O ginásio de quadribol de Hogwarts estava lotado, como sempre. Grossos pingos de água caiam do céu, anunciando que enfim o outono havia chegado. Em meio a toda aquela chuva torrencial, Roxanne Weasley seguia entre as arquibancadas, apressada, segurando uma câmera fotográfica bruxa na mão.

— Vem Lily!

— Calma...! – a menina mais nova respondeu, protegendo parte do rosto com a mão. – Não consigo ver a Rosie...!

Roxanne empurrou um segundanista baixinho da Corvinal para o lado, sem nenhuma cerimônia. O garoto reclamou, mas a sonserina o ignorou completamente.

Ela estreitou os olhos e analisou o ginásio.

— Ali!

A garota apontou para um ponto mais alto da arquibancada, bem próximo a direção de um dos arcos. Uma figura solitária se remexia, abaixada entre os bancos. Roxx fez sinal para a prima e as duas partiram para lá logo em seguida.

Rose Weasley permanecia alheia a todo o barulho da torcida. As pontas do seu vasto cabelo vermelho pingavam ensopadas, desprotegidas fora da capa de chuva. Rose não parecia se importar com isso. Concentrada, ela acrescentava um último ingrediente a sua poção.  

Lily e Roxanne conseguiram alcança-la em alguns minutos. Rose vedou a poção com força e levantou a cabeça.

A ruiva encarou as primas.

— Resumo...? – perguntou, impaciente.

— O jogo tá bem acirrado. Eddie Thomas acertou um balaço lindo em Boot. – Lily respondeu. – E a professora Hooch quase expulsa Fred por tombar propositalmente na Finnigan quatro vezes seguidas.

— O meu irmão é um idiota. – Roxx falou, com um risinho debochado.

— Sabemos disso.

— E o placar?

— Cento e trinta a cinquenta para a Lufa-lufa.

— Sessenta. – Roxanne corrigiu. – Malfoy acabou de marcar.

Lily colocou os binóculos rapidamente.

— E parece que vai marcar de novo. – a ruiva comentou. – É, eu não disse?! – comemorou, animada. – Setenta para a Grifinória!

Roxanne rolou os olhos, sorrindo. A torcida irrompeu aos gritos. Por cima de toda aquela barulheira, a voz de Lorcan Scamander rompeu ao fundo narrando a partida.

— “Parece que a Grifinória começou a reagir!” — ele disse. – “Scorpius Malfoy marca mais dez pontos!”.

— “Aquilo foi uma pancada de Fingbourg, Lorcan?!”.

Lysander, o irmão gêmeo de Lorcan perguntou, empolgado.

— “E muito bem executada, Lysander! Não é a toa que o Malfoy é o queridinho do time!”.

Rose ergueu o corpo pediu o binóculo da prima. Assim que ela o pôs na direção dos olhos, torceu os lábios automaticamente.

 Scorpius Malfoy acenava para a multidão, sentado displicentemente na sua vassoura.

— Idiota exibido... – ela sussurrou, devolvendo o binóculo para Lily.

A partida continuou, no mesmo ritmo acirrado. As meninas esperavam pacientemente, debaixo de suas capas de chuva, um lance mais perigoso ou mais digno de ser registrado.

— “Eu acho que James Potter enxergou o pomo!” – gritou Lysander, em seu microfone.

— “Mas tem um problema aí para a Grifinória. O placar tá duzentos e noventa a cento e quarenta para a Lufa-lufa”.

— “É melhor alguém marcar mais dez pontinhos, ou mesmo que o Potter-1 pegue o pomo, a vitória será do time adversário!”.

Rose analisou o campo com os seus olhos espertos. Ela sabia que aquela era a hora. 

Ágil, a garota empertigou-se, pegando o vidrinho da poção na arquibancada.

— Foquem no Malfoy! – a ruiva ordenou as primas.

— Como assim?!

Roxanne parecia não estar entendendo. Ela apontou na direção das nuvens.

— O James e o Smith estão lá em cima, os dois atrás do pomo!

— James vai capturar o pomo. Isso não chama mais a atenção. – Rose rebateu, rápida – Eles são apanhadores. Estão fazendo o que deveriam fazer.

— Você odeia o Scorpius! – Lily retrucou, também confusa.

— Eu quero ser uma colunista, Lily! Tenho que ser aprender a ser neutra! Lamento muito ter que colocar esse loiro imbecil no meu jornal, mas pelo visto é ele que vai salvar o jogo!

Rose estava certa. Assim que a garota terminou de falar, Scorpius e Albus dispararam pelo ginásio. Malfoy conseguiu roubar a gole de Carrie Finnigan sem muita dificuldade e partiu em direção a defesa da Lufa-Lufa. Desviando de um balanço lançado por um dos batedores do time adversário, ele subiu a toda velocidade. Os três artilheiros da Lufa-lufa o seguiram, para o azar do time.

Já lá no alto, Scorpius soltou a gole. Em uma manobra combinada, Albus já esperava embaixo, livre da defesa, para recebê-la. Seria uma manobra perfeita se um batedor atento, que Lily mais a diante identificou como Brian Branstone, não direcionasse um balaço preciso na direção de Albus Potter. O garoto foi atingido em cheio. 

A plateia bradou, parte feliz, parte em revolta.

— “Oh, não! O Potter-2 não conseguiu segurar a gole!”

A voz de Lysander ecoou.

— “Carrie Finnigan se adianta e consegue alcançar. Ela parte em direção a defesa da Grifinória!”.

— “E olhem lá em cima!” — o irmão gêmeo mostrou – “James Potter e Donald Smith sumiram!”.

Rose e Roxanne colocaram as mãos em cima dos olhos, tentando focalizar algo em meio à chuva pesada.

Os raios davam as caras a todo o momento.

— Não consigo ver nada! – Roxx disse – Tá muito escuro!

— Eu também não! – Rose respondeu, com a mesma dificuldade.

— Eu tô vendo o Smith! – Lily exclamou, com o binóculo – Agora o James! – ela completou – Eles ainda não pegaram o pomo!

James ainda tinha tempo. Rose também.

— “Finnigan passa a gole para Edgecombe. Ele mira no arco esquerdo!”.

— “E é defesa da Corner!”

A torcida da Grifinória foi à loucura. Bonnie Corner retornou a gole para Fred, que partiu rumo ao lado oposto do ginásio.

— “O Weasley segue na frente, em formação de ataque, seguido pelos dois outros artilheiros da Grifinória!” – Lorcan narrou, animado – “Ele se desviou do balaço do Branstone, mas o Edgecombe consegue pegar a gole!”.

Dessa vez a torcida da Grifinória urrou irritada.

— Lá vem o Scorpius pela lateral! – Lily berrou.

— Certo! – Rose se levantou rapidamente – Pronta, Roxx?!

Roxanne fez que sim com a cabeça, ajeitando a máquina fotográfica. A ruiva respirou fundo e começou a agitar o frasco da poção.

— Rose! – Lily fitou a prima mais velha – Tá chovendo muito. Pode não dá certo!

— Vai dar certo!

— Rose...!

— Confia em mim, Lily!

— Ok!

Lily bufou, contrariada.

— “E Albus Potter rouba a bola do Edgecombe!” – dessa vez era Lysander que gritava de excitação – “Que partida é essa, pessoal?!”.

— “Potter-2 é quem agora segue em formação. Ele desviou do Boot, que foi atingido novamente por um balaço. Dessa vez do próprio time!” – Lorcan continuou. – “Albus passa a gole na mão do Malfoy e o artilheiro segue decidido, deixando todos para trás!”.

A Potter mais nova gritou.

— Agora!

Rose Weasley pegou impulso e jogou o frasco que segurava para cima, o mais longe que pode, na direção do artilheiro. 

Habilmente, antes que a poção saísse da sua visão turva, a garota apontou sua varinha para o vidro.

— Reducto!

O feitiço acertou o recipiente em cheio, partindo-o no meio. Assim que a poção entrou em contato com o ar, uma névoa rosada se dissipou. Roxanne, sem esperar nem mais um segundo, bateu a fotografia.

Diferente do que estava previsto pelas meninas, a névoa rosada se intensificou, ficando mais densa. A nuvem mudou de cor, tornando-se avermelhada. Devido à intensidade da chuva, e dos ventos, o produto da poção foi se espalhando cada vez mais, enquanto crescia.

Pequenos raios luminosos emanavam da bolha crescente.

— Rose... – Roxanne chamou, assustada. – Que merda é essa...?

— Eu... – Rose balbuciou, com o coração acelerado. – Eu não faço a mínima ideia...

Scorpius lançou a gole na direção do arco central da Lufa-Lufa, marcando mais dez pontos para Grifinória.

Lorcan Scamander exclamou no microfone.

— “Dez pontos para a Grifinória!”.

— “Mas olha lá, Lorcan!” — Lysander apontou para o lado oposto do ginásio – “O que é aquela névoa avermelhada subindo na direção do Malfoy?!”.

— “Eu não sei, Lysander!” – Lorcan respondeu, com a voz preocupada – “E o Scorpius parece que não está vendo!”.

Empolgado, Malfoy retornou na direção da arquibancada, alheio ao que qualquer um estivesse falando. Ele acenava loucamente para a torcida. Carrie, Albus e Fred, do outro lado do ginásio, tentaram sinalizar a bolha vermelha a sua lateral. O garoto, infelizmente, não ouviu.

O loiro adentrou completamente na névoa. Sem entender o que estava acontecendo, Scorpius tentou visualizar uma saída daquela nuvem vermelha. O ar dentro da bolha de repente se condensou, ficando mais quente.

Antes que o garoto saísse do meio da névoa, algo estranho aconteceu. Um torpor tomou as suas narinas, o deixando lento.

— Mas que porr... – ele tentou se segurar na vassoura, já quase sem forças.

Sem nenhum aviso prévio, a bolha explodiu. O corpo de Scorpius Malfoy desabou em direção ao gramado, inconsciente.