mulher sem nome - trigésimo terceiro capítulo 

uma casa de estrelas, por lyn black

Ela está sufocando, as paredes internas que compõem seu delgado corpo estão finalmente colapsando. Engolir é enervante, respirar é um suplício e ela não consegue parar de querer vomitar sua alma no chão de pedra. 

O brasão é bonito no pingente de seu colar, sua pele está mais oleosa do que o normal - nada que um feitiço não resolva -, e ela se sente absurdamente sensitiva ao mundo. Poderia ela sentir menos? Ser menos? Ter na saliva apenas amilase salivare ao invés de faíscas de Fogo Maldito?

Não, isso é impossível. Nem um pouco aristocrata, muito menos decidida, ela ri e passa o batom, encarando o pequeno espelho. Ela se olha e não se enxerga, mentira!, a garota sempre enxerga muito mais do que é confortável. Zona de desconforto, esse é seu corpo e essa é a sua magia. Ela bochecha e cospe uma água límpida, mas que tem gosto de sangue, ela sente o cheiro da morte, uma mão amiga sussurrando no seu ouvido. Ela anda de mãos dadas com o fim, mas não anseia por beijar a companheira.

A moça atravessa o corredor cheio de alunos, colegas e professores, ela paira sobre eles como fantasma, contemplando como todos ali, provavelmente, carregam algum peso. Ah, mas ninguém é como ela, que carrega nas veias fissões nucleares, pensa irônica. Sendo sincera, ela até tem certa tesão por sofrer, por saber da sua angústia, por ser ela mesma dessa forma tão dolorida. 

Ela já rezou por felicidade, verdade. Agora, gostaria do equilíbrio dos olhos de furacão da Deusa, gostaria de escutar sua voz sem quase vomitar de nervoso. 

Se você quiser saber o nome dela, é segredo. É a maior mentira já contada. Nem ela mesma o conhece.