Yo Quisiera escrita por wldorfgilmore


Capítulo 5
Capítulo 5




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As vozes, as tendas, o cheiro da comida típica da região, as risadas que essas festas proporcionavam, o cheiro da noite que invadia-lhe as narinas, tudo aquilo era um estranhamento familiar para Darcy. E se havia uma coisa que sentira muita falta nos anos longe do Vale, era confraternizações como aquela. O Vale do Café sempre conseguira reunir todos os seus habitantes no centro da região para festejarem juntos.

Conforme caminhava, junto a Charlotte e Susana, Darcy reconhecia rostos que não via há quase uma década, cumprimentavam-no, Darcy sempre fora bem quisto na cidade.

— Como eu senti saudade dessa paz toda do Vale, mesmo em meio a essa agitação. – Darcy olhava em volta com o encantamento que a familiaridade lhe causava.

— Eu imagino, meu irmão. – assentiu em concordância. - Inclusive, você perdeu altos acontecimentos da nossa cidadezinha.

— Em momentos como estes, eu me arrependo de não ter voltado antes.

Susana olhava em volta com um ligeiro desdém, concordando com a cabeça acerca das constatações que Darcy e Charlotte proferiam.

Há alguns passos do lugar que Darcy e Charlotte se encontravam, Olegário servia um tanto de vinho no copo de Elisabeta. Elisabeta sempre contava as horas para o evento periódico do Vale acontecer: adorava o clima, a comida, o fato de reunir todos os seus conhecidos em um mesmo lugar e as danças. Ela particularmente adorava as danças.

— Mariana, Brandão está a te olhar. – Elisabeta cutucou a irmã, arrancando um sorriso cúmplice de Elisabeta.

— Suponho que sim. – aproximou-se mais de Elisabeta, para que ninguém as escutasse. - Nos beijamos ontem.

— Mariana! – Elisabeta exclamou, soltando uma risada um tanto mais alta que o normal. Mariana logo a repreendeu. – Como não me contou? Mamãe havia colocado ele em minha lista, então já temos um a menos. Espero que todos os outros beijem outras mulheres.

Elisabeta mordeu seu próprio lábio. Mariana negou com a cabeça.

— Não entendo como consegue ser tão fria em relação a relacionamentos. De certo que agora eu estou envolvida com o coronel, mas há tantos homens esbeltos na cidade.

— Tenho outros prazeres. - começou.

— Como quais? – questionou.

— No momento, deliciar meu vinho e esperar nossa dança. Apreciando o melhor momento da cidade. – Elisabeta levantou o queixo, sorrindo pra irmã.

— Estão nos excluindo dos seus cochichos. – Ema chamou a atenção da dupla. Ela conversava animadamente com Olegário.

— Também estou interessado no que as moças falavam. – Olegário protestou, ensaiando uma expressão exageradamente curiosa. O rapaz passou os braços pelos ombros de Elisabeta, que o abraçou pela cintura.

— Eu dizia que você roubou todo o nosso vinho e monopolizou-o pra si. Trate de dividir, Ole. – Estendeu o copo que tinha na mão livre, sendo logo preenchido por o amigo.

As risadas altas de um grupo logo chamaram a atenção de Darcy, fazendo-o parar e reparar em seus integrantes. Tão logo virou seu rosto e aquele sorriso inconfundível se destacou mais que os outros que estavam ao seu lado. A sua voz um tanto alta que se fazia ser ouvida e a risada sempre estridente era uma das coisas que sempre fazia Elisabeta se fazer nítida em qualquer situação. Charlotte acompanhou o olhar do irmão, sorrindo e o puxando para o grupo para qual ele olhava.

Ema logo bradou.

— Charlotte!

— Meus amigos, que bom encontra-los! – a menina disse de forma cordial.

— Nada disso, Charlotte! – exclamou Ema. – Sua desnaturada, como larga seus amigos dessa forma? Estávamos com saudade e com dizeres nada elegantes sobre o seu sumiço.  – seu tom sugerira um misto de brabeza com divertimento.

— Minha amiga, Darcy voltou à cidade a negócios e eu precisava passar um tempo com o meu irmão.

Darcy escutou seu nome por alto. Sua atenção estava voltada sem disfarce algum para a dupla parada um pouco atrás de Ema. Elisabeta encontrava-se nos braços de um homem que ele sequer conhecia. Um misto de choque e incompreensão por o seu próprio estado passou pelo corpo de Darcy enquanto encarava minuciosamente cada detalhe do abraço dos amigos naquele curto pedaço de tempo: as mãos de Elisabeta em volta do homem, o homem que tinha o braço direito em cima dos ombros de Elisabeta e que agora descia possessivamente por sua cintura, em uma clara demonstração de estranheza e proteção do olhar de Darcy sobre Elisabeta. Elisabeta, que obviamente percebera a filmagem do ex-amigo, sentia seu rosto queimar com os olhos de Darcy sobre si.

— Darcy. – Charlotte chamou-o novamente.

Darcy, de súbito, voltou a atenção aos outros a sua frente, limpando a garganta e esboçando um sorriso simpático para os presentes.

— Ema! Mariana! Quanto tempo não as vejo. – aproximou-se de cada uma, abraçando-as. – Transformaram-se em belas moças. – elogiou.

— Querido amigo, gentileza sua. – Ema respondeu com um olhar sugestivo a Elisabeta, que não saira da posição em que estava.

— Elisabeta - assentiu Darcy, encarando-a de maneira formal -, como vai?

— Bem. – respondeu simplesmente, estudando a expressão de Darcy. Mesmo que alguns anos houvessem se passado, sabia que a expressão do amigo calculava a situação.

— E seu – pausou sua fala -, namorado, como se chama? – estendendo a mão para Olegário. – Nunca o vi por aqui.

Os amigos se entreolharam, segurando suas expressões que já formaram um riso contido. Elisabeta olhou de Darcy para Olegário franzindo o cenho, confusa com a situação. Olegário se desvencilhou de Elisabeta e segurou a mão de Darcy.

— Eu sou Olegário e respondo por mim mesmo. – apertou um pouco mais forte a mão de Darcy. – E corrigindo a sua constatação um tanto equivocada: não sou namorado de Elisabeta.

A expressão de Darcy suavizou-se por alguns segundos, até indagar-se:

— Noivos?

— Amigos. – adiantou-se Elisabeta. - E suponho que esse questionário sobre a natureza de minha relação com Olegário não é muito apropriado.

Elisabeta encarava Darcy sem humor, que a desafiava com o olhar sem encontrar um porquê exato. O clima tenso que pairava sobre o ambiente era explicito para quem estava ali, que só trocavam olhares sugestivos uns com os outros. Quem não estava muito interessada com o embate entre as partes era Susana, que se intrometeu objetivando quebrar aquela conexão silenciosa:

— Eu sou Susana. – apresentou-se. – Antes que perguntem, sou a namorada de Darcy Williamson. – Susana praticamente soletrou de forma exagerada o nome de Darcy, que acabara de perceber a mulher abraçando-o lateralmente.

Elisabeta assentiu para Susana, segurando um riso que se formava em suas articulações.

— Olá? – Elisabeta percebeu o exagero da parceira de Darcy. – Muito prazer Susana, namorada de Darcy Williamson. – imitou o tom de Susana em seus dizeres. – Tenho por mim que não tenho interesse em sua colocação. Mas adianto que – pausou, abrindo os dentes em um sorriso -, desejo felicidades? – afirmou, um tanto incerta sobre a palavra. – Já que é tão valoroso o seu status.

Charlotte, Olegário, Mariana e Ema estavam a ponto de explodirem com quão esforçados estavam sendo para segurar riso, apesar de não entenderem nada da situação inusitada a sua frente.

Elisabeta tampouco compreendia porque fora indelicada e por vezes debochada naquele curto diálogo que mantinha com Darcy, e principalmente Susana, que mal conhecia. Mas o rancor que guardara por seu amigo, somado ao conjunto de questões desconcertantes e atrelada com aquela pseudo namorada um tanto quanto intrometida, causara-lhe coceira em sua língua já bastante afiada.  

O incomodo no estômago de Elisabeta ao reconhecer o status de Susana na vida de Darcy também não passara despercebido por ela. Elisabeta sempre se conheceu muito bem e refletia constantemente sobre a sua relação consigo mesma e com seus sentimentos, por isso muitas vezes evitava falar com os outros. Ela mesma era sua melhor ouvinte e companheira. Estranhava, assim, a maneira como seu corpo reagira imediatamente àquela informação. O torpor era presente.

Contudo, as amigas em conjunto com sua irmã, perceberam a confusão que Elisabeta se encontrava.

— Elisabeta – Mariana se colocou a frente de Elisa -, você ficou de ir falar com Brandão comigo.

Elisabeta saiu do transe ao ser puxado pela irmã.

— Vamos, não quero deixar o coronel esperando. Ele já está olhando para cá.

Ao ver Elisabeta se distanciar, Susana comentou:

— Língua solta e bem mal educada essa sua amiga, Darcy!

— Susana, não fale assim de Elisabeta! – Charlotte protestou.

— Então relatas que é assim que se tratam convidados à cidade? Realmente, há uma forma diferenciada de ser ver as coisas por aqui, não é? – debochou, olhando em volta.

Susana percebeu o olhar de Olegário em cima de si.

— E você, o que procuras?

— Sua segurança. – respondeu simplesmente.

— Como? – questionou, não associando a nada a resposta de Olegário e sendo ignorada por o mesmo.

Ema, que estava ao lado de Darcy e Olegário, começou, propondo uma mudança de assunto:

— Darcy, conte-me, o que de traz a nosso velho Vale do Café?

Com a interrogativa de Ema, os amigos – alguns nem tanto assim - começaram um papo sobre os objetivos de Darcy e sua vida em Londres. Ema escutava atentamente todos os assuntos que Darcy lhe proporcionava sobre a vida fora do Vale. Olegário, por sua vez, ouvia os relatos de forma quieta e calada ao lado de Ema e Charlotte, mas sentia constantemente o olhar em chamas de Darcy sobre si, sabia que todas aquelas exclamações sobre as viagens, a universidade e a fortuna que Darcy despejava de forma exagerada era uma forma de gabar-se em cima de si. Olegário já tinha convicção acerca dos motivos de tal implicância.

Os minutos se passaram deste o episódio, a confraternização transcorria de maneira igual há todos os anos, com a inclusão de Darcy à roda de conversa.

— Estou faminto, irei comprar algum aperitivo. – informou Darcy, afastando-se do grupo e seguindo em direção as tendas.

Darcy procurava algo que lhe prendesse o estômago por entre os inúmeros quitutes oriundos exclusivamente de sua região. Apresentava dúvida, queria provar todos de uma vez, tamanha a saudade que tinha das especiarias. Mas um vestido vermelho ao longe chamou sua atenção.

Elisabeta, um pouco mais afastada das tendas e das diversas pessoas ao centro, encontrava-se sentada na grama em um ponto com pouca luz, encostada em uma árvore. Seu vestido fazia um circulo em volta de si e comia distraidamente um pedaço de bolo, pela cor, Darcy suponha que seria chocolate.

Sorrateiramente, Darcy aproximou-se do local. Elisabeta mirou os pés do homem e subiu o olhar, encarando Darcy parado a sua frente.

— Posso? – perguntou, apontando para a grama.

— O ambiente é público. – deu de ombros, voltando sua atenção ao bolo.

Apesar da resposta atravessada, Darcy sentou ao lado de Elisabeta, encarando o espaço festivo a sua frente.

— Devo imaginar o motivo de suas represálias ao se direcionar a mim. – disse, com olhar ao norte.

— Imagino que não seja um acéfalo. – também sem encarar Darcy, que revirou os olhos com a resposta.

— Vejo que tem a mesma falta de humor quando algo a incomoda. Era da mesma forma há alguns anos. – constatou calmamente, virando o rosto para encarar Elisabeta, que já sentia sua face queimar com os olhos de Darcy. Sua paciência para o que sentia já estava se esgotando.

— Que seja. – respondeu indiferente, ainda sem olhar para o lado.

— Não pretende falar comigo, presumo. – constatou.

Elisabeta o ignorou, terminando de comer o resto de seu bolo. A moça levantou os próprios joelhos e abraçou-os, com o olhar ainda à frente.

Darcy riu nervosamente e continou:

— Bom, então eu falo sozinho. O Vale continua da mesma forma, né? É como se a magia daqui nunca passasse. Eu senti falta.

Elisabeta pigarreou, respirando fundo em um som debochado.

— Senti mesmo. Apesar de Londres ter se tornado meu lar, a tranquilidade e familiaridade que se encontra aqui sem igual.

Elisabeta revirou os olhos, fazendo referência a levantar-se dali. Darcy a segurou pelo braço com delicadeza, mantendo-a sentada.

Elisabeta, que já segurava todas as palavras que pareciam querer fugir de sua garganta, estreitou os olhos e encarou Darcy, de maneira gélida:

— É inacreditável. É simplesmente inacreditável a forma... – pensou – a forma que você chega e age como se nada tivesse acontecido. Age como... como você mesmo diz, como se o tempo não estivesse passado e exatamente tudo estivesse no mesmo lugar. – riu pra si mesma – Você é cínico.

Darcy abriu a boca pra falar, mas Elisabeta logo despejou:

— Não. Não, Darcy Williamson. Você não vai falar. Queria que eu falasse, não? Então estou falando, com você. Pra você.

Continou.

— As coisas não são do mesmo jeito. Eu não sou a mesma pessoa. Você não é a mesma pessoa. Eu não te conheço. Então, por favor. – juntou as duas mãos, em uma prece. - Para de agir como se tivesse qualquer liberdade comigo. Você não a tem.

Darcy espantou-se. Esperava que Elisabeta tivesse qualquer outra reação, mas não aquela. A cada palavra dita por a menina, mais engolia em seco.

— Tinha. Tinha no passado. Tinha há sete anos quando saiu daqui e prometeu me levar com você, mesmo que em pensamento. Mesmo que por cartas. Eu achava que era sua amiga. Eu realmente acreditei. – balançou a cabeça em negativa, um sorriso irônico era o que o seu rosto esboçava.

— Mas você é. – tentou dizer, antes que ela o interrompe-se novamente.

— Me poupe, Darcy Williamson. – soltou uma risada estridente. – Você sumiu. Evaporou, não deu as caras. Ou as cartas, no caso. – corrigiu-se, debochada.

— Eu posso... – incerto – explicar.

Darcy olhava para Elisabeta receoso. Não poderia explicar. Não havia explicação alguma. Ele só seguira sua vida procurando independência, em todos os sentidos. O que falaria para a moça que lhe olhava com o olhar estreito agora? Que tinha que se desprender dela para seguir a sua vida? Isso soara ilógico até para ele. Nunca havia conseguido explicar a afetação que Elisabeta, desde que a conhecera, era capaz de lhe causar. Nunca havia conseguido explicar para si mesmo porque necessitava de forma urgente a eliminação de Elisabeta de seus pensamentos. Seguira seus instintos, e seus instintos repeliam a ausência de Elisabeta. Repeliam a ponto de arrancar a imagem da menina para conseguir formar-se homem.

— Pois bem – Elisabeta virou todo o seu corpo para frente de Darcy. –, comece.

Darcy não proferiu uma palavra. Buscou, vasculhou, abriu todas as gavetas de seu cérebro tentando entender o que nunca havia entendido. Inútil. Elisabeta o deixava fora de si, mesmo com anos de ausência.

— Como eu imaginava... – constatou Elisabeta, com uma ponta de mágoa em sua voz. No fundo, esperava uma explicação que colocasse um ponto final nas inúmeras questões que levava consigo. A magoa em sua fala não passara despercebida por Darcy.

Darcy, em um ato involuntário, segurou o rosto de Elisa com as duas mãos, os dois tremeram com o primeiro toque depois de tanto tempo.

— Eu não sei. Eu – vacilou -, eu simplesmente não consigo explicar o que aconteceu. O que houve. O porquê.

Elisabeta tremia sobre as mãos de Darcy, procurando resgatar a voz, que saira baixa quando disse:

— Você não faz sentido.

— Eu não faço. – apressou-se em falar, enquanto um dos polegares começou a cariciar o rosto de Elisabeta. O contato fazia com que as lembranças que os dois tinham pulassem de suas mentes. O toque era tão certo, era tão intimo, era tão deles.

Darcy percebera que Elisabeta recuara e aproveitou a deixa.

— Eu não tenho o que falar porque eu também não entendo. Se... Se eu tentar proferir qualquer explicação, elaborar qualquer dircurso, você ficaria tão perdida como eu porque... porque eu não sei, Elisabeta. – seu rosto trazia uma angústia que causava estranheza em Elisabeta. – Depois que... Na verdade um bom tempo depois que nós... que eu – corrigiu -, que eu parei de responder. Que eu decidi parar de...

— Decidiu? – Elisabeta olhou-o espantada, estreitando os olhos.

— Sim, decidi parar de responder. – disse sincero - Eu realmente pensei em mandar cartas novamente, mas algo me impedia. Era como se...

— Que lenga-lenga. – voltou com o tom irônico, fazendo Darcy firmar de novo o rosto de Elisabeta em suas mãos, precisava se fazer ouvido.

— Eu estou sendo sincero, Elisabeta. Não há como ter uma explicação para o ilógico, para algo que nem eu decifrei. Eu só queria que não me tratasse dessa forma, peço desculpa por ter soado invasivo.

Elisabeta tirou os braços de Darcy de seu rosto com delicadeza, tocando no rapaz e reconhecendo a textura de suas mãos. Olhou incerta para Darcy. Darcy parecia confuso. Ou melhor, tudo que Darcy lhe disse era confuso, raso e ele parecia não encontrar palavras para conseguir formar uma frase coerência. Mas apesar da falta de jeito, via sinceridade em seu olhar. Uma sinceridade até cortante demais quando disse que decidiu, por livre e espontânea vontade, parar de lhe responder. Aquilo havia sido recebido por Elisabeta de forma dolorosa, engolira em seco quando a informação lhe invadiu os ouvidos. Mas, por mais louco que parecesse, queria desculpar-lhe por o primeiro encontro, por a maneira com que falara com Ole ou por a forma que invadira seu espaço naquele momento.

Elisabeta encarou Darcy novamente e segurou seu lábio inferior entre os dentes. Via no rosto de Darcy uma expectativa que, se não estivesse tão confusa quanto ele, teria rido da cara de paspalhão do ex-amigo. E claro que não poderia negar que aquilo lhe dera certa satisfação.

— Bom... – inclinou a cabeça pro lado -, pelos novos acontecidos, talvez. – cedeu, arrancando um sorriso de Darcy. O homem soltou o ar como se estivesse prendendo-o a anos.

A menina continou:

— Mas só pelos novos acontecimentos. – tratou de deixar claro.

— Claro. Mas – Darcy olhou para Elisabeta, sentiu-se um pouco mais livre para provoca-la. –, você mesmo disse que somos outros.

— E somos. – completou, com uma interrogativa no olhar.

— Então, já que somos outras pessoas... – arrastou a língua por o próprio lábio, prendendo um sorriso que insistira em sair.

— Sim?

— Poderíamos nos reconhecer. – Elisabeta juntou as próprias sobrancelhas, em uma expressão de incredulidade.

— Como?

— Prazer, Darcy Williamson. – estendeu a mão para Elisabeta.

Elisabeta, mesmo sem querer, balançou a cabeça em negativa rindo da proposta de Darcy. Buscava palavras para contestar a ideia maluca e um tanto presunçosa para dobrar Elisabeta. Elisabeta sabia que Darcy tentara usar suas palavras para si mesmo em busca de uma aproximação que ela ainda não sabia a intenção. Sequer duvidava que ele tinha verdadeiramente alguma intenção. Suas armaduras ainda estavam levantadas, desconfiava que demoraria para vê-las ao chão. Mas estava tentada a vê-lo esforçar-se.

— Elisabeta Benedito. – respondeu Elisa ao tocar a mão de Darcy de volta, apresentando-se. Os olhos se encararam com um divertimento atípico. Eles sabiam que haviam cravado um desafio silencioso.  

Uma música mais agitada havia começado a invadir todo o centro da cidade. Iria começar uma dança típica dos habitantes dali, era um ritmo mais festivo e todos sabiam de cor e salteado cada passo da música. As pessoas começaram a tomar lugares no centro da rua.

Darcy levantou-se, estendendo a mão para Elisabeta.

— O que? – perguntou a moça.

— Você ama essa parte da festa. Ah, perdão - corrigiu-se -, não a conheço o suficiente para saber que você ama essa parte da festa. Mas, posso supor. – sorriu, arrancando um sorriso contido de Elisabeta.

— Não vou dançar com você. Mal lhe conheço. – entrou no jogo.

— É uma bela oportunidade para conhecer-me. Aliás, sou um ótimo pé de valsa. – gabou-se. A familiaridade do menino de anos atrás veio à tona ao ouvir a frase orgulhosa.

— É assim que espera convencer-me? – desafiou.

— Não, mostrando-lhe.

Em um movimento rápido, segurou o braço de Elisabeta e a puxou para cima, tendo um leve protestou quando a mesma colou-se de pé diante dele.

Elisabeta admirou a ousadia de Darcy, sempre havia admirado. E o comparativo entre o menino e o homem diante de si agora estava deixando-a atordoada.

Deixou-se levar ao centro do local e percebera os olhares curiosos dos amigos, que já havia tomado ciência da ausência do par. Ema piscou para Elisabeta assim que o olhar cruzou com o da amiga.

Contudo, mal teve tempo de expressar qualquer reação. Darcy colou o corpo de Elisabeta com o seu, fazendo-a arregalar os olhos com o contato. Demorou um pouco para que Elisabeta situar-se ao ritmo e os passos da dança, mas logo a moça soltou-se para fazê-lo com maestria.

Ambos mantinham o contato visual e não imaginavam que suas mentes projetavam as mesmas imagens. Darcy e Elisabeta sempre dançavam juntos essa mesma música quando eram mais novos, desprezando quaisquer outros que lhe pedissem a mão. Era a dança dos dois, da cidade que os representava e os haviam apresentado. Conforme os passos se desdobravam, flashes de um menino e uma menina intercalado com a imagem do homem da mulher de hoje se fazia presente nas lembranças que lhes invadiam naquele momento. Saudades e dúvidas embalavam o ritmo, mas a principal palavra para aquele espaço de tempo era reconhecimento. A cada novo movimento que os corpos precisavam tocar-se, um reconhecimento intimo brilhava no olhar que ia de um ao outro.


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