The Baby Sitter escrita por Mrs Ridgeway


Capítulo 13
12. O jogo dos sentidos


Notas iniciais do capítulo

Oie bbs,

Estamos entrando na segunda fase da fic. Vocês vão perceber algumas mudanças nas atitudes de alguns personagens (cof, cof os principais) e vão perceber também algumas pequenas revelações, que serão bem importantes mais a adiante. Me contem todas as opiniões nos comentários, é bom que gera vibrações boas para as ideias.

No mais, espero que gostem. Agora vamos ao que interessa!



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“Não é só você que tem os seus sonhos. Eu também tenho os meus.”.

 

Há alguns dias Rose se pegava pensando no que ouvira da boca de Scorpius, dentro do armário de vassouras. Ela nunca o tinha visto tão desesperado por ajuda quanto naquele fim de tarde. Na verdade, a ruiva percebera que nunca o vira tão desesperado por nada, nunca. Nem mesmo quando os dois ainda estavam juntos.

Sozinha, a garota sacodiu a cabeça, embaralhando mais ainda os pensamentos já confusos.

— Esquece isso, Rose... – ordenou para si mesma, baixinho.

A grifinória passou o pulôver vermelho, presente de sua avó, pelo pescoço, vestindo-o rapidamente, antes de conferir as horas. Já estava bem perto do almoço ser servido e a pulseira em seu braço permanecia gelada.

Com um suspiro, Rose terminou de se vestir e saiu do dormitório, irritada. Antes de descer as escadas, a garota jurou internamente que depois que tudo aquilo terminasse, ela nunca mais voltaria a ser babá de ninguém.

 

...

 

 

— Você é burro, Casey?! – Fred gritou, com a mão na cabeça.

Gotas de sangue escorriam da sua testa atingida.

— Não sabe diferenciar um balaço de uma goles?!

O quartanista troncudo fez uma cara feia, visivelmente ofendido, porém não retrucou. James, que já estava nervoso, apontou para o lado esquerdo do ginásio e os jogadores dispensados seguiram em suas vassouras na direção que o capitão do time mandara.

Sentado no alto da arquibancada, Scorpius Malfoy assistia à seleção. Seus olhos cinzentos analisavam cada aspirante a novo artilheiro da grifinória com cuidado, como se ele próprio estivesse os selecionando para substituí-lo, ainda que nenhum daqueles garotos fosse tão bom quanto ele.

Saber que não voltaria a jogar tão cedo deixava o loiro deprimido. E, cada vez mais, longe dos seus objetivos. Era por isso que a disputa acadêmica se tornara importante nas suas prioridades. O garoto não queria glória, muito menos nome. Sua família já tinha um, e este, por sinal, não andava muito bem dentro da comunidade bruxa desde o fim da segunda guerra.

Scorpius queria uma oportunidade. Apenas uma oportunidade de fazer com que as portas se abrissem a partir dos seus próprios esforços, para que ele exercesse o que mais gostava: jogar quadribol profissionalmente. Desde criança o loiro quisera aquilo. Era o seu maior desejo, ainda que não fosse o único.

E, por falar em singularidades, o metal em seu pulso ficou quente bem no momento que Malfoy encarou os degraus abaixo. O garoto percebeu que passara tempo demais assistindo ao treino. Uma montanha de cabelos vermelhos subia a arquibancada, com o semblante irritado.

Ele prendeu o riso. O temperamento explosivo de Rose, no fundo, sempre o divertira. Independentemente do que acontecesse, Scorpius não conseguia passar muito tempo chateado com a ruiva. No entanto, ela não precisava saber disso.

Rose parou a frente do loiro, com as mãos na cintura e as narinas latejando. Seu peito subia e descia, ofegante.

— Você poderia sair da minha frente, por favor? – Scorpius indagou. – Está atrapalhando a minha visão.

A garota respirou fundo.

 – Eu acho que vou ter que pôr uma coleira em você, garoto insuportável. – disse, entre os dentes. – Vamos embora. – ordenou.

— Desculpe, mas eu não pretendo sair daqui até o fim do treino. – o loiro rebateu.

— Não me obrigue a te azarar, Malfoy.

— De novo?!

A vontade de Rose era de lançar mesmo um estupefaça bem no meio das fuças de Scorpius, ainda que não fosse valer a pena, no final. Desafiador, Malfoy permanecia a encarando. A ruiva tinha plena noção de que ele estava a testando. Por isso, ainda que de contragosto, ela conteve os seus impulsos.

Por hora, pensou, e escolheu permanecer com as mãos nos bolsos, por segurança.

— Vamos voltar para o castelo, por favor. – repetiu, mais educada. – Está fazendo muito frio aqui.

— Relaxa, Weasley. O treino já tá acabando.

Scorpius indicou o espaço ao seu lado com a cabeça. Rose mordeu o canto interno da bochecha, ainda relutante em ceder.

— Vamos lá, ruiva. Só mais alguns minutos.  – Malfoy insistiu. – Pode se sentar aqui, eu não arranco pedaço.

Inconscientemente, Scorpius moveu as sobrancelhas para cima e sorriu de canto. Fora mais forte do que ele. Era uma velha brincadeira que o loiro ainda não havia esquecido. Mal sabia ele que não era o único, Rose também se lembrava com clareza. E foi apenas por isso que ela se prendeu para não sorrir também.

Subitamente envergonhado, Malfoy voltou a encarar o ginásio, outra vez em silêncio. Igualmente constrangida, a ruiva sentou-se a arquibancada. Quando os seus olhos azuis se fixaram a frente, metros a diante, Rose viu Albus acenar para ela, sorridente. A prima ergueu a mão esquerda de volta, em cumprimento.

James apitou mais uma vez e o treino se reiniciou. Cá da arquibancada, os dois adolescentes assistiram o jogo com interesse. Em um dado momento da partida, Rose riu sozinha com uma das jogadas.

Malfoy franziu a testa.

— Algum problema, ruiva? – questionou, curioso.

— Nenhum... – ela respondeu, dando de ombros. – Só achei curioso ver os irmãos Thomas jogando. Acho que o Jay deve escolher o Jason para te substituir.

— Provavelmente. – Scorpius concordou com a cabeça. – O Jason consegue se entrosar nas jogadas.

— Ele não se encaixa bem na formação de ataque. 

Scorpius ergueu as sobrancelhas claras, surpreso com a constatação. Ele mesmo já havia reparado neste detalhe antes. Rose apenas sorriu de canto, ainda com os olhos presos no jogo e as mãos dentro do bolso do moletom.

Na partida, os candidatos continuaram a se empenhar. Jason lançou a goles por cima do ombro de maneira extremamente desajeitada e, para o seu azar, Albus, que estava no time oposto, aproveitou a oportunidade e seguiu em direção aos arcos da outra equipe.

Rose e Scorpius fizeram caretas engraçadas da arquibancada.

— Esse foi o pior passe de revés que eu já tive a infelicidade de assistir. – a ruiva admitiu.

O loiro riu. Os pelos da sua nuca arrepiaram-se quando uma lufada de ar gélido passou por eles. Realmente, o tempo estava muito frio.

— O jogo contra a Corvinal só é depois do natal. Acho que o Jason consegue melhorar até lá. – ele replicou esperançoso.

— Seu otimismo me inspira, Malfoy.

— Ah, qual é?! Ele é a escolha menos drástica desse treino!

— Se você está dizendo...

— Não seja injusta, Weasley.

— Não estou sendo. Inclusive, eu também acho que o Albus e o Fred não estão facilitando muito para os outros jogadores.

— Por quê?

— Porque eles não são você.

Malfoy sorriu, amarelo. Não queria voltar a pensar no seu afastamento. Não ali, e não naquele momento minimamente agradável entre os dois depois de quase três anos.

Outra rajada estranha de vento frio agitou a paisagem ao redor. Metros a diante, James Potter apitou, encerrando o jogo.

— Ótimo. – Rose se levantou de imediato. – Agora podemos ir embora. Estou morrendo de fome.

Scorpius levantou-se da arquibancada, pronto para seguir a ruiva, quando a sua visão ficou turva. O garoto perdeu um pouco o equilíbrio.

— Malfoy! – Rose exclamou.

O loiro piscou os olhos, atordoado.

— Está frio... – ele disse, trêmulo. – Eu...

A cabeça de Scorpius doeu como nunca havia doido na vida. Ele gemeu, em desespero e apertou forte o degrau da arquibancada.

— É um desmaio? – a garota indagou, ainda sem saber o que fazer.

O loiro balançou a cabeça em negação. Havia algo de errado, mas não exatamente com ele. Quer dizer, Scorpius estava sim sentindo algo, porém não era nada consigo próprio. Era ao seu redor. Os seus sentidos estavam aguçados.

A dor de cabeça passou misteriosamente, da mesma forma que aparecera. Então o som de uma flauta doce ecoou, suave e devagar.

— Você não está ouvindo? – perguntou.

— Ouvindo? – Rose franziu a testa. – Ouvindo o quê?

Agora não era mais um e sim vários outros instrumentos. A melodia era bastante agradável aos ouvidos do garoto. Lembravam as tais das óperas trouxas que a sua mãe gostava de escutar aos sábados de manhã. O loiro percebeu que o volume das notas estava aumentando, devagar.

Alheia, a ruiva permanecia ao seu lado. O semblante de Rose era de alguém que estava tentando esconder a sua preocupação. Scorpius a encarou.

— Sinfonia. – disse, fixo. – O som de uma sinfonia.

Alguém gritou ao fundo e Rose fitou o campo de quadribol. Fred, assim como Malfoy, não parecia estar bem. James o rodeou, preocupado, e disse algumas palavras, que pela distância a ruiva não conseguiu compreender.

Os seus primos não eram os únicos que aparentemente passavam por algum problema. O mais velho dos Thomas voara em direção a arquibancada oposta, com a mão na cabeça. De mesma forma, alguns outros aspirantes a artilheiro seguiam desnorteados.

Naquele momento a mente de Rose se expandiu.

— Temos que voltar ao castelo. – decretou.

— Por quê?

— A primeira prova. Está acontecendo.

— Mas... já?

Os professores tinham avisado que a disputa poderia começar a qualquer momento, Malfoy só não imaginava que qualquer momento fosse tão rápido assim.

— É, já. – confirmou, decidida. – Vem, me dá a mão.

Scorpius estendeu a mão sem contestar e Rose impulsionou o corpo do loiro para cima com um pouco de dificuldade. Juntos, os dois desceram a arquibancada.

Enquanto contornavam o ginásio, a temperatura se tornara insuportavelmente gelada.  Rose apertou mais ainda a mão dentro dos bolsos do casaco. Scorpius, porém, não tivera a mesma felicidade de sair do castelo suficientemente agasalhado.

A dupla subiu em direção aos jardins de Hogwarts e o clima ficara um pouco mais quente. No céu, duas vassouras seguiram velozes, no sentido oposto ao castelo. 

Scorpius parou de andar, de súbito. Sua cabeça voltara a doer. Talvez fossem as ideias, que se mesclavam em uma velocidade absurda.

— Tem algo de errado... – o garoto falou, atordoado.

Antes que Malfoy concluísse o pensamento ou que Rose fizesse algum comentário, os dois foram interrompidos por um chamado.

— Ei, vocês!

Albus Severus Potter se adiantou, trazendo a sua vassoura consigo, junto ao corpo. O artilheiro suava, como se tivesse corrido uma maratona.

— Que merda é essa que está rolando?!  – indagou, agitado.  – Estão todos loucos?! James e Fred saíram em disparada e os outros estão rodando feito elfos bêbados no ginásio!

— A disputa, Al, está acontecendo.  – Rose respondeu.

— Como assim está acontecendo?!

 – Não sei. Malfoy começou a sentir algo na arquibancada, e eu vi que o Fred também. Assim como o Eddie. E os três estão inscritos na competição. Não pode ser outra coisa.

Albus coçou o maxilar, pensativo.

— Eu não sinto nada...  – comentou.

— Então Anthony está sentindo. – o loiro falou, direto.

— Mas eu nem sei onde ele está!

O loiro franziu a testa. A resposta para a pergunta do amigo lhe veio com bastante clareza. Malfoy sentiu como se pudesse encontrar quem ou o que ele quisesse naquele momento.

 – Ele está nas masmorras.  – respondeu, convicto.  – Ele está nas Masmorras.

— Como você pode ter certeza disto?

Scorpius deu de ombros. Rose, que prestara atenção em todas as feições do loiro até o momento, chegou a uma conclusão.

 – Conexão.

A voz da ruiva saiu quase como um sussurro. A observação fora mais para ela do que para os garotos. Ainda assim, ambos permaneceram a encarando. Mas, não por muito tempo.

Outra rajada de vento gélido e as pernas de Scorpius bambearam, levando-o ao chão.

— Scorp!

Albus se abaixou na direção do amigo, preocupado. O loiro agitou a mão esquerda, suja de terra pela força do impacto.

— Eu estou bem...  – falou rapidamente. – Estou bem. – repetiu, trêmulo. – Apenas está muito frio.

— Frio?  – o moreno estranhou a afirmação do amigo.  – O tempo melhorou bastante desde a manhã. Está bem mais agradável agora.

 – Agradável em que mundo?  – a ruiva questionou, perplexa. – Você não está sentindo nem um pouco de frio?

 – Aparentemente não como vocês.

Scorpius e Rose se encararam.

— É esse o sinal. – disseram juntos.

A ficha também havia caído para Albus. A menina encarou o primo.

— Volte para o castelo. Você precisa encontrar Zabini e descobrir qual o sinal de vocês. Ainda devemos ter um bom tempo.

Albus não disse mais nada. O garoto apenas montou em sua firebolt e saiu em disparada, em direção ao pátio principal.

— Não temos que voltar para dentro, não é? – ela indagou.

— Não. – o loiro negou.

— Então para onde vamos?

— Eu... eu não sei.

Rose abaixou-se na altura do loiro, que permanecia no chão. Ela segurou o rosto do garoto entre as mãos e, mesmo em meio a todo aquele clima gelado, Scorpius sentiu uma onda de calor percorrer a sua pele, como há anos não sentia.

— Malfoy, me escuta. – pediu. – Se eu estiver certa, você é quem vai nos guiar. Entenda o que você está sentindo.

A ruiva o fitava, firme, sem ter noção da reação que aquele toque causara. Rose estava tão embebida pela excitação da competição que todos os seus atos se tornaram involuntários, movidos pela necessidade de respostas mais urgentes.

Malfoy piscou rapidamente, tentando não se perder nas íris azuladas da garota.

— Não é tão fácil assim. É confuso... – ele sacodiu a cabeça em negação. – Parece aquelas aulas estranhas de adivinhação. Eu nunca entendia nada.

— Firenze sempre nos pedia para encontrar um ponto no céu. Um lugar para focar a nossa mente.

— Como posso focar em algo que eu nem sei o que é?!

— Você tem que tentar!

Scorpius assentiu com a cabeça e respirou fundo, antes de fechar os olhos. Ele buscou se concentrar ao máximo. A melodia insistente em sua mente foi ficando cada vez mais cristalina, pura. O loiro agora não só podia escuta-la como também conseguia visualiza-la.

Sim, ele estava vendo alguma coisa.

 

 

...

 

 

 Era manhã. Astoria Malfoy balançava um bebê loiro no colo pacientemente, sentada em uma cadeira de balanço. Ao seu lado, um disco escuro ecoava a tal melodia numa vitrola. Scorpius não reconhecia aquela casa, mas, apesar disto, o ambiente não lhe era estranho.

Misturado ao som da sinfonia, alguém disse alguma coisa. Astoria sorriu. As palavras não eram distintas aos ouvidos de Scorpius, mas as reações sim. Dois segundos depois, Draco Malfoy inseriu-se na cena. Também a sorrir, ele beijou a sua mulher com amor, antes de pegar o bebê rechonchudo no colo. Mais uma vez o homem disse algo e, mesmo que suas palavras permanecessem inaudíveis, sua boca se movia, alegre.

Draco seguiu com o bebê em seus braços em direção a grande janela do cômodo. A luz do sol atravessava o vidro, amarela, refletida no piso de madeira. Do lado de fora não havia ninguém, apenas um campo extenso, tomado por algumas árvores, que se mantinham imóveis, brancas pela neve de fim de inverno.

Scorpius, então, sentiu-se quente outra vez. Mas era um quente diferente. Não fora sua temperatura que mudara e sim a sua percepção. Quanto mais olhava para a neve, mais certezas o garoto sentia. Aquela era a sua resposta.

E, assim como aparecera, a cena se dissolveu.

 

...

 

 

— Malfoy?!

Rose deu batidinhas nas bochechas de Scorpius com a mão livre. O loiro mantinha o peso do corpo jogado por cima dela, inerte. De joelhos, estava quase impossível de segura-lo naquela posição.

— Malfoy?! – ela repetiu o chamado.

Os ombros do garoto se movimentaram e, devagar, suas duas mãos apoiaram-se no chão. A ruiva suspirou, aliviada.

— Por Merlim, você acordou!

Ainda sonolento, Scorpius desencostou-se de Rose. A cabeça não doía mais e a som desaparecera junto com o incomodo.

— O que houve? – o loiro perguntou, um pouco confuso.

— Você desmaiou quando tentou se concentrar.

Concentração... melodia... sonho... Era isso. O garoto levantou-se de súbito.

— Neve, precisamos encontrar neve! – disse, empolgado. – Está lá o que queremos.

Rose nem se deu o trabalho de refutar a informação. A ruiva seguiu Scorpius, que já saíra em disparada, rumo ao lago negro.

 

 

...

 

 

Há mais de uma hora, a dupla rodeava o lago negro. Com frio, e com fome, procuravam incessantes algum sinal do que deveriam encontrar, sem nenhum sucesso até aquele instante. Cansado, Scorpius diminuiu os passos e encostou-se a uma árvore robusta, próximo à beira do lago. No mesmo instante, sua pele arrepiou-se.

O loiro contornou o tronco de madeira e deu de cara com um amontoado de neve na outra extremidade. Desc0nfiado, primeiramente o garoto fitou a árvore com mais cuidado. Apesar de aparentar ter uma certa idade, ele percebeu que nunca a visto por ali. Scorpius conhecia muito bem aqueles jardins.

Não podia ser uma mera coincidência.

— Weasley, aqui! – ele gritou.

Rose se aproximou, ofegante.

— O que foi? – ela perguntou, com as mãos apoiadas nos joelhos.

— Acho que encontrei.

Rose crispou os lábios.

— Tem certeza?

— Só tem uma maneira de descobrir.

Malfoy ergueu a varinha em direção ao cume branco na borda da árvore. A neve se dissolveu e a água escorreu pela parte do gramado que ainda não fora coberto pela iminente chegada do inverno. Por baixo dos cristais de gelo, uma pequena abertura de terra se revelou, livre, por entre as suas raízes.

O loiro franziu a testa, confuso.

— Era para estar aqui. – disse.

 A ruiva deu dois passos para frente.

— Mas está.

Ela enxergava com clareza. Dentro do buraco, que o loiro imaginava estar vazio, uma chave dourada, de aproximadamente 20cm, muito bonita, encontrava-se em meio a uma porção de flores vermelhas. Grossos espinhos verdes também envolviam a chave.

Rose conseguia sentir o perfume das flores, assim como tinha certeza do quanto eram nocivos os seus espinhos.

— Você não consegue ver? – ela perguntou.

Scorpius negou com a cabeça. Rose retirou a varinha de dentro da roupa.

— Accio chave!

A peça não se moveu de lugar. A ruiva suspirou.

— Claro que não ia ser fácil assim. – comentou, irritada.

Rose se ajoelhou e retirou o casaco. Decidida, puxou as mangas do moletom para cima e se preparou para enfiar a mão dentro da abertura.

Malfoy a puxou rapidamente.

— Ei, ei! – ele bradou. – O que você pensa que vai fazer?!

— Vou pega-la, ué!

— Você não vai pôr a mão aí!

— Eu preciso pegar essa chave!

— Eu posso fazer isso.

— Não, você não pode. – ela negou.

— Ruiva, o que tem aí dentro? – ele insistiu.

— A chave.

— Eu quero saber o que tem junto com a chave!

Rose abaixou a cabeça.

— Rosas. – disse, baixinho. –  Rosas e espinhos. Muitos espinhos.

O loiro recuou alguns passos.

— Se afaste. – ordenou.

Mais uma vez ele apontou a varinha para a abertura. Rose se arrastou para o lado.

— Bombarda!

Uma pequena explosão acometeu a fenda, mas, exceto a poeira que se dissipou no ar e um pedaço da casca da árvore que se desprendera, nada mudou.

A ruiva se esticou e olhou para dentro do buraco.

— Os espinhos continuam lá. – avisou.

Scorpius balançou a cabeça. Parecia inconformado. Saber que existia algo ali dentro, mas que ele não podia ver o deixava ainda mais nervoso.

Ele repetiu o feitiço outras duas vezes.

— Você vai acabar derrubando a árvore. – Rose falou, calma.

— Se for necessário...

— Malfoy, será que você não consegue ver qu...

— Não, Rose, eu não consigo ver! Não consigo!

A ruiva suspirou. Ela passou a mão pelas bochechas sardentas, lentamente.

— Ela está mexendo com os nossos sentidos. – disse. – A chave te atraiu pela audição. Só você consegue escutá-la, e a gente nunca teria a encontrado se não fosse por isso.

Rose fez uma pausa e encarou a entrada entre a raízes da árvore.

 – Sou eu que consigo vê-la.  Então eu que tenho que pegá-la.

Scorpius dobrou os joelhos e sentou-se ao seu lado.

— Vai doer. – ele falou, sério.

A garota assentiu com a cabeça.

— Eu sei.

Com cuidado, a Rose inseriu a mão na abertura. Seus dedos percorreram por alguns centímetros, livres, e uma luzinha de esperança se ascendeu dentro da ruiva. Porém, o momento de tranquilidade fora breve. Assim que espinhos tocaram o dorso da mão da menina, sua pele rasgou-se, frágil, feito um pergaminho qualquer.

Rose apertou os lábios. A dor não era como de um arranhão comum. Ardia e queimava, deixando-a quase trêmula. Ainda assim a grifinória não desistiu. Ela empurrou um pouco mais a mão na direção da chave e os espinhos se inseriram mais profundamente em sua carne. Lágrimas brotaram dos seus olhos. O sangue escorria por sua mão, cada vez mais intenso.

De fora, Scorpius não conseguia ver o que estava acontecendo, exceto o semblante de choro da ruiva ao seu lado. Ele queria fazer algo, tirar a mão da garota dali e pôr a dele no lugar, mas Rose estava certa. Era ela que tinha que completar a missão. A ele não cabia mais nada além de assistir o seu sofrimento e reconhecer, já na primeira prova, o pesar da culpa por coagi-la a entrar na disputa.

Rose empurrou o braço até a altura do cotovelo e enfim conseguiu tocar na chave. Com a ponta dos dedos, a menina puxou o objeto pela haste gelada e, aos poucos, o metal se desgrudou da pedra. A ruiva apertou a chave com o máximo de firmeza que podia e trouxe a sua mão para cima no mesmo ritmo de antes.

A garota gritou quando os espinhos reentraram nas partes que já estavam machucadas. Parecia que a sua mão estava sendo dilacerada aos poucos. Scorpius sentiu um nó dentro do peito. Era como se ele mesmo estivesse sentindo toda aquela dor. Os dois só queriam que aquilo terminasse.

Exaurindo toda a sua coragem, Rose trouxe a chave a superfície. Agora ambos podiam enxerga-la com clareza. A ruiva soltou o objeto dourado no chão e se deixou largar os ombros, cansada e dolorida. Malfoy a amparou.

Ele ergueu a varinha para o ar e acenou em espiral.

— Linteum Futum!

Uma toalha branca e limpa apareceu, flutuante. Scorpius a pegou e enrolou a mão de Rose com cuidado. Ela rangeu de dor, mas não o afastou.

— Acabou... – ele sussurrou. – Acabou... – repetiu. – Vamos voltar ao castelo.

O loiro pôs a chave no bolso e ajudou Rose a levantar. Mais a diante, quando a ruiva olhou para trás, por cima dos ombros, já não existia mais nenhuma árvore ali.

 

 

...

 

 

Não haviam mesas no salão principal, exceto a dos professores, que esperavam sentados e apreensivos as duplas que obtiveram êxito. Nos cantos esquerdo e direito, próximo as grandes janelas, pedestais flutuavam. Muitos. Mais de cem deles.

Scorpius correu por cada um, observando-os. Em todos, diferentes molduras de chaves reluziam, enfeitiçadas. Ele pode perceber que algumas delas já haviam sido ocupadas, mas, em sua grande maioria, poucas duplas haviam terminado a prova.

Andando mais devagar, o loiro atravessou o salão e recomeçou a sua busca. Avistou já quase no fim da fileira o pedestal que estava procurando. Malfoy se aproximou e depositou a pesada chave dourada no encaixe. As peças se conectaram como uma luva e um brilho mais forte reluziu, permanecendo aceso.

Algumas palmas ecoaram no salão. A menino encarou os professores e Neville acenou, visivelmente orgulhoso. McGonagall também sorria, discreta, intimamente satisfeita com a performance da dupla.

Scorpius sorriu de volta e correu para fora do salão. Era o fim da primeira prova.


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Notas finais do capítulo

Para quem achou que a disputa ia ser fácil, ahahaha, no way!

E aí? O que acharam?!
Me contem aqui nos comentários! Eles são muito importantes para a evolução da história! (e podem ajudar a postagens mais rápidas ;] )

Para quem não conhece ainda, eu tenho uma página onde posto os links das histórias, alguns spoilers de vez em quando, umas novidades também... Dá uma chegadinha lá!
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Beijos!