Agridoce escrita por Camélia Bardon, EsterNW, Teruque


Capítulo 3
Couro derrete prata


Notas iniciais do capítulo

Oi, eu sou a Manu ^.^
Fiquei responsável pelo capítulo do príncipe dos príncipes: Lysandre! ou melhor, Lysa ❤
Eu escolhi o prateado como cor tema, porque é uma cor fria, indiferente e única... Vocês vão entender daqui a pouco kkkkkkkkk
A aesthetic diva é coisa da Camélia, corram atrás dela para os elogios * - *
Sem mais delongas... One!



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Duas pessoas se destacavam no corredor repleto de alunos eufóricos pelo final do dia letivo. Não pela jaqueta preta de uma ou pelos cabelos brancos da outra, mas sim pela discussão que se desenrolava de forma um tanto unilateral.  

— Que droga, Lysa! – resmungou o rapaz de cabelos vermelhos, cruzando os braços na frente do corpo enquanto observava a amiga lhe ignorar quase que por completo. – Odeio quando faz isso!  

A garota pareceu concentrada em colocar os livros no armário. Quando terminou, retirou fones de ouvido do bolso de sua saia preta de veludo e os colocou na orelha antes de virar as costas para o rapaz que lhe falava.  

— Que inferno! – o rapaz da jaqueta de couro praguejou, dando um passo longo em direção a ela para segurá-la pelo cotovelo. 

Quando o fez, ela parou no mesmo instante, mas não se virou. Olhou com seus olhos bicolores para o rapaz por sobre o ombro de uma forma tão fria e distante que fez com que ele engolisse em seco. Ele sabia que aquilo era um mal sinal, um péssimo sinal.  

Ele nutria esperanças de que o beijo que ele havia roubado de Lysa na sexta fosse suficiente para finalmente tê-la como mais do que uma amiga. Agora ele percebia o quanto estava enganado. 

— Castiel – ela disse com uma dureza que não combinava com a voz angelical que saía de sua garganta quando cantava. 

— Eu pensei que você quisesse, droga – ele se aproximou, ainda segurando em seu braço, em um misto de raiva e súplica. Os olhos dela se tornaram ainda mais afiados com esse gesto e isso foi o suficiente para fazer o rapaz recuar.  

Mesmo livre do toque, Lysa não se afastou. 

— Você reclama que não me abro com você com facilidade – seu olhar estava distante, observava o movimento de alunos atrás dele enquanto sua mão brincava com as ondas soltas de sua franja, que tornavam o coque trançado no topo de sua cabeça ainda mais charmoso. – Mas quando faço, você não escuta. Não consigo encontrar outra explicação para você concluir que era de meu desejo ter meu primeiro beijo com um bêbado colecionador de mulheres. – a voz dela não se alterou, apesar das palavras rígidas. Com aquele mesmo tom, poderia estar falando sobre o clima. 

— Colecionador de mulheres? – ressoou Castiel , encarando-a com uma clara expressão de quem havia se ofendido. – Pelo menos eu não fico me enganando enquanto espero brotar um Príncipe Encantado. 

A garota ficou vermelha, mas nenhum músculo de sua face desfez a indiferença em sua expressão. 

— Cada indivíduo vive de acordo com as próprias convicções. – ela ponderou, ajeitando a alça da mochila sobre o ombro, nu pelo decote canoa que ela vestia. – O mínimo que podemos fazer é respeitar. – Lysa finalmente ergueu os olhos para Castiel, que nada disse. 

A verdade era que parte dele reconhecia que estava errado, que Lysa tinha todas as razões para estar chateada com ele. 

Aconteceu logo após o show que a banda dos dois fez no porão da escola. Uma pós festa foi organizada na casa da Íris. Castiel bebeu. Seus inibidores foram prejudicados pelo álcool, e o que ele apenas suspeitava existir no coração de Lysa se tornou uma certeza na presença do coquetel batizado.  

Quando ficaram a sós no jardim, ele não se segurou quando a vontade de beijá-la surgiu. Mas ela não foi tão receptiva quanto ele esperava. E como poderia? Quando Castiel a perguntou sobre seus motivos para nunca ter beijado, ela explicou que esperava pela pessoa certa. Carinho, respeito e devoção mútua eram suas exigências.  

E Castiel nunca havia dito a ela que há tempos não a via apenas como amiga. Além disso, o que ele suspeitava que Lysa sentia por ele havia se reduzido a sonho depois do tapa que ele recebeu no rosto.  

Ele estava bêbado e, sim, era mulherengo. Apenas porque achava que Lysa lhe era indiferente. Mas não conseguiu ter nenhum caso depois que sua amiga, em um momento bem vindo, ruborizou em uma de suas implicâncias. Desde então ele procurou por mais sinais. 

E quando encontrou, acabou por estragar tudo. 

Observou-a se afastar enquanto ainda se esforçava para pensar em alguma resposta capaz de fazer tudo voltar ao que era antes, mas mesmo depois que ela sumiu de sua vista, ele ainda não sabia o que dizer. 

Lysa, além de decepcionada, estava frustrada. Castiel, seu melhor amigo desde que entrou na Sweet Amoris, era a única pessoa da qual era esperava respeito e compreensão. Principalmente depois de todas as conversas íntimas que eles compartilharam. E foi justamente porque ela o respeitava que decidiu manter sua paixão em segredo.  

Ela era vocalista da banda, assim como Debrah, sua fatídica ex. A primeira coisa que pensou foi no quanto essa coincidência poderia perturbá-lo. E mesmo com todo o zelo e consideração, ele a havia beijado como se fosse apenas mais uma das garotas com quem ele compartilhava saliva. Lysa sabia de cada um dos casos dele, pois era difícil manter segredo sobre qualquer coisa entre eles. A confiança costumava ser tanta que as palavras simplesmente saíam. 

Mas não mais. Não agora que ele demonstrou considerá-la como qualquer outra que ele não fazia questão de saber o nome. Eu devia saber que isso aconteceria, ela pensou. E ele ainda teve a audácia de dizer que achava que era o que Lysa queria. 

Quando ela chegou no refúgio de sua casa, largou a mochila na cama e recorreu a seu violino. O soar das notas era como ela chorava, era como gritava com toda a potência de sua raiva. Deixou que a música fosse sua lamentação e ouvinte. Atentou os ouvidos para os conselhos que os sustenidos pareciam carregar. E quando terminou, tudo o que pensava era no quanto era melhor estar mais uma vez sozinha em sua própria bolha. 

Seu irmão mais velho, Leigh, não chegou a interrompê-la. Conhecia os motivos para aquelas longas horas que Lysa gastou derramando-se no violino.  

A música substituía, apenas agora, as lágrimas reais que ela derramou três dias atrás. 

Quando o sol preparou-se para se despedir, o interfone anunciou um recém chegado.  

— Lysa? – Leigh chamou a irmã, agora trancada no silêncio da leitura. Ela ergueu os olhos para o irmão com a frieza que apenas usava quando queria conter as próprias emoções. – Castiel está no portão. 

O único sinal de seus sentimentos foi um profundo suspiro. Ela deixou o livro de lado e seguiu para falar com o insistente rapaz. Penteou as ondas brancas de seu cabelo para o lado enquanto descia as escadas. Não para impressioná-lo, mas para parecer bem, esconder seu verdadeiro estado de espírito. 

Abriu o portão para passar e o fechou logo em seguida. Um sinal claro de que ele não mais era bem vindo em sua casa. Cruzou os braços na frente do corpo enquanto olhava para os olhos prateados, criando um escudo entre os dois com as longas mangas pretas de boca de sino que vestia. 

— Desculpe – ele disse, com toda a crueza da palavra, sem se permitir recuar desta vez. – Não por ter te beijado, mas pelo jeito que fiz isso.  

Lysa ergueu as sobrancelhas brancas em surpresa. Ela esperava algo completamente diferente daquela conversa. Na verdade, planejava apenas expulsá-lo de sua porta, de sua vida. Mas aquela pequena frase pareceu derrubar todos os muros que ela construiu com uma brisa iluminada de esperança. 

— O que isso quer dizer? – Ela perguntou, fechando os dedos nas palmas da mão, ansiosa. Ela tinha teorias para o significado daquela declaração, mas queria, precisava ter certeza. 

Castiel conhecia Lysa melhor do que conhecia a si mesmo, por isso percebeu que ela havia abaixado a guarda o suficiente para que uma oportunidade de consertar as coisas surgisse. E ele não desperdiçaria. 

— Pode vir comigo? Quero te mostrar uma coisa – ele sorriu de lado, reconhecendo a própria vitória. Ele inflou o peito quando percebeu que ela não resistia a ele, mesmo que ele cedesse aos encantos de Lysa com muito mais facilidade. 

Ela desviou o olhar para a rua, pensando se deveria ou não aceitar aquele convite. Se o sentimento que o pedido de desculpas sugeria existir fosse real, as coisas seriam bem diferentes. O principal motivo de seu aborrecimento fora acreditar que ele pouco a considerava. Mas se o beijo foi guiado por algo além do simples desejo...  

— Importa-se de esperar enquanto aviso meu irmão? – ela disse por fim, mas não se permitiu sorrir como queria ao ver o quanto Castiel havia se alegrado, do jeito dele, com aquela resposta. Precisaria confirmar suas suspeitas para confiar nele, por completo, de novo. 

— Vai lá – ele enfiou as mãos nos bolsos e apoiou as costas contra a parede da edificação, ainda com um sorriso que ele não queria esconder no rosto. 

Lysa entrou no prédio, subindo os degraus dois a dois para economizar tempo. Antes de falar com seu irmão, adiantou-se para o próprio quarto e parou em frente ao espelho para verificar sua aparência. 

Amassou as ondas de seu cabelo com as mãos enquanto corria os olhos pela roupa. A blusa preta de decote canoa e mangas boca de sino parecia em ordem. As rendas brancas que adornavam a extremidade da peça estavam livres de qualquer mancha amarelada. Ajeitou o fino cinto verde jade no alto de sua cintura e alisou a saia de veludo preta em seguida. Retirou uma bolinha e outra e de sua meia calça transparente de listras pretas e, por fim, vestiu suas botas vitorianas de cano curto.  

Não estava completamente satisfeita com seu cabelo, mas não tinha tempo para rearranjar o coque em sua cabeça. Ele já me viu pior, ela pensou com um sorriso nos lábios.  

Avisou ao irmão sobre sua saída e voltou para a rua, onde Castiel a esperava, exatamente no mesmo lugar. 

Seguiu-o até seu apartamento, apenas duas quadras distante. Resistiu à vontade de perguntar do que aquilo se tratava. Não queria parecer ansiosa, apesar de estar.  

Ela sabia que devia se armar, proteger-se de mais uma possível decepção, mas o que ele havia dito abalara tragicamente sua postura defensiva. Fez um pedido silencioso para que a decisão de segui-lo se mostrasse amiga de sua esperança. 

O curto percurso foi silencioso em palavras, mas estrondoso pela força dos corações inquietos. Incontáveis vezes antes, os dois caminharam lado a lado da mesma maneira, mas agora tudo estava diferente. 

Castiel não era um rapaz atencioso, Lysa sabia. Pelo menos não com os casos temporários que ele contava cultivar. Apenas o fato dele ter ido atrás dela para se desculpar já mostrava que ele a considerava mais do que as outras. Mas isso ainda não era suficiente para que ela confiasse completamente nele de novo. 

— O que queria me mostrar? – ela perguntou enquanto Castiel fechava a porta de seu apartamento atrás dos dois. 

— Quem é que dizia que a curiosidade era um péssimo defeito? – ele alfinetou quando se abaixou para dar atenção a Dragon. 

Lysa ergueu uma sobrancelha para ele, e não de um jeito divertido. Um pequeno lembrete de que ela ainda estava chateada com ele. 

Castiel desviou os olhos para o seu cachorro, sentindo a presença da possibilidade de tudo dar errado. E ele apenas havia começado a colocar seu plano em prática. Não podia subestimar Lysa, ele sabia. A frieza e indiferença com que ela tratava os que a haviam magoado chegava a ser cruel. E ele tinha certeza que não era isso que ele queria. 

— Vem comigo – ele se levantou com um último afago entre as orelhas de Dragon e fez o caminho até seu quarto. Lysa sorriu para o cachorro, já acostumado com suas frequentes visitas, antes de seguir Castiel. 

Ela parou na porta do recinto, observando o rapaz caminhar até o canto onde deixava descansar sua guitarra vermelha, tomá-la nos braços e se virar para Lysa. 

— Está esperando um convite formal para sentar, velhota? – ele usou o apelido que apenas surgia em momentos de bom humor, olhando-a enquanto ligava o cabo do instrumento no amplificador. 

Lysa se limitou a observá-lo enquanto tentava entender quais eram suas intenções. Se a estratégia dele era agir como se nada houvesse acontecido, ela viraria as costas e iria embora sem pensar uma segunda vez. Castiel não era o rapaz mais sensível do mundo, mas mesmo isso tinha algum limite.  

Com um suspiro, ela se aproximou do sofá de dois lugares no quarto e se sentou. Castiel lançou um olhar de desafio para ela quando ele percebeu que ela escolhera se sentar longe dele, que se apoiava na beirada da cama, mas amoleceu a expressão assim que sons metálicos arranharam o recinto. Então as notas de verdade soaram e Lysa logo as reconheceu. 

— Lembra disso? – ele sorriu para ela enquanto fazia a palheta correr pelas cordas prateadas. 

A garota assentiu, tocada por ele ainda conhecer de cor a primeira música que fizeram. Observou-o com cuidado, analisando suas expressões, suas atitudes. Uma vez ele dissera a ela que se expressava melhor através da guitarra do que por conversas, e ela não pode deixar de pensar na possibilidade dele estar, de algum forma, querendo se abrir com ela. 

Mas o que ele estava tentando dizer? Ela ainda não tinha certeza. 

— Nossa primeira música – ela disse em voz alta depois que a introdução havia se encerrado. Ela deveria estar cantando a essa altura da canção, mas dessa vez, as notas não eram base para a sua voz, eram para a dele. 

— Não só isso – ele continuou, intercalando olhares entre seus dedos e os olhos atentos de Lysa. – Essas foram as primeiras notas que toquei depois do que aconteceu com Debrah. 

A respiração falhou nos pulmões da garota quando ela ouviu aquela declaração. Sabia que o último relacionamento dele havia sido traumático, mas nunca imaginou que afetara até mesmo sua paixão pela música. 

— E a culpa é sua – ele soluçou uma risada, alcançando o refrão da música com a guitarra. – Eu falo isso para outras pessoas, mas acho que nunca disse diretamente para você – ele deu a pausa característica da música, o prelúdio onde a voz de Lysa deveria ressoar sozinha. – Você me inspirou a tocar de novo – ele abriu um sorriso de lado, retomando as notas. 

Ela não percebeu que sorria de volta, ou que estava corada diante da nudez emocional do amigo que prezava tanto. Mas ele viu, ele viu tudo, cada um dos movimentos dela eram devorados por seus olhos atentos.  

— Eu não sabia – ela esperou o intervalo entre as notas que sabia que viria para dizer, apenas para ter a certeza de que estava sendo ouvida. 

Os dois permanecerem calados enquanto a música se findava, sintonizando os corações sob o começo que marcava aquela primeira obra. 

— Creio que eu estava enganada – ela disse, sorrindo para si mesma.  

— Sobre o motivo de eu ter te beijado? – Castiel perguntou, soltando a guitarra sobre a cama e se colocando de pé, caminhando em direção à ela. – Com certeza estava enganada – ele se inclinou para pegar em sua mão e a puxou para cima, com um pouco mais de força do que o necessário, para que ela também se levantasse. O impulso extra era apenas para que ela precisasse apoiar em seu peito para se equilibrar. 

Ele abriu um sorriso convencido quando seu plano surtiu efeito. 

Lysa ergueu os olhos para ele, apoiando a mão em seu peito. Ela não parecia tímida, como ele esperava. Estava absorta naquela proximidade, assim como ele. E nenhuma insegurança cabia no meio dos dois. 

— O que está tentando dizer? – ela perguntou, analisando os olhos prateados. 

— Eu não estou tentando dizer nada – ele sorriu, puxando-a pela cintura até que seus corpos se tocassem. – Eu estou dizendo, Lysa. – A carícia que ele fez em sua têmpora contrastava com a brutalidade com que ele a havia colocado tão perto dele. – Estou dizendo que sou louco por você. 

Castiel não percebeu, mas os joelhos de Lysa tremeram diante das palavras que ela ansiou por tanto tempo para escutar. 

— Cass? – ela sussurrou o apelido que deu a ele a certeza de que estava perdoado. Seus olhos se mergulharam, consumiram-se. – Me beija. 

Ele não esperou duas vezes para acatar ao pedido. 

O primeiro beijo de Lysa havia passado longe de suas expectativas, mas o segundo compensou a decepção, renovou o voto de amizade e construiu um futuro completamente novo enquanto a garota de indiferença prateada se derretia no abraço do rapaz da jaqueta de couro. 


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Notas finais do capítulo

Toca aqui quem gosta de ver Castiel apanhar, implorar e sofrer! kkkkkkkkkkkkkkkkkk
Ninguém é bobo de deixar alguém como o Lysan.. Opa, Lysa kkkkkk escapar * - *



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