Os dias que se seguiram pareciam maiores e entediantes. Sara não sabia o que fazer com todo aquele tempo que agora tinha de sobra.

Desde sua alta do hospital, se concentrara exclusivamente em seu bebê como seu médico lhe recomendara.

Vinha passando a maior parte do tempo deitada, ora em sua cama, ora em seu sofá. Tinha a companhia somente de seus pensamentos. E eles vinham aos montes, um atrás do outro. Na maioria das vezes se pegava chorando, não sabia ao certo se eram os hormônios da gravidez, medo de um futuro incerto, ou ambos.

Seus amigos haviam ligado algumas vezes e até mesmo lhe surpreendido com uma visita, mesmo que rápida, assim que terminaram o turno.

Haviam chegado com o café da manhã, estavam todos presente, todos menos Grissom e ela aproveitara a oportunidade para esclarecer algumas coisas, dentre elas, o término deles. Não o motivo em si, era íntimo demais, doloroso demais. Ela apenas havia afirmado não estarem mais juntos.

De suas bocas, ouvira o quanto ele estava diferente, avesso à qualquer aproximação, e extremamente mal-humorado.

 “Acho que agora tudo faz sentido, eu cheguei a lhe perguntar algumas vezes sobre você estar se cuidando e coisas do tipo. E em todas elas, ele me dava as costas, apenas falava que não tinha tempo para isso. Agora percebo que ele não sabia as respostas.”

Ela não dissera uma palavra após o comentário de Catherine, apenas se limitara a continuar tomando seu café da manhã. Não queria saber dele e talvez seus amigos pudessem entender aquilo com o seu silêncio. Sua tática dera certo, eles mudaram completamente de assunto e pouco depois, cansados, se despediam dela.

Havia recebido dezenas de ligações de Grissom, mas atendera uma ou duas com respostas frias e evasivas, se limitando apenas a dizer que estava bem e que não houve mais sangramento.

Seus pedidos de visitas foram todos negados por ela e ele aceitara resignado, mesmo não concordando nenhum pouco com aquilo.

~♥~

Três semanas mais tarde ...

Sara abriu a porta bastante abatida e estacou quando o viu.

—O que faz aqui, Grissom ?

—Eu não suporto mais, Sara ... é meu filho também! Precisava ver com meus próprios olhos que realmente está bem.

Mas ela não estava. Há alguns dias começara a sofrer com fortes enjoos, de início eram apenas matinais. Agora não mais. Acontecia a qualquer momento e naquele dia em especial, eles pareciam insuportáveis. Nada parava em seu estômago, estava fraca e só tinha vontade de chorar.

—Você já viu, agora pode ir!

—Não faz assim ... por favor, Sara! Eu ... posso entrar ? - Seus olhos evidenciavam a tristeza de sua alma por mais que ele tentasse esconder.

Ele estava sofrendo e muito, com aquela separação. Estava visivelmente mais magro, sua barba mais cheia que o habitual, formava uma sombra em seu rosto. Seu cabelo necessitava de um bom corte.

Ele esperava sua autorização, implorando com os olhos.

Sara desviou seus olhos dos dele.

Ela já não se sentia bem com o seu estômago revirado e com ele ali diante dela, seu mal-estar tomou proporções gigantescas. Lembranças da pior noite de sua vida, retornaram em uma sequência de horror, queria simplesmente sumir.

Olhar para ele, era como ver Heather junto como se ela fizesse parte de sua sombra.

—Deixe-me entrar, Sara. - Ele insistiu. _Por alguns minutos apenas, eu prometo ...

Mesmo a contragosto, deu passagem para ele. Em silêncio, foram até o sofá.

Ela se sentou segurando uma almofada contra a barriga ligeiramente arredondada. Seus dedos coçavam para tocá-la.

Seu filho estava crescendo, e ele perdendo momentos importantes como o seu desenvolvimento.

—Você não me parece bem. - Mesmo sem ser convidado, ele se sentou ao seu lado visivelmente preocupado. _Posso fazer algo por você ?

Sara mordeu os lábios e negou com a cabeça. Claramente tentando não chorar na sua frente. Ela não olhava em seus olhos.

—Sara, por favor ... eu sou o pai do bebê, quero cuidar de vocês. Me deixe ajudá-la, querida ...

Ele não soube explicar como começou, o fato era que segundos depois, lágrimas começaram a manchar seu rosto. Seus soluços dilaceravam seu coração, se sentia impotente.

De repente, ela se virou para ele, apertando a almofada em sua barriga. Teve medo de que ela estivesse sentindo alguma dor e seu filho estivesse em perigo.

—Por que fez isso conosco ? Trair o que tínhamos ? Trair o nosso amor!

—Eu não trai você, Sara ... por Deus! Acredite em mim, eu juro que não fiz isso!

~Fim do flashback~

~♥~

Sara admirava o jardim através da janela de seu quarto. Era um lugar muito bonito, com certeza bem cuidado. Se não soubesse melhor, jamais diria pertencer a um hospital. Na verdade, todo aquele lugar, afastado da agitação de Vegas, era de alto padrão.

Pelo que soube, ela havia sido transferida para Saint Germain três dias após entrar em coma no Desert Palms, por possuírem recursos melhores com uma tecnologia de ponta com tudo que havia de mais moderno para o seu caso. No entanto, os custos para manter alguém ali eram exorbitantes.

No meio de tantas revelações, uma em especial havia mexido com ela, a descoberta de que Grissom a visitava com bastante frequência.

Sua enfermeira lhe dissera que o surpreendera de várias maneiras, segurando sua mão, acariciando seus cabelos, lendo um livro para ela e até mesmo falando sobre a filha. No quanto a pequena estava cada vez mais parecida com ela.

“Ele com certeza te ama muito!”— Ela completara encantada.

Sara viu um grupo de pessoas se aproximarem do jardim e então se sentarem nos bancos dispostos estrategicamente. Todos vestiam branco, era bem provável que fossem funcionários do hospital, a conversa parecia animada, suas expressões corporais a levaram a deduzir que riam escandalosamente sobre algo.

Ela fechou seus olhos e admitiu para as quatro paredes de seu quarto.

—E eu o amo, mas ... - Sempre haveria aquele “mas”, não ter a certeza de seu amor lhe consumia profundamente feito um ácido corrosivo.

A vida parecia estar lhe dando uma nova oportunidade, mas não podiam simplesmente recomeçar sem antes colocar um fim em todas as incertezas que trazia em seu coração.

Mas agora havia um detalhe mais que importante a considerar!

Havia Emma no meio daquilo tudo e ela tinha que agir pensando no que seria melhor para a sua filha. As coisas não giravam mais em torno dela e Grissom.

Sara balançou a cabeça e voltou a se sentar em sua cama, se cansava com muita facilidade.

Ela olhou para o teto suspirando feito uma garotinha impaciente. Não conseguia desligar sua mente, tudo parecia chegar de uma vez! Decisões a serem tomadas, lembranças! Algumas que lhe traziam um sorriso genuíno e outras que ela só queria esquecer.

Ela se lembrava com perfeição dos últimos momentos de sua gravidez. Mas quando tentava se lembrar do acidente, o que conseguia era muito pouco, apenas um borrão. Talvez fosse melhor assim, era como se sua mente tivesse se auto programado para deletar tamanha tragédia.

Uma tragédia que quase destruíra suas vidas.

Porém, mais importante que tudo aquilo, era o fato de que estava prestes a conhecer Emma. Sua expectativa era enorme, dizer que ela estava ansiosa era quase uma redundância, e Grissom que parecia nunca chegar!

Ela não conseguia parar de pensar em como seria a sensação de ter sua filha em seus braços pela primeira vez, sentir seu calor, sua respiração.

Ela parecia em outra dimensão quando finalmente ouviu o toque na porta.

E lá estavam eles.

Imediatamente sentiu seus olhos umedecerem com a imagem.

Emma tinha a cabecinha encostada no ombro de seu pai com o rostinho escondido em seu pescoço.

Havia um enorme sorriso no rosto de Grissom que involuntariamente ela retribuíra.

—A mamãe, Emma! Não vai dizer olá para ela ?