Obliviate escrita por Downpour


Capítulo 49
Capítulo 49 - Everyone has a darkside and so do I, it's on my nature




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Capítulo 49 - Everyone has a darkside and so do I, it's on my nature



CAMILLA SCHMIDT




Richard estava a minha frente, seu rosto parecia estar muito machucado com diversos hematomas e seu olhar estava triste. Senti uma enorme sensação de agonia ao olhar para o meu irmão daquela forma, era como se todas as vulnerabilidades dele tivessem sido expostas.

— Richard, como você chegou aqui? V-você está bem?

— Eu aparatei. — ele murmurou com a voz fraca.

Olhei para o meu irmão.

— Não se pode aparatar em Hogwarts-

— Os Carroll abriram uma exceção, ouça, nós estamos em perigo. Os comensais da morte sabem que eu acobertei Charles a fugir da Mansão Malfoy, não faço a mínima ideia do que Robert está fazendo para conseguir perdão do Lorde das Trevas. Só sei que não irão nos poupar, você precisa ir para algum lugar seguro. 

Balancei minha cabeça negativamente, já estava ficando cansada de dizer a todos que eu iria ficar. Contudo, Richard foi diferente, ele apenas assentiu vendo que não havia muito que ele pudesse fazer para me impedir.

Richard era meu irmão mais velho, mas nunca fora uma autoridade para mim.

— Sempre teimosa. — ele murmurou. — Certo, eu irei lutar ao seu lado Cammie, mas preciso que você me garanta que irá cuidar de si mesma, tudo bem?

Mordi os lábios, querendo discordar mas acabei acenando com a cabeça. Era a primeira na minha vida em que nem Richard nem Charles conseguiram me mudar de ideia, que as pessoas desistiram de discutir comigo e simplesmente aceitaram a minha opinião. 

Eu provavelmente perguntaria para ele o porquê disso, mas o som de uma explosão me calou.

Nós corremos na direção em que Harry, Rony e Hermione tinha ido, nossas varinhas estavam empunhadas. Senti meus pés colarem no chão quando ouvi Percy Weasley gritando o nome de seu irmão. Pisquei, sem querer acreditar que aquilo realmente tinha acontecido. A fuligem soprou o meu rosto, fazendo com que meus olhos castanhos escurecidos lacrimejassem.

Protego. — Richard tomou a minha frente, me defendendo de um feitiço enquanto eu olhava para o corpo inerte de Fred Weasley no colo de seu irmão — Cam, se abaixe, não vou conseguir-

Não precisou de muito para que meus joelhos falhassem e fossem de encontro ao chão, sentia a minha perna doer porque eu tinha a raspado em uma tora de madeira, mas eu estava tão surpresa que quase não percebi a dor e muito menos o ardor da ferida sangrando.

O olhar preocupado do meu irmão se desviou de mim para Harry que tentava dar conta de um Rony enfurecido com lágrimas nos olhos.

Meus dedos encostaram na fina trilha que o sangue percorria pela minha perna, aquele sangue me fez perceber que aquele momento era real. Estávamos em uma guerra e Fred Weasley tinha morrido.

— Cam, nós precisamos sair da-

Estupefaça. — me levantei do chão, ignorando a dor com uma determinação cega, tentava estuporar as aranhas que saíam da Floresta Proibida e insistiam em invadir o castelo.

Richard segurou a minha mão e saímos correndo tentando nos refugiar, tinha perdido completamente a noção de onde o trio estava e de que eu deveria estar os ajudando. Logo a preocupação me assolou.

— Charles! Eu não o vi desde a evacuação!

Meu irmão mais velho parou de correr e me olhou incrédulo.

— Charles está aqui?

— Sim! Ele veio atrás da Greengrass.

Ele respirou fundo, como se seus pulmões estivessem sob muita pressão.

— Nós temos que achá-lo. — falei com os meus olhos brilhando, não queria que Charles tivesse o mesmo destino de Fred. Não poderia lidar com mais alguém que eu amava morrendo.

— Tudo bem. — ele sussurrou.

Começamos a nos movimentar, descendo as escadas da escola para sair do sétimo andar. Cada passo que nós dávamos era extremamente silencioso e calculado, qualquer passo em falso e faríamos muito barulho.

Camilla e Richard Schmidt, virem-se agora e eu pensarei se irei ou não matar os dois.

Ainda de costas, eu e Richard trocamos olhares assustados e fizemos o que o homem tinha mandado, contudo em nosso breve olhar tínhamos concordado em algo, nossas varinhas estavam empunhadas nas costas onde ele não poderia ver.

— Rodolfo Lestrange. — seu nome saiu como um som cortante da minha garganta, arranhando toda a região.

Rodolfo tinha um sorriso quase que sádico em seu rosto, não era surpresa que ele estava ansioso em matar nós dois, os traidores.

— Não haverão segundas chances para você hoje, Camilla Schmidt. — disse apontando sua varinha para nós com um sorriso pomposo em seu rosto.

Engoli em seco, sentindo meu coração disparar.

— Não estou procurando por sua falsa misericórdia Rodolfo.

Lestrange se preparou para nos acertar um feitiço, e de forma quase que simultânea, eu e Richard nos movemos para direções contrárias com as varinhas agora, empunhadas a nossa frente.

Protego. — gritei antes que seu feitiço sequer se aproximasse de mim.

— Não sou como minha mulher, que tem paciência para brincar com crianças assustadas. Abaixem a varinha e façamos isso de-

Expelliarmus. — tinha sido Richard, com sua capacidade invejável em feitiços e duelos, que tinha conseguido desarmar o Lestrange.

O homem nos olhou furioso, de olhos arregalados, correndo para alcançar sua varinha.

Accio varinha. — falei com um sorriso preenchido de ousadia enquanto a varinha dele vinha parar em minha mão. — É uma varinha bonita, Rodolfo. De verdade.

Seu rosto se contorceu em ódio, e pela primeira vez eu não senti medo, porque estava ao lado de Richard e porque nós dois tínhamos o total controle da situação.

— Como você ousa, sequer tocar a minha varinha? Uma mestiça nojenta de sangue podr-

Meus olhos escureceram com aquela fala, segurei sua varinha com força.

— Se me acha tão indigna Rodolfo, venha pegar. — sibilei as palavras, ansiando por acertar um soco em seu rosto.

Mais rápido do que eu e até mesmo Richard, Rodolfo retirou uma pequena adaga de sua bota e em um lance certeiro a atirou em minha direção.

Senti meu corpo entrar em estado de choque, não conseguia acreditar no que estava acontecendo ali. Eu ia morrer, a lâmina estava perto demais para que eu desviasse e minha mão não conseguia se erguer para usar um feitiço defensivo.

Meu corpo foi jogado brutalmente contra a porta de uma sala de aula vazia, sentia a minha cabeça acertar a porta com força. Todo o meu corpo doía enquanto eu tentava me levantar no chão, sem conseguir acreditar que estava viva.

Quando olhei, Richard estava deitado no chão e a adaga estava fincada em seu peito. Tinha sangue por todo o lugar, em suas mãos, na lâmina, em sua camisa e no chão. 

— Não, — arfei me arrastando até o meu irmão — não, por favor não.

Ouvi uma risada distante, e uma onde ódio caiu sobre o meu corpo como um arrepio. Rodolfo tentava fugir, covardemente.

Petrificus Totalus. — gritei segurando a minha varinha, mesmo de longe eu tinha conseguido acertar o comensal da morte, ele tinha inutilmente caído petrificado no chão. — Crucio. — a maldição escapou suavemente dos meus lábios, senti uma sensação inebriante, como se toda a dor que eu estivesse sentindo no momento fosse transferida para os gritos de Rodolfo.

Tornei a olhar para meu irmão, tentei a todo custo usar todos os feitiços curativos que eu conhecia, mas nada funcionava, o corte era muito fundo e eu jamais daria conta daquilo tudo sozinha.

— Cam, pare, por favor. — ele murmurou com a voz fraca, a vitalidade ia esvaecendo conforme o tempo passava.

— Richard, por favor, fique comigo, não feche seus olhos.

— Cammie, eu finalmente estou em paz. O  transbordamento acabou.

— Você está delirando Rich, por favor fique comigo eu vou tirar essa adaga e você vai sentir um pouco de dor mas-

— Me deixe ir, eu estou em paz. Finalmente.

Meu coração falhou uma batida quando a boca do meu irmão parou de se abrir, rapidamente eu agarrei seu pulso, estava sem pulsação. Insisti em seu corpo, tentando ao máximo estancar o sangramento, fazendo uma força sobrenatural para conseguir retirar aquela adaga. Mesmo assim, Richard nunca mais se levantou daquele chão gelado.

As lágrimas ardiam descendo pelo meu rosto enquanto eu segurava a adaga que tinha matado meu irmão, seu sangue estava em toda a minha roupa e nas minhas mãos. Sentia que poderia desmaiar ali mesmo, mas um nome me veio a mente, e foi justamente aquele nome que manteve de pé.

Rodolfo Lestrange. 

Meus ossos estremeciam de ódio enquanto eu caminhava em direção ao homem caído no chão, com a varinha e a adaga em minhas mãos. Nunca tinha tido uma oportunidade para poder demonstrar o meu ódio e ceder ao meu lado sombrio. Pelo menos não até agora.

Afundei o meu pé com força no rosto de Rodolfo, percebi com um estalido que eu tinha quebrado seu nariz. Ainda não estava satisfeita.

Os olhos dele estavam arregalados do mais puro terror, mas eu ainda não estava contente. Ele tinha me visto ser torturada, aquilo não era nada diante da maldição cruciatus, e bem, eu já tinha passado por aquilo mais de três vezes.

Segurei sua varinha, e com muita força eu a parti ao meio, deixando os pedaços de madeira caírem em seu rosto.

— Ninguém, — sibilei sentindo o meu tom de voz vacilar conforme a raiva — repito, NINGUÉM, mexe com a família Schmidt e saí impune. 

Afundei a adaga de Rodolfo em seu próprio corpo, o sangue dele jorrava nas minhas mãos, mas eu não me importava. Eu só iria sair dali quando aquele homem estivesse morto.

— Você está gostando Rodolfo? Porque foi assim que eu me senti quando a sua mulher me torturou duas vezes com a maldição cruciatus. Ah, por quê você não está sorrindo? Achei que você gostasse de cenas mórbidas de tortura…

Tive de fazer força para retirar a adaga de seu peitoral, olhei para a lâmina por alguns momentos. Meu corpo estremecia febrilmente, eu não conseguia enxergar com clareza.

— Olhe o que você me fez fazer! — eu gritei em seu ouvido, queria que seus tímpanos estourassem — Você me transformou na porra de uma assassina.

Novamente, eu desferi um golpe em seu corpo, e mais um, e mais um. Meu corpo dava espasmos de raiva enquanto o sangue de Lestrange respingava para todos os lugares possíveis.

Olhei para as minhas mãos coloridas por um vermelho vivo, pela primeira vez eu me senti parecida com o meu pai. Haviam certas coisas que a genética não deixava passar, e assim como o meu pai eu tinha minhas mãos sujas de sangue, e era um monstro.

— Camilla! Meu Deus, Camilla! 

Não precisei olhar para perceber que Charles se aproximava de mim com a respiração ofegante. Ele não precisou de muito, apenas olhou para a adaga em minhas mãos e o corpo esfaqueado do comensal e ligou os pontos.

— O quê você fez irmã-

Ele tentou se aproximar de mim, mas eu recuei, ainda segurava a adaga com força.

Charles suspirou.

— Ele está morto Charlie. — sussurrei com um tom de voz infantil, meu corpo estremecia.

— Rodolfo?

— Richard.

Charles ergueu sua cabeça, como se quisesse evitar que as lágrimas viesse ao seu encontro, mas foi inevitável.

— Rodolfo o matou?

Assenti, permitindo que as lágrimas descessem pelas minhas bochechas sujas de fuligem.

— Ele morreu me defendendo. — admiti olhando para o corpo do meu irmão — E eu o matei Charles, eu matei Rodolfo Lestrange.

— Está tudo bem. — ele sussurrou.

— Não está tudo bem, todo esse tempo eu achava que não era parecida com Robert, mas olhe o que eu fiz. Todo esse tempo, eu-

— Não. Não se compare com o nosso pai, ele matou inocentes, e o que você fez foi-

— Matar.

— Não, foi autodefesa. Sua vida estava em risco. Ande, me dê a sua mão, você não pode ficar aqui.

Neguei a mão de Charles, não queria sujá-lo de sangue. Me levantei sozinha, e quase tive um sobressalto quando consegui enxergar meu reflexo em uma poça de água no corredor.

Eu estava coberta de sangue, até mesmo minhas madeixas loiras tinham um pouco do respingado vermelho. Minha jaqueta e minha calça jeans agora estavam completamente vermelhas.

Arfei.

— Eu sou um monstro por não sentir remorso? — olhei nos olhos receosos do meu irmão, eu sabia que no fundo ele não esperava aquilo de mim. Ninguém esperava nada demais de mim, eu sabia disso.

— Você está em um processo de estresse pós traumático-

Charles dizia as palavras lentamente, mas nenhuma delas se fixavam na minha mente. Em uma mão eu tinha a minha varinha e em outra a arma do crime, qual eu segurava com firmeza.

— Eu matei o marido de Belatriz Lestrange. — interrompi o meu irmão.

Meu irmão se colocou na minha frente.

Estupefaça. — Charles, agilmente estuporou um comensal da morte para longe de nós, e somente quando ele caiu no chão que meu irmão tornou a me olhar — Não podemos ficar parados aqui Cammie, vamos, precisamos descer.

— Mas e o corpo do Rich? — perguntei em desespero.

Ele não me respondeu, apenas agarrou minha mão e me obrigou a sair correndo pelas enormes escadas da escola. Sentia que horas tinham se passado enquanto nós dois lutávamos incansavelmente contra os comensais da morte enquanto tentávamos chegar ao Salão Principal.

As lágrimas desciam pelo meu rosto quando descemos o último lance de escadas.

— Camilla! — era Sabrina que vinha na minha direção — O que aconteceu? Você está ensopada de sangue!

Apenas neguei com a cabeça, incapaz de contar para minha amiga o que eu tinha feito. 

O castelo estava anormalmente silencioso. Não havia clarões agora, nem estampidos, nem gritaria. As lages do deserto saguão de entrada estavam manchadas de sangue. As esmeraldas continuavam espalhadas pelo piso ao lado de pedaços de mármore e lascas de madeira. Parte do balaústre fora destruído.

— Pelas barbas de Merlin, onde você estava? — Hermione se aproximou de mim com o olhar preocupado. — Vamos, nós estamos indo para o Salão Principal.

As mesas das Casas tinham sido retiradas, e o salão estava lotado. Os sobreviventes formavam grupos, abraçando uns aos outros. Na plataforma, os feridos recebiam atendimento de Madame Pomfrey e seus auxiliares. Firenze estava entre os feridos; seu flanco sangrava e ele se agitava deitado, incapaz de se levantar.

Os mortos estavam enfileirados no meio do salão. Não consegui ver o corpo de Fred, porque a família o rodeava. Jorge estava ajoelhado à cabeça do irmão gêmeo; a sra. Weasley se deitara sobre o seu peito, o corpo sacudindo, o sr. Weasley acariciava os cabelos dela e as lágrimas desciam em cascata pelo seu rosto.
Todas as forças que eu achava que tinha se esvaíram, senti Charles me segurar enquanto me colocava para se sentar no chão. Todo o meu corpo doía, meu coração estava agoniado e meu pulmão asfixiado.

Permiti que as lágrimas descessem pelo rosto, já estava tão cansada de chorar e aquele sentimento de dor e vazio não ir embora. Eu me sentia como se ainda estivesse presa na cela da Mansão Malfoy, só que com dementadores ao meu redor. Qualquer vestígio de um sorriso ou até mesmo de vitalidade tinha sumido do meu rosto, minha pele estava pálida. Tudo estava cinza.

Charles se sentou ao meu lado em silêncio, foi a primeira vez que eu o vi demonstrar fraqueza publicamente. As lágrimas desciam sem parar pelo seu rosto.

Solucei com o pensamento de que nós dois éramos tudo o que tinha restado da família Schmidt. Nossa mãe  e Rich estavam mortos, Robert tinha nos abandonado. Olhando agora nós estávamos bem distantes da família perfeita que saia na capa do Profeta Diário.

Olhei para as minhas mãos, agora o sangue já estava seco.

Era disso que mamãe queria me proteger, pensei com certo pesar. Ela não  queria que eu visse aquele derramamento de sangue, mas eu tinha dito que faria o que fosse necessário para ajudar Harry, e eu não voltava atrás com a minha palavra.

Pelo canto do olho eu vi o corpo de Richard sendo colocado ao lado dos outros mortos, senti um enorme nó na minha garganta. Apenas deixei que toda a minha dor me inundasse, meu choro era triste e baixinho embora meus olhos já estivessem vermelhos e meu rosto inchado de tanto chorar.

Aquela era uma ferida que eu carregaria para sempre, e ela não iria cicatrizar, na verdade, iria continuar aberta.

— Cam, você precisa comer alguma coisa, ande.

Era Charles que tentava falar comigo, mas eu apenas virei o meu rosto. Ainda sentia o sangue na minha bochecha.

— Camilla.

— Eu não quero comer. — murmurei com os olhos transbordando — Eu quero ficar aqui no chão Charles.

— Richard odiava te ver chorando, — Charles comentou com o olhar distante — ele dizia que não aguentava ver você daquela forma, acho que ele nunca soube lidar com você, mas ele sempre odiou te ver chorar.

Solucei, coçando meus olhos.

— Eu achei… Achei que pudéssemos ficar juntos novamente, que nem quando éramos crianças. Os três irmãos contra o mundo. — um sorriso torto apareceu no meu rosto e logo desapareceu — Eu estou tão cansada de perder as pessoas ao meu redor, eu estou tão cansada.

As lágrimas continuaram caindo impiedosamente.

— Eu queria ser aquele tipo de pessoa que fica em paz com a vingança, mas eu não estou em paz. Minha mente está uma bagunça.

Olho por olho. — Charles murmurou olhando o corpo de nosso irmão — Eu não a julgo pelo o que você fez, não me surpreenderia se fizesse o mesmo.

Suspirei, sentindo que ainda haviam muitas lágrimas no meu corpo para serem libertas.

— Oi, eu trouxe um pouco de chocolate quente para vocês e um pouco de pão. Vocês precisam comer alguma coisa. — era Sabrina que falava.

Minha amiga tinha se ajoelhado no chão e colocado a comida a nossa frente.

— Obrigado. — Charles sussurrou.

Nós dois comemos em silêncio enquanto Sabrina nos explicava o que tinha acontecido no Salão. Já era aproximadamente uma hora da manhã e as pessoas já começavam a dar sinais de cansaço.

— Eu sinto muito Cam. — a fala de Sabrina era genuína e gentil, naquele momento os meus sentimentos estavam expostos e minha amiga conseguia ver por trás do meu olhar. A minha dor estava exposta.

Apenas assenti, secando as lágrimas com a cabeça baixa.

O quê você está fazendo aqui? Será que não poderia deixar minha irmã em paz? — Charles disse em um tom curto e grosso.

Ergui minha cabeça com curiosidade e me surpreendi ao ver Draco Malfoy a minha frente. Draco não estava tão mau quanto a maioria das pessoas que tinham lutado na batalha, mas ele definitivamente não estava bem. As pontas de seu cabelo estavam levemente chamuscadas, seus olhos estavam vermelhos e ele estava duas vezes mais pálido do que o normal, isto porque eu não tinha mencionado um pequeno corte em sua bochecha e a fuligem que cobria seu rosto.

Draco estava machucado e aterrorizado.

Olhando agora ele não me parecia ser o garoto engenhoso que tinha colocado comensais da morte dentro de Hogwarts, na verdade ele parecia apenas um garoto. Um garoto assustado e que tinha acabado de ver sangue inocente ser derramado na frente de seus olhos, apenas um garoto que tinha presenciado o terror sozinho.

— Está tudo bem Charles. — minha voz quase não saiu.

Meu irmão olhou furioso para o loiro, seu olhar alternava entre nós dois.

— Ele não é uma boa pessoa Camilla.

Quase ri daquela fala, e eu era o que então? Não achava que boa fosse uma qualidade que me descrevesse, não depois dessa madrugada.

— Cammie, eu sinto muito. — Draco ficou de joelhos à minha frente, ele parecia estar hipnotizado com a quantidade de sangue que estava na minha roupa. — Eu… O que aconteceu?

Sabrina olhou para mim e Draco, sutilmente ela puxou Charles para longe de nós.

O que aconteceu? Eu remói aquela pergunta em minha mente por um tempo. 

— Meu irmão está morto.

Fiz um gesto com a mão, mostrando a adaga ensanguentada que tinha tirado a vida de Richard.

O loiro engoliu em seco, milhares de pensamentos pareciam ocupar a mente dele. 

— Você não tem culpa de isso ter acontecido.

Ele parecia juntar forças para pode me dizer algo reconfortador.

Um suspiro fraco escapou pelos meus lábios, acompanhando de mais e mais lágrimas. Os olhos cinza dele escureceram ao me ver chorar. Draco fez menção de me tocar mas eu recuei.

— Eu estou suja, — admiti em voz baixa sem olhá-lo nos olhos — minhas mãos estão sujas de sangue.

Contive outro soluço, eu não me culpava pela morte de Rodolfo em si, tinha certeza de que o mataria novamente pelos meus irmãos, mas a ideia de tirar a vida de alguém era assustadora.

Ele me olhou como se tentasse compreender o que eu dizia, antes que Draco sequer pudesse falar, eu o cortei.

— Eu matei ele, seu tio postiço. — sussurrei, dessa vez eu ergui meu olhar porque queria ver a reação no olhar dele. Tudo em mim se preparava para a olhadela cheia de nojo e desprezo que ele iria me direcionar, mas isso nunca aconteceu.

Draco soltou uma exclamação surpreso, seu olhar se demorou nos respingos de sangue em meu rosto. Seus olhos cinza se fecharam, como se sua cabeça doesse.

— Você não deveria ter passado por isso Cam, — sua fala era afável — você deve estar aterrorizada.

Sem que eu pudesse impedi-lo, Draco me puxou para si, me embalando em um abraço. 

Somente a sensação de sentir o calor do corpo dele contra o meu, só de ouvir ele sussurrar “vai ficar tudo bem, eu prometo” foi o suficiente para que eu desmoronasse em lágrimas novamente.

Demorei um pouco para perceber que não estava sozinha, de alguma forma, Draco chorava silenciosamente comigo. Seu rosto pálido estava voltado para a parede para que ninguém pudesse vê-lo, mas eu podia o ouvir fungar baixinho.

— Eu sinto muito pelo que aconteceu com você Draco, — sussurrei baixinho para que apenas ele escutasse, percebi que ele tinha parado de fungar, o loiro escutava minhas palavras — deve ter sido difícil passar todo aquele tempo sozinho tendo que cumprir uma tarefa quase que impossível. 

— Eu mereci. — ele murmurou, sua voz estava abafada pois ele tinha repousado sua cabeça em meu ombro. — Eu sou uma pessoa horrível Camilla, cometi tantos erros que mal posso contá-los. Só depois das minhas falhas que eu comecei a perceber que nada era o que eu pensava, nada.

Deslizei meus dedos pelos seus fios loiros, tentando lhe passar algum conforto.

— Sinto muito por ter sido um idiota insensível com você Camilla, me custou muito para perceber o quão errado eu estava, sempre estive.

— Está tudo bem Draco. — soprei as palavras enquanto ele fungava.

— Por que você continua sendo boa comigo?

— Porque se eu estivesse na sua pele, gostaria de ter alguém assim ao meu lado.




(...)




Um bom tempo já tinha se passado enquanto eu ajudava Madame Pomfrey com feitiços curativos, se eu não estivesse tão abalada, teria sorrido com os elogios dela.

— Calma, não vai machucar nada. — sorri para uma menina de aproximadamente doze anos, ela deveria ter sido uma dos vários alunos que se esconderam no castelo durante a evacuação. Seus olhos castanhos estavam completamente arregalados enquanto eu tentava tranquilizá-la — Eu garanto, não vai doer. Episkey.

A menina fez uma careta, uma pequena lágrima desceu pelo rosto enquanto eu consertava seu pulso quebrado.

— Obrigada. — ela murmurou baixinho.

— De nada. — um sorriso genuíno apareceu no meu rosto, de alguma forma eu me senti mais leve ajudando aquela garotinha desamparada. Sentia que estava mais leve na verdade, sentia que ajudando aquelas pessoas fosse diminuir a minha dor.

E na verdade, diminuía.





DRACO MALFOY




Às vezes Draco conseguia dizer o que as pessoas sentiam pelos seus olhares, ou até mesmo pelo franzir de cenho, não que ele se importasse muito com o que os outros sentiam, mas ele sempre percebeu. Quando seus olhos encontraram os de Camilla, quando ele viu a garota que ele julgava inocente, sentada no chão com as roupas rasgadas e sujas de sangue, o garoto conseguiu sentir um pouquinho do que ela sentia.

E doeu, muito.

Nunca tinha visto um olhar tão opaco, perdido e sem vida como daquela vez. Algo bem no fundo daquela garota tinha se estilhaçado, desmoronado e não havia nada que ele pudesse fazer para ajudar.

Draco percebeu que pior que do Camilla chorar por ele, era ela chorar por alguém que não fosse ele. Porque enquanto o problema estivesse nele, havia uma forma de resolver, agora quando o problema eram outras pessoas a situação fugia de seu controle e ele odiava isso, odiava ver ela chorar e não poder fazer nada a respeito.

A única família que restara a ela era Charles e Robert que não era bem visto nem dentre os comensais e muito menos no Ministério da Magia, caso Voldemort perdesse o império da família Schmidt iria desmoronar. 

Você verá como essa garota é traiçoeira, o lema da família Schmidt é baseado em mentiras e traições. Ela traiu seu próprio pai, por que então não o trairia? — as palavras de sua tia ecoavam em sua mente durante todo aquele ano, Belatriz tinha feito o possível para o aterrorizar.

Por favor. — Narcisa murmurou com os lábios em uma linha fina.

Vai dizer que não é verdade Cissa? Aquela garota é nojenta, garotas como ela pisam em cima da honra dos puro-sangue.

Mas agora, olhando para aquela garota frágil, Draco não conseguia vê-la como uma traidora e sim como alguém que havia sido traída incontáveis vezes. Ele tinha sido uma das pessoas que havia traído sua confiança.

Ele chorou.

Chorou pela sua família, pelas coisas que tinha sido obrigado a fazer, pelos seus milhares arrependimentos e chorou por não poder ajudá-la.

Quando Camilla finalmente saiu de seus braços, Draco se sobressaltou ao perceber que ela limpou as lágrimas de seu rosto com as costas da mão e decidida, a menina foi ajudar as pessoas que estavam machucadas.

— Você ama ela, não é mesmo? 

Sabrina Harris se aproximou dele com um sorriso sorrateiro no rosto. 

Draco manteve sua expressão impassível, nunca fora alguém de demonstrar emoções facilmente. Mesmo assim ele suspirou, não havia para onde fugir.

— Mais do que eu posso controlar para falar a verdade. — apesar de seu rosto estar sem expressão, Draco estava sendo sincero como nunca. Ele não conseguia definir o que ele sentia por Camilla, era algo forte com proporções que ele desconhecia.

— Ela também te ama, tenho certeza sobre isso. — Sabrina se encostou na parede enquanto observava Camilla conversar com uma garotinha — Camilla pode odiar tudo o que você acredita, mas mesmo assim ela te ama. Pra ser sincera, eu acho esse tipo de amor destrutivo.

O maxilar de Draco se tencionou, onde ela queria chegar?

— Mas eu também acredito que ela precise de alguém que a suporte depois de tudo isso, e infelizmente essa pessoa é você. Sei que o irmão dela pode ter te falado algo semelhante mas eu irei direto ao ponto, não a machuque Malfoy, existem muitas pessoas que se importam com ela e estão dispostas a irem atrás de você.

Draco olhou para a loira de canto de olho, se ele estava com raiva, Sabrina não poderia dizer por sua expressão facial.

— Eu não irei.

A loira ergueu a sobrancelha, Draco pode ver um quê de curiosidade em seu olhar, mas resolveu deixar quieto. Sabrina Harris certamente não era uma pessoa qual ele gostaria de conversar por muito tempo.

A menina fez menção de continuar a falar, mas parou quando viu Camilla vindo em sua direção com os olhos avermelhados.

— O que foi? Cam?

Camilla mordeu seu lábio rachado.

— Eu não encontro Harry em lugar nenhum, — o loiro percebeu o tom de desespero em sua voz — ele desapareceu eu… Eu não devia ter deixado ele sozinho…

Sabrina abraçou a amiga, percebendo que havia um clima pesado sobre o Salão Principal, ninguém sabia ao certo onde Harry Potter estava.

Camilla olhou para a garota e suspirou pesadamente, como se ainda houvesse muito mais lágrimas esperando para serem derramadas, mesmo assim a menina não chorou. Sentia-se culpada por ter perdido tempo chorando enquanto seu amigo estava desaparecido.

— Eu… Vou ir atrás da Hermione. — a voz dela saiu fraca enquanto ela dava as costas para os dois e procurava pela grifina em meio aos bruxos desamparados no Salão.

Draco sentiu-se tentado a ir atrás da menina e lhe dar algum consolo, contudo, assim que o garoto percebeu uma movimentação estranha no Salão, sua atenção se dispersou. Os bruxos caminhavam em direção à porta de entrada da escola, o garoto não pode evitar segui-los consequentemente perdendo a corvina de vista.

Para seu espanto o Lorde das Trevas vinha em direção ao castelo com um sorriso horripilante em seu rosto, atrás dele vinham os comensais da morte e uma figura qual Draco odiou por muito tempo, Rúbeo Hagrid com… Harry Potter em seus braços.

O Malfoy sentiu o gosto da bile em sua boca, por um momento, só por um breve momento, ele tinha acreditado que o Potter pudesse ajudá-los a sair dessa situação. Draco sentia inveja de Harry, e passara muito tempo de sua vida o odiando, mas agora tudo o que ele desejava era o prestígio de sua família de volta, o seu lar de volta. E parte dele se iludiu achando que talvez…

— NÃO!

Era agoniante ver todas aquelas pessoas chorando e chamando pelo garoto.

Seus olhos enevoados encontraram Camilla naquela multidão, a garota estava cabisbaixa agarrando a adaga como se fosse a única coisa que lhe restara enquanto com o outro braço ela abraçava Gina Weasley que chorava copiosamente.

“Camilla está e sempre esteve no lado oposto Draco, você não percebe o quão perigoso é criar laços com alguém assim? Eu compreendo que você esteja zangado com o que o seu pai fez, também entendo que ela é uma garota de uma família prestigiada e é muito bonita por sinal, mas isso o que você está fazendo é inaceitável não somente para a honra da família mas para você mesmo. Não percebe que isso é tortura? Se devotar a alguém que nunca poderá te pertencer? A alguém que irá morrer por ir contra tudo o que acredita?

Eu só te peço que a esqueça o mais rápido possível, porque quando Camilla Schmidt morrer pelas mãos do Lorde das Trevas, eu não aguentarei te ver sofrendo por ela.”

As palavras de sua mãe davam nós no seu estômago.

O pior era admitir que aquilo que sua mãe tinha lhe dito era verdade.

Camilla era indomável da mesma forma que o fogo, havia uma determinação que crepitava nos olhos castanhos da menina, havia sede por justiça e uma peculiaridade em seu olhar que deixava óbvio para ele que ela jamais abaixaria a cabeça para ninguém. Draco podia ver a mesma frieza dela em Robert Schmidt.

Você tem um coração impiedoso Camilla, e talvez seja por isso que eu te admire tanto.





CAMILLA SCHMIDT




— Olhe o que temos aqui. — Belatriz Lestrange sorriu para mim.

A alguns anos atrás eu sentiria medo, iria sair correndo, mas naquele momento eu apenas entrei no jogo dela. Um sorriso frio e pré moldado surgiu no meu rosto.

— Camilla, não. — Gina sussurrou desesperada agarrando o meu pulso.

Senti meu corpo estremecer de raiva, uma enorme onda de indignação me preencheu.

Aquele era o meu momento de mostrar a ela que as coisas tinham mudado, que eu tinha mudado.

— Ah, é você. — disse com uma anotação de deboche enquanto brincava girando a adaga em minhas mãos.

Demorou um pouco para que o reconhecimento a abatesse e por fim a raiva tomasse conta.

— O QUE É ISSO? — Belatriz urrou de ódio com os olhos brilhando — COMO VOCÊ OUSA DESFILAR COM A ADAGA…

Lestrange parou de falar e de imediato ela se virou para os comensais como se estivesse procurando um rosto, quando ela não encontrou Rodolfo um grito escapou de seus lábios.

— Você o matou. Você matou…

O olhar de Voldemort cintilou curiosamente na minha direção.

— Sim, ela o matou, e aparentemente não se arrepende de seu feito. 

Não precisou de muito para eu perceber que ele tinha lido a minha mente, mesmo assim, diante de todo aquele perigo, mantive minha expressão plena no rosto.

Gina chorava segurando o meu pulso, de longe eu podia ouvir Hermione chorando também. Meu coração se apertou.

— Acho que subestimamos a filha do Schmidt, — um sorriso de zombaria surgiu no rosto de Voldemort — quem diria que ela teria potencial para ser uma de nós.

— Camilla. — Gina se engasgou enquanto falava meu nome — Por favor não, eu não vou aguentar se você fizer isso. É suicídio.

Senti meu corpo estremecer.

Muitos anos atrás se eu tivesse ouvido esse mesmo discurso talvez eu pudesse acreditar nele, porque tudo o que eu mais queria era provar meu valor para o meu pai. Mas agora tudo tinha mudado.

Eles tinham matado a minha mãe, o meu irmão e meu amigo.

Percebi surpresa que era exatamente isso que me diferenciava do meu pai, apesar de ser determinado e ter uma enorme sede por justiça, eu não queria o poder, não queria aquele título e também não queria mais impressionar ninguém.

A única pessoa qual eu deveria impressionar era eu mesma, e nesses últimos meses eu tinha feito isso com maestria.

— Isso é um ultraje. — Lestrange sibilou, seus dedos tremiam para erguer sua varinha contra mim, embora parte de mim soubesse que Voldemort tinha alertado os comensais para não atacarem. Por agora, eu estava segura.

— Camilla jamais faria isso. — empalideci ao perceber que meu pai tinha falado aquilo, ele estava próximo de Voldemort com o olhar exausto.

Percebi que Gina apesar do choque que tinha acabado de ter, e das lágrimas em seus olhos… ela ainda tinha sua varinha em mãos e tinha tomado a minha frente. Gina Weasley não iria permitir que os comensais encostassem em mim.

Voldemort me olhou novamente mas deu de ombros, como se a morte de Rodolfo não o importasse. E na verdade eu conseguia ver o porquê de sua indiferença, Voldemort nunca tinha se importado com seus comensais, ele servia apenas a si mesmo.

Então, Voldemort direcionou seu olhar para o corpo de Harry nas mãos de Hagrid.

— Harry Potter está morto! Vocês entendem agora, desiludidos? Ele não era nada além de um garoto que contava com os outros para sacrificar suas vidas por ele!

As lágrimas desciam impiedosamente pelo meu rosto, eu já não ouvia mais se Rony estava gritando com a voz falhada, nada mais importava. Sentia que todas as minhas esperanças tinham ido por água abaixo, se tinha algo que tinha me mantido de pé até agora tinha sido Harry, porque eu acreditava fielmente que ele derrotaria o Lorde das Trevas, eu acreditava em seu senso de justiça. Mas o que eu faria agora que meu amigo estava morto?

O que eu deveria fazer, sendo que todas as pessoas que eu amava morriam na minha frente? Quem seria o próximo? Eu preferia que fosse eu mesma.

Assim que meu olhar desceu para a lâmina em minhas mãos, eu senti meu coração dar um pulo, eu sabia como acabar com a minha dor, eu ficaria em silêncio, em um sono eterno. A minha alma ansiava por erguer aquela adaga e acabar com aquilo tudo.

No fundo, eu preferia me matar do que morrer pela mão daqueles homens.

Mas quando o meu olhar encontrou o de Gina e Hermione, toda a coragem que eu tinha juntado se esvaiu como poeira em uma ventania.

Minha alma nunca mais conseguiria viver em paz depois de todo esse sangue derramado, mas eu iria me garantir de derramar sangue o suficiente para que aqueles que eu amasse descansassem em paz.

Meus olhos se abriram e fecharam lentamente.

No fundo da minha mente eu ainda conseguia ouvir as palavras do Chapéu Seletor, sete anos atrás, palavras essas que eu tinha ignorado.

“Oh, mais uma Schmidt, acho que você sabe exatamente onde eu deveria te colocar”, naquele momento eu me recordava das minhas mãos tremerem febrilmente, tinha sido advertida pelo meu pai naquela manhã, ele dizia se envergonhar de mim caso eu não fosse para a Sonserina. O Chapéu fez silêncio por um momento, e depois tornou a falar, “Você é parecida com ele, Robert, sua necessidade de se provar e sua enorme determinação de fazer o que for preciso pelos que você ama, você tem um coração impiedoso Camilla Schmidt.”

Lembro-me de ter negado ao Chapéu, dito que tudo o que eu menos queria era me tornar o homem que tinha estapeado o meu rosto durante o café da manhã.

“Tente se enganar o quanto quiser criança, essa é a sua natureza. Todavia, eu também posso ver sua ânsia por liberdade e sua inteligência. Deixarei a decisão em suas mãos, tanto a casa de seu pai quanto a casa de sua mãe lhe cabem.... Já que resolveu seguir seu coração, não há casa melhor do que a CORVINAL.”

Meu corpo estremeceu, eu me perguntava todos os dias o que teria acontecido comigo se eu tivesse cedido ao sonho do meu pai, se eu seria uma comensal da morte, em que lado eu estaria? Eu teria meus amigos?

Acho que a resposta era meio óbvia.

— Neville Longbottom-

Ergui meus olhos assombrada ao perceber que Neville estava de frente aos comensais da morte, senti meu coração pular pela minha garganta. Não fazia a mínima ideia do que ele pretendia com aquilo, só conseguia observar, petrificada, sem forças para poder intervir.

— Mas você não é puro-sangue, não é, bravo garoto? — Voldemort o olhou com certa curiosidade e um misto de deboche.

— E daí se eu for?

Pisquei novamente, sentindo uma enorme empatia pelo garoto. Ele tinha a opção de ficar no canto dele sem falar nada, porque ele era um puro-sangue de uma família que fazia parte das 28, mesmo assim ele tinha se erguido contra Voldemort. 

Percebi surpresa, que Voldemort tentava adulá-lo e convocá-lo a se juntar aos comensais da morte.

— Eu me juntarei a você quando o inferno congelar — ele respondeu bravamente —  Armada de Dumbledore!

Estava assustada demais para poder gritar junto da multidão, então fiquei apenas em silêncio o observando admirada. Contudo, minha expressão de admiração logo sumiu do meu rosto dando lugar ao mais puro terror.

Eu já tinha vivido o terror diversas vezes, mas não importava quantas vezes eu fosse submetida a esse tipo de situação eu sempre iria sentir que estava desmoronando, que não conseguiria aguentar manter meus olhos abertos para assistir.

Lorde Voldemort tinha ateado fogo em Neville Longbottom, e sobre a cabeça dele estava o Chapéu Seletor.

“Tente se enganar o quanto quiser criança, essa é a sua natureza.”

Trinquei meu maxilar em uma expressão do mais puro ódio, agora eu entendia as palavras do Chapéu, eu entendia que todos tinham um lado negro e que talvez fosse hora de aceitar o que eu tinha herdado de Robert.

A sede de sangue.

Iniciou-se então um tumulto em meio ao Salão Principal, não demorei muito e me coloquei na frente de Gina, enquanto a defendia de comensais da morte.

Protego. — gritei barrando um feitiço ofensivo enquanto empurrava Gina para trás — Gin, saía daqui, vá até os seus pais.

— Eu não vou te deixar aqui sozinha, não vou deixar você morrer.

Dei uma risada seca.

— Não serei eu que vou morrer hoje Gin. — e antes que ela sequer pudesse falar, eu ergui minha varinha contra um comensal e entoei a maldição sem um pingo de remorso — Avada Kedavra.

O homem caiu desfalecido no chão e eu dei as costas para ele segurando o braço de Gina, minha maior prioridade era entregá-la com vida para a Sra. Weasley, e eu iria fazê-lo custe o que custasse.

Tentei correr puxando ela junto de mim.

— Camilla! Camilla! — ela gritou, sua voz rasgava quase estourando os meus tímpanos.

— Gin eu fiz o que foi-

— Não é isso, olhe! — ela gritou me virando para outra direção.

Senti meu coração parar de bater quando vi Draco Malfoy correndo indefeso pelo Salão, ele tentava fugir de um comensal da morte desviando de feitiços, era visível que ele não tinha uma varinha para se defender.

Suspirei.

  — Vamos. — falei em um tom baixo levando ela comigo.

Dei uma cotovelada em um homem enquanto andava em direção a Draco, o caos era enorme, pessoas gritavam e corriam em todas as direções, mas dessa vez eu estava focada e conseguiria controlar a minha mente, eu não iria ceder para o meu pânico de multidões.

— Quanta covardia, atacar um bruxo que não tem uma varinha. — zombei do homem assim que estava perto o suficiente para que ele me ouvisse.

Seus olhos negros encontraram os meus.

— Saía daqui garota, isto é entre eu e esse Malfoy traidor.

— E o que o senhor pretende fazer com ele?

— Matá-lo, é claro.

Inclinei a minha cabeça para o lado e sorri friamente. Agarrei o cabo da adaga e o lancei em direção ao seu peito, infelizmente a minha mira falhou, e a adaga se fincou na mão que ele carregava sua varinha, derrubando-a no chão.

— Acho que o senhor não o fará sem uma varinha.

Pelo canto do olho pude perceber que Draco me olhava aterrorizado, como se nunca tivesse me visto dessa maneira antes.

Com a outra mão, o homem tentou se levantar do chão e em um movimento ágil ele agarrou sua varinha tentando usar a maldição da morte contra o Malfoy.

Avada Kedavra. — as palavras saíram da minha boca com naturalidade, me espantei enquanto observava o feixe de luz esverdeado atingir o homem em cheio. Ele estava morto. — Saía daqui Draco, ele não será o último a tentar te matar nessa confusão.

— Camilla! — ele exclamou mas eu desviei o olhar, não queria que ele me olhasse depois daquilo e além disso, eu tinha que tirar Gina dali. — Camilla! E-Eu queria te agradecer.

— Você pode me agradecer poupando a sua vida. — respondi severamente, enquanto Gina olhava para os lados atônita.

—  Mas e você?

— Eu não vou morrer Malfoy, não hoje.

Dei as costas para ele, tentando levar Gina o mais longe possível daquela confusão, ora ou outra lançando feitiços de escudo quando ouvi um grito ecoar no Salão.

—  HARRY! —, fora Hagrid quem gritou. —  ONDE ESTÁ O HARRY?

— HARRY! — Gina gritou soltando a minha mão — Eu tenho que lutar, não posso-

Nós duas trocamos olhares rapidamente e eu acabei cedendo, eu conhecia Gina, sabia que ela não iria me perdoar caso eu a tirasse da batalha.

— Tudo bem, vamos lutar.

Nós duas se juntamos a Luna e Hermione, formamos um grupo de quatro e começamos a duelar contra Belatriz Lestrange. A dificuldade de matá-la era mais do que visível, Belatriz era uma das melhores comensais que Voldemort tinha, mesmo que nós estivéssemos em quatro, era ela quem tinha a experiência em matar.

Meu corpo se congelou quando eu vi uma maldição da morte errar Gina por poucos centímetros. Arfei, pronta para lançar o feitiço de escudo.

— A MINHA FILHA NÃO SUA VACA! — era a Sra. Weasley que gritava tirando nós quatro de seu caminho, podia jurar que nunca tinha visto ela tão furiosa quanto agora. — FIQUEM FORA DO CAMINHO.

Segurei a mão de Gina enquanto dávamos passagem para Molly passar.

— O que acontecerá com seus filhos quando eu tiver te matado? —  a Lestrange zombou, da mesma forma que tinha zombado da minha mãe no Departamento de Mistérios.

O ódio faiscava nos meus olhos enquanto eu apenas observava, nunca tinha sentido tanto ódio na minha vida como naquele momento, e mesmo que eu quisesse lutar, fiquei em silêncio, certa de que se a Sra. Weasley não desse conta eu terminaria o trabalho dela com prazer.

Minhas mãos já estavam sujas de sangue, um pouco mais de sujeira não seria nada demais.

—  Você... nunca... mais... tocará... nossos... filhos... novamente! — ela gritou tão forte, que eu senti todo o meu corpo se estremecer. Dei um passo para trás, compreendendo que aquela luta era dela e eu não deveria me envolver.

Eu não era a única que estava disposta a fazer justiça com minhas próprias mãos.

E quando eu finalmente vi o corpo de Belatriz Lestrange cair morto no chão do Salão Principal, eu finalmente senti o que eu queria, senti as lágrimas descendo pelo meu rosto sabendo que mesmo morta, Belatriz não traria minha mãe de volta. Todavia, ao mesmo tempo eu senti alívio, sentia que meu coração - em partes - estava em paz.

Soltei Gina, e ao mesmo tempo em que Voldemort ergueu sua varinha furiosamente contra Molly Weasley, eu me coloquei a frente dela. 

Minha lealdade estava com Molly Weasley, a mulher que tinha matado a assassina que tinha derrubado sangue Schmidt injustamente. Eu nunca teria palavras o suficiente para agradecê-la.

— Saía. Da. Minha. Frente. — os olhos de Voldemort brilhavam em fúria, mas eu não senti medo e não me deixei abalar.

— Você terá de me matar primeiro, senhor. — disse com os olhos faiscando. Ouvi Molly arfar assustada atrás de mim. — Mas eu garanto que não irei ceder tão facilmente.

PROTEGO! — uma voz familiar gritou, o feitiço envolveu tanto eu quanto Molly em uma redoma protetora.

Franzi meu cenho e olhei em volta, senti o nome de Harry sair rasgado da minha garganta.

Ele estava ali, vivo. Todo aquele tempo, ele estava vivo.

— Eu não quero que ninguém mais me ajude. Tem que ser desse jeito. Tem que ser eu.

Senti que Molly me puxava para trás, passando seu braço protetoramente a minha frente enquanto Harry discutia com Voldemort. Meu coração batia tão acelerado no meu peito que chegava a doer, cada palavra que saía da boca de Harry contra Voldemort me deixava espantada. Não somente com a audácia dele, mas em como tudo o que ele falava eram verdades.

— O verdadeiro mestre da Varinha Mestra era Draco Malfoy — ele disse com tanta confiança que me fez empalidecer.

— Mas o que isso importa? —  Voldemort disse mansamente. — Se você estiver certo, não faz diferença para você ou para mim. Você não tem há varinha de fênix a um tempo: Vamos duelar com habilidades apenas... e depois de eu te matar, passo para Draco Malfoy.

Não, eu pensei com pesar, eu não deixaria que ele encostasse em Draco Malfoy, nem que isso custasse a minha vida. Mesmo assim eu fiquei em silêncio, apenas observando, esperando por seu próximo passo.
—  Mas é tarde demais. —  disse Harry. — Você perdeu sua chance. Eu o peguei primeiro. Eu derrotei Draco semanas atrás. Eu tirei a varinha dele.
Harry puxou a varinha de unicórnio, e viu que os olhos de todo mundo no Hall estavam nela.
— Então tudo acaba aqui, não é? —  disse Harry — A varinha que está em sua mão sabe que seu último mestre foi desarmado? Porque se ela souber... Eu sou o novo mestre da Varinha Mestra.

Mal tive tempo de piscar quando houve uma enorme colisão.

Avada Kedavra!
—  Expelliarmus!

Surpresa, eu percebi que o feitiço de Tom Riddle voltou para si, o feixe verde tinha o atingido. Tudo tinha acabado agora.

Antes que eu pudesse correr em direção a Harry, eu senti braços me envolverem. As lágrimas de alegria não pestanejaram a descer quando eu perceber que Charles me abraçava com força.

— Você está vivo. — murmurei entre as lágrimas enquanto ele sorria, eu raramente via Charlie sorrindo.

— Você é completamente sem noção irmã, eu te admiro por isso. Está tudo acabado agora. Ande, vá receber seu amigo.

— Obrigada. — pela primeira vez em tempos, um sorriso da mais pura felicidade apareceu no meu rosto. Apesar de todo o terror, de todas as cicatrizes que nunca iriam cicatrizar, meu coração estava leve.


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