Calisto escrita por Odd Ellie


Capítulo 5
Capítulo 4 - Lugares Trancados (Margot, Jasper)




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"Ela se fez mais forte ao lutar contra o vento" (O Jardim Secreto, Fraces Hodgson Burnett)

 

Margot

O relógio marcava dez da noite e sol brilhava forte do céu.

Margot estava esperando fora do cilindro por quase meia hora antes de Ettore chegar. Ela tentou ler um livro no meio tempo, um clássico da terra que ela havia baixado gratuitamente na biblioteca digital. Ela escolheu o livro em questão sem saber muito a respeito, apenas por ter a palavra Jardim no título. Até agora na trama nenhum jardim tinha aparecido, apenas uma menina solitária e surpreendentemente amarga que cresceu na Índia durante a época do império britânico até a morte dos pais e aí ela é mandada para a Inglaterra para viver com o tio em uma mansão escura e fria. O jardim do título não tinha aparecido ainda nos capítulos que Margot tinha lido, ela começou a se perguntar se seria um jardim da alma que o título se referia ao invés de um literal. A prosa era bela mas ela não conseguia se concentrar nas palavras, ela continuava a imaginar o teto caindo, e um corpo preso debaixo dos escombros, do ar acabando. Ela estava mais uma vez começando o capítulo quatro por não ter prestado atenção nas palavras na primeira vez que ela tinha começado quando Ettore chegou.

“Desculpa pela demora” Ettore disse.

“Você não precisa se desculpar. Eu estou apenas grata por você ter vindo”

E ela estava. Normalmente a estação agrária era acessível apenas por trem, e devido ao acidente de trem vindo de Gilpur mais cedo naquele dia todos os outros haviam sido cancelados, mas funcionários seniores tinham acesso a jipes que poderiam chegar a Valhalla. Ettore era um deles e devido ao acidente ele foi chamado de seu dia de folga para transportar pessoas da estação para Valhalla e para Polstia e Kanoue dois outros povoados relativamente próximos.

Antes deles partirem Ettore perguntou mais uma vez se Margot não preferia dormir na estação agrária como os outros funcionários e estudantes que estavam ali, haviam colchonetes de sobra afinal e lhe pouparia a viagem mais cedo. Uma parte dela se sente culpada por não dizer sim, a maior parte das pessoas que tinham insistido em fazer a viagem eram aqueles que tinham familiares os esperando em casa. Mas um dia dentro do cilindro era ruim o suficiente.  

Durante o período de trabalho ela estava ocupada, mas deitada na escuridão e no calor artificial dentro do cilindro ela se sentiria presa, ela sabia. A gravidade artificial também seria um problema, o peso do corpo dela a impediria de dormir bem, como dizia a regra ela usava as botas anti-gravidade nos espaços públicos, mas assim que ela chegava em casa ela as tirava, a idéia de adormecer sentindo a terra puxando ela pra baixo sentia bizarra.

O cilindro ficava uns 15 quilômetros longe de Valhalla e era onde a maior parte da comida que supria a cidade era produzida. Margot cresceu achando o cilindro um pouco de desperdício de dinheiro e ela ainda pensava um pouco isso mesmo trabalhando lá. Seus planos originais na faculdade de botânica era se juntar ao time que trabalhava na qualidade de ar nas florestas de Calisto que ainda estavam crescendo, mas o pagamento da estação agrária era bem melhor, e ela precisava de dinheiro para advogados e investigadores fora de Calisto. Após seus pais estarem soltos ela podia achar um trabalho que ela realmente gostasse.

Mesmo antes de se tornar uma botânica ela sabia que algumas das plantas da terra conseguiram se adaptar muito bem a marte e vênus, mas para os ecossistemas de satélites foi necessário engenharia genética para criar novas plantas para manter o ar da atmosfera a níveis respiráveis para humanos, e tecnicamente o mesmo deveria ter sido feito para comida, e foi inicialmente mas foi muito mal aceito dentro da população, as pessoas sentiam falta de arroz e batatas, e carne e maçãs. E elas estavam dispostas a pagarem mais créditos por isso. E então o cilindro foi feito, uma instalação gigante que girava constantemente causando a força centrífuga o suficiente para simular a gravidade da terra, e com iluminação e calor artificiais para simular as condições meteorológicas da terra e fazer as plantas cresceram, assim como os animais criados para abatimento.

Ela não entendia a obsessão que os ex prisioneiros tinham com comida terrestre, geralmente a primeira coisa que eles faziam após serem liberados da prisão era ir torrar seus créditos no primeiro lugar que vendesse comida não Calistana. No orfanato tudo que ela comia eram as rações feitas de plantas Calistanas e algumas delas não eram apenas aceitáveis, elas eram realmente boas. Ela tinha uma teoria que era uma maneira de se agarrar a um pedaço de um planeta que eles nunca veriam novamente, ou talvez de uma vida.

“Cinto” Ettore lembrou ela quando ela entrou no jipe.

“Eu já tava colocando”

Ele ainda a tratava como uma criança, ele provavelmente ainda a via dessa maneira também, ele se tornou amigo do pai dela na prisão, e quando ele saiu ele prometeu ficar de olho nela, quando ela estava crescendo ele não tinha os fundos para adotá-la oficialmente, mas ele a dava presentes no seu aniversário e no natal, e por quase todo domingo e sábado até ela ter idade para passar a ir sozinha, Ettore a acompanhava até os centros correcionais onde seus pais estavam presos para que ela pudesse ter suas visitas semanais.

“Como foi o seu encontro ?” ela perguntou quando eles já estavam na estrada.

"Como você sabe sobre isso ?"

"Algumas pessoas estavam falando como você mudou o dia da sua folga para ter um encontro" 

“As pessoas falam demais. De qualquer maneira : não aconteceu, ela ligou cancelando logo de manhã”

“Oh. Sinto muito”

“Tudo bem, não importa realmente. Se ela tivesse ido eu provavelmente teria sido chamado no meio pra servir de motorista pro pessoal, melhor ter um bom primeiro encontro completo depois do que um pela metade hoje”

“Você tem certeza que vai ter mesmo um primeiro encontro ?”

“Bem eu estava um momento atrás mas obrigada por colocar a paranóia na minha cabeça” ele disse e riu.

“Sinto muito”

“Tudo bem”

“Por um acaso você passou perto do acidente ?”

“Sim, mais cedo. Porque ?”

“Eu queria saber se você notou se a biblioteca foi atingida”

“Não foi, porque a pergunta ?”

“Eu conheço alguém que trabalha lá”

“Seu amigo ou amiga provavelmente está bem”

“É uma mulher. E ela não é uma amiga, ela é apenas uma pessoa que eu conheço”

Ela passou o resto da jornada rumo a Valhalla respirando um pouco mais facilmente, seus medos de que Andrômeda estava debaixo de escombros eram infundados. Havia é claro a chance dela ter sido atingida enquanto ela estava nos arredores mas esses eram bem menores. E de qualquer maneira Andy era inteligente, e também Andy era muito egoísta. Ela era do tipo que sobrevivia.

Quando eles chegaram na cidade ela disse para Ettore ir para casa para sua filha ao invés de acompanhá-la até sua porta, que ela podia andar cinco minutos do estacionamento até seu apartamento mas ele insistiu.

“Você fez isso pra todos os outros que você levou hoje ?” ela perguntou enquanto eles andavam.

“Não, você é mais especial do que os outros para mim”

Ela se sentiu bem tola pelo comentário ter feito ela corar um pouco. Ele era um homem naturalmente charmoso, mas há muito tempo ela tinha desistido de ter esperanças que ele fosse vê-la dessa maneira.

Quando eles chegaram na porta ela ia perguntar se ele queria ficar e tomar alguma coisa, ela sabia que ele provavelmente diria não mas não custava perguntar. Mas aí eles ouviram um barulho vindo do apartamento.

Ela abriu a porta devagar espiando dentro, nos últimos anos ela tinha se metido com coisas perigosas, a idéia de alguém ser mandado para matar ela parecia exagerada mas não impossível. Seu medo passou quando ela viu quem era, e foi substituído por irritação.

“Vai embora Andrômeda”

“Oi Maggie. Então eu posso explicar porque eu estou aqui” Andrômeda disse se levantando do sofá.

“Eu não me importo com suas explicações, vá para sua casa”

“A questão é que eu não tenho uma casa. Então hum...desde que você me expulsou eu meio que tenho vivido nessa sala na biblioteca, e houve esse acidente lá perto hoje e tem um monte de agentes da federação, e eles não me deixaram entrar na biblioteca por estar perto. Então eu não tenho onde dormir”

“Vá para um hotel. Vá pra casa da sua mãe. Vá ficar com aquele piloto babaca. Todas essas opções são melhores do que invadir a casa da sua ex”

“Todos os quartos de hotéis estão ocupados, muita gente ficou presa na cidade por causa da paralisação dos trens. Eu e Anthony não temos esse tipo de relacionamento. E eu prefiro dormir na rua do que ir pedir Johanna por um lugar pra ficar”

“Você foi embora mais de um ano atrás, você deveria ter encontrado um apartamento já”

“Sim eu deveria, mas eu não fiz. Vamos Margot, você sabe que eu não viria aqui se eu tivesse uma melhor opção. Eu não tenho ninguém pra pedir além de você, okay ?”

Isso era provavelmente a coisa que mais a irritava sobre Andy, ela era sem dúvida a pessoa mais egoísta que Margot já tinha conhecido em toda a sua vida mas ela não hesitava de pedir gentileza de outros se ela achava que havia algo a ser ganho. Ou ao menos Andy não hesitava quando se tratava dela.

 

Escolhas para Shalashaska, Margot diz :

A - “Eu não me importo, saía da minha casa”  *Escolhida

B - “Tá, durma aqui. Eu vou dormir na casa do meu amigo, quando eu voltar você melhor ter saído”

C - “Ok. Você pode dormir no sofá por uma noite, mas amanhã você sai”



Jasper

O novo companheiro de cela de Jasper só havia começado a chorar após as luzes do pavilhão terem sido apagadas. Antes disso ele ficou discutindo com os guardas de que era injusto ele estar ali e que ele queria ver um advogado. O que na verdade não acontecia com frequência por ali, geralmente entre o julgamento e o transporte ao satélite a maioria já tinha aceitado seu destino. Geralmente havia avisos de que novos prisioneiros estavam chegando, mas não naquele caso, talvez ele fosse de algum lugar próximo como Io ou Ganymede.

Jasper tinha ficado quieto na parte de cima da beliche desde que o sujeito tinha sido colocado lá, mas já fazia quase uma hora e o sujeito não demonstrava sinais de parar de chorar, então Jasper colocou a cabeça pra baixo e disse  :

“Você vai fazer barulho a noite toda ?”

O rapaz imediatamente parou de chorar o que irritou Jasper um pouquinho, no passado toda vez que ele havia chorado ele não conseguia se fazer parar por mais que ele tentasse, a idéia de alguém ter a habilidade de parar a qualquer momento e simplesmente não fazer era meio desmoralizante.

“Você estava acordado o tempo todo ?” o rapaz perguntou.

“Sim”

“Eu sinto muito. Eu achei que você estava dormindo já”

“Eu estaria se você não tivesse chorando”

“Olha eu sinto muito pelo barulho mas você não precisa ser um babaca sobre isso. Você não sabe o dia que eu tive”

“Te mandaram para Calisto, buá buá buá. Caso você não tenha notado todo mundo está na mesma situação. Você deveria ter usado essas grandes lágrimas no tribunal não aqui”

“Ninguém me mandou pra Calisto, eu nasci aqui. E eu não passei por um tribunal eles apenas me pegaram no meu trabalho e me jogaram aqui”

“Certo...isso é diferente. Qual o seu nome ?”

“Connor”

“Eu sou Jasper. Me conte sobre o seu dia ruim Connor”

“Porque eu faria isso ?”

“Porque você claramente quer fazer, você não teria mencionado tudo isso se você não tivesse morrendo de vontade de falar com alguém a respeito”

Connor olhou pra ele com raiva. Mas ele contou sobre seu dia, sobre ter sido designado pra servir de sombra para o Doutor Hume, sobre não apertar o botão, sobre o desastre de trem, sobre socorrer pessoas e voltar para o hospital e encontrar agentes da federação esperando por ele com uma ordem de apreensão e ser levado imediatamente para o centro correcional mais próximo.

“Você deveria ter apertado o botão”

“Não eu não devia. Doutor Hume salvou pessoas lá e eu também. Eu estar preso por ter me recusado a machucar outra pessoa é errado”

“Essa é uma coisa bem idiota de se dizer”

“É a verdade”

“Não importa se é verdade ou não. Se você dizer algo assim para um guarda ou algum agente da Federação eles vão querer fazer um exemplo de você. Só diga que você não pensou direito e que você sente muito e talvez eles peguem leve com você. Talvez chore um pouco mais”

“Eu não choro na frente de outras pessoas”

“Hum...eu sou uma pessoa e você chorou na minha frente”

“Eu já disse que eu achei que você estivesse dormindo”

“Eu gostaria de estar”

“Olha, você pode tentar dormir agora, eu vou ficar quieto okay”

“Okay”

Uns quinze minutos depois Jasper ouviu Connor começar a chorar de novo, embora essa vez bem mais baixo do que antes.

 

Escolha para Ophelia :

A - Apenas ignorar, colocar o travesseiro sobre sua cabeça e tentar dormir.

B - Chamar o guarda no final do corredor e perguntar se tem alguma outra cama livre sem um companheiro de cela que não pare de chorar.

C - Perguntar para Connor se ele quer um livro, ou uma pílula para dormir ou doce para distraí-lo. * Escolhida

 


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Notas finais do capítulo

Oi gente, então ao longo dessa semana eu tentei contatar a Bob Lazuli a criadora do Newt sem muito sucesso, então já que ela não escolheu eu resolvi implementar um sistema de votação com relação a escolha dele, vocês podem escolher quem ele diz pra Blake salvar primeiro A) Kaylane B)Mae C)Astrid e quem tiver mais votos até o próximo capítulo fica como a escolha oficial.

Obrigada por ler, comentários são sempre apreciados.