The Baby Sitter escrita por Mrs Ridgeway


Capítulo 24
23. Incurável


Notas iniciais do capítulo

Oie, bbs



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— Ok, Sr. Malfoy. Pode descer daí.

Scorpius pulou da cama para o chão. Ele se sentou na cadeira, próximo à medibruxa.

— Bom, o senhor tem mais algum sintoma para relatar além dos desmaios? – a dra. Spinnet perguntou, enquanto olhava novamente a ficha do garoto. – Vômitos, náuseas ou dores...?

— Não. – o loiro negou.

— Nada? Nenhuma outra coisa física?

Física não, ele pensou. Mas não seria seguro contar isso a medibruxa. Ou seria?

— Sr. Malfoy? – a mulher chamou, quando o viu travar na resposta. – Tem certeza que o senhor não está mesmo sentindo mais nada?

Scorpius não sabia dizer.

— Não sinto nada além dos desmaios. – respondeu.

Alicia o encarou por alguns segundos antes de encerrar o assunto silenciosamente com a cabeça.

— Pelo visto não tivemos muitos progressos, mas não tivemos muitos regressos também, o que possivelmente deixa o seu caso um pouco mais otimista. – falou.

— O que seria um pouco mais otimista? – o garoto questionou, descrente.

— Há uma esperança de que a sua condição regrida naturalmente.

— Mas isso é só uma esperança.

— Sim.

Para Scorpius aquilo não mudava nada. A medibruxa se inclinou para a frente, na direção do loiro.

— Os nossos curandeiros estão trabalhando na sua poção, acredite. – ela o consolou. – Só não podemos te entregar nada sem uma certeza maior ou o seu caso pode acabar piorando. – explicou. – Eu só te peço um pouco mais de paciência.

Scorpius assentiu com a cabeça.

— Na verdade não tem sido tão difícil. Os desmaios diminuíram bastante, exceto em um episódio isolado, alguns dias antes do natal.

— O que houve?

— Eu desmaiei durante uma tarde inteira. Mas no dia seguinte parecia que nada tinha acontecido.

A dra. Spinnet enlaçou os dedos das mãos, pensativa. Ao seu lado, pena em cima da mesa anotou alguma coisa na ficha do garoto.  

— Isso é muito ruim? – ele indagou, preocupado.

— Não é bom. – ela respondeu com sinceridade. – Mas não posso dizer se é ruim. Muito menos o quanto.

E alguém sabia dizer alguma coisa? O loiro pensou mais uma vez.

— Caso isso aconteça outra vez, me mande uma coruja. – Alicia pediu.

Scorpius concordou com a cabeça.

— Bom, acho que terminamos por aqui. – disse a medibruxa. – O senhor está liberado.

— Obrigado. – o loiro agradeceu enquanto se levantava. – E feliz ano novo.

— Feliz ano novo, Sr. Malfoy. – ela respondeu com um sorriso. – E não se esqueça, qualquer coisa, me mande uma coruja.

O garoto sorriu de volta e saiu da sala. Devagar, Scorpius avançou pelo largo corredor do St. Mungus. Draco encontrava-se um pouco mais a frente, parado próximo a uma das janelas. O homem olhava distraidamente para a paisagem do lado de fora.

Um pouco incomodado, o menino se aproximou.

— Onde está a mamãe? – perguntou quando estava próximo o suficiente.

— Foi visitar uma amiga, no segundo andar. – Draco respondeu. – A sua consulta foi rápida. – completou.

— Não tinha muito o que falar.

O loiro mais novo também olhou pela janela, desviando das íris observadoras do pai. A briga no grande salão de Hogwarts ainda estava bastante viva na mente dos dois.

— Venha comigo. – Draco pediu.

Scorpius negou com a cabeça.

— Eu prefiro esperar a mamãe aqui. – respondeu.

— Não seja voluntarioso, Hyperion. – disse o homem, com certa rispidez. – Nós temos que conversar.

— Nós temos?!

O menino ergueu as sobrancelhas claras, desafiando-o. Draco respirou fundo. De todas as maravilhosas características de Astoria, Scorpius resolvera herdar justamente a insubordinação.

— Scorp, por favor. – insistiu. – Eu estou te implorando.

O garoto fitou o pai por alguns segundos. Nos seus olhos havia zanga, entretanto agora havia também uma pitada de curiosidade.

— Ok... – ele concordou. – Vamos.

Draco não o esperou mudar de ideia. O homem indicou a saída do corredor com o queixo e juntos, os dois saíram do saguão.

 

 

...

 

 

O inverno continuava rigoroso. Pai e filho entraram no café rapidamente. Logo que se sentaram, Scorpius retirou o seu casaco pesado. Assim como Draco, ele o apoiou às costas da cadeira. O garoto fez menção de erguer a varinha, porém o pai fez um singelo sinal com a mão o impedindo.

Scorpius franziu a testa.

— Por que não podemos usar magia?

— Estamos em um estabelecimento trouxa e você ainda tem um rastreador, caso tenha esquecido.

O menino olhou para os lados, interessado. A primeira informação lhe chamara mais atenção. Ele nunca havia ido a nenhum lugar trouxa antes. E também nunca imaginou que o pai seria a primeira pessoa a levá-lo a um.

Uma garota de mais ou menos a idade dele, Scorpius pode perceber, se aproximou com uma espécie de aparelho trouxa (elecrônico? seria esse o nome que ele ouvira James falar um dia desses?) nas mãos.

Ela sorriu simpática para os dois.

— Boa tarde. – falou. – O que desejam?

— Hum... dois cappuccinos. – respondeu. – Pode ser? – Draco olhava para Scorpius.

O menino concordou com a cabeça, sem fazer a mínima ideia do que era um cappuccino.

— Ok. – a menina marcou algo no seu aparelho e se afastou.

O loiro mais novo deu mais uma olhada no espaço, absorvendo os seus detalhes.

— Interessante. – deixou escapar, ainda curioso.

Draco sorriu.

— Porque você me trouxe aqui?

— Eu queria conversar num lugar onde você não pudesse gritar, ou sair correndo. Além do mais, aqui é agradável.

— Você já esteve aqui antes?

— Sim. O seu avô precisou fazer algumas visitas ao St. Mungus nesses últimos meses e eu não me sinto muito a vontade em ficar na lanchonete do hospital.

Draco encarou o filho.

— Nós precisamos nos resolver.

— Essa parte eu já sei.

— Eu estou falando sério, Hyperion.

O homem respirou fundo.

— A sua mãe ficou dias arrasada por causa daquela nossa discussão. – contou.

— E como você acha que eu me sinto, pai? – o menino rebateu.

— Eu entendo que também não é fácil para você. – Draco replicou. – Eu me culpo todos os dias por isso.

Scorpius abaixou a cabeça.

— Eu não quis te magoar quando eu disse aquilo.

Ele estava se referindo as palavras ditas no grande salão. Draco negou com a cabeça.

— Você quis dizer exatamente aquilo que você disse. – o homem respondeu. – Mas eu te entendo. Eu não era uma pessoa boa, Scorp. Nunca fui. Eu fui uma criança que disse coisas horríveis, um adolescente que fez coisas horríveis. Também fui um adulto que acreditou em coisas horríveis. Na verdade, eu ainda acredito às vezes.

Scorpius se ajeitou na cadeira, bem mais disposto em escutar o que o pai tinha para falar. Draco aproveitou o momento.

— Eu deixei o seu avô transferir para você uma responsabilidade muito grande. Eu o deixei encher a sua cabeça com coisas.... – ele passou a mão pelo rosto. – Eu deixei que ele fizesse o mesmo comigo anos atrás. O mesmo que ele e todos os outros fizeram. – disse. – Eu também queria salvar a minha família.

Draco fez uma pausa conveniente no seu discurso. Scorpius percebeu que mesmo depois de todos os anos que haviam passado, o pai ainda trazia consigo algumas feridas abertas. Mas para o garoto ainda existiam dúvidas a serem sanadas. E ele sabia que aquele era o melhor momento para se resolver isso.

— O que aconteceu? – o menino perguntou timidamente.

Malfoy se recostou na cadeira. Ele esperou uma pouco mais para falar. Parecia estar escolhendo as palavras certas.

— Dois anos antes do início de fato da segunda guerra bruxa, o Lorde das Trevas estava se escondendo de todos. Ele não queria que acreditassem na sua volta até que Harry Potter estivesse sido eliminado, pelas suas mãos. – começou a explicar. – Porém, como todo bruxo que se acha superior, o Lorde das Trevas ele era esnobe. Ele acreditava que para que Potter morresse e ele enfim ascendesse ao poder, uma certa profecia feita antes da sua queda precisava ser ouvida por completo. – contou. – Essa profecia estava guardada no Departamento de Mistérios do Ministério da Magia. O seu avô foi incumbido de liderar a missão que a traria para Voldermort.

Um arrepio estranho tomou as vértebras de Scorpius. O menino se remexeu na cadeira outra vez.

— O vovô conseguiu a profecia?

— Quase. Existia todo um plano para que o Potter fosse morto naquele mesmo dia, após a conquista da profecia. Ele fora atraído para o Ministério, mas diferentemente do que todos imaginaram, os seus amigos o acompanharam. Houve uma batalha e eles conseguiram retardar o seu avô e os outros comensais da morte. Os aurores chegaram logo depois, e a profecia acabou se quebrando antes que o Lorde das Trevas escutasse.

Draco foi interrompido pela reaproximação da atendente. A garota deixou as duas xícaras com cappuccino em cima da mesa e se afastou outra vez. Malfoy deu um gole no seu café e voltou a falar logo depois.

— Houveram várias baixas neste dia. Potter perdeu o seu padrinho. Papai foi mandado para a prisão de Azkaban. Mas, para o Voldemort, aquilo pouco importava.

O homem fez uma pausa, perdido em suas próprias memórias. Scorpius apoiou os cotovelos na mesa e inclinou o corpo para frente. Entretido, ele ainda não tocara na sua bebida, nem mesmo sentia vontade.

— Foi por isso que você se tornou um comensal? – indagou, interessado em ligar todos os pontos que faltavam na sua cabeça. – Para tirar o vovô de Azkaban?

Draco assentiu com a cabeça.

— Voldemort estava furioso. Por causa da batalha no Departamento de Mistérios, todos souberam do seu retorno antes da hora. Potter ainda estava vivo, graças a Dumbledore, e agora todos o chamavam de O Eleito. – contou. – Para humilhar papai, e humilhar a nossa família, o próprio lorde me deu a missão de... – engoliu a seco. – A missão de matar Albus Dumbledore. E eu aceitei.

Draco abaixou a cabeça, envergonhado.

— Mamãe entrou em desespero, ela tentou me convencer do contrário de todas as formas possíveis, porém eu estava obstinado. Eu passei todo o meu sexto ano empenhado em cumprir a minha tarefa. – sua voz estava abafada. – Eu quase destruí a vida de algumas pessoas por causa disso. Havia uma garota, eu a enfeiticei para entregar um colar amaldiçoado ao diretor. Ela quase morreu. A outra vítima bebeu por engano o hidromel que eu envenenei.

— Foi fatal?! – o menino perguntou com os olhos arregalados.

— Não. Ele conseguiu ser salvo por um bezoar a tempo.

— Quem foi ele?

— Ron Weasley.

Scorpius se controlou para não soltar um assobio. Agora, mais do que tudo, era justificável o motivo do Sr. Weasley trata-lo aparentemente com tanta austeridade. Se tudo o que os Malfoys fizeram aquela família pudesse ser contado nos dedos, iam se precisar de mais de duas mãos e dois pés, com certeza.

Draco bebeu outro gole do cappuccino e voltou a se recostar na cadeira, de braços cruzados. Ele encarou o menino.

— Assistimos à competição juntos. O Weasley e eu. Ele não me pareceu muito contente em dividir o espaço comigo. Nós nunca nos demos bem. – Draco fez uma careta. – Ainda assim, eu o vi torcer por você, Scorp. O vi comemorar quando você marcou o último ponto. Vi ele e a Granger elogiarem a sua interação com a garota. Os dois praticamente vibraram quando vocês partiram em direção ao pomo de ouro. – descreveu. – Quando eles foram embora, felizes com a sua conquista, eu me senti tão mesquinho. Tão miserável. Um dia eu quase destruí a vida dos dois e mesmo assim eles estavam ali, torcendo pelo meu filho e afirmando o quanto você era talentoso.

Aquela era uma surpresa e tanto para Scorpius.

— E, por Merlin, você é de fato talentoso, Hyperion. – Draco sorriu. – Eu me orgulho muito disso. Acho que precisou alguém de fora me mostrar a minha idiotice para eu tomar uma atitude.

O garoto sentiu o estômago embrulhar, excitado.

— O que você quer dizer com isso, papai?

— Eu quero dizer que se você quiser ser um jogador de Quadribol profissional, eu irei te ajudar no que eu puder.

Scorpius não esperou nem mesmo dois segundos para se levantar e se jogar em direção ao pescoço do pai. Draco retribuiu o abraço, dando batidinhas carinhosas nas costas do filho.

— Obrigado. – o garoto agradeceu com certa emoção. – Obrigado, papai.

— Eu que te agradeço. – ele afagou o rosto do filho.

— Pelo quê?

— Por me fazer uma pessoa melhor.

Scorpius sorriu. Draco o abraçou mais uma vez antes que ele voltasse a se sentar a mesa.

— O vovô vai enlouquecer. – o loiro mais novo comentou, embora estivesse animado.

— Ele já passou por coisa pior. – o pai o tranquilizou.

— O Quadribol nunca vai ser o método de influência mais eficiente para ele.

— Mas vai ser o suficiente para você. E eu espero que você seja o melhor nisso. Isso é o mínimo que eu exijo para um Malfoy.

O homem falou de maneira ríspida, mas havia uma fagulha de divertimento flamejando nos seus olhos cinzentos. Scorpius voltou a sorrir. Agora mais calmo e feliz, o menino enfim bebeu um gole do seu cappuccino. Ele cuspiu o café logo em seguida.

— Bleh! – ansiou pela garganta. – Merlin, isso é horrível! – comentou. – Todas as comidas trouxas são assim?!

Draco soltou uma gargalhada.

 

 

...

 

 

— Eu achei que você iria ficar mais feliz com a notícia.

Draco encarava o filho de maneira curiosa. Os dois andavam devagar, de volta ao hospital. Scorpius sorriu amarelo.

— Mas eu estou muito feliz. – disse.

— Porém...?

O rosto do menino adquiriu uma coloração avermelhada.

— Ah, pai... não é nada demais. Só acho que eu adquiri o talento da nossa família para fazer merda. – comentou, mas corrigiu-se logo em seguida. – Desculpe pela palavra.

O homem apenas sorriu. Estava claro que o problema de Scorpius era outro bem diferente.

— Sei... os hormônios... – bufou, com um sorrisinho que envergonhou o filho ainda mais. – É, eu acho que entendo o que você quer dizer. – ele falou e se virou para o manequim feio da Purga&Sonda Ltda. – Ala de acidentes mágicos.

Scorpius abaixou a cabeça, com vontade de se enfiar em um buraco. O manequim feioso piscou logo em seguida e pai e filho atravessaram o vidro. A recepção do St. Mungus deu as caras, cheia. O grande movimento parecia ser comum ao fim de ano.

— Eu vou buscar a sua mãe. – disse Draco. – Quer subir comigo?

— Acho que eu prefiro ficar aqui. – Scorpius respondeu.

— Tudo bem. Voltamos em breve.

O garoto assentiu com a cabeça e o pai seguiu rumo a rampa de subida. Scorpius permaneceu parado por alguns instantes, apenas observando o movimento, quando uma criatura já vista antes chamou a sua atenção.

Ao perceber que fora identificado, o velho sorriu com os dentes amarelos, e disparou pelo corredor.

— Ei!

Scorpius o seguiu, mas o velho continuou a correr. Ele era rápido como uma raposa.

— Ei, espere! – o menino quase gritou, o que fez com que algumas cabeças se virassem na sua direção. – Espere!

O velho olhou para trás, com um sorriso maroto nos lábios, mas não parou de correr. Scorpius o acompanhou no mesmo passo, obstinado, até que uma mão firme segurou o seu braço. Ele parou no mesmo instante.

— Algum problema, garoto? – o homem de vestes esverdeadas perguntou.

— Ahn, não. – o garoto respondeu. – Eu... eu vim visitar um amigo. – mentiu. – Acho que o vi por ali.

— Por ali?

O curandeiro ergueu as sobrancelhas, ainda duvidoso.

— Tem certeza?

Scorpius confirmou freneticamente com a cabeça.

— Hum... – o homem soltou o seu braço. – Bom, evite disparar pelos corredores. Nossos pacientes não podem ser perturbados.

— Eh, ok. Me desculpe, senhor.

O medibruxo apenas acordou, em silêncio, e foi embora. Assim que o homem desapareceu, Scorpius passou a procurar o velho por todos os lados.

Onde ele estaria? Pensou. A imagem da porta de uma das enfermarias lhe pareceu bastante atrativa. Scorpius andou até lá. Ele abriu a porta devagar. Alguns leitos a frente, o velho encontrava-se deitado, enrolado nas cobertas.

O homem o encarou.

— Olá, Sr. Malfoy.

Scorpius encostou a porta do quarto. Além deles dois, não havia mais ninguém naquela enfermaria.

— Como você sabe o meu nome? – indagou.

O velho apenas sorriu novamente. Isso deixou o menino ainda mais nervoso.

— Quem é você?!

— O senhor sempre gostou de fazer perguntas, Sr. Malfoy.

Era uma afirmação, não um questionamento.

— Eu estou doente. – o velho riu, com a mão na boca. – Não vê?

Scorpius franziu a testa. Aquele cara era completamente louco.

— Por que você me ajudou naquele dia?

— Oh, não! Eu não te ajudei. – o homem passou as mãos pelos cabelos loiros encardidos. – O senhor ajudou. Ajudou aquela garota ruiva bonita. – balançou a cabeça freneticamente. – Gosta dela, não é?!

— Isso não é da sua conta. – o garoto foi rude.

— Ah sim! Gosta muito dela!

Scorpius avançou na direção do velho. O homem saiu debaixo do lençol e pulou por cima da cama, rápido. Ele driblou o menino e disparou novamente, quarto a fora.

— Merda... EI! – agora pouco importava se ele estava gritando ou não. – VOLTE AQUI!

O homem seguiu para as escadas mais adiante e subiu, em direção ao primeiro andar, com Malfoy em seu encalço. O velho apressou-se até o fim do corredor, mas ao invés de se dirigir aos degraus que levavam ao segundo andar, ele entrou em um saguão menor.

Scorpius avançou pelo mesmo corredor. Sem pestanejar, o garoto entrou na enfermaria da esquerda. As paredes brancas eram cortadas por uma linha verde-marciano. Todos os funcionários que estavam no local usavam jalecos de mesma cor. O lugar aparentava ser ligeiramente menor que nos outros andares.

O menino deu alguns passos tímidos. Ao que tudo indicava, ninguém ali estava se importando com a sua presença. A enfermaria estava muito cheia. Curandeiros e estagiários andavam de um lado para o outro, afobados. Isso deu espaço suficiente para que Scorpius pudesse procurar o velho sem ser incomodado.

Ele foi de leito em leito, olhando pelas frestas das cortinas. Em uma delas, um garoto tinha pústulas verdes saindo da cabeça. Na outra, uma mulher parecia ter os braços queimados por alguma coisa que a deixara com crostas amarronzadas e estranhas.

Scorpius balançou a cabeça, enojado. Ele continuou à procura, discreto, até chegar a um dos últimos leitos. Uma menininha de cabelos pretos estava deitada, de olhos fechados. Ela estava sozinha e era muito nova, não deveria nem mesmo ter idade para frequentar a Hogwarts ainda. Diferentemente da maioria dos outros pacientes da ela, não havia nada visível no seu corpo.

Ainda assim, algo dizia ao garoto que ela não estava nada bem. Inconscientemente, Malfoy puxou um pouco mais as cortinas.

— Adorável, não é mesmo?

O garoto assustou-se com a chegada repentina.

— O que está acontecendo com ela? – indagou com certa preocupação.

O velho passou por ele e chegou mais perto da menina.

— Ela está morrendo.

A informação causara um baque em Scorpius.

— Alguém não deveria fazer alguma coisa?

— Não há nada a ser feito. – o velho negou.

— Como não?! – o garoto questionou, irritado. – Ela ainda está aqui, não está?

— Sim, mas não por muito tempo.

A pele da menina estava cada vez mais pálida. Ela não movia um músculo sequer, nem mesmo os da face.

— Tão jovem... – sibilou, pensativo.

O velho admirava a garota de maneira concentrada. Scorpius pode ver que existia tristeza em seu olhar. O menino também pode reparar que agora o homem vestia as mesmas vestes verdes dos funcionários do hospital.

— Onde você achou essa roupa? – indagou.

— É minha.

— Você é um curandeiro?

— Eu poderia ser.

Aquele joguinho de perguntas e respostas já estava muito chato. A vontade de Scorpius era de pular no pescoço do velho e estrangula-lo.

— Se você é um curandeiro, salve-a. – pediu.

— Não posso. É tarde demais.

— Como você pode saber?

Scorpius estava agitado. Ele fez menção de chamar um dos medibruxos, mas o velho o segurou pelo braço. Uma corrente elétrica perpassou da região até o resto do seu corpo.

— Eles já fizeram tudo o que podiam. – o homem disse, firme. – Não há nada mais a ser feito.

— Não... – agora era o menino que negava com a cabeça. – Alguém... alguém deve ter um antidoto. Alguma coisa por aqui...

— Um dia alguém terá. Não hoje. – disse o velho. – Nós temos que ir.

Ele partiu na frente. Scorpius continuou travado onde estava por mais alguns segundos. Ele deu uma última olhada na garota, esperançoso, mas algo dentro de si espetou o seu peito. Ela já havia partido.

Scorpius se afastou do leito devagar.

 

 

...

 

 

— Onde você estava?! – Astoria perguntou, preocupada. – O seu pai acabou de ir atrás de você!

— Me desculpe. Eu... eu fui ao banheiro. – Scorpius respondeu.

As coisas na sua cabeça estavam bem embaralhadas. Assim que o garoto saíra da enfermaria, percebeu que o velho havia desaparecido outra vez. Ademais, ele ainda estava abalado por causa da menininha de cabelos pretos.

Astoria se aproximou.

— Querido, você está bem? – perguntou, passando a mão pelo rosto do filho. – Está sentindo alguma coisa?

— Não. – negou, reticente.

— Tem certeza?

— Eu estou bem, mamãe.

— Ok. – ela o afagou mais uma vez. – Temos que encontrar o seu pai ou vamos nos atrasar para o jantar. – disse, olhando para os lados. – Ah, ele está vindo ali!

Astoria apontou em direção as rampas. Draco caminhava na rumo aos dois. Ele se direcionou ao filho.

— Onde você estava?! – indagou, de testa franzida. – Te procurei por todas as alas!

— Eu fui ao banheiro, no primeiro andar.

— Ah, certo. Podemos ir?

— Sim.

Os três começaram a andar para fora da recepção, quando Draco parou de repente, como se lembrasse de algo. Ele tateou os bolsos do sobretudo.

— Espere, Hyperion... eu encontrei um curandeiro agora pouco, no saguão. – contou. – Ele me pediu para te entregar isso. – o homem estendeu a mão com uma espécie de pergaminho. – Não entendi muito bem, mas ele disse que você saberia do que se trata.

Scorpius tomou o papel da mão do pai e desfez as dobras com cuidado. No pergaminho havia apenas uma frase escrita.

 

A maioria dos venenos provenientes dos animais classificados como XXXXX pelo Ministério da Magia (M.M) ainda não possuem cura.

Ainda.

 

Ele continuou olhando para o papel por mais alguns segundos.

— E então? – Draco perguntou curioso, por cima dos ombros do filho. – O que significa?

Scorpius suspirou.

— Eu não faço a mínima ideia.


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Notas finais do capítulo

As informações sobre o Hospital St. Mungus não são de minha autoria. Eu tirei desse artigo aqui, bem legal, do FANDOM Ministério da magia inglês e do Expecto Patronum:
==> https://ministerioforte.weebly.com/hospital-st-mungus.html
==> http://expectopatronum-rpg.forumeiros.com/t197-ala-de-ferimentos-induzidos-por-criaturas
Deem uma olhada, vocês vão amar!

Além do mais, e aí? O que acharam?!
Me contem aqui nos comentários! Eles são muito importantes para a evolução da história! (e podem ajudar a postagens mais rápidas ;] )

Para quem não conhece ainda, eu tenho uma página onde posto os links das histórias, alguns spoilers de vez em quando, umas novidades também... Dá uma chegadinha lá!
==> https://www.facebook.com/Mrs-Ridgeway-1018726461593381/

Beijos!



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