Yo Quisiera escrita por wldorfgilmore


Capítulo 3
Capítulo 3




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— E pensam em casamento? - indagou Archiebald. 
Darcy pigarreou a mesa de jantar. Já eram por volta das 17 horas, e ele havia passado a maior parte do dia contando a Charlotte sobre a viagem que fizera por toda a Europa no começo daquele ano. 
— Ainda estamos nos conhecendo papai. - respondeu simplesmente. 
— Como as coisas mudam, eu e sua mãe mal chegamos a nos conhecer e já nos colocaram no altar. Não enrole a moça, Darcy, - bradou Archiebald - ela me parece ser bem afeiçoada, também formada em Economia como você, faço gosto deste casamento. 
— Papai, não seja indelicado. - respondeu Charlotte.
— Lorde Williamson - começou Susana. 
— Archibald, afinal, estamos entre família. - corrigiu a moça. 
— Archibald - sorriu -, no tempo certo, eu e o seu filho conversaremos sobre isso. O apoio em qualquer que for sua decisão - Susana colocou a mão sobre a de Darcy, acariciando -, e informaremos quando decidirmos oficializar nosso amor. 
Darcy incomodou-se com o assunto, apesar de não ter aversão ao casamento, nunca havia pensado na possibilidade de casar-se com Susana, mas tampouco imaginava que o assunto lhe seria tão desconfortável. Sabia que seu pai, tradicional como sempre fora, indagaria em algum momento da viagem, ainda mais levando a moça junto a si, mas o desgosto em seu estômago realmente o surpreendeu. 
— É... - respondeu simplesmente - e bom, estou satisfeito, irei aos meus aposentos, preciso arrumar algumas coisas. 
Darcy levantou-se. 
— Meu amor, eu vou com você. 
— Susana, espere! - exclamou Charlotte - eu queria tanto mostrar-lhe alguns dos meus bordados! Darcy disse que também apreciava essa arte. 
— Que ótima ideia. Vá com Charlotte, assim vocês podem se conhecer melhor. - apressou-se Darcy. 
A contragosto, Susana foi com Charlotte, a moça havia percebido o desconforto de Darcy com a colocação de seu pai. 

Darcy colocara algumas coisas que trouxera de viagem em seu quarto e logo fora para o jardim da fazenda. Era um final de tarde bonito e quente, como sempre era no Vale do Café. Estava um pouco desacostumado com o clima, já que ambientes nublados e chuvosos eram comuns em Londres, lembrava que o contrário também acontecera e demorou para adaptar-se ao clima mais frio da cidade em morava. 
Uma ansiedade lhe ocorreu e nos minutos seguintes estava cavalgando pelos campos floridos do Vale do Café. Queria aproveitar aquela sensação de liberdade que o Vale trazia. Havia esquecido a libertadora sensação de cavalgar, de sentar em cima de um cavalo e descobrir o mundo verde que estava ao redor de si. Sorriu com a sensação e fechou os olhos sentindo o vento bater em seu rosto. 
O caminho familiar surgiu em sua frente e foi guiado por a rotina que teve até os 18 anos, cavalgando até o mais alto dos montes do Vale do Café: O Darlisa. Era assim que o chamava. Que o chamavam. Os dois. 
De súbito, segurou-se no cavalo enquanto subia o morro, uma sensação gostosa surgiu em sua barriga, trazendo pra si lembranças de sua pessoa. Da sua pessoa preferida da via láctea. 
— Elisabeta. - disse em voz baixa, sorrindo tolo. 
Desceu do cavalo e observou a paisagem em volta de si. Era exatamente a mesma que se lembrava, sem tirar e nem por. O tempo não havia passado para aquele lugar e o cheiro... ah, aquele cheiro, aquele conhecido cheiro que trazia uma paz fora do comum. Riu para si, suspeitava que o lugar estava deixando-o alucinado, pois ainda tinha o perfume inconfundível de Elisabeta. Era como se ela tivesse ali há dois minutos.
Elisabeta sempre fora a maior prioridade de Darcy na vida, tanto é que Charlotte sempre brigava com o irmão pois o rapaz depositada toda sua atenção nas aventuras que Elisabeta propunha. Era sua melhor amiga e o seu ponto central no universo e fazia questão de deixar isso claro para todos que o conheciam. A conhecera na infância, e desde então grudara na pequena menina de cabelos castanhos claros. Ao crescer, a genuinidade daquele amor puro também cresceu, e suspeitara que nunca conseguiria sair de perto da amiga. Mas os planos não obtiveram a confirmação que ele sonhara, ao ir à universidade, viera a ruptura. 
Haviam prometido nunca perder o contato e, no início, realmente não perdera: ansiava a cada carta que chegava, escrevera mais inúmeras cartas e mantivera este contato por cerca de 1 ano e meio. Mas aquilo tornou-se prejudicial a Darcy. Darcy sempre fora mais emotivo que Elisabeta, mesmo tentando passar a imagem de durão com frequência. Ao chegar na universidade, mal se concentrara nas aulas e como a menina havia brincado antes de o rapaz viajar, realmente não conseguiria fazer absolutamente nada sem ela. Elisabeta sempre o ensinara e o ajudara na maioria das coisas. Sozinho, percebeu que realmente dependia muito da amiga. E não só para suas atividades, mas a dependência emocional que demonstrava ao ansiar pelas cartas mais que por suas notas, começaram a lhe perturbar. Sentia uma saudade absurda de Elisabeta. Pensava na menina e em suas maluquices o tempo inteiro, logo no primeiro período, conseguiu algumas dependências por falta de concentração. No início, Darcy não era feliz ali, mas estava destinado a completar os 4 anos de estudo fora do país. Conversou com o pai algumas vezes sobre voltar ao Vale do Café, mas o mesmo negou. Sempre deixara Darcy livre em todos os sentidos, mas cobrava-lhe os estudos para continuar com seu império. 
Fadado a ficar em Londres por todo o período universitário, resolveu entregar-se a vida que estava vivendo. Sua independência dependia do desprendimento de Elisabeta. Esforçou-se a mandar menos cartas a Elisabeta e como a menina sempre fora independente, desconfiava que sua amiga não perceberia. Com o costume e o esforço em seguir sem a menina, veio à falta. Darcy percebeu-se esquecendo de responder, de entregar as cartas ao correio, de buscar. Sentia-se triste com aquela amizade tão pura virando uma lembrança, com a imagem de Elisabeta cada vez mais longe de sua mente. Mas a distância, a nova vida que apagava involuntariamente a antiga, a ausência e a falta extrema que antes sentia, culminou naturalmente, no corte desse laço. 
Darcy que olhava pro horizonte, percebeu um objeto a sua direita, próximo a árvore que costumava sentar para ler com Elisabeta. Era uma bolsa feminina, cor vermelho sangue. 
Suas indagações a cerca do objeto logo cessaram, quando ouviu sons de galope vindo ao longo no morro. 
Uma cabeleira castanho médio apareceu em sua visão ainda turva por a distância, a moça, aparentemente, tinha pele clara, usava um vestido vermelho sangue, assim como a bolsa que estava em suas mãos, ela cavalgava com uma desenvoltura perfeita em cima daquele cavalo. 
Quando o cavalo aproximou-se mais da beira do morro, Darcy sentiu um arrepio percorrer toda a sua espinha, deixando-o com a boca seca e levemente incrédulo. 
— Elisabeta - sussurrou. 
Elisabeta desceu do cavalo ao chegar no topo do morro, o sol reluzia perto do rosto de um homem parado ao lado de sua árvore. 
— Quem é você? - Elisabeta franziu o cenho e se aproximou do homem, parando frente a ele depois de 5 passos. Faltou ar. O reconhecimento fez todas as borboletas do mundo pousarem nas suas entranhas. - Darcy. 
— Elisabeta. - repetiu. 
Não haviam palavras, tampouco expressão que não fosse surpresa em seus rostos. Uma conexão invisível se estabeleceu entre os dois e os olhos diziam tanto que qualquer menção atrapalharia aquela conversa silenciosa. Elisabeta não esperava encontrar Darcy nessa sua vinda ao Vale do Café, decidira, naquela tarde, que fugiria de qualquer compromisso mais formal que o obrigaria a encontrá-lo. Darcy não se imaginara vendo Elisabeta depois de tudo, nem com a sua ida ao Vale do Café, evitava pensar em qualquer coisa relacionado a moça. 
Darcy limpou a garganta, saindo do transe e sorriu, sem jeito: 
— Vejo que ainda vem aqui. 
Elisabeta se recompôs, levantando o queixo.
— Sim, ainda é um lugar que frequento. - disse direta. 
— Era nosso lugar preferido. - lembrou, tentando puxar algum assunto para evitar o silêncio constrangedor. Ele não sabia como agir. 
— Eu sei, Darcy. Não perdi a memória. - falou ríspida, tentando manter a postura. 
Darcy percebeu o tom de voz da moça e abriu a boca para responder alguma coisa, mas nada saiu. 
— E essa bolsa é minha - puxou a bolsa da mão de Darcy -, vim justamente buscá-la. 
Elisabeta mal o olhou depois de seus dizeres e virou-se, subindo em tornado. Darcy deu um passo a frente e disse: 
— Espere. 
A moça o olhou, de cima do cavalo e Darcy continuou:
— Vamos conversar. 
Elisabeta franziu o cenho e deu um sorriso debochado. 
— Engraçado, eu achei que suas palavras tinham cessado. 
Elisabeta puxou as rédeas de seu cavalo e saiu trotando forte entre os campos que já começavam a mostrar vestígios do anoitecer.


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