O universo numa caixa de papelão escrita por Camélia Bardon


Capítulo 1
Geronimo, Holmes!


Notas iniciais do capítulo

Oioi, tudo bem com vocês? Espero que sim ♥
Então, eu fiz essa one BEM, BEEEEM simples para não ficar de fora do desafio. É o primeiro desafio que participo, primeiro crossover, primeira Sherlock e primeira Doctor Who. Basicamente, peguem leve comigo xD Eu vi a ideia e não resisti a escrever. Perdoem se estiver muito xôxa, mas foi com carinho e me diverti escrevendo-a. Geronimo! ♥



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Sherlock Holmes decorara todos os prédios, todos os estabelecimentos, tipos de piso, hidrantes, postes e placas de sinalização de toda Londres. E aquela cabine azul de polícia já estivera em Londres bem mais que um punhado de vezes. Entretanto, sempre em locais diferentes.

Downey Street. Cardiff. Diferentes anos, séculos antes. A mesma cabine azul ridícula e obviamente de papelão. Muito realista, ele devia parabenizar o artista. Mas por que ela estaria ali, afinal? Anacronismo era o mínimo a dizer. Fora que era de um tom brega ultrajante.

Até que a cabine apareceu no St. Bartholomew. E na Baker Street. E então Sherlock soube que havia sido pego, mesmo que isso fosse humanamente impossível.

Mal sabia ele que não se tratava de algo propriamente dito humano.

Mesmo ocupado com o caso de Pentonville Prison, Sherlock resolveu averiguar também o caso da cabine azul. Ele tinha certeza de que se John resolvesse escrever sobre o caso em seu blog, o título seria O Mistério da Caixa Azul. E é claro que ele descobrira sobre o homem que se intitulava de Doutor. Sherlock seria obrigado a oferecer sua melhor risada de desdém para caso o homem fosse um estudante de Direito.

Sherlock aproximou-se da cabine e observou-a pela provável terceira vez. Tinta fosforescente para imitar lâmpadas internas. Tinta azul-anil e... cheiro de queimado? Sherlock rondou a cabine e não notou nada que indiciasse um incêndio ou mesmo falhas na pintura. Então ele colou-se à porta, que se abriu com o mínimo esforço e um rangido. Holmes foi de encontro ao chão.

Resmungando, ergueu o olhar para o que deveria ser o St. Bartholomew. Entretanto, não era nada do que jamais havia presenciado.

Em frente de Holmes, um homem trajando paletó marrom de tweed, gravata borboleta e suspensórios fitava-o com ar de deleite. Mas o mais impressionante não era isso. A estrutura do local era hipertecnológica, como uma estação espacial. Uma estrutura de metal com planetas entalhados circulava no teto, servindo de suporte para uma espécie de cabine de controle.

— Bem-vindo à TARDIS, senhor Holmes — o homem disse, apoiando-se na estrutura cheia de botões.

Holmes levantou-se num pulo e espiou a cabine pelo lado de fora. Pequena. Ao entrar, grande. Seu olhar investigativo demonstrou-se horrorizado e curioso.

— Mas o que...

— Eu sei, eu sei — a figura em sua frente gesticulou como se dissesse “isso não é nada”. — Não precisa dizer, eu já ouvi todas. Puxa vida, olhe só, ela é maior por dentro! — e fez uma imitação barata da voz grave de Holmes.

— O que é... TARDIS? — Holmes tentava não demonstrar o quanto seu ego encontrava-se ferido por ter uma informação nova.

— Tempo e Dimensão Relativos no Espaço. Essa belezinha pode me levar a qualquer lugar no tempo e no espaço. E é todinha minha. Vamos, pode dar uma olhada, eu sei que você quer.

O homem parecia estar se divertindo com a situação. Holmes resolveu fazer o seu jogo.

— E quem é você?

— Eu sou o Doutor.

— O Doutor que eu conheço não tem a sua aparência — rebateu Holmes.

— Se você está falando do nariz, saiba que eu não regulo o tamanho nas regenerações, seu espertinho — o “Doutor” fez uma careta. Depois deu-se conta do que havia falado. — Então está mesmo tentando descobrir quem sou, não é? Ora, típico. O detetive consultor mais famoso de Londres investigando uma figura histórica alienígena. Há! Não perca seu tempo, já estou aqui.

— Regenerações? — céus, o homem estava louco. Alienígenas e regenerações. Mas Holmes continuava em seu jogo. — Quer dizer que o Doutor que eu conheço é você?

— Claro, claro. Eu em minha... não sei, espere — e então ele começou a contar nos dedos. — Décima primeira face? É, por aí. Mas me diga, senhor Holmes — o Doutor aproximou-se do investigador, que era tão alto quanto ele. — Tem alguma pergunta antes de darmos uma volta? Podemos sair, viajar o universo e voltarmos antes do seu precioso chá das cinco.

Holmes ponderou acerca da questão. E então se lembrou do cheiro.

— Por que o lado de fora está com cheiro de queimado?

— Oh. De todas as perguntas que poderia optar, escolheu o cheiro? — e gargalhou em seguida. — Provavelmente foi o córtex temporal. Eu acabei de chegar, é normal que a TARDIS ainda esteja dando uma descansada.

— Eu não entendo de córtex, mas deve fazer sentido — ralhou Holmes. — Escute, eu tenho mais coisas a fazer do que conversar com um maluco. Não estou com tempo. Ora, faça-me o favor...

— Tempo? — o Doutor praticamente gritou, e então fez algo mais estranho ainda. Estalou os dedos em direção à porta, que se fechou em resposta. Holmes sobressaltou-se e lançou um olhar interrogatório para o Doutor, já irritado. — Estamos dentro de uma máquina do tempo, homem, não ouviu nada do que eu disse? Agora, venha. Ajude-me a pilotar a TARDIS.

Holmes viu-se sem escolha a não ser dar de ombros e fingir entretenimento. Acompanhou o Doutor em sua caixa azul.

— Quando você diz alienígena, se refere a Marte?

— Humanos e sua mania de acharem que existe apenas o Sistema Solar em suas vidas — o Doutor revirou os olhos, acrescentando um “puxe aquela alavanca ali” — Não, não. Só surgirão colônias em Marte no ano 5 mil, e de humanos. Marte é um péssimo lugar para se morar, mas há água — ele estremeceu, como se tivesse tido más lembranças. — Eu sou um Senhor do Tempo, de Gallifrey.

— Gallifrey é uma lua ou algo do tipo? Não era Júpiter que tinha trocentas luas? E você parece ser muito humano para ser um alienígena, também tem sistema de camuflagem como a sua TARDIS?

O Doutor olhou para ele com olhar assassino.

— Você faz boas perguntas, senhor Holmes, mas não chame Gallifrey de lua. Gallifrey é o planeta mais bonito de todo o universo. Temos dois sóis e a tecnologia mais avançada de todo o espaço-tempo. E vocês, humanos, são derivados de nós. Não somos nós que parecemos com vocês, vocês se parecem conosco. Vocês têm um defeito no DNA que é realmente lamentável.

— Cujo qual é...?

— Apenas um coração. Realmente lamentável. Uma vez eu tive uma parada cardíaca no coração esquerdo e quase enlouqueci, como conseguem?

Holmes soltou uma risada sarcástica. O Doutor já planejava ter aquele tipo de reação, por isso acionou um botão na TARDIS e de um compartimento ergueu-se um estetoscópio. O Doutor contemplou sua máquina do tempo com um olhar quase paternal.

— Obrigado, querida — murmurou ele para a máquina, em seguida voltou-se para Holmes e ofereceu o estetoscópio a ele, que o aceitou, relutante.

Holmes posicionou o objeto médico, como já fizera muitas vezes, mas com outros propósitos – e geralmente com pacientes não-vivos – no peitoral do Doutor. E o que ouviu foi inquietante: duas batidas rápidas características de um batimento cardíaco, e meio segundo depois, mais duas. Holmes nunca havia visto coisa semelhante, mas julgou que o Doutor deveria ter um problema cardíaco sério e que estava a ponto de morrer. O Doutor deu de ombros e jogou o estetoscópio em qualquer canto da máquina sem o menor cuidado.

— Diga-me, Holmes — o Doutor mais uma vez amava aquela situação. Puxou o controle manual e acionou mais uma série de comandos. — Para onde quer ir? Para 1880? O show no telhado dos Beatles? Já sei, perfeito: Jack, o Estripador! Você poderia facilmente solucionar esse caso. Tenho uma amiga que bateu de frente com ele, mas ela era um tanto reptiliana. O que me diz?

— No momento, eu quero apenas chegar no topo daquele prédio. Seria de grande ajuda — resmungou Holmes, retirando seu cachecol azul de praxe.

— Todos os lugares no tempo-espaço e você quer ir para o topo daquele prédio? — o Doutor parecia decepcionado. Mesmo assim, atendeu ao pedido de Sherlock.

A TARDIS parecia querer exibir-se ao novo visitante, e talvez estivesse mesmo. Acostumada recentemente com Amy e Rory, não precisava mais de tal show exibicionista. Contudo, contava com a presença do ilustre Sherlock Holmes, o cético. É claro que a TARDIS iria querer deixar o visitante impressionado.

E deixou. Ao primeiro solavanco da TARDIS e o ranger dos motores, Sherlock foi atirado de um lado para outro. E algo em seu íntimo amou a sensação de embarcar no desconhecido. O Doutor gargalhava de emoção, e Sherlock não duvidava que ele teria feito aquilo milhões de vezes. Se ele podia ser um maluco com o cachecol, ele permitiria o Doutor ser um maluco com uma caixa azul.

Segundos depois, a TARDIS “estacionou” em seu novo destino. Sherlock, ainda se agarrando ao console, arriscou um olhar de soslaio para o Doutor. Por sua vez, o Doutor esperava-o em frente à porta. Sherlock correu para fora e não se conteve.

Aquilo só podia ser brincadeira.

Sherlock encontrava-se no topo do St. Bartholomew. Isso era impossível. Todas as convenções de Sherlock Holmes para física e química foram extinguidas por um homem em menos de cinco minutos.

Do lado de dentro da TARDIS, o Doutor olhava para Holmes recostado no batente da porta com um sorrisinho vitorioso e braços cruzados.

— Eu sei — gabou-se ele antes mesmo que Sherlock pudesse argumentar. — Meu nome é Doutor, tenho dois corações, tenho mil anos, uma máquina do tempo e te trouxe até o topo do prédio. Agora, há algo que precise pedir ou perguntar? Ou prefere continuar a me investigar?

Sherlock Holmes analisou o espaço, caminhando até a borda do hospital. Calculou a distância e voltou o olhar para o Senhor do Tempo.

— Na verdade, Doutor, há algo que eu adoraria fazer.

 

John acreditaria se Sherlock dissesse que algo de terrível acontecera à Sra. Hudson. E fora isso que fizera. À mínima menção de ter sido baleada, John praticamente voara até a Baker Street. E voltara na mesma afobação quando percebera que fora enganado. John era um bom amigo.

— Eu sou uma farsa, John, sempre fui — dizia Sherlock em seu tom melhor tom embargado. John fitava-o da esquina. Sherlock imaginava o quanto John iria odiá-lo após essa façanha. Entretanto, era necessário.

O corpo de Moriarty jazia esparramado pelo corpo onde Sherlock caminhara com o Doutor tempos antes. Sherlock equilibrava-se na borda e devia admitir que, mesmo com um plano, a ideia de despencar no vazio o deixava apreensivo. Seu olhar latente observava tudo: John, parado na esquina, o ciclista vindo na rua paralela, os curiosos amontoando-se e... uma caixa de papelão azul de tamanho não convencional voando em sua direção.

Sherlock calculou o tempo para o ciclista contornar a curva e atirou-se prédio abaixo.

Apenas Holmes via a TARDIS aproximando-se. Numa fração de segundos, o grito de John e o azul da TARDIS tornaram-se um só nos sentidos de Sherlock.

Ele chocou-se contra o piso da TARDIS e rolou até bater no console, o cachecol azul emaranhando-se em volta de si. Sherlock ouviu a porta da TARDIS fechar-se numa batida e desenrolou-se do cachecol exultante.

— Deu certo! — comemorou ele, levantando-se num pulo. Conseguia ser um sociopata altamente funcional até quando estava feliz. Holmes emitiu uma gargalhada digna de um vilão de cinema.

— É claro que deu certo, eu sou o Doutor — o jovem Senhor do Tempo ajeitou sua gravata borboleta displicentemente. Seus olhos brilhavam com a jogada genial de ambos.

— Agora, temos de ir ao meu enterro.

O Doutor mudou seu semblante alegre instantaneamente.

— Me permite fazer um comentário, senhor Holmes?

— Eu não deveria, mas com essa te devo uma, então... sim.

O Senhor do Tempo calibrou a TARDIS uma última vez naquele instante para atender o pedido de Holmes. Apontou para o visor, que mostrava John e a Sra Hudson em trajes de luto encarando seu falso caixão. O Doutor voltou seu olhar sério para Sherlock e sentenciou:

— Onde quer que vá, Sherlock, há pessoas que se importam o suficiente para encontrá-lo. Qualquer um pode se esconder de um inimigo. Mas não há uma alma viva, em todo o universo, que já tenha conseguido se esconder de um amigo.

Sherlock permaneceu em silêncio. Favor pago, já poderia deixar a nave. Deu passos firmes e decididos em direção à porta, apenas espiando o enterro falso. O investigador segurou a porta e tamborilou os dedos nervosamente no batente.

Holmes inspirou fundo e fechou a porta energicamente, e, usando os corrimões da cabine, pulou até o console. O Doutor ergueu uma sobrancelha ao ver Sherlock juntar-se a ele uma vez mais na direção da TARDIS. Sherlock, por sua vez, sorriu em tom desafiador.

— Você comentou algo sobre Jack, o Estripador?


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham se divertido tanto quanto eu me diverti escrevendo sobre esses dois. Deixem a opinião de vocês, vamos conversar ♥



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