo também era uma despedida, compreendeu ela.

— Você vai lutar com os cavaleiros dessa vez – a voz dela soou triste.

— Sem dúvida – ele respondeu com aquela frieza arrogante.

— Eu não quero que vocês lutem – ela falou, infeliz – Por que você...

— Eu luto por Hades - cortou ele - O que tiver que fazer por ele, eu farei.

— Mas por quê? – ela insistiu, a angústia tingindo seus olhos.

Por um instante, Elisa pensou que ele diria que aquilo não era da contadela.

— O senhor Alone é uma das pessoas mais puras que eu já conheci – ele falou, com o olhar perdido no o céu.

— Alone é Hades, não é? – perguntou ela. – Assim como Sasha é Atena?

— Isso mesmo. O senhor Alone trará a salvação que o mundo precisa.

— Salvação? – ela franziu a testa – Você diz que acabar com o mundo é a salvação?

— O mundo não tem mais jeito. A morte é a única solução justa, onde todos serão iguais. É nisso que ele acredita e eu acredito nele.O mundo dos mortos será um lugar de paz e descanso eterno.

— Mas... Isso não é um pouco drástico demais? – ela tentava sinceramente entender o ponto de vista dele. – Por que você acha isso Kagaho? Por que tem tanta raiva das pessoas?

— Eu tinha um irmão mais novo.– ele virou de costas para ela. – Ele era a coisa mais importante para mim. Éramos órfãos e só tínhamos um ao outro.

Ele fez uma pausa e Elisa sentiu a própria respiração suspensa. Era a primeira vez que ele se abria para ela.

— Eu brigava na rua por dinheiro. Ele tinha uma saúde frágil e ficava preso dentro de casa. Até mesmo o sol o feria. Ele era o meu sol. Mas não via as coisas assim. Ele achava que era um fardo para mim. E um dia ele...

Elisa não queria mais ouvir. Não queria saber, era doloroso demais. Não continue, implorou mentalmente. Eu não quero escutar isso.

— Ele tirou a própria vida, para me libertar – nesse momento ele se virou para ela, os olhos queimando pelo ódio. – O mundo virou as costas para nós, Elisa. Esse sentimento ficou gravado tão fundo em mim que eu não esqueci. E quando a estrela maligna despertou em mim, eu compreendi.  Ao lado de Hades eu deveria dar as costas à humanidade. Eu renunciei à humanidade e, desde esse dia, eu renunciei ao sol também.

— Kagaho... – ela sentiu uma onda imensa de tristeza.

Naquele momento, Elisa compreendeu um pouco da raiva que ele sentia. Era um sofrimento inimaginável. Talvez, no lugar dele, ela sentisse a mesma coisa.

— Não chore – ele se acalmou. – As lágrimas não adiantam. Eu vou mudar o mundo ao lado do imperador e isso acabará com esse tipo de sofrimento.

— Então acho que chegamos num impasse. – ela sentiu a própria voz ficando embargada – Porque eu não quero que você morra... mas se vocês vencerem, eu morrerei.

— Por isso que eu sempre disse que estávamos em lados opostos.

— Eu sei, mas eu pensei que...

— Pensou que eu fosse mudar de lado? – perguntou ele, uma das sobrancelhas erguida.

— Na verdade, não - ela deu um sorriso, ao mesmo tempo em que uma lágrima traiçoeira descia por seu rosto.- Atena me acolheu aqui e, mesmo conhecendo-a a tão pouco tempo, sinto que jamais poderia trai-la. Por isso, eu não poderia esperar outra coisa de você.

Ele apenas assentiu em resposta.

Para sua surpresa, ele se adiantou e, com delicadeza, retirou a lágrima traidora com o polegar.

— Sabe de uma coisa, acho que eu gostaria de ter conhecido você em circunstâncias diferentes.

— Eu também.

Ela se perdeu por um instante naquele par de olhos de um tom tão peculiar de violeta. Olhos que diziam tanto.

— Mas eu preciso enterrar os meus sentimentos. Não posso deixar que isso me afete mais.

Uma coruja piou e o som ecoou pela floresta escura, ainda úmida por causa da chuva de dias atrás. Ela queria tanto ter o poder de mudar aquilo, de impedir aquela guerra. E, além disso, ela queria poder apagar a dor que ele sentia.

— De novo está fazendo essa cara – ele riu e meneou a cabeça. – A partir de agora eu vou entrar pra valer nessa guerra – a expressão dele mudou. – Vou lutar com seus queridos cavaleiros e não terei piedade.

Elisa o observou afastar-se, desaparecendo em meio à floresta escura.

— E não tente ficar em meu caminho – a voz dele soou fantasmagórica por entre as árvores. – Qualquer um que ficar em meu caminho terminará incendiado.

— Espera! – ela finalmente se moveu e correu atrás dele. – Kagaho!

Os gravetos e folhas secas no chão estalaram em protesto conforme Elisa se aproximava do espectro, que havia parado de andar e a observava com um curioso ar de expectativa pelo que ela ainda tinha para falar.

Mas o que mais ela poderia dizer? Tudo já havia sido dito, certo? Ela diminuiu o passo e continuou se aproximando, parando apenas a poucos centímetros. Havia contudo, uma coisa que ela gostaria muito de fazer.

— Fecha os olhos – pediu ela.

— Por quê? – ele perguntou, desconfiado.

— Por favor – ela insistiu, antes de perder a coragem.

Por um momento, pareceu que ele recusaria, no entanto, ele fez o que ela pediu. Elisa sentiu o coração disparar, como se tivesse corrido sem parar de Atenas até o Santuário, e pensou no quanto aquilo era uma loucura, mas manteve-se firme. Ergueu-se na ponta dos pés, apoiando sua mão direita sobre o peitoral da sapuris de Benu, e, como o delicado pousar de uma borboleta, encostou seus lábios sobre os dele. Em menos tempo do que ela própria gostaria, Elisa se afastou com um salto para trás.

Ele a encarava com uma expressão estranha. Em parte parecia não acreditar no que ela acabara de fazer e, em parte, era como se suas convicções tivessem sofrido uma ruptura.

Seus olhos fixaram nos dela com uma intensidade abrasadora e, com um movimento rápido, ele a puxou pela nunca e a beijou de uma maneira que ela nunca imaginaria que ele seria capaz. Ou ela.

E, quando suas próprias pernas pareceram perder a firmeza, ele a apoiou contra uma árvore e se afastou subitamente.

— Infelizmente Elisa, nem você pode me salvar - as chamas rodopiaram por seu corpo. – Meu destino e minha alma pertencem ao imperador agora. Quando eu agir, a partir de agora, nem você irá escapar quando Hades tomar a Terra.

Dessa vez ele desapareceu dentro da floresta e ela não tentou mais impedi-lo. Provavelmente não conseguiria ir atrás dele, mesmo que tentasse. Quando finalmente conseguiu sair do lugar, Elisa voltou para casa sentindo-se bastante melancólica.

— Melina! – ela se assustou ao se deparar com a amiga parada bem no limite do Santuário.

— Você voltou pra floresta – Melina meneou a cabeça. – Foi encontrar aquele espectro de novo?

— Você sabia? – Elisa arregalou os olhos.

— Claro que sabia. Praticamente todo mundo sabe.

Elisa piscou, incrédula. E, no instante seguinte, começou a chorar compulsivamente. Melina abraçou a amiga e, assim que conseguiu se controlar, Elisa despejou toda a história entre ela e Kagaho.

Como a boa amiga que era, Melina a levou para casa, enquanto ouvia toda a situação. Como não conseguira dormir direito após a partida do exército do Santuário, ela vira exatamente o momento em que Elisa passava sorrateiramente na direção da mata. Para ela, ainda era uma situação difícil de compreender, afinal, crescera vendo os espectros apenas como inimigos sanguinários a serem derrotados pelos cavaleiros, pelo bem da Terra. E, agora, sua nova amiga chorava copiosamente por causa de um deles. Quanto mais ouvia Elisa contando sobre a relação entre eles, mais se surpreendia. E, por mais loucura que aquilo fosse, ela pegou a si mesma torcendo para que, no final, eles pudessem encontrar um jeito de ficarem juntos.

No dia seguinte, Elisa acordou tão aérea que assim que chegou ao hospital, percebeu que havia esquecido as ervas que preparara com tanto afinco na noite anterior. Pedindo licença para Konstantinos, Elisa correu para casa, repreendendo-se mentalmente.

Assim que entrou, seu olhar recaiu na bolsa sobre a mesa, onde colocara na noite anterior todo o material que preparara.

— Muito bom mesmo, Elisa – resmungou ela para si mesma. – Só porque um espectro mal humorado diz que vem te visitar pela última vez você fica nesse estado.

Um suspiro escapou de seus lábios enquanto abria a porta para sair e, já do lado de fora, uma explosão de energia chamou sua atenção.

E não era só isso. Dédalo estava ali, a mão apertando o ferimento na barriga, um sinal claro de que ainda sentia dor.

— Dédalo! O que está fazendo de pé aqui?

— Vem, Elisa, rápido! – ele a puxou pela mão para fora da casa – Espectros invadiram o Santuário!

— O quê? – ela teve que se esforçar para não gritar a pergunta

— Eles foram direto para a sala do grande mestre e devem estar lutando com Dohko agora. O senhor Dohko foi visto entrando agora no Santuário também, e todos achavam que ele estava morto!

— Dohko está vivo! Foi por isso que eu senti aquela energia tão poderosa?

— Isso mesmo. Eu vim te buscar porque você estava sozinha e não sabemos se há outros...

Ele se interrompeu bruscamente quando uma presença aterradora pousou bem no caminho de ambos. As asas negras se fecharam em um movimento elegante inconfundível para a jovem.

— Kagaho! – ela piscou repetidamente, aturdida.

A expressão em seu rosto era a do poderoso espectro diante de simples mortais, indignos de sua presença. Dédalo se pôs na frente de Elisa, mesmo estando tão fraco que mal conseguia ficar de pé. Aquilo fez Kagaho abrir um sorriso cruel.

— Vejo que está sendo bem protegida no Santuário de Atena – disse ele.

Ouvir aquilo fez o garoto se empertigar e Elisa pousou a mão direita em seu ombro.

— Estou segura aqui, como você mesmo disse – ela respondeu com altivez, postando-se ao lado do aprendiz.

— Aproveitem seus últimos momentos na Terra governada por Atena.

— Talvez nós devêssemos dizer isso para você – latiu Dédalo.

Ao ouvir aquilo, Kagaho deu um passo na direção deles e, sem parar para pensar, Elisa se colocou na frente do menino. Aquele gesto fez o espectro sorrir novamente. Quando seus papéis haviam se invertido daquela maneira?

— Cada dia mais corajosa.

Elisa observou Kagaho voltar a avançar e sentiu-se bem pouco corajosa. No entanto, ela ergueu o rosto para encará-lo de frente quando ele parou a poucos centímetros. O pobre Dédalo também estava paralisado atrás ela, diante da grandiosa presença do Benu.

Foi quando outra explosão de energia chamou a atenção do espectro, que olhou na direção do templo de Atena com interesse.

— Chegou minha hora.

Ele pegou uma das mãos de Elisa e depositou algo em sua palma. Ela olhou para a coisa gelada e molenga entre seus dedos com espanto e, quando voltou o olhar para ele novamente, viu em seu rosto um sorriso genuíno.

— Uma salamandra, mas... – ela hesitou.

Ele não respondeu e seu rosto voltou a se fechar. Voltou-se outra vez para o templo de Atena e, com um último olhar para Elisa, Kagaho se virou, abriu suas longas asas e disparou naquela direção.

— Por Atena! – Dédalo exclamou num fio de voz – Achei que agora eu ia morrer.

Elisa continuava olhando para o animalzinho em sua mão.

— Aquele é o seu amigo espectro? – Dédalo perguntou.

— É... – Elisa decidiu que não valia a pena tentar esconder.

— Ele é assustador – Dédalo meneou a cabeça. – O que ele te deu? Desculpa perguntar, mas eu estou muito curioso.

Elisa deixou escapar uma risada diante daquela declaração tão sincera e mostrou o anfíbio que andava lentamente, tentando escalar seus dedos.

— É um daqueles bichinhos que você gosta né? – ele olhou para o animal com curiosidade. – O que será que ele quis dizer com “chegou minha hora"?

— Não faço ideia. – ela ergueu os ombros.

Ambos voltaram a se encaminhar para o hospital e mais um choque cósmico foi sentido. Estaria ele enfim realizando seu desejo de lutar contra Dohko?

— Vamos mais rápido – ele apressou o passo e ela o seguiu.

Lá dentro, todos se concentravam na janela da cozinha, que dava justamente para a direção  do templo de Atena.

Era possível ver as chamas negras com clareza, mesmo daquela distância. No entanto, era impossível enxergar o que acontecia e todos estavam preocupadíssimos. Dédalo a todo momento ameaçava sair para se intrometer na batalha e Petros segurava seu braço com firmeza.

No momento em que uma enorme cruz ansata de fogo apareceu na frente da estátua de Atena, Petros olhou diretamente para Elisa, como se ela de algum jeito fosse culpada por aquilo. Como se ela tivesse algum controle sobre o espectro de Benu!

Ela devolveu o olhar dele com toda a sua altivez e um lampejo dourado voltou a chamar a atenção de ambos para o que acontecia lá em cima.

— A estátua de Atena! – Dédalo gritou ao seu lado. – Ela desapareceu!

— O que será que isso significa? – Konstantinos perguntou.

— Só o senhor Dohko poderá nos dizer – Melina opinou. – O que vamos fazer? Esperá-lo descer?

— Não estou sentindo o cosmo do senhor Dohko – Dédalo respondeu. – Ele já deve ter partido para o Lost Canvas.

Elisa permaneceu atenta, olhando ainda por mais um tempo até que viu o momento em que Kagaho saiu do Santuário em alta velocidade.

— Mas como ele pode ter ido tão rápido? - Melina perguntava, afastando-se da janela.

— Ele é um Cavaleiro de Ouro, deve poder fazer coisas que nem sonhamos – o médico deu de ombros. – Bom, vamos voltar ao trabalho. Se tivesse mais algum espectro por aqui o senhor Dohko não teria ido embora.

Foi difícil passar o restante do dia sem ter notícias. Melina e Petros acenderam algumas velas e passaram praticamente todo o tempo rezando fervorosamente pela vitória de Atena. Konstantinos monitorava os poucos pacientes que haviam restado, um deles era um garotinho, filho de um dos ajudantes da cozinha, que adoecera com uma forte gripe e mais dois cavaleiros, que haviam sofrido graves fraturas em batalha e não conseguiam nem ficar de pé. Além, é claro, de Dédalo, ainda inconformado de estar preso ali.

Elisa, por sua vez, fizera um estoque tão grande de remédios que provavelmente seria o suficiente para três gerações de cavaleiros. Agora preparava novas mudas para o plantio, já que as pobres plantas que utilizara haviam ficado praticamente sem folhas.

De repente, algo envolto em uma intensa labareda desceu do céu e, instintivamente, Elisa ergueu a mão direita para apará-lo. Antes de tocar sua pele, a bela chama alaranjada se desfez, revelando em seu interior uma pena dourada, diferente de qualquer uma que ela já tivesse visto antes. Nesse instante, ela pôde ouvir claramente uma voz em sua mente dizendo “adeus” e foi então que ela compreendeu.

— Kagaho... – murmurou enquanto segurava a delicada pena de encontro ao peito – Não pude vê-lo mais uma vez... Você também sucumbiu nessa guerra santa, mas vejo que não carrega mais toda aquela raiva...  - seus olhos vertiam grossas lágrimas - Essa era sua verdadeira tonalidade, não era? Mas você não está mais sozinho, eu, Aldebaran, Atena e todos os outros cavaleiros estaremos ao seu lado, para sempre...

Se Kagaho partira, a guerra já devia estar quase no fim. Naquela noite seria impossível dormir, pensou, deixando-se cair na cama, horas mais tarde. Até aquele momento ela tivera uma esperança de que Kagaho sobreviveria de alguma maneira. Uma esperança bem pequena, era verdade, mesmo assim... Era difícil pensar que nunca mais voltaria a vê-lo. Queria ver seu sorriso outra vez, aquele que ele havia demorado tanto para mostrar.

E foi um outro sorriso que apareceu debruçado na janela, algum tempo depois.

— Regulus, não acredito, você voltou! – ela levantou correndo da cama.

— Elisa – ele parecia radiante como sempre, embora agora em seus olhos houvesse uma sabedoria que ela não havia percebido antes. – É bom te ver mais uma vez. Prometa que vai se cuidar e continuar vivendo em busca de seus sonhos.

— Mas o que...

— Tenho certeza que vamos vencer essa guerra, então promete que não vai desistir dos seus sonhos.

— Eu prometo, mas por que está dizendo isso?

— Eu finalmente entendi o que meu pai via.

Ele parecia tão amadurecido, pensou ela.

— É mesmo? – ela tentou sorrir, mesmo sentindo um aperto no coração. Era cedo demais para ele estar de volta. Ainda mais sozinho.

— Sim. Lembra do que eu te falei, né?

— Que você estaria em toda parte, no vento, na terra ou nas plantas?

— Isso mesmo. Por isso, não esqueça de manter os olhos sempre bem abertos. – ele riu.

— Não vou esquecer. Nunca.

Ouvir aquela resposta o satisfez e, bem diante de seus olhos, Elisa viu Regulus desaparecer. Em seu lugar, do lado de fora da casa, repousava apenas a armadura de ouro agora.

Ela saiu e foi ao encontro do belo leão dourado. Foi impossível resistir e, ao colocar a mão sobre a cabeça da armadura, um agradável calor aqueceu sua palma.

Tão parecido com o antigo dono...

Mas não sei deixaria levar pela tristeza. Ele havia ido até sua casa para se despedir. Sua alma fizera aquela visita, e ela não poderia decepcioná-lo. Viveria sua vida ao máximo. E ficaria com os olhos bem abertos.


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Notas finais do capítulo

Caramba, como eu fiquei na dúvida se colocava ou não esse beijo dos dois hahahaha acho que foi uma das partes que mais demorou para sair, até que parecia que o próprio Kagaho falou "peloamordedeus coloca isso logo" e de repente saiu hahahaha



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