Yo Quisiera escrita por wldorfgilmore


Capítulo 8
Capítulo 8




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Se Darcy pudesse escolher entre ter aquela noite ao lado de Elisabeta e o clima que ficou depois, ele duvidaria muito de sua escolha. Ele deleitou-se com a noite aninhado a amiga. Mesmo com a chuva que caia em algumas gostas por entre as tabuas da casa da arvore, aquilo sequer o incomodava. Estar com Elisabeta ao seu lado, de forma tão intima como antigamente, fazia-o ignorar a chuva, o frio e a noite escura lá fora.

Mas se perguntava se valia a pena o retrocesso que a cena mostrara no dia seguinte. Isso porque Elisabeta acordara sem ao menos dar bom dia ao amigo e desceu como um foguete as escadas da árvore. Durante todo o percurso do local até a fazenda, ela andara na frente e, quando Darcy ousava a tentativa de alcança-la, a menina quase corria sobre o gramado.

Era nítido que não queria olhar para o rosto de Darcy.

Mal sabia Darcy que o motivo daquele esforço para ignora-lo era a confusão de sentimentos que já vinham se aflorando dentro de si, sentimentos esses que se intensificaram naquela noite. A noite fora diferente de todas as outras, apesar das muitas vezes que dormiram juntos, aquela pareceu diferente. Ou melhor, foi completamente diferente. Como poderia que sentir a pessoa mais aquecida do mundo só com o calor que emanava de Darcy? Como, em meio à chuva forte que caia lá fora e sendo protegida por um conjunto de madeiras gotejantes, sentia-se a pessoa mais segura do mundo só porque os braços de Darcy apertavam todo o seu corpo de encontro ao dele? Aquilo só poderia ser alguma insanidade. E ela esperava que fosse temporária.

Elisabeta abriu a porta da fazenda e entrou como uma flecha que atravessa o ar. Mas paralisou ao encontrar rostos confusos que levantaram do grande sofá assim que a miraram.

— Oh, Elisabeta. – Lorde a abraçou, com um semblante preocupado. - Onde você estava? E que trajes são esses? – quis saber.

Elisabeta olhou pra si pela primeira vez naquela manhã e o resultado foi muito pior do que imaginava. Estava com os cabelos desgrenhados e molhados, devido à posição que dormiu e a umidade da pequena cabana. Suas roupas estavam igualmente úmidas e completamente sujas, devido à lama pelo caminho.

— Uma verdadeira selvagem. – Susana riu ao analisar Elisabeta, mas nem um segundo depois, Darcy aparece na sala, fazendo a megera fechar a expressão.

O olhar dos outros três passava de Darcy para Elisabeta, examinando-os cautelosamente. Mas a resposta tão clara quanto aquele dia depois da tempestade: Darcy encontrava-se no mesmo estado de Elisabeta. E a conta era simples: estavam juntos.

— Mas o que está acontecendo aqui? – A ironia de Susana passou tão rápido como um jato.

Charlotte e Lorde deram por falta de Elisabeta logo pela manhã, mas imaginavam que a moça havia ido embora sem avisar aos dois amigos. Claro que aquilo causara estranheza, mas a gama de possibilidade para Elisabeta não ter acordado com eles era compreensível. Mas Susana dera por a falta de Darcy logo na madrugada, quando acordou e o homem não estava ao seu lado. Imaginando que o homem havia saído para tomar água ou coisas correlatas, não se apavorara e dormira novamente, mas ao acordar cedo e não encontra-lo novamente na casa, constatara que Darcy não dormira em casa. Mas nunca havia passado pela cabeça de nenhum dos dois que o casal de ex-amigos pudessem estar juntos.

O rosto de Susana espumava. As imagens que sua cabeça projetava não eram nada agradáveis para ela. Ao voltar o olhar de Darcy para Elisabeta, a vilã fulizou o olhar da menina e despejou:

— Além de uma selvagem, é uma meretriz! – Susana quase cuspiu em Elisabeta.

Darcy assimilara a situação assim que somou dois mais dois e entendeu o que aquilo parecia. E, apesar da percepção equivocada e um tanto compreensível para os trajes dos dois, Susana não tinha o direito de falar assim com Elisabeta.

— Susana, cale a boca agora! Eu não deixarei você falar assim com Elisabeta. – Darcy tomou a frente da menina. Susana já estava há um passo de Elisabeta.

— Eu sei me defender, Darcy. – bradou Elisabeta, tomando a frente de Darcy. – Essa mulher é completamente louca. – Elisabeta franziu o cenho.

Archiebald e Charlotte olhavam a discussão calados e atônicos. Não sabiam o que dizer, sequer o que pensar. Susana havia passado dos limites, mas aquela situação era completamente estranha pra eles. Ainda olhavam para os trajes de Darcy e Elisabeta e assimilavam ao fato de terem passado a noite juntos.

— Oh, que sintonia. – ironizou. - Que bonito casal de amantes. Aparentemente, menina, você faz um trabalho bem feito.

Em um movimento impulsivo, a mão de Elisabeta encontrou o rosto de Susana. O estalo do atrito ecoou no ambiente e a cabeça de Susana tombou para o lado. A mulher retomou a olhar Elisabeta com a mão no rosto, que ardia.

— Como você ousa? – Susana levantou a mão para devolver o tapa de Elisabeta, mas Elisabeta conseguiu segurar o braço de Susana antes da megera completar o ato. Elisabeta segurava com força e Susana gemeu de dor.

— Escove essa boca imunda antes de proferir palavras a mim. E, quer saber Susana? – o rosto de Elisabeta encontrava-se a milímetros de Susana. A mulher tinha os olhos arregalados com a aproximação de Elisabeta. – Eu não fiz absolutamente nada com Darcy, mas se eu quiser fazer isso agora. A-g-o-r-a. – soletrou. – Isso não é problema seu.

— Ele é meu namorado. – Susana conseguiu falar entredentes, apesar de Elisabeta a segura-la.

— Não é mais. – Darcy sentenciou, fazendo Elisabeta soltar Susana e Susana virar sua atenção ao homem, surpresas.

— Como? – diz Susana, se aproximando de Darcy.

— Simples! Não é mais. Nós não estamos mais juntos, Susana.

— Você me traz para conhecer sua família, dorme com outra, deixa sua amante me dar uma tapa – enquanto Susana falava, Elisabeta revirava os olhos. –, e termina comigo?

— É. – Darcy diz simplesmente, provocando a ira de Susana. Charlotte, que até o momento estava atônica com a situação, ri de leve. Susana já estava dando nos nervos.

— Você não tem esse direito! Você não pode escolher ela! – aponta para Elisabeta, que levanta os braços em sinal de rendição. Susana estreitas os olhos.

— Eu sempre escolheria Elisabeta. – Darcy olha para Elisabeta, que o encara de volta com um semblante confuso. Escolheria ela? Em que mundo essa conversa levou a esse rumo? Elisabeta olhou pra baixo e negou com a cabeça, afastando as constatações intrusas que voltavam a sua mente. – E você escolheu a pessoa errada pra ofender, Susana. Saia da minha casa!

— Eu vou. Eu vou mesmo! Não fico no mesmo lugar que uma meretriz!

— Saia, Susana. – Darcy gritou.

Susana bateu a porta ao sair sem ao menos levar as suas coisas. Darcy trataria de encaminhar todas as suas malas ao hotel. Mas não aguentaria nem mais um segundo aquela chuva de ofensas infundadas a Elisabeta. Nunca deixaria alguém proferir nada a sua amiga sem levantar a voz a quem o fez, mesmo que Elisabeta pudesse se defender e, bem, ele sabia que a amiga era boa de briga, não deixaria de se impor.

O clima não mudara quando Susana saiu. Ao contrário disso, piorara. Archiebald sentou ao sofá, intrigado com todas aquelas informações jogadas junto a si. Charlotte olhava para a amiga, tentando assimilar a expressão confusa que Elisabeta tinha.

— Elisa, desculpa por isso... Ela... – Elisabeta o interrompeu.

— Darcy, você não tem nada a ver com as palavras dela. Não precisa de desculpar.

— Mas eu a trouxe aqui. Você não merecia passar por isso. – Darcy, ignorando mais uma vez os seus parentes na sala, se aproximou de Elisabeta. – Desculpa. – tocou o rosto da amiga e logo tratou de tirar a mão dele de sua face.

Com a cena em sua frente, lorde ousou perguntar. Ele precisava cessar sua curiosidade:

— Vocês estão juntos?

— Não.

— Não. – O casal de amigos respondeu juntos.

— E onde estavam? – Charlotte intrometeu-se.

— Encontrei Elisa na cozinha de madrugada e a levei a casa da árvore. Mas começou a chover muito forte e ficamos por lá, não dava pra voltar no lamaçal que a fazenda produz. – explicou Darcy.

— A cabana de madrugada? – Charlotte disse. – Vocês sempre foram estranhos. – riu.

Darcy deu de ombros.

— Então isso tudo foi uma confusão? – Lorde Archiebald proferiu.

— Uma baita de uma confusão. – Darcy respondeu.

— Pelo menos serviu para você terminar o namoro com aquela moça. Entendo o que se passava pela cabeça dela, mas ninguém ofende a nossa Elisa saindo por cima. – Lorde abraçou Elisabeta. – Desculpe também,  minha menina.

— Vocês não precisam se desculpar. Eu já disse.

— E o tapa foi bem dado, hein? – Charlotte riu. – Eu absolutamente amei. Aquela mulher é um porre. Como você pôde Darcy? – deu um tapa no ombro do irmão.

— Nem eu sei. – os quatro riram quando Darcy coçou a cabeça, sem jeito.

— Bom... – Darcy virou-se para Elisabeta. – Posso falar com você?

Elisabeta olhou para a expressão de Darcy e um arrepio passou por o seu corpo. Não tinha o que falar com ela. Não queria ou sequer teria coragem de falar com ele.

— Não. Eu preciso ir. Outro dia... conversamos.

— Eu te levo. – Darcy ofereceu-se. Queria falar com Elisabeta, queria entender o que estava sentindo.

— Eu sei o caminho.

Ao sentenciar, Elisabeta sorrira para Lorde e Charlotte e virou como um foguete, saindo da fazenda e sumindo do olhar dos três.

— O que deu nela? – Archiebald perguntou. – Eu não estou entendendo mais nada.

— Eu nunca entendi a relação de vocês.  – Charlotte disse. E também nunca tentara. Era de muito esforço analisar Darcy e Elisabeta.

Darcy nada respondeu. Só conseguiu pensar em como tudo havia ficado estranho e em como aquilo poderia complicar a sua proximidade com Elisabeta. Nem um segundo depois de a moça correr para fora, Darcy deixou a fazenda atrás de Elisabeta.

Encontrou a menina no estábulo da fazenda, prestes a subir em Tornado.

— Elisabeta! – gritou, ao correr e aproximar-se da menina.

— Eu disse que preciso ir, Darcy.

— Só um minuto. Eu só quero um minuto.

— Eu não tenho esse minuto pra te dar. – a menina arrumava a cela do cavalo.

— Elisabeta, não seja arredia! – pegou no braço de Elisabeta e a virou para si, fazendo o corpo da menina colar no seu. A respiração de Elisabeta deu o ar da graça mais do que deveria.

— Darcy... – foi a única coisa que conseguiu dizer com braço de Darcy fazendo pressão em suas costas e o rosto do homem a centímetros do seu enquanto despejava aquelas palavras.

— Isso não vai fazer você fugir, não é? – disse, olhando impulsivamente para a boca de Elisabeta. O contorno de seus lábios não o deixava pensar direito.

— Fugir de que? – Ela disse, seguindo o olhar de Darcy e, sem querer, deixando o seu também cair na boca dele. Ela observava como as palavras saiam tão mais bonitas sendo ditas por aquela boca.

— De mim. – Darcy ousou se aproximar um pouco mais, se é que era possível, do contato com Elisabeta. Já não pensava e suspeitava que Elisabeta estava longe do seu juízo perfeito também. Os lábios de Darcy já sentiam a proximidade dos lábios de Elisabeta. Elisabeta, por sua vez, não sabia o que fazer para fugir dali, mas desconfiava que seu corpo não responderia a sua lógica, a menina já sentia seu lábio inferior formigar.

Darcy, tomado por o anseio que sentia, tocou levemente a boca de Elisabeta com a sua, roçando de forma lenta os lábios de Elisabeta com os seus, sentindo a textura macia da moça. O homem, ousando um pouco mais, puxou o lábio inferior da menina com a sua própria boca, prendendo entre seus lábios e chupando devagar. Elisabeta suspirou, não sabia o que fazer, só conseguia sentir uma sensação de calor espalhar-se por todo o seu corpo. A menina sentiu Darcy soltar o seu lábio e aproximar mais uma vez sua respiração. Sentia Darcy próximo demais e, tentando se livrar da proximidade e evitar o prazer que aflorava dentro de si, remexeu mais o corpo. Um erro. O remexer de seus corpos causou um frisson fora do normal no interior dos dois. Darcy gemeu ao mais um vez tocar os lábios de Elisabeta e, dessa vez, em um selinho demorado. Ouviu um pequeno som saindo da boca de Elisabeta, o que o estimulou a abrir a boca da menina com a sua, que não o impediu de realizar o ato. Só não contavam com um tornado impaciente que, com a cabeça, separou Darcy e Elisabeta.

— Ai. – Elisabeta grunhiu.

E, voltando a si depois do que nitidamente seria um beijo, Elisabeta não esperou meio segundo para subir no tornado e disparar gramado a dentro deixando um Darcy estático, confuso e cheio de respostas para as suas perguntas.


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