A Noite 

A luz do poste, o frio da meia-noite, a escuridão da noite, a calmaria na imensidão. A cidade adormece sob o resplendor da Lua Cheia, sob a escuridão das estrelas e das histórias assombradas.

A madrugada é a inimiga da agitação do homem comum, a amiga comum do homem sem agitação. O canto do grilo torna-se tão ensurdecedor quanto o motor de um jato, pegadas tornam-se tão perceptíveis no ouvido daquele que não dorme.

Meia-noite em diante é o horário dos gênios, homens que não seguem regras da maioria, cujo o QI está acima dos demais. A madrugada é o período dos escritores em que seus cérebros os perturbam por colocar uma cena inusitada no papel, é o período perfeito para a privação do sono e da insônia.

As trevas, a penumbra, a sensação de estar sozinho é, aparentemente, uma anátema ao povo comum, uma glória aos que odeiam o senso comum. 

A madrugada é mais assustadora, porque a humanidade está recolhida. Humanos sempre querem se impor, com suas atividades corridas de segunda à segunda, sempre sob a luz do dia, porém sucubem aos encantos de Hypnos... pelo menos por um breve período.

Aos seres menos comuns, como eu, a madrugada é tão atraente, tão aconchegante.

O horário do demônio, três em ponto, é o ápice da ternura da Dama de Branco. Ficamos embriagados com a sua luxúria, sempre estarmos acordados para aproveitarmos ao máximo as suas carícias. Ela nos abraça de vez e sequer olhamos para o relógio.

E a sina dos amantes da madrugada é adorá-la até despencarem, pesados, numa cama às seis da manhã. Depois de termos aproveitado todo o seu vinho trevoso, todo o seu abraço frio.

Quem poderá resistir a ficar sem a Madrugada? Uma sina, uma maldição, uma benção.

O Dia

Nasce o sol, nasce a vida, o sorriso da minha amada, a maravilha da minha vida.

O céu vespertino, Vênus aparece logo ali, os raios solares, oito minutos de espera, para bater em minha porta, iluminando a vida na Terra.

A sensação da Luz em minha pele, o calor da vida, do fôlego humano, das conversas matinais, da família unida.

Sensação de liberdade, o vento gélido da manhã que bate em minha alma e revigora.

O canto dos pássaros, o coro do jovem galo, o bocejo da criança de colo, o amamento da mãe caridosa.

Acordamos com obrigações, emoções, sob a chefia de Hélio, no escritório da civilidade. Homens e mulheres, a passos largos, para mais uma rotina monótona. Crianças franzinas, prontas para a escola, enfileiradas, lindinhas, penteadinhas...

Às pessoas que amam a madrugada, o dia é implacável. Como uma bigorna de uma tonelada, tais pessoas se sentem cansadas e sem reação. O vampiro da vida real é aquele que odeia o dia e adora a noite, mas que têm como obrigação aguentar o sono embaixo das luzes do Pai Sol.

Aproveitem a paixão pelo vespertino, a integração entre as pessoas, os beijos familiares, o abanar do rabo do cachorro, o cheiro de café fresco e pão quente.

O dia é lindo para alguns, problemático para outros.

E a Terra consegue agradar a todos mesmo ao ficar na posição: um lado é luz e o outro é trevas.

Escolha o seu.