A noite chegou calmamente, eram quase nove da noite enquanto eu terminava de guardar as louças que eu havia acabado de lavar após o jantar. Um jantar sozinha, Sasuke-kun estava resolvendo seus assuntos pela vila e certamente voltaria tarde, Sarada estava em um missão com seu time já fazia 3 dias e provavelmente chegaria pela manhã.

As horas foram passando e próximo das dez da noite eu me mantinha sentada no sofá entretida com a leitura de um livro sobre propriedades médicas de algumas plantas, logo ouvi a porta ser aberta e rapidamente ser fechada, virei meu rosto para ver quem chegara e me deparo com uma Sarada visivelmente ansiosa e com olhos angustiados de quem havia chorado ou estava bem próximo a isso.

— Sarada querida! O que faz aqui? Não deveria retornar ao amanhecer? O que houve? - questionei preocupada, mas nada poderia me preparar para o que viria a seguir.

— Mamãe, que história é essa do papai ter sido um nukenin e que o clã Uchiha é desprezível por seu passado? é verdade isso? - de primeira fiquei chocada, obviamente iríamos contar à ela um dia, mas não neste momento.

— Onde ouviu isso, Sarada? - uma ansiedade crescendo em mim.

— Isso não importa agora! É verdade ou não? - insistiu ela com olhos ansiosos e já incapaz de conter as lágrimas.

Presumi que ela havia ouvido isso em algum lugar durante sua missão, parece que o ódio pelos Uchihas não havia se disseminado totalmente como pensávamos, mesmo após tanto tempo. Segurei suas mãos e a puxei para se sentar de frente para mim no sofá, nesse meio tempo senti um chakra familiar próximo mas que logo desapareceu, Sasuke-kun provavelmente escutou parte da conversa e escondeu seu chakra para que Sarada não o notasse ali, estava provavelmente bem interessado no conteúdo da conversa. Suspirei.

— Não deveria ser eu a te contar sobre isso mas sim seu pai, Sarada. - ela me olhava atentamente. - entretanto, é verdade sim que por um período seu pai foi considerado um nukenin.

Choque estava estampado em seu rosto e eu já me arrependera de iniciar essa conversa, porém Sarada sempre foi inteligente e extremamente perspicaz, se eu não a dissesse provavelmente iria descobrir por conta própria e eu preferiria ser eu a acalmá-la por agora.

— Mas como? Por que? - sentia a insegurança em sua voz.

— Não serei eu a te contar a história de seu pai e do clã Uchiha, Sarada. E aposto que seu pai só irá te contar quando ele determinar que tanto você quanto ele estarão prontos para isso. Antes mesmo de ter a sua idade, Sasuke-kun já havia passado por muitas coisas, as quais acredito que até hoje não foram totalmente superadas por ele, então tenha paciência e apenas confiei em seu pai, querida. - expliquei com voz calma enquanto acariciava seus cabelos. - no entanto, posso te contar um pouco sobre seu pai de antigamente, ou não passou por sua cabeça o por que me casei com ele e tivemos você? Isso te faria se sentir melhor? Aliás, você sempre quis saber mais sobre ele. - argumentei.

Sorri por saber que havia algo para barganhar com ela, logo a vi acenar discretamente a cabeça em concordância enquanto limpava suas lágrimas, relutante em admitir que teria que se contentar com aquilo por enquanto. Olhou-me com olhos mais esperançosos e eu podia ver claramente a expectativa neles, seria interessante.

— Então vamos lá! Até onde sei seu pai era uma criança encantadora e criado sob as melhores tradições do clã Uchiha, entretanto quando ele era bem mais novo que você, algo terrível e grandioso aconteceu que o mudaria não só naquele momento mas para sempre. Seu pai cresceu sozinho e sei que não deve ter sido nada fácil para ele, assim como não foi para Naruto. - a vi se remexer no sofá me dando mais de sua atenção, se é que era possível.

— Mesmo com sentimentos parecidos eles não se davam nem um pouco bem, ironicamente fomos colocados no mesmo time comandado por Kakashi-sensei. Sasuke-kun era bom em tudo que fazia e também muito famoso com as meninas desde a academia. - sorri provocativa sabendo que ele ouvia em algum lugar minha conversa com Sarada.

— E você gostava dele, mamãe? Um amor de infância? - ruborizei por ela ser tão direta, a essa altura eu não conseguiria negar. Que embaraçoso, Sasuke-kun provavelmente estaria rindo de mim agora? Ela levou meu silêncio como um ‘sim’ e ria discretamente.

— Enfim, estando na mesma equipe nós fazíamos muitas missões juntos e com o tempo nos tornamos realmente unidos. Naruto e Sasuke-kun sempre disputaram entre si, se tornando rivais desde o início, até o exame chunnin na floresta da morte… - minha mente vagou por um minuto lembrando daqueles momentos. - passamos por muitas coisas lá e foi onde seu pai recebeu o selo amaldiçoado de uma pessoa que até então não conhecíamos. Somente eu sabia daquela marca, tentei impedi-lo de continuar o exame chunnin, mas seu pai sempre foi teimoso e destemido por aquilo que queria, ele não desistiria e sempre com suas palavras duras para mim, acabei não indo contra sua decisão mesmo estando preocupada. Na terceira fase do exame chunnin a aldeia foi atacada e seu pai ficou sabendo da presença de uma pessoa importante naquele ataque.

— Quem? - perguntou ansiosa, sorri.

— Não seja espertinha, ele te contará quando for a hora. A questão é que depois daquele dia, Sasuke-kun resolveu deixar a vila e por algum motivo eu pressenti isso e tentei impedi-lo naquela noite, mas ele me desacordou e me deixou dormindo em um banco. - vi ela rir da cara de desgosto que provavelmente fiz ao me recordar daquilo. - agora que eu posso, você não acha que eu deveria bater nele por isso? - rimos juntas enquanto eu levantava meu punho, já imaginando a cara que ele fizera ao ouvir isso.

—  E depois, o que aconteceu?

— Soubemos que ele se juntou ao cara que havia colocado aquela marca nele, Orochimaru! O qual posteriormente se tornou seu mestre e lhe treinou por um tempo, porém Orochimaru era procurado por coisas ilegais e seu pai passou a ser considerado um desertor, dentre outras coisas.

— Aquele cara estranho que encontramos uma vez enquanto te procurávamos? - perguntou meio surpresa.

— Sim, ele mesmo! Ficamos sem ver Sasuke-kun por um tempo e nas raras vezes que o encontramos não foi nossa melhor experiência. - sorri triste tentando afastar aquelas lembranças. - Até nos reencontrarmos na guerra tempos depois, feliz em saber que estávamos do mesmo lado, pelo menos naquele momento.

— O que quer dizer, mamãe? - encostou-se no sofá com um olhar mais suave.

— Seu pai tinha um sonho desde criança e não mediu esforços para alcançá-lo, - ela me olhava intrigada. - e quando finalmente alcançou descobriu que nem tudo era como parecia, eu nem sequer consigo imaginar o que ele sentiu naquela hora. Foi despedaçado pela segunda vez em sua vida. - tentava segurar lágrimas que pudessem me trair agora, porém sorri tentando acalmá-la. - mas não se preocupe, querida. Desde o início, por seus objetivos ele tomou decisões movidas por suas emoções e tenho certeza que em nenhum momento foi fácil pra ele, por isso peço a você um pouco de paciência. Ele te contará quando for preciso.

— Mas e sobre o clã Uchiha? Qual o problema com ele? - persistiu determinada como sempre fora.

— É verdade que existe a história verdadeira do clã Uchiha a qual pouquíssimos conhecem e que envolve diretamente seu pai, por isso acredite nele e não se deixe levar pelo que falam por aí. Empurre essa curiosidade para o fundo de sua mente por enquanto, respeite o tempo do seu pai e o seu, você saberá quando chegar a hora. Confie nele assim como eu confiei.

— E então por que você se casou com ele, mamãe? - perguntou e não consegui segurar uma risada que escapou, fazendo ela franzir sua testa como se fosse uma pergunta boba.

— É uma pergunta bem difícil, Sarada! Bom, é verdade que desde gennins ele sempre teve palavras duras para mim que me machucaram por um tempo, mas também que me fizeram crescer. Ele também tentou matar eu e Naruto por vezes, porém na época eu também tentei matá-lo mesmo sabendo que seria incapaz. - ela estava boquiaberta com minha revelação e eu ri de sua expressão ao mesmo tempo que bagunçava seu cabelo. - não se preocupe, está tudo no passado querida. Até entendo o porque dele não querer te revelar tudo agora, nosso passado não é de tudo muito bonito. Mas em resumo, me casei com ele porque eu o amei desde o momento que o vi pela primeira vez e também por ser um sentimento maior que tudo que passamos, seja obstáculos ou o tempo.

— E você se arrependeu? - tensão instaurou por uns instantes, não era uma pergunta que eu estava esperando e também sabia que o Uchiha mais velho estava mais atento esperando minha resposta.

— Nem por um momento! - confessei suavemente. - Ele pode não ter tomado as melhores decisões, mas pelo menos foi em busca do que acreditava sendo fiel ao que sentia. Ele também foi sozinho esse tempo todo e tanto eu quanto Naruto sentíamos a mesma solidão sempre que pensávamos nele.

“Mesmo tendo pais e amigos, se você se for será o mesmo que estar sozinha” essa lembrança passou como um relâmpago em minha mente. Estremeci com peso daquelas palavras.

— Depois da guerra e de sua viagem redenção, quando ele realmente voltou para todos nós, meu coração estava realmente em paz. Então, como eu poderia me arrepender? Além disso, estou feliz por nunca desistir pois senão você não estaria aqui agora. Você nem consegue imaginar sua importância para nós e para os Uchihas, um recomeço.

— Como assim? - vi algo transparecer em seus olhos seguido de um sorriso bobo. - E como vocês ficaram juntos?

— Já chega por hoje, não acha? Está sabendo demais por um dia! Podemos não ter o melhor passado do mundo, ninguém tem, mas seu pai é uma pessoa incrível, não é? - ela acenou concordando toda empolgada. - E eu sei que você o ama muito, não é?

— Sim! - confessou envergonhada. - Obrigada por me contar um pouquinho sobre ele, mamãe. Embora só tenha aumentado meu interesse, por enquanto eu deixarei pra lá. - sorriu. - Você acha que pode me contar sobre o Nanadaime qualquer dia?

— Boa garota! - ri de seu constante interesse em Naruto e cutuquei sua testa com os dedos, já símbolo de nossa família. - talvez um dia, querida. Agora vá tomar seu banho e ir pra cama, já é tarde e seu pai logo retornará.

E com isso ela correu pelas escadas até o andar de cima me deixando suspirando no sofá, com a mente já cansada por aquela conversa.

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[POV’s Sasuke]

Após ouvir os passos de Sarada pela escada, não demorei a entrar revelando minha presença à Sakura já sabendo que ela havia notado anteriormente. Sentei-me ao seu lado e não disse nada de imediato, ela estava sentada de frente para mim com a cabeça encostada no sofá, seus pés levemente roçando a lateral de minha perna, seus olhos fixos em meu rosto enquanto seus pensamentos pareciam estar longe.

— Me desculpe! - iniciou.

— Pelo que? - perguntei mesmo já sabendo a que se referia.

— Eu sei que você esteve aqui todo tempo. Me desculpe se contei mais do que devia.

— Na verdade, você a consolou de uma forma que só uma mãe conseguiria. - olhei para meu colo sentindo um leve desconforto, eu nunca conseguiria ter tal papel na vida dela.

— Você está inseguro por um dia ter que contá-la sobre tudo? Ela te ama, vai correr tudo bem. - soltou já adivinhando meus pensamentos, como ela sempre fazia. - Eu estarei lá com você, se assim você quiser.

Por um momento minha inquietação se foi e dessa vez desviei meus olhos do meu colo para seu belo rosto, ela sorria com uma segurança que até me fez pensar que seria fácil encarar todo aquele meu passado obscuro novamente, temendo o julgamento de minha filha.

Abri meu braço direito em sua direção como num convite silencioso para se juntar a mim, ela logo o fez. Sentou-se em meu colo de lado passando o braço direito ao redor do meu pescoço enquanto minha mão descansava preguiçosamente em sua perna esquerda.

— Concordo que ainda não é a hora, mas não pense em esconder por muito tempo, você deve se preparar e contar à ela! Ela tem o sonho de se tornar Hokage e nem sequer compreende o que significa uma Uchiha tomar esse posto. - comentou despreocupada.

— Hn. Pensaremos em algo quando a hora chegar! - afirmei e senti o beijo suave que ela depositou em minha testa finalizando o assunto. - Nunca te pedi desculpas por todos aqueles eventos passados, eu te deixaria me socar, se é o que quer. - ouvi a risada abafada que ela tentou conter.

— E qual seria a graça? - riu novamente me fazendo sentir um bobo. - se desculpar não faz muito seu tipo Sasuke-kun, porém você já o fez após sua luta com Naruto.

— E isso já basta? - questionei levemente intrigado.

— Você me basta, Anata. - confessou baixinho em meu ouvido. - Não se torture atoa. Não vejo traços daquele velho Sasuke em você, a não ser a extrema e inegável beleza. - finalizou me provocando ao focar nas palavras finais, não consegui conter um sorriso arrogante.

Sua mão esquerda retirou lentamente minha franja esquerda a qual cobria o Rinnegan, ela parecia analisar cada partícula do meu rosto enquanto eu me sentia totalmente exposto, mas eu não ligaria se fosse para ela.

— É realmente estranho, quase não consigo acreditar que aquele Sasuke obscuro um dia existiu em você, é uma ideia tão absurda agora. Ao mesmo tempo, eu sei que ele esteve ai mesmo não conseguindo encontrar nada dele em você. - explicou e eu ouvia atentamente ao mesmo tempo que observava seus olhos correrem por meu rosto. - o Sasuke emburrado mas afetuoso da academia junto ao Sasuke cheio de ódio da juventude, ambos dentro deste atual Sasuke pai e marido carinhoso e dedicado. Naquela época, quem diria que acabaríamos assim? Você e Naruto se tornando os ninjas mais fortes e importantes da atualidade, deixando de serem solitários.

E então a beijei, como se fosse a primeira vez. Meu coração batia descompassado pelo momento nostálgico, devia tudo a ela pela solidão ter me deixado. Eu realmente tomei decisões erradas no passado, mas Sakura realmente foi uma decisão mais do que certa em minha vida, necessária.

O beijo se aprofundou e eu sentia seu desejo ser tão grande quanto o meu, nossa urgência sincronizada. Minha mão apertou suas coxas volumosas enquanto foi subindo por sua cintura fina e entrando pelo vão largo de sua blusa. Nossos lábios se separaram em busca de ar, porém seus lábios quentes fizeram um rastro por minha mandíbula até o lóbulo de minha orelha.

— Arigatou! - sussurrei enquanto a puxava mais perto, suas pernas agora descansando em cada lado do meu corpo.

— E pelo que isso? - perguntou meio sem fôlego e ruborizada, agora olhando em meus olhos.

— Por não deixá-la me odiar, por ter estado sempre lá por mim. - por me amar quis completar mas não o fiz, ela já sabia. Assim como sabia que eu a amava.

— Você pode me agradecer de outra forma essa noite, Sasuke-kun. Com algo que você é incrivelmente bom. - riu maliciosa e eu capturei seus lábios novamente junto ao meu, em seguida, seguimos para nosso quarto com ela ainda colada ao meu corpo, íamos terminar de forma bem proveitosa aquela noite.

Ahhh essa mulher. Não era tão surpreendente assim termos acabado juntos, eu não poderia ter construído minha vida, minha família com outra mulher se não ela, jamais tive olhos para outra do mesmo modo que jamais teria amado outra tanto assim.

A minha irritante.

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[♥]