Rose posou seus olhos clínicos em mim, como eu temia.
— Albus, você deveria se lembrar que já conseguiu convencê-lo a fazer coisas muito mais estúpidas do que beijar você.
— O que? – eu gaguejei, concentrando-me no fato de que minhas mãos estavam suadas. Eu odiava quando elas ficavam assim. Eu costumava odiar muitas coisas. Incluindo minha prima naquele instante. – Eu não quero convencer ninguém de nada. – Mas será que ele precisaria ser convencido?, a pergunta me assombrou mentalmente, o que não ajudou em nada o meu estado de nervos.
— Use todos os pronomes indefinidos que você quiser. – Rose deu de ombros. – Eu não ligo.
— Qual é o seu problema? – eu grunhi, sem nenhuma outra boa coisa para dizer. Por Merlin, vigiar a janela e tentar esconder os sinais corporais que denunciavam o quão desequilibrado eu era já eram tarefas difíceis demais sem Rose me enchendo o saco.
— Meu problema é que meu melhor amigo não consegue me contar a verdade. E o seu problema, Albus?
Havia tantas respostas para essa pergunta que era impossível selecionar apenas uma. Como por exemplo a) quando eu entrei na puberdade, eu tive problemas sérios com figura paterna e ao invés de recorrer a livros trouxas de psicanalise eu decidi usar um vira tempo e mudar a história, o que quase fez com que toda a realidade tal qual eu conheço deixasse de existir e b) na minha jornada auto destrutiva de herói que precisa imensamente provar que não é a sombra de Harry Potter eu ignorei completamente as necessidades e problemas das pessoas com quem eu mais me importava e c) apesar de tudo isso ter acontecido há 3 anos, as sequelas emocionais estão em mim até hoje e d) eu não tenho a menor ideia de como não deixar que a vergonha consuma a maior parte dos meus dias.
Algo na minha cara deve ter me denunciado porque Rose fez um pequeno ‘oh’ com a boca, antes de dizer:
— Puxa vida, o problema é eu ter saído com Malfoy no quarto ano?