Era a hora do jantar e todos os alunos de Hogwarts estavam reunidos nas grandes mesas das suas casas. Minerva McGonagall deu batidinhas com a colher na sua taça de prata. Automaticamente todo o salão entrou em um silêncio profundo.

A diretora se levantou do assento principal e andou até a mesa de discurso. A coruja dourada abriu as suas asas, como de costume.

— Boa noite, meus caros. – ela cumprimentou os alunos.

— Boa noite, diretora McGonagall.

A resposta foi uníssona, o que agradou a mulher até o último fio dos seus cabelos agora quase todos brancos.

Ela ergueu a voz outra vez.

— Todos nós sabemos que Hogwarts é uma escola com tradição milenar. Dentro desse conceito de tradições, nós, do corpo docente, valorizamos o ensino amplo aos alunos, tanto teórico quanto prático.

McGonagall engoliu um pouco da saliva presente na garganta.

— No entanto, nós, professores, chegamos à conclusão que talvez essa prática não tenha sido suficiente, visto que a realidade do mundo bruxo lá fora vai muito além da proteção que vocês recebem pelas paredes deste castelo. – explicou, com seriedade. – A partir disto, nós chegamos a uma conclusão. Uma proposta, na verdade. Algo que não proporcione perigo extremo, mas que dê uma pouco mais de liberdade as suas inteligências e habilidades.

Minerva fez uma pausa dramática.

— Decidimos então criar a Disputa Acadêmica.

Um tumulto teve início por todo o salão. A maior parte dos alunos vibraram, em polvorosa. A diretora ergueu a voz outra vez.

— Por favor, senhores, contenham a animação por hora!

Os ruídos foram diminuindo, devagar. Minerva esperou pacientemente a excitação dos alunos se abrandar. Do lado direito do salão, um grupo recorrente de estudantes estava sentados à mesa da grifinória.

Um deles bateu palminhas, em excitação.

— Eu não acredito que Hogwarts terá enfim um evento interessante! – Lily comemorou, em voz baixa, ao lado de Rose.

A ruiva rolou os olhos.

— Não se anime, Lil. – a garota disse, cética. – Não deve ser nada demais.

— Eu acho que vai ser algo bem legal. – Hugo rebateu, sentado do outro lado.

— Eu também. – Albus concordou.

Scorpius permaneceu calado, de braços cruzados. O grupo voltou à atenção para a professora McGonagall mais uma vez.

— Enfim, o professor Longbottom é quem irá explicar melhor as regras da disputa a vocês. – ela avisou. – Peço-lhes que ouçam com a atenção, pois, quem não as seguir estará automaticamente eliminado.

 Minerva cedeu espaço para o professor de herbologia, que agradeceu durante a passagem. Neville saudou os alunos, com um sorriso, antes de dar início aos seus comunicados.

Ele pigarreou e pôs a mão na mesa de discurso.

— A Disputa Acadêmica é, acima de tudo, um teste de conhecimentos no âmbito prático. – deu inicio a explicação. – Isso significa que vocês passarão por situações que irão coloca-los a prova, situações essas que não serão fáceis como se imagina. Para conseguir resolve-las vocês terão que aplicar aquilo vos é ensinado a durante todos os anos.

James, que estava um pouco mais a diante, se esticou na direção dos mais novos.

— Como se a gente absorvesse alguma coisa. – sussurrou.

Os garotos riram, exceto o Malfoy. Até mesmo Rose esboçou um sorriso de canto, apesar de discordar da opinião do primo.

Neville prosseguiu.

— Diferentemente de como era o Torneio Tribuxo, uma competição que acontecia no passado e da qual muito de vocês já devem ter ouvido falar... – ele olhou especificamente para a mesa da grifinória, onde estavam os seus afilhados. – Não serão escolhidos apenas três campeões. A competição será feita em duplas e qualquer aluno a partir do quinto ano pode se postular para participar.

Novamente, os alunos bradaram incessantes. Boa parte em revolta pela decisão.

— Isso não é justo! – alguém exclamou, da mesa da sonserina.

— Todos tem que participar! – dessa vez fora um terceiranista da Lufa-Lufa quem protestara.

Contudo, era a mesa da grifinória que mais fazia barulho.

— Eu não acredito nisso! – Lily bradou, chateada. – Como eles têm a audácia de deixar mais da metade dos alunos de fora?!

Rose e Albus riram.

— Eu disse para você não se empolgar, Lil. – a ruiva mais velha comentou.

— Você fala isso porque pode competir se quiser. – Hugo retrucou a irmã. – Que bela bosta de dragão!

O garoto enfiou a colher no pote de gelatinas com força, chateado.

— Silêncio, por favor... – Neville pediu lá do alto, calmo.

O professor já esperava todo o burburinho por causa dessa regra. Quando todos estavam em silêncio outra vez, o homem continuou.

— Como eu estava dizendo, somente os alunos a partir do quinto ano poderão competir. – ele repetiu. – A decisão foi tomada com base na segurança de todos vocês. Isso porque, como eu também já citei, não serão provas fáceis. Elas irão demandar um raciocínio mais avançado. – explicou. – Esse domínio geralmente é desenvolvidos pelos alunos que estão pelo menos no nível dos N.O.M.s.

Era uma boa justificativa. Pena que os adolescentes só entendiam o que queriam.

— A escolha das duplas também não será discriminada. Alunos de diferentes casas podem formar duplas, desde que ambos competidores sejam do mesmo ano. – Neville continuou. – A dupla vencedora da disputa ganhará como prêmio a realização de um desejo, cada um.

— Qualquer um?! – Fred gritou da mesa da grifinória, mais atrás do grupo.

Neville sorriu.

— Sim, qualquer um. – confirmou. – Até mesmo o desejo mais profundo de todos.

Subitamente, a disputa se tornou muito mais atrativa aos olhos de Scorpius. A realização de um desejo, principalmente o maior de todos, era um prêmio muito bom para o loiro.

Na verdade, era bom até demais. Resolveria todos os seus problemas. Ou quase todos, ele pensou. O garoto descruzou os braços e os apoiou na mesa, totalmente focado no que o professor de Herbologia tinha para dizer.

Lily, entretanto, continuava a murmurar inúmeras coisas, inconformada.

— Shh, Potter. Cale a boca! – Scorpius se manifestou pela primeira vez. – Eu quero ouvir o que o Longbottom tem a dizer.

Lily ergueu as sobrancelhas avermelhadas, levemente ofendida, mas acatou ao pedido do loiro.

— Aos que já tiverem uma dupla definida, daqui a três noites, durante o jantar, basta anunciar em voz alta o nome dos competidores e o ano em que estão. – Neville avisou. – Se os alunos estiverem dentro das normas da disputa, a dupla receberá na hora a confirmação da inscrição na competição.

O professor apoiou o cotovelo na haste de metal da lateral e encarou os alunos de maneira firme.

— Contudo, eu preciso deixar bem claro para vocês que, se durante o ato da inscrição os dois componentes da dupla não estiverem presentes no grande salão, a inscrição não será validada de forma alguma. – avisou. – Estejam atentos a isso.

O garoto absorveu as palavras do professor com bastante atenção.

— Bom, vocês estão dispensados agora.

Neville fez um sinal com a mão e dispersou os estudantes. Pouco a pouco, cada uma foi se levantando das mesas. A excitação sobre a disputa permanecia no ar e vários alunos discutiam quais e quando seriam os prováveis testes.

O loiro se levantou do banco concentrado. Ele sabia que já tinha uma dupla, Albus não o deixaria na mão. O problema viria caso ele não estivesse apto para competir por causa dos efeitos da poção que o atingira.

O garoto agitou a cabeça rapidamente, distanciando os pensamentos negativos. Como sua avó Narcisa sempre dissera, ele era o seu pequeno lorde. Um Malfoy digno. E, não importava as circunstâncias, os verdadeiros Malfoys nunca perdiam a sua glória.

Se Scorpius queria aquele prêmio, Scorpius teria aquele prêmio.