Louis desceu as escadas e ouviu alguns cochichos vindo da porta. Pensou que seriam vendedores, mas quando abriu a porta, estava lá o garoto que Steve batera e um garoto mais velho. ”Conheço ele de algum lugar”, pensou Louis.

—Olá, Louis. – Disse o garoto mais novo.

—Oi... uh, como sabe meu nome? – Perguntou Louis se espreguiçando.

—Uma garota da sua sala me disse. – Enquanto o garoto falava isso, o outro parecia observar a casa de Louis por fora. – Meu nome é Edward, mas pode me chamar de Ed. Não sei se você lembra, mas Steve batia em mim, quando você interrompeu.

—Sim eu me lembro. Mas, o que você está fazendo aqui? E quem é ele?

—Ele é meu irmão mais velho, Fred. Ele me acompanhou até aqui para ter certeza que Steve não iria me encontrar no caminho.

—Oi, prazer em conhecê-lo. – Disse Fred. – Acho que conheço você de algum lugar.

—Você também não me é estranho... enfim entrem, por favor. – Disse Louis terminando de abrir a porta e fazendo gestos com a mão. Eram umas das primeiras pessoas que entraram em sua casa além de sua família e empregados.

Os convidados olhavam para as decorações.

—Vamos para a sala de estar. – Disse Louis.

Quando entraram lá, Fred olhou para a estante de livros e disse imediatamente:

—Lembrei! Te conheço da livraria.

Louis fez uma expressão de pensativo e então lembrou-se. Fred era o vendedor da livraria.

—Você é o garoto que estava vendendo os livros com aquela senhora, não é? – Quando disse isso, pensou em acrescentar: “Por que não estavam lá quando entrei pela primeira vez, antes das férias? “, mas achou que seria um problema eles descobrissem a história do Sanguis.

—Sim era eu e minha avó. Ela é dona daquela livraria a mais de vinte anos, desde quando a mãe dela morreu. – Fred dizia isso de uma forma animada, porém aos olhos de Louis, parecia estar fingindo.

—E suponho que seus pais serão os próximos donos da livraria, e depois você?

—Não, eles não têm muito interesse em livros, o próximo vai ser eu.

—Entendo. – Depois de uma pausa, continuou – E por que vocês vieram aqui?

—Para te agradecer. – Disse Ed olhando para Louis. – Obrigado por me defender do Steve, ele sempre me bate e me humilha, mas você me ajudou, então obrigado.

“Eles falam bastante... ou será eu que não estou acostumado a conversas? ”, pensou Louis.

—Bom, ele sempre pegou no meu pé também, então acho que não fiz isso só por você. – Respondeu Louis.

—De qualquer jeito, obrigado. – Fred falou em voz baixa. – Não é sempre que estou perto de Ed para tentar defende-lo. Aliás, você é do mesmo ano que eu e temos quase o mesmo tamanho, como derrubou aquele brutamontes?

—Eu não sei muito bem, mas acho que criei forças da raiva que senti na hora. – Louis respondeu desviando o olhar para baixo.

Fred olhou para baixo também e após isso voltou a observar as decorações.

—Já são duas e meia, tenho que voltar ao trabalho. – Disse ele olhando para o relógio e levantando.

—Entendo. Você trabalha lá todos os dias? – Louis também levantou enquanto falava.

—Não. Às quartas e sextas eu folgo. – Fred colocou a mão sobre o ombro do irmão e puxava a camisa dele, pedindo para eles irem em bora. – Vamos Ed.

—Certo. – Respondeu Edward, com um olhar de desconfiado.

Depois de caminharem até a porta, Louis a abriu e rapidamente Fred saiu puxando Ed pela camisa.

—Tchau, Louis e obrigado por tudo. – Disse Fred dando um sorriso amarelo e estendendo a mão para cumprimentar Louis.

—Tchau, Edward e Fred. – Louis os cumprimentou e depois que viraram as costas, fez uma expressão de desconfiado, também.

—Sempre que quiser um livro vá na livraria que te dou um desconto. – Fred falou na calçada, sem olhar para trás.

Louis observou-os até onde a vista alcançava e depois voltou para dentro. Ligou a televisão, passava um programa sobre pássaros que, apesar de ter dormido a manhã toda, o deixou com sono. Ele voltou para seu quarto, ligou uma música e deitou-se para pensar no que fizera e no que iria fazer nas próximas aulas.

“Klaus deve estar gargalhando de alegria”, pensou Louis.

À três quarteirões de distância, Edward perguntava ao irmão:

—Por que mentiu dizendo que trabalhava às duas e meia?

—Acho que sei o motivo de ele ter conseguido derrubar Steve, e não é por causa de treinos. Acho que... – Fred deu uma pequena pausa e olhou para os lados. – Acho que Louis leu o Sanguis.

Um tempo depois, Louis cochilava em sua cama, quando seu pai chegou e abriu a porta de seu quarto.

—Por que veio para casa mais cedo? Me ligaram desesperados para dizer que você fugiu da escola. – Disse ele entrando no quarto.

—Eu não estava me sentindo bem e resolvi sair. Se eu fosse esperar a decisão da enfermaria, provavelmente estaria pior agora. – Respondeu Louis.

—Como estava passando mal? Me disseram que você espancou um garoto!

—Eu não me senti muito bem justamente por causa disso. Mas ele mereceu o que levou.

—Não interessa se mereceu! Você está de castigo! Nada de ficar até tarde assistindo televisão e nada de sair. É só da casa para a escola e da escola para casa.

—OK. – Louis reagiu de uma forma tão calma que seu pai quase deu outra bronca nele, pensando ser ironia.

Depois da janta, o garoto subiu para seu quarto. Seu pai havia retirado seu celular e removido os cabos do computador, portanto Louis procurava algo para fazer. Resolveu arrumar as coisas que guardava em seu armário. Achou CDs velhos, livros que já lera, papéis da escola e vários outros objetos.

Depois de tirar várias coisas das gavetas, colocou-as em ordem sobre a cama e começou a separar o que iria jogar fora. Após isso, pegou um pequeno espelho e ia colocá-lo perto do espelho de parede de seu quarto, mas, quando se aproximou, viu vários olhos negros observando-o. Muitas vezes via os olhos de Klaus no fundo do reflexo, mas agora haviam muitos olhos lá.

Jogou o espelho sobre a cama e saiu de seu quarto assustado e foi para o banheiro e, sem olhar para o espelho ou para o box, lavou o rosto. Louis pensou estar alucinando novamente. Quando voltou para seu quarto, olhou para o pequeno espelho e ficou feliz por não ter quebrado e por não ver mais nenhum olhar.

Terminou de arrumar os objetos que havia tirado do armário e deitou-se para dormir, coisa que não conseguiu fazer nos primeiros minutos, mas depois de algum tempo, pegou no sono.

Sonhou com Klaus e Johan, eles se cumprimentavam em cima de uma colina de grama baixa.