Recomeços escrita por LohRo


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Com exceção, este primeiro capítulo é escrito em tempo real.
Divirtam-se!



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Aquela seria apenas uma noite como tantas outras, ou assim ele imaginava.

Se sentar em sua mesa do escritório e se encolher em seu próprio mundo, era uma espécie de ritual. Algum tipo de compromisso que mantinha com ele mesmo há longos meses.

O ambiente estava sempre muito propício com pouca iluminação, ele preferia assim. Apenas a luminária sobre sua mesa trazia uma luz quase bruxuleante. Um toque melancólico revelando o que ia em sua alma.

A casa toda estava em silêncio.

Ele olhou para o retrato em sua mesa e sorriu. Mas era um sorriso triste, de saudade, dor e arrependimento.

Quanta culpa carregava em seu tão castigado coração.

Ele tocou a foto como se tivesse acariciando o rosto dela, se perguntava se um dia seria possível se esquecer da suavidade de sua pele. Ele não queria aquilo.

Seus olhos se fecharam, sua mente o levou a tantas lembranças boas, a tantos momentos felizes que lhes foram tirados bruscamente.

Ele não estava preparado para tamanha perda.

Sua vida havia mudado tanto.

Se pudesse voltar no tempo, se ele tivesse agido de outra maneira, talvez ela estivesse ali ou em qualquer outro lugar. Desde que estivessem juntos, ele não se importava.

Só queria vê-la feliz, saudável, realmente viva!

Deus, como ele sentia sua falta.

Como queria que aquilo tudo fosse apenas um pesadelo. Ela não merecia.

Um ano havia se passado.

Há um ano ela estava em uma mesa de cirurgia lutando por sua vida, lutando pela vida que eles criaram juntos.

Ela havia sido forte e guerreira até o fim.

Aquela era a sua Sara.

A Sara que ele sempre amou e que para todo o sempre amaria.

Nada era fácil, nunca foi. Em meio ao forte sentimento que os unia, haviam renúncias e conquistas, dúvidas e certezas. Mas eles sentiam que estavam progredindo lentamente. A convivência era pacífica, prazerosa.

Aquele nível de entrega, ambos sabiam que jamais haviam conquistado com outros poucos parceiros que tiveram ao longo de suas vidas.

Acima de tudo, eles eram amigos, confidentes, amantes.

O relacionamento era estável ... até aquela noite. Resultando na separação. 

Nada voltou a ser como antes.

Nem mesmo a descoberta de uma gravidez não planejada, foi capaz de uni-los novamente.

Não foi por falta de tentativas, ele havia lutado para recuperar sua confiança, mas ela já havia feito sua mente, estava irredutível.

Pelo bem-estar dela e de seu filho, ele decidiu respeitar sua decisão ao menos até que o bebê nascesse. Era o mais correto a se fazer.

Mesmo aquilo lhe machucando profundamente, ele faria absolutamente tudo para que sua gravidez fosse a mais tranquila possível. Sem brigas ou aborrecimentos.

Ainda assim, tiveram alguns sustos com a gravidez e ele não escondia tamanha preocupação com ela sozinha naquele apartamento, com ela trabalhando em um turno diferente do seu.

Ele estava presente até onde ela lhe permitia. Nas consultas com o seu obstetra, durante as ultrassonografias. Fora em uma delas que ele descobrira maravilhado que seu filho era na verdade uma filha. Uma menina que ele orou silenciosamente para que se parecesse com a mãe.

E assim os meses foram avançando, relativamente bem. Até o acidente acontecer dois dias antes de sua licença do laboratório.

Um motorista bêbado havia chocado violentamente contra o carro em que ela e seu parceiro de campo estavam.

De repente ele se viu sem chão, tudo à sua volta desmoronou. Sua família parecia escapar entre seus dedos feito areia fina e ele nada poderia fazer para salvá-la.

Ele olhou à sua volta e suspirou, era doloroso se lembrar de tudo aquilo. Em momentos como aquele, a saudade parecia insuportável.

Durante todo esse tempo, não havia um único dia em que ele não se martirizasse, pagara um alto preço por uma escolha errada. Uma escolha que ele julgou ser a melhor para ela, havia a colocado naquela situação. Um caso simples de trabalho, mas com consequências trágicas.

Seu erro havia sido decisivo, grande o bastante que lhe custara tudo que mais amava. Sua família.

Ele daria qualquer coisa para poder ouvir sua voz, outra vez. Para poder olhar em seus olhos, os mais lindos que ele já vira.

Ele daria qualquer coisa para que sua Sara voltasse para ele.

Uma única lágrima deslizou por seu rosto cansado. Ele não podia chorar. Não mais. Precisava manter-se forte. Continuar vivendo um dia de cada vez.

Apesar do que aconteceu entre eles, sabia que Sara jamais iria querer vê-lo definhar e ele não iria.

Havia uma luz que sempre o tragava da escuridão e essa luz era perfeita, tinha um nome lindo.

Ele se levantou de sua cadeira, havia perdido um pouco a noção do tempo. A madrugada avançava e ele precisava de ao menos algumas horas de sono.

Quando estava prestes a fechar a porta de seu escritório, o telefone tocou. Ele voltou rapidamente para dentro, imaginando que por conta do horário, seria algo muito sério.

—Grissom!

—Olá Dr. Grissom, aqui é a Dr. Shelly!

Ele se apoiou na mesa, com as pernas instáveis.

—O que ... aconteceu ? - Nem ele reconhecia sua própria voz. Fraca, diminuída, amedrontada!

—Ela acordou!

Oh Deus! Ele não podia acreditar.

Depois de um doloroso diagnóstico de coma profundo.

Depois de um ano, sua Sara abrira seus lindos olhos.

Tudo o que mais queria era tê-la de volta e agora ele a tinha.

—Estou a caminho!

Ele correu até o quarto o mais rápido que conseguiu, suas lágrimas caíam livremente. Mas desta vez eram lágrimas de felicidade, de completa gratidão.

Sem se conter, ele pegou o bebê que dormia confortavelmente em seu berço e a beijou, uma, duas, várias vezes.

Olhos azuis sonolentos encontraram olhos azuis emocionados.

—Ela voltou, Emma! A mamãe voltou para nós ...


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