Obliviate escrita por Downpour


Capítulo 50
Capítulo 50 - Apologize




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Capítulo 50 - Apologize

 

CAMILLA SCHMIDT



 

— Sr. Robert Edmund Schmidt está preso por ter se associado aos comensais da morte. — um auror disse em alto e bom tom, prendendo o meu pai na minha frente.

Mordi meus lábios tentando conter as lágrimas, eu já tinha chorado tanto, estava tão cansada de chorar.

— Camilla, — Robert murmurou meu nome, sua voz estava irreconhecível, agora ele parecia um estranho para mim — eu sinto muito. Eu nunca quis que você passasse por isso.

— Você ficou escondido atrás dos comensais, diferente de você pai, — senti um gosto azedo o falar aquela palavra com tanto desprezo — meu irmão Richard mudou de lado e morreu lutando pela nossa família, enquanto isso você estava ao lado de Voldemort onde lhe era mais confortável. Não me peça por perdão quando o meu irmão mais velho morreu por sua culpa, não me peça por perdão Robert.

Ele deu um sorriso fraco e abaixou a cabeça.

— Nunca imaginei que você fosse herdar algo meu criança, mas fico feliz que você tenha se tornado a mulher independente que você é. Você nunca precisou de mim filha, demorou para que eu reconhecesse isso.

Pisquei, olhando para ele sem conseguir que as palavras saíssem da minha boca, percebi que Charles colocou a mão sobre o meu ombro e deu um suspiro cansado.

— Por favor, deixe-nos a sós com Robert por um momento. — Charles disse suavemente para o auror, que acabou concordando meio que desconfiado e se retirou mantendo uma certa distância.

Deixei que Charles me segurasse para que eu não fizesse nada de errado naquele momento, e ouvi silenciosamente o que o meu pai tinha a dizer.

— Nós nunca tivemos uma escolha de fato, quero que vocês entendam isso antes que sejam separados de mim e vivam suas vidas tentando me esquecer. A família Schmidt sempre teve ligação com as artes das trevas, sempre. Meu pai, Edmund Schmidt foi um fiel seguidor de Grindelwald durante a Primeira Guerra Bruxa, nunca falei muito sobre… Mas ele deixou eu e minha mãe sozinhos para poder se unir a ele, e quando ele morreu em combate nós ficamos sozinhos. — cada palavra que saia da boca de Robert parecia doer nele, sua aparência miserável auxiliava ainda mais. Ele mantinha sua cabeça baixa, o que dificultava a minha audição — Os Schmidt estavam em alta naquela época, meu pai tinha um irmão que igualmente a ele estava associada a arte das trevas, eles pareciam ser apenas uma pessoa de tão unidos e parecidos que eram. Eu os perdi, perdi os dois ao mesmo tempo em um combate com aurores. Era apenas uma criança assustada quando aquilo aconteceu, mas eu jurei para mim mesmo, sussurrando o nome daqueles que tinham tirado a vida do meu próprio sangue, que aquilo jamais passaria em branco. 

“Todas as noites antes de dormir eu me sentava em minha cama e murmurava o nome dos homens que eu iria matar quando atingisse a idade suficiente, o ódio que eu sentia de aurores aumentava cada vez mais. Lucius Malfoy me ajudou com isso, me ajudou a restituir a família Schmidt e me auxiliou quando minha mãe adoeceu e acabou morrendo. Voldemort reconheceu o meu poder, ele sabia que havia ódio em mim, sabia que eu faria de tudo para poder vingar o meu pai e então ele me acolheu. Quero que vocês entendam o significado da palavra acolher nesta sentença, ou você estava ao lado de Voldemort, ou era seu inimigo. E eu não era nenhum tolo, sabia que se recuasse com a proposta seria morto, mas ao menos teria a possibilidade de derramar o sangue que eu jurei derramar quando menor.”

“Eu matei aqueles homens, eu os torturei até a morte e infelizmente a minha alma nunca esteve em paz. Se eu pudesse, os ressuscitaria apenas para matá-los novamente e ver se a minha sensação de vazio teria se acabado.”

“Voldemort me acolheu quando ninguém mais o fez, e mesmo que a mãe de vocês tenha me dito milhares de vezes para deixá-lo, eu jamais conseguiria fazê-lo. Ele tinha me dado a vingança que eu tanto queria. E sim, eu sei que estou errado, sei que sempre estive no lado errado da história. Mas quem realmente está errado afinal das contas? Todos nós não sofremos em uma guerra? Eu vivi a guerra desde que nasci, a guerra transforma homens simples em monstros, minha sede de sangue ainda permanece e a dor também. E é justamente isso que eu não quero que vocês vivam o que eu vivi, sei que se sentem enfurecidos com a morte de Richard e Elisabeth, mas quero que saibam que sempre foi assim, antes mesmo de nós bruxos começarmos guerras os trouxas já o faziam.”

Senti as lágrimas tornarem a descer pelas minhas bochechas sujas.

— Mas se nós não vingarmos Rich e a mamãe, quem o faria? Se eu não tivesse matado o Lestrange, quem teria matado? As pessoas não se importam com traidores como nós, os únicos que podem cuidar e nos proteger, somos nós mesmos. Tenho certeza que com o fim de tudo isso, nós seremos acusados. A comunidade bruxa nunca irá nos ver com os mesmos olhos novamente.

— Ela está certa, — Charles murmurou com a voz falhada — nosso histórico está sujo e é algo que nós nunca poderemos alterar.

— É por isso que cabe a vocês lidarem com isso, sei que vocês não irão se aliar a magia negra novamente. E graças a vocês, mais ninguém que carregar o sangue Schmidt em suas veias irá fazer tal coisa novamente. Vocês carregam a história de uma família com um legado de trevas e traição, mas ao contrário do que os bruxos sussurrarem pelas suas costas, vocês são parte dos bruxos mais fortes de sua geração, por não terem se rendido e sim lutado bravamente. Vocês são a chave para uma geração nobre brilhante que não venha cometer os mesmos erros que eu e meus antepassados. — os olhos de meu pai brilharam, era a primeira vez na vida em que eu o via demonstrar alguma fraqueza. A primeira vez que eu via lágrimas rolarem por seu rosto cansado — Por isso, eu peço que independente do que acontecer comigo, não busquem por vingança. Vivam em paz, corram atrás dos seus sonhos e peço que me perdoem por nunca ter sido o pai que vocês mereciam. Eu confio em vocês, sua mãe e Richard acreditavam também, sei que vocês irão reeguer o nome Schmidt das cinzas como viemos fazendo há anos. Sempre há uma chance de tentar novamente.




[...]




— Você sabe que não é obrigada a fazer isso, não sabe? — Tia Penelope me olhava de forma amável enquanto eu arrumava minhas malas. Desde o fim da guerra, enquanto Charles se preparava para o casamento com Daphne e se ocupava em reconstruir a residência Schmidt, eu fiquei morando com minha tia dando o meu melhor para cuidar da minha família.

— Eu sei disso tia, mas você lembra o que a psicóloga falou? Ela disse que eu deveria procurar o meu refúgio, algo que tirasse esse peso das minhas costas. Os livros são o meu refúgio. — murmurei.

Concordar com Hermione em ser atendida por uma psicóloga, que era mãe de uma lufana nascida trouxa, tinha sido um completo desafio. Eu recusei com todas as minhas forças, porque simplesmente tinha preconceito com os métodos medicinais dos trouxas mas depois de Hermione insistir tanto eu acabei aceitando. A Sra. Popps era uma mulher maravilhosamente tranquila e sempre tentava me dar o melhor tratamento possível.

— Mas por quê retornar justamente para a escola que seu irmão foi morto? Existem diversas outras escolas de magia ao redor do mun-

— Tia, acredite, meu avô saiu do Brasil para falar a mesma coisa para mim, e eu vou dizer exatamente a mesma coisa que eu disse para ele e para a minha avó. A minha casa é aqui, na Inglaterra, em Hogwarts, não me vejo em outro lugar. E a minha meta é terminar os meus estudos aqui, enquanto a minha mente estiver sã e eu estiver saudável, eu irei continuar aqui seguindo os meus sonhos. Também irei ficar aqui pelo Charles, ele merece ter sua irmã no casamento.

Minha tia suspirou, sentando-se na beira da minha cama enquanto Oreo - meu gato - dormia tranquilamente em cima do meu livro de Transfiguração.

— Rosie vai sentir sua falta enquanto você estiver fora.

Dei uma risada fraca.

Rosie era a minha priminha, a filha que Tia Penelope tinha tanto ansiado, seu nome era em homenagem a minha avó materna, que assim que colocou os pés na Inglaterra mimou a garota com tudo o que podia. A menina possuía o mesmo cabelo loiro e os olhos esmeralda dela, eu a adorava mais que tudo naquele mundo.

— Pode ter certeza que eu retornarei no Natal para ficar com a Rosie.

— E aquele garoto que Charles mencionou?

Me virei para olhar minha tia, sentia minhas bochechas queimando.

— Não é nada demais tia. 

— Não parece ser nada demais para você criança.

— Bem, — falei cuidadosamente — é nada demais para a família dele.

Assim que terminei de falar eu tornei a me virar para meus materiais e continuei a organizá-los minuciosamente.

— Já que você não vai falar comigo sobre esse garoto, e o julgamento?

— O Ministério da Magia enviou uma carta dizendo que o julgamento do meu pai vai ocorrer dois dias antes das aulas começarem, ele juntamente com Lucius Malfoy vem entregando alguns comensais da morte. Contudo, eu acredito que meu pai não irá alcançar a mesma redenção que a família Malfoy tem conseguido, ele não tem tanto poder aquisitivo para tal coisa. Ele com certeza será levado para Azkaban, se o Ministério for piedoso ele não receberá o Beijo do Dementador, creio que eu tenha te explicado do que se trata.

Minha tia balançou a cabeça positivamente enquanto me analisava.

— Não acho que ele terá muitas chances, mas vou fazer o possível para atender a demanda do julgamento. Quero que meu pai seja julgado justamente.

— Sua mãe estaria orgulhosa de você Camilla, tenho certeza.

Um pequeno sorriso surgiu em meu rosto.




[...]




— Camilla, você está pronta? — Gina irrompeu pelo meu quarto, a ruiva parou na porta me olhando surpresa — Você está maravilhosa.

Dei um pequeno sorriso. Naquele dia em especial eu usava um vestido enorme de manga longa na cor verde musgo que um dia tinha pertencido a minha mãe, um pequeno medalhão da família Schmidt (que eu tinha pedido para fazer recentemente) enquanto eu calçava botas por baixo da saia do vestido. Meus cabelos estavam bem penteados e alinhados, agora no seu tom castanho natural que caiam em pequenos cachos nos meus ombros.

— Você gostou? Esse vestido pertencia a minha mãe, costumava ficar muito melhor nela, quando ela ia pra premiações fora do país… Desculpe, eu estou tagarelando-

— Não, está tudo bem. — Gina sorriu — Sua mãe…

Antes que Gina terminasse de falar os meus olhos começaram a transbordar, me sentei na minha cama e dei um longo suspiro.

— Não houve um momento em que eu não tenha sentido falta dela — soprei as palavras enquanto secava uma pequena lágrima que insistiu em descer pela minha bochecha. — Talvez seja por ela que eu vá fazer tudo isso, eu quero que a minha família receba justiça e lute ao lado da justiça. Meu pai cometeu diversos crimes, e talvez eu e Charles podemos compensar a fama da família. Charles foi convocado para trabalhar no Ministério da Magia na seção de Animais Mágicos, tenho certeza de que ele pode auxiliar a causa dos elfos pela qual Hermione tanto luta, e eu…

— Você não precisa se cobrar tanto Camilla, tenho certeza de que você pode compensar tudo isso no julgamento de hoje-

— Eu estou atrasada? — Hermione irrompeu pelo quarto cortando a fala de Gina na metade, a castanha olhou para mim e deu um sorriso afável. — Desculpe, eu me distraí brincando com a sua priminha, ela é tão adorável…

Dei risada.

— Está tudo bem Mione, vamos, eu já estava de saída.





[...]




Praticamente toda a comunidade bruxa estava presente no Ministério da Magia naquele dia, todos tinham lido o comunicado do Profeta Diário que após o discurso e o julgamento de Charles Schmidt, eu seria a próxima a testemunhar contra meu próprio pai.

Em resumo o julgamento foi um evento longo e de certa forma massante, graças a veritaserum cada palavra que saía da minha boca era a mais pura verdade. Diante de toda a comunidade bruxa eu relatei como minha mãe morreu na minha frente, como meus irmãos foram vendidos ao Lorde Voldemort em uma falha tentativa de meu pai reconquistar o perdão de seu senhor, falei sobre como Richard morreu em meus braços e sobre o meu ponto de vista da guerra. Quando questionada sobre meus planos para o futuro, eu revelei que juntos, eu e Charlie iriamos reconstruir a residência Schimidt e que assim que eu terminasse meu ano letivo em Hogwarts iria servir a comunidade bruxa para fins medicinais. Jurei na frente de milhares de pessoas que a família Schmidt não tornaria a se envolver com magia negra, nunca mais.

E mesmo diante de todos esses problemas, eu consegui falar de forma convincente e sincera, sem derramar lágrimas ou muito menos ter uma crise de ansiedade.

— Você fala muito bem na frente do público — Hermione comentou com um sorriso de canto enquanto caminhava ao meu lado para fora do tribunal.

— Acho que isso é culpa da minha convivência com jornalistas do Profeta Diário. — brinquei deixando um sorriso aparecer no meu rosto.

— Sabe, seria ótimo ter alguém como você que tem toda uma visibilidade na mídia para defender a causa dos nascidos trouxas!

Parei de andar e mordi meu lábio indecisa.

— Hermione, eu não acho que isso vá funcionar, a minha família é vista como traidora e eu sequer tenho ideia da vivência de um nascido trouxa…

— Mas você conseguiu convencer todas as pessoas lá dentro de que os Schmidts estão devotados a comunidade bruxa, muitas pessoas te admiram principalmente por te acharem semelhante a sua mãe. E se você pegasse a causa dela? Você vem de uma família nobre e rica que pretender se reerguer da guerra, nada mais justo do que acolher aqueles que sofreram com a guerra.

Pisquei procurando um argumento para usar mas acabei ficando calada, eu sabia que Hermione tinha razão mas mesmo assim eu tinha medo de não ser aquilo que as pessoas esperavam, tinha medo de fracassar.

— Pense sobre isso e depois você me dá uma resposta, tudo bem?

Assenti com a cabeça, eu ia abrir a minha boca para falar alguma coisa quando levei um susto. Narcisa e Lucius Malfoy estavam de frente comigo e com Hermione. O olhar dos dois não eram dos melhores.

Apertei o braço de Hermione com receio.

— Camilla, — Narcisa falou com sua voz que embora fosse grossa, ainda assim era melódica e graciosa — viemos aqui prestar nossos agradecimentos.

Minha boca se entreabriu, estava chocada demais para raciocinar.

— Nunca conseguiremos quitar a dívida que temos com você. — era Lucius Malfoy que falava, ele parecia ter sido obrigado pela mulher para falar aquilo, mas mesmo assim sua fala me soava sincera.

— Agradecimentos pelo quê? — perguntei confusa e por mais surreal que fosse, Narcisa deu um pequeno sorriso.

— Pela vida de nosso filho, Draco. Ele nos contou que você o protegeu durante a guerra.

Corei ao perceber que em algum momento Draco tinha falado bem de mim para a sua família, o quão estranho esse dia poderia ser?

— Infelizmente, libertar Robert de sua sentença está fora de nossas mãos, mas esperaremos por uma oportunidade para quitarmos essa dívida. Novamente, muito obrigada.

Ainda que em choque, eu assenti com a cabeça e me despedi dos Malfoy.

— Pelas barbas de Merlin! — Hermione estapeou meu braço quando o casal já estava distante — Eu ouvi certo? Os Malfoy te agradeceram?

Estava tão atônita que quase não senti dor.

— E-Eu…

— Você viu? Narcisa Malfoy sorriu para você. O quão estranho é isso? Será que ela aceitou que você e o Draco tem algo-

— Hermione! — eu a repreendi e a menina apenas me ofereceu um sorriso de canto. — Eu e Draco não temos mais nada…

— Até as aulas voltarem, é claro. Duvido que vocês dois não voltem a namorar novamente. Acredite em mim, eu vi de perto vocês dois no Salão Principal-

— Ha, você quer que eu fale sobre como Harry ficou envergonhado quando você beijou o Ronald na frente dele? Pois é, ele me contou-

— Ei!

Nós duas se encaramos por alguns momentos e não demorou para que dessemos risada.

— Vamos para o Beco Diagonal, — anunciei — quero tomar uma boa cerveja amanteigada e comprar meu material escolar.°


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