Obliviate escrita por Downpour


Capítulo 51
Capítulo 51 - Let It Happen




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Capítulo 51 - Let It Happen

 

CAMILLA SCHMIDT



— Srta. Schmidt!

Me virei abruptamente e dei um pequeno sorriso quando vi que o Professor Slughorn me chamava com um sorriso no rosto.

— Ah, professor! — fiz um aceno com a cabeça enquanto as meninas que caminhavam comigo de despediram, deixando-me sozinha com ele.

— Oras finalmente consegui encontrar a senhorita! — ele exclamou balançando a papelada em suas mãos — Não irei tomar muito de seu tempo, fique tranquila. Apenas vim aqui lhe comunicar sobre sua admissão no Hospital St. Mungus-

— O QUÊ? — minha voz falhou e por um momento eu achei que meu coração fosse queimar.

Ser admitida no Hospital St. Mungus era o meu sonho desde que as coisas tinham se aquietado, eu tinha decidido que gostaria de passar o resto da minha vida se dedicando a vida ea saúde de outras pessoas. Ter essa oportunidade em mãos era surreal…

— Madame Pomfrey ficou impressionada com a forma em que você tratou as crianças durante o final da guerra, e como a senhorita já tinha as notas necessárias para atuar como uma medibruxa, só lhe bastou uma indicação. Devo dizer que a senhorita é uma das estudantes mais jovens a atingir essa posição tão rapidamente. — havia um brilho de orgulho no olhar do professor — Assim que terminar seu último ano, você trabalhará no Hospital e receberá o treinamento adequado. Será questão de tempo para que você de fato assuma o título de medibruxa.

Minha boca se entreabriu e rapidamente um sorriso largo surgiu em meu rosto.

— Pelas barbas de Merlin, muito obrigada professor, de verdade! Eu não consigo acreditar, eu-

— Não foi nada demais, aliás é exatamente isso que se espera dos alunos que fazem parte do meu clube.

Com uma piscadela, Slughorn se retirou deixando-me completamente abobada no meio do corredor.

Eu ia conseguir realizar o meu sonho, eu ia orgulhar a minha família. Mal podia esperar para mandar uma carta para Charles contando a novidade.

Dei uns pulinhos e abracei meus cadernos enquanto me dividia para a aula de runas antigas.

Era estranho cursar o último ano em Hogwarts sem a presença de Harry e Rony, acontece que os dois viraram celebridades (não que Harry já não fosse uma) e agora estavam ocupados com seu treinamento para se tornarem aurores. Por fim, testou eu, Gina, Hermione, Luna, Neville e alguns outros membros da antiga Armada de Dumbledore. 

 Mesmo assim, Hogwarts permanecia uma escola bem animada. Eu passava boa parte dos meus dias ao lado de Sabrina, minha amiga estava muito ocupada estudando para conseguir um cargo no Profeta Diário, então nós duas passávamos boa parte do tempo estudando juntas. Minhas visitas a Hogsmeade era sempre na companhia de Gina e Hermione, nessas visitas Harry e Rony costumavam aparecer no povoado de vez em quando, bem não é necessário mencionar que eu passava tardes segurando vela para dois casais.

Não somente Gina e Hermione estavam namorando como Sabrina também. Minha amiga estava namorando Dino Thomas da Grifinória, consequentemente eu sempre me sentava a mesa dos grifinos no café da manhã.

Apesar de estar cercada de casais, eu não me sentia na necessidade de namorar alguém. Claramente eu me sentia um pouco carente, mas devido tudo o que tinha acontecido na minha vida ainda naquele ano eu preferia ficar um pouco sozinha com os meus livros.

Todos os finais de semana eu me encontrava com a minha psicóloga, e conforme os meses se passavam ela dizia ver certa melhora. Eu estava retomando a ser sociável, tinha parado de me culpar ede ter crises de pânico ou ansiedade.

Assim como a minha saúde mental, os meus estudos começaram a melhorar. Eu estudava todas as noites com outros corvinos no Salão Comunal, na maioria das vezes eu explicava o conteúdo que eles não tinham compreendido na sala de aula.

— Vamos, a aula já acabou. — Sabrina apareceu na minha frente me tirando de meus pensamentos.

— Qual é a próxima aula? — perguntei franzindo o cenho.

A loira deu risada.

— Você está tão distraída que nem percebeu que essa é a última aula do dia né?

Abri a boca surpresa e logo dei um sorriso fraco.

— Na verdade não, por que você não vai andando na frente? Mais tarde eu te encontro no Salão Principal.

Sabrina estreitou os olhos.

— Camilla Schmidt, você precisa dar um tempo nos seus estudos, sei lá arruma alguma diversão. Por que você não conhece alguém e talvez-

— Eu não preciso conhecer ninguém. — cantarolei ainda que sonolenta.

— Cam, você precisa relaxar e parar com essa rotina rigorosa de estudos…

Fechei meus olhos já sabendo onde aquela conversa iria parar, assim como todas as minhas outras conversas não somente com Sabrina mas também com Gina, Hermione e até mesmo Luna.

Draco Malfoy.

Já faziam meses que eu e ele não conversavamos de verdade, depois da breve conversa que eu tive com os Malfoy parte de mim resolveu me afastar deles. Agora eu sabia como ninguém que não se deveria confiar na família Malfoy, mesmo que meus sentimentos persistisse no filho deles. A verdade era que eu nunca seria aceita naquela família.

Ocupar a minha mente era a minha melhor forma para me focar nos estudos e consequentemente não me recordar de como nós dois éramos juntos.

— Tá bom, eu já vou indo. — a cortei antes que a loira começasse a falar sobre ele.

Sabrina ergueu a sobrancelha e se retirou da sala de aula com uma expressão derrotada em seu rosto.

Suspirei me encontrando finalmente sozinha e em paz. Lentamente eu comecei a arrumar meus materiais e a verificar minhas anotações de runas.

— Oh me desculpe eu achei que a sala estava va-

Meu coração parou ao perceber que Draco Malfoy estava encostado na soleira da porta, o loiro claramente estava surpreso o que demonstrava que ele não esperava me ver ali naquele momento.

— Ah, está tudo bem, eu já estou saindo.

Quase mordi minha língua, meus diálogos recentes com Draco eram tão estranhos e curtos, de alguma forma isso me soava errado. Nós dois parecíamos ex-namorados que não tinham conseguido lidar com o término, ao menos eu parecia. 

Contive a vontade de conversar com ele sobre milhares assuntos e apenas dei um sorriso torto, esperando disfarçar o meu desconforto e a crescente ansiedade.

Todavia pareceu ter sido automático, só fui perceber quando as palavras tinham saído da minha boca.

— É meio estranho estudar em uma sala de aula vazia essa hora, você deveria ir almoçar primeiro Draco.

  Dois erros.

  Puxar assunto e chamá-lo pelo primeiro nome.

  Ele pareceu ficar surpreso com a minha fala, um sorriso triste passou pelo seu rosto tão rápido como sumiu.

— Eu não me sinto confortável comendo na frente de todo mundo. — ele disse de forma vaga, mas foi o suficiente para que eu entendesse que ele não se sentia mais alocado em Hogwarts, ele se sentia envergonhado de estar lá.

— Desculpe, eu não pensei…

— Está tudo bem. — Draco respondeu calmo — Na verdade esse é um bom momento para estudar, os corredores ficam vazios e silenciosos.

— Uau, eu nunca pensei que um dia fosse ver você estudando com tanto afinco. — murmurei e quase que imediatamente um meio sorriso surgiu no rosto dele.

Novamente me vi repensando minhas palavras diante dele, contudo algo em mim fazia com que as palavras saíssem automaticamente da minha boca. Não queria admitir, mas eu sentia falta de conversar com ele, de ouvir sua voz e ver seu sorriso repleto de calmaria.

— Eu posso não ter sido muito certinho, mas eu sempre fui estudioso. — Draco ergueu sua sobrancelha com certo convencimento enquanto falava.

Era bom saber que algumas coisas não mudavam.

— É acredito que você deve ter se esforçado para ser o queridinho do Snape. — alfinetei e dei risada quando ele estreitou os olhos na minha direção.

Nós dois passamos alguns momentos em silêncio e apesar disso não foi algo desconcertante e constrangedor, na verdade foi confortável. Apesar do silêncio eu sorria.

— Eu senti sua falta. — admiti.

Só me dei conta do que tinha falado quando minhas bochechas começaram a queimar de vergonha, fazia muito tempo que eu não chorava na frente de um garoto.

O loiro sorriu, e eu sentia que apenas aquele sorriso podia iluminar o meu dia.

— Eu também sentia sua falta Cammie, só não quis te incomodar, pensei que talvez você precisasse de um tempo para si depois de tudo o que aconteceu…

Batuquei minhas unhas em um claro ato de ansiedade.

— Obrigada. — sussurrei, surpresa com o fato de que ele tinha respeitado o meu espaço. — Draco, eu não sei se o meu irmão te convidou, mas seria interessante ter você por perto no dia do casamento.

Draco mordeu os lábios e por fim sorriu.

— Por que não?




[...]





Engoli em seco ao erguer o meu olhar.

Charles estava na minha frente, e embora a minha visão estivesse se acostumando com a iluminação do quarto, eu ainda assim dei um pequeno sorriso.

— Hora de levantar Cammie, você está dormindo a horas.

— E você deveria estar se aprontando para o seu casamento, Charles Schmidt. — resmunguei enquanto rolava nos cobertores.

Já era comum que alguém viesse no meu quarto me acordar, minha tia Penélope e Charles tinham um certo medo de que algo pudesse acontecer comigo durante o sono. Eles me tratavam como se eu fosse uma boneca de porcelana, e embora eu detestasse, podia entender os motivos deles. Minha mente estava doente, eu estava sob tratamento, eles estavam preocupados com a minha saúde.

Haviam dias em que eu não queria levantar da cama, dias em que eu passava boa parte da manhã deitada olhando para o teto me perguntando qual o sentido de levantar dali. Alguns outros dias eu passava quase que vinte e quatro horas adormecida. E claro, em meio a esses dias ruins, haviam momentos em que eu conseguia levantar da cama e seguir meu dia a dia. Eu me segurava naqueles momentos.

Desde que o tratamento começou a fazer efeito eu vinha melhorando, minha alimentação estava voltando ao normal assim como a quantidade de horas que eu dormia durante a noite. Charles nunca esteve tão orgulhoso.

— Tudo bem, já estou de pé. — resmunguei prendendo meus fios de cabelo rebeldes em um rabo de cavalo — Não ria do meu pijama de estrelas cor de rosa! — o repreendi enquanto calçava minhas pantufas.

Meu irmão conteve o riso e acenou com a cabeça.

— Eu vou ir na frente, preciso ir pegar o meu terno enquanto isso você poderia ajudar Penelope com as decorações da casa, sim?

Fiz uma careta mas acabei acenando com a cabeça.

Aparatei na cozinha, fazendo com que minha tia soltasse um gritinho assustado.

— Bom dia. — disse gargalhando enquanto acenava com a minha varinha para trazer uma xícara de chá na minha direção.

— Bom dia. — Penelope estreitou os olhos como se me repreendesse — Não há necessidade de usar magia quando a xícara estava do outro lado cozin-

Minha tia mal terminou de falar e sua bebê começou a chorar, foi aí que a pequena Rosie estava na cozinha. Dei um sorriso para a loirinha e fiz uma careta para ela pelas costas da minha tia.

— Camilla, você poderia parar de fazer a mamadeira de Rosie levitar? Eu-

— Como assim? — franzi o cenho fazendo com que Penelope se virasse para mim.

— Eu sei que você gosta de fazer pegadinhas como os seus amigos, mas eu preciso da mamadeira.

Abri a minha boca chocada enquanto olhava a mamadeira levitar ao lado de Rosie que nos olhava inocentemente com seus olhos esbugalhados.

— Não sou eu, é a Rosie. — um pequeno sorriso surgiu no meu rosto. — Veja, eu não estou segurando a minha varinha nem mantendo contato visual com a mamadeira.

— Mas...Não é possível-

— Parece que temos mais uma bruxa na família. — falei orgulhosamente.





[...]





A festa já tinha começado e em questão de minutos a cerimônia do casamento iria começar, não podia mentir, eu estava ansiosa. Olhei para os lados me vendo cercada de pessoas que se importavam comigo, pessoas quais eu poderia confiar. Senti meu peito se aquecer.

Hermione estava entre Ron e Harry que contavam suas histórias sobre aurores, Mione falava sobre como estava sendo seu ano de estudo com Gin que estava ao lado de Harry. Em um canto da casa Luna e Neville conversavam sobre algo que com certeza somente os dois entendiam. Sabrina e Dino Thomas davam risada em algum canto da cozinha.

Eu não sabia onde meu irmão e Daphne estavam, mas podia supor que eles estavam felizes. Então eu poderia ficar feliz também.

— Oh não. — exclamei segurando o braço de Gina.

A ruiva franziu o cenho e virou-se para a direção em que eu estava olhando.

— Draco Malfoy. Você o convidou?

— Eu esqueci. — murmurei e sem perder tempo peguei uma taça de vinho que uma mulher estava servindo pela casa. — Só não sabia que ele iria vir com ela.

— Malfoy não é burro o suficiente para fazer isso.

— Tá, então por que os meus olhos estão vendo ele entrar pelo salão ao lado de Pansy Parkinson?

Gina mordeu os lábios.

— Sabe, eu não quero estar aqui quando a Parkinson se aproximar. Qualquer coisa eu fui verificar se sobraram alguns pisca pisca no porão.

Virei a taça de vinho em um único gole e desaparatei no porão da casa, senti meu coração bater acelerado e por um momento me questionei o porquê daquilo. Eu era covarde o suficiente para não olhar nos olhos do garoto que eu tinha convidado para a festa de casamento do meu próprio irmão.

— Eu sou uma idiota. — resmunguei.

Comecei a andar pelo porão e acabei tropeçando em algo felpudo. Me abaixei assustada quando vi que tinha sido meu gatinho Oreo.

— Oreo, me desculpe! Eu não acredito que você passou a noite no porão. — ralhei com o gato o puxando para o meu colo, sem me importar que a pelagem fosse sujar o meu vestido vinho.

  O gato miou em protesto, mas acabou por se aninhar preguiçosamente no meu colo.

Suspirei, sabendo que Oreo provavelmente tinha vindo para o porão por causa do barulho e da quantidade de pessoas na casa.

— Tudo bem, eu vou te deixar aqui. Só não suma depois.

Coloquei meu gato de volta ao chão, ainda resmungando consigo mesma e sai do porão.

Assim que eu retornei para a festa, tive de cumprimentar diversas pessoas que eu sequer tinha noção de quem eram. Em algum momento eu consegui ver o rosto de Draco bem longe, ele estava sozinho e me deu um sorriso calmo, me senti tentada a ir em sua direção embora houvesse uma multidão de pessoas quais eu deveria cumprimentar.

A cerimônia foi maravilhosa, fui um pouco desconfortável ficar em um altar no meio do jardim parada com um par de saltos alto, mas ver o sorriso pleno no rosto de Charles compensou qualquer coisa. Meu irmão do meio estava se casando, ele estava feliz. Eu tinha certeza que minha mãe e Richard também ficariam felizes vendo ele agora.

Assim que a cerimônia terminou e eu abracei tanto Charles que estava maravilhoso em seu terno preto, como Daphne que parecia uma princesa em seu vestido branco que se arrastava pelo altar.

— Você vai ficar bem no tempo em que eu estiver fora? — Charles colocou a mão no meu ombro com o mesmo olhar preocupado de sempre.

Um sorriso sincero se formulou no meu rosto.

— Charles eu vou ficar bem, juro. Tudo o que eu quero nesse momento é que você e Daphne sejam felizes. Vá lá, Paris está esperando.

Meu irmão me abraçou, sorrindo como uma criança e me girou em seus braços. Aquele era um momento feliz que felizmente ninguém conseguiria roubar de nós. 

Assim que Charles foi em direção às pessoas que estavam ansiosas para parabenizá-lo, eu fui em direção para a mesa em que as bebidas estavam sendo servidas.

A verdade era que, com Charles fora as coisas iam ser bem mais difíceis. Mas eu já era praticamente adulta, não poderia ficar dependendo sempre do meu irmão, ainda mais quando ele já estava formando sua própria família.

Coloquei um pouco de tequila em um copo e tomei shot fazendo uma careta.

— Você realmente não consegue ficar longe de bebidas alcoólicas, não é mesmo?

Dei um sorriso envergonhado quando vi Draco parado na minha frente.

Eu não tinha palavras para descrever o quão lindo ele estava naquele fim de tarde, ou como os olhos acinzentados dele brilhavam.

— Quer um pouco? — perguntei estendendo um shot e por incrível que pareça ele aceitou. — Me desculpe por não ter te recebido-

— Está tudo bem.

Draco virou a bebida e fez uma careta muito engraçada, acabei não conseguindo conter a risada.

— Você nunca bebeu tequila? — perguntei curiosa.

— Nunca bebi bebidas trouxas. — ele respondeu com sinceridade.

— São tão boas quanto as bebidas bruxas, mas tem algumas bem fortes como a que eu te ofereci. Costuma ser mais gostoso quando está misturado com alguma coisa.

 Draco sorriu, pegando uma dose comum de hidromel.

— Então, o que fez você querer tomar uma dose de uma bebida tão forte logo no começo da festa?

Mordi os lábios enquanto tomava mais uma dose de tequila. Eu já tinha cometido diversos deslizes, não me importaria de cometer mais um de qualquer forma.

— Pra me confortar eu acho, vai ser difícil sem o Charles por perto, mas eu não posso fazer com que ele fique sempre do meu lado.

Era uma das primeiras vezes em que eu desabafava com tanta facilidade, talvez porque eu me sentia segura o suficiente com Draco.

— Mas você não está sozinha, você sabe disso. 

Sorri fraco, observando ele dar um gole no hidromel. Desde a guerra eu podia perceber que ele havia amadurecido bruscamente, mas não podia negar que me sentia ainda mais atraída por essa versão dele.

— Obrigada Draco. É que é meio complicado…

— Complicado como?

Corei, sem saber como dizer para ele que todos os meus amigos estavam ocupados com suas respectivas vidas amorosas. 

Ao invés de falar eu levei mais outra dose, agora de uma outra bebida, a boca.

Percebendo que eu não queria falar Draco foi, e somente a risada dele foi o suficiente para fazer com que eu me sentisse mais leve. 

Notei que eu já não estava tão sóbria quando me parei analisando os lábios dele.

— Então, você e a Pansy? — minhas sobrancelhas se ergueram deixando mais do que óbvio uma entonação de ciúmes.

— Pansy me encontrou na entrada da sua casa. 

Tomei outra dose de tequila, assentindo, fingindo que eu não estava furiosa por Pansy estar na minha casa, embora fosse óbvio que ela iria estar aqui já que Daphne era uma de suas amigas.

— Vocês dois..

— Não Camilla, não existe “nós” entre eu e Pansy, nunca teve, você sabe disso.

Baixei meu olhar sentindo todo o meu rosto ficar vermelho, novamente o álcool me fazendo se arrepender das minhas atitudes precipitadas.

— Quer um pouco de vinho? É bem gostoso-

— Camilla.

— Existem vários tipos de vinho, mas eu te garanto que esse em especial-

— Camilla. — Draco disse meu nome suavemente, até como se estivesse se divertindo com a minha reação.

Parei, com a taça de vinho em mãos, olhando para ele sem reação, me sentindo estúpida de ter começado aquela conversa.

— Eu provavelmente vou me arrepender de falar isso, mas qualquer coisa eu estava alcoolizada. Quer dar uma volta na praia?

Draco comprimiu os lábios como se quisesse conter a risada.

— Praia?

— Sim. — assenti com seriedade enquanto pegava uma garrafa de vinho da mesa — Bem se você não quiser, eu estou indo de qualquer jei-

— Tudo bem.

Dei um sorriso de orelha a orelha.

Guiei o loiro para a garagem.

— Um carro…?

— Eu precisava de um hobby. — dei de ombros enquanto entrava no sedan vermelho — Entra, eu juro que não vou te matar na estrada nem nada do género.

— Eu não entendo nada sobre trouxas, mas sei que não se deve dirigir alcoolizado.

  Revirei meus olhos enquanto colocava o cinto de segurança, ao mesmo tempo enquete guardava a garrafa de vinho no carro.

— Eu não vou dirigir

— Então por que…

Ergui minha varinha e murmurei um feitiço que fez o motor do carro roncar.

— A magia vai dirigir por mim. 

Olhei para ele com a sobrancelha erguida em um claro sinal de desafio. O loiro erguer as mãos como que em sinal de rendição e entrou no carro.

— Você não gosta de aparatar? — ele perguntou enquanto eu tirava o carro silenciosamente da garagem evitando que alguém nos visse.

— Minha mãe me levava de carro para a praia, então se tornou tipo um ritual. Não teria a mesma graça simplesmente apartar lá se eu não pudesse sentir a brisa do vento no meu rosto. — respondi com simplicidade enquanto tirava o carro da calçada. — E bem, a festa já está quase no final, Charles não vai notar o meu sumiço.

Draco passou alguns momentos me olhando em silêncio como se estivesse deslumbrado. Mesmo com o álcool em minhas veias eu senti meu rosto corar fortemente, eu tinha esquecido de como a presença e o perfume caro dele conseguiam me tirar do sério. Foi uma batalha entre o álcool e o meu bom senso para não fazer algo que eu pudesse me arrepender.

— Como tem sido esses tempos para você? — perguntei meio que gaguejando.

Apesar do desconforto, o loiro sorriu olhando para mim enquanto respondia.

— Estranho. Minha mãe está tentando lidar com a prisão do meu pai, mesmo que ele tenha conseguido uma pena bem curta delatando alguns comensais da morte. Nossa casa tem estado vazia. — ele respondia com sinceridade e às vezes parecia estar perdido em pensamentos enquanto falava. — E Você? Deve ter sido incrível ter aparecido em jornais bruxo por todo o mundo, você é praticamente uma celebridade junto com o trio do Potter.

Franzi o meu cenho, na verdade eu nunca tinha parado para analisar por esse aspecto.

— Não tão bem para falar a verdade. Se eu não estivesse bêbada eu provavelmente te diria que eu estou bem e que tudo está indo perfeitamente bem, mas não seria verdade. Estou vazia. — murmurei e conforme eu percebia a sinceridade da minha fala, mais eu franzia o meu cenho, como se finalmente estivesse percebendo que havia algo de errado.

— Eu sinto muito por isso Cammie. Me desculpe por ter se afastado… — quando tirei meus olhos da pista pude ver Draco dando um senhor gole de vinho. Ele parecia estar claramente triste enquanto falava.

— Está tudo bem. — falei.

  E na verdade estava mesmo. Tinha passado tanto tempo me importando com os sumiços de Draco quando estávamos juntos, que dessa vez eu não fiz muita questão de correr atrás, afinal fora exatamente isso que eu tinha falado quando nós terminamos “eu não vou voltar para você”.

Mas lá estava eu, me questionando se eu deveria voltar atrás com minhas palavras.

— Não, não está nada bem. Eu nunca tratei você como deveria, sempre sumia pela escola. Eu queria tanto te contar o que estava acontecendo mas tinha tanto medo de acontecer algo com você… — o olhar dele se perdeu conforme ele falava, a bebida parecia estar fazendo efeito no organismo dele — Aquele dia em que nós terminamos… Eu fiquei com tanto medo quando aquele comensal me viu com você, tive de implorar para que ele não fizesse nada, que não contasse aos meus pais. Mal pude acreditar quando eu consegui convencer ele.

  Meus olhos brilharam enquanto eu olhava para ele, nunca soube exatamente o que se passava na mente de Draco naquela época. Pensar que ele foi forçado a se tornar um comensal da morte, ter se submetido a tarefas praticamente impossíveis para que Voldemort se divertisse às custas da família Malfoy…

Havia tanto para se conversar, tanto para se perdoar.

— Me desculpe, eu nunca pensei muito em como devia ter sido difícil para você. — murmurei.

Draco ergueu os seus olhos cinzas como tempestades, ele parecia ter se espantado com a minha fala pois sua boca estava entreaberta como se tivesse perdido a linha do pensamento.

Nesse exato momento eu já não estava mais pensando logicamente, sentia meu sangue correr acelerado pelas minhas veias. Eu sabia o que fazer, sabia que iria quebrar a minha promessa e dessa vez eu não estava arrependida.

Em um piscar de olhos a minha boca se encontrou com a de Draco, seus lábios deslizavam suave e gentilmente contra os meus, com uma mão ele acariciava os meus cabelos e com a outra ele segurava o meu rosto.

Dessa vez, tudo naquele beijo me pareceu certo, desde o toque de Draco na minha nuca até a minha respiração acelerada. Tudo o que nós dois deveríamos fazer naquele momento era deixar acontecer. Desde sempre havia algo que nos unia de alguma forma, sempre esteve evidente que eu e ele funcionávamos, havia uma força que nos unia e agora nos restava se render, agora já não haveria mais nada que fosse nos separar além de nós mesmos, eu devia admitir que não queria mais ficar longe dele.

  Não sei por quanto tempo nós ficamos ali na beira do mar, só me recordava de sentir Draco se remexendo abaixo de mim e acordar com um cafuné no meu cabelo. Agora já tinha escurecido, devia estar bem tarde porque eu podia ver a lua e as estrelas brilharem no céu.

— Acho que nós temos que ir agora. — Draco sorriu para enquanto eu me acomodava em seu peitoral desnudo.

— A gente podia ficar mais um tempo aqui.

— Está ficando frio aqui fora, não quero que você fique doente. — o loiro disse me fazendo lembrar que meu vestido estava jogado na areia ao lado da camisa social branca dele.

Fiz uma careta descontente.

Eu estava com medo de tudo voltar ao normal, de aquilo ser apenas um sonho, porque era uma das poucas vezes naquele ano em que me sentia plena.

— Draco, fica comigo, por favor.

Os olhos cinzas dele que sempre costumavam ser sombrios, agora me pareciam gentis.

— Você quer que sua família e seus amigos te vejam ao meu lado? Quero dizer, agora você é mundialmente famosa e tem uma carreira brilhante pela frente-

— Nada disso valeria a pena se não fosse com você. — interrompi. — E a propósito, hoje a casa é só nossa.

Embora ele tivesse tentado conter, um sorriso malicioso surgiu em seu rosto e eu apenas ri.

Aquela noite eu e Draco voltamos para casa embriagados e de mãos dadas, nós dois bebemos tanto que eu sinceramente não me recordo exatamente do que aconteceu. Mal eu sabia que no dia seguinte nós dois encontraríamos algumas garrafas de uísque quebradas pela casa, e uma Tia Penélope chocada batendo em nossa porta enquanto nós dois dormíamos nus na cama.

Mesmo assim, eu não me arrependia de nada daquilo. A presença de Draco fazia com que os meus dias azuis tivessem ao menos um pouquinho de luz e eu sabia que por agora aquilo era o suficiente. Eu sabia que por agora, nós dois deveríamos apenas deixar acontecer.


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