Obliviate escrita por Downpour


Capítulo 44
Capítulo 44 - Tell me something I don't know




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Capítulo 44 - Tell me something I don't know

 

CAMILLA SCHMIDT 



De alguma forma, com o passar dos dias o clima entre nós quatro ia ficando cada vez mais desagradável. O outono se aproximava junto do clima frio, eu me sentia completamente vazia sem poder me sentar na frente de uma lareira com um xícara de chocolate quente e um livro em mãos. Desde que tinha descoberto o que havia dentro do meu medalhão minha mente não parava de trabalhar, me recordava de quando minha mãe tinha me pedido o medalhão emprestado no meu quinto ano, agora eu tinha a completa certeza de que ela tinha o enfeitiçado e colocado a chave ali com um propósito, só não esperava que ela fizesse o medalhão se autodestruir. Agora eu não tinha o meu amuleto da sorte, a única coisa que poderia me identificar como uma Schmidt, agora eu literalmente não tinha nada.

Tinha uma penseira e uma chave, grande coisa.

Como eu iria ao Gringotes sem saber qual cofre deveria abrir?

Tentava pensar, rachando a minha cabeça, no que a minha mãe esperava de mim quando colocou aquela chave dentro do meu medalhão. Algo me dizia que ela queria que eu descobrisse sobre o medalhão caso houvesse uma situação caótica como aquela, mas por quê?

Hermione tinha analisado a chave com todo o cuidado do mundo, eu tinha contado para ela que minha mãe tinha enfeitiçado o colar para minha segurança, mas estávamos tão preocupadas com a nossa sobrevivência naquele momento que acabamos deixando a chave de lado.

Conforme os dias se passavam Rony demonstrava estar cada vez mais descontente e mau humorado, já que nós não tínhamos comida sempre que quiséssemos. Não podia negar que aquela situação também me incomodava, sentia que estava ficando cada vez mais magra só comendo pequenos pedaços de peixe, mas um pouco era melhor que nada. Foi numa dessas vezes em que Rony reclamava que sua mãe fazia comida “aparecer do nada”, que acabamos ouvindo a conversa de alguns duendes que andavam pela floresta. Aparentemente Gina e alguns amigos tinham invadido a sala de Snape para tomar a espada de Godric Gryffindor, bem, Snape os pegou no flagra e enviou a espada para Londres a fim de ser guardada em algum cofre no Gringotes. Hermione, que tinha o quadro de um ex diretor de Hogwarts em sua bolsa, o usou para poder questionar sobre o paradeiro da espada…

— Dumbledore quebrou um anel com uma espada? — olhei para Hermione boquiaberta, o quão inusitado aquilo podia ser?

Logo, Harry e Hermione começaram a debater suas ideias sobre onde a espada de verdade poderia estar escondida.

— Talvez na Casa dos Gritos? — Hermione propôs.

Retornamos a tenda, indo de encontro a Rony que certamente tinha atingido seu ápice de mau humor e começara a discutir com Harry.

— Vocês poderiam parar? — pedi em voz baixa, entrando no meio da discussão — Por favor, vocês são melhores amigos, parem com isso.

Rony me fuzilou com o olhar.

— Não Camilla, Rony está certo, — Harry disse furioso — não quer voltar para a sua mamãe? Certamente você vai chegar lá antes do Natal.

— E talvez eu vá mesmo, já que você não se importa com o que está acontecendo! — ele gritou irritado — Você ouviu o que eles falaram? “os Weasleys não precisam de mais um filho ferido”?

Balancei minha cabeça indignada, enquanto Hermione chorava ao meu lado e os dois continuavam a discutir.

— Meus pais estão mortos! — Harry gritou assim que Rony disparou a falar que nossos pais estavam a salvo.

Engoli em seco com aquela fala, seguido de alguns gritos, Rony foi embora. Agora éramos só nós três, estávamos sozinhos na floresta.

Novamente, os dias voltaram a ser gelados e desesperançosos, tudo o que eu conseguia fazer era deitar a minha cabeça enquanto via Harry e Hermione ficarem em silêncio. Não queria chorar perto deles, já bastava Hermione que estava desesperançosa. Acabei então, passando os meus dias rodando a pequena chave nas minhas mãos, como se aquilo fosse a única memória da minha mãe que me restasse.

“...toda vez que você estiver em perigo eu conseguirei saber se estiver usando o meu medalhão, também conseguirei ter acesso a sua localização. Sei que parece uma enorme invasão de privacidade, mas preciso ter a garantia de que você está sã e salva. Como você passa boa parte de seu tempo na escola acaba não conseguindo vislumbrar o como o mundo bruxo está perigoso, até mesmo para nós de famílias nobres. Por isso eu te imploro, não tire esse colar. Eu fiz o possível para te proteger.”

Me recordei brevemente de sentir o meu medalhão se aquecer durante a Batalha do Ministério...Minha mãe tinha conseguido descobrir minha localização por causa do meu medalhão...Então, talvez…

Abri minha pequena bolsa transversal preta, colocando para fora todos os livros, roupas e poções que Hermione tinha guardado ali e ao lado da penseira, lá estava ele. O medalhão da minha mãe, que Dumbledore tinha me cedido.

Minha boca se abriu com a surpresa, como eu tinha deixado aquilo passar?

Minha mãe ficou alguns meses fora do mapa para poder enfeitiçar o medalhão, ela pediu para que Dumbledore o alterasse, e ela definitivamente iria precisar de algo que me ligasse a ela. Por quê não ligar um medalhão ao outro?

Ofeguei pegando o colar dela, ele também não tinha um fecho como o meu, tentei pressioná-lo contra o meu peito mas nada aconteceu. Suspirei, eu sabia, sabia que tinha alguma coisa dentro daquele medalhão, eu só não sabia o quê minha mãe e Dumbledore esperavam que eu compreendesse.

— Eu sinceramente não sei, Cam. — Hermione comentou quando eu contei a ela e Harry sobre a minha teoria. 

Harry pegou o medalhão com o S entalhado e franziu o cenho, acabou deixando-o ao lado da chave do Gringotes e abriu a boca surpreso.

— O fecho...apareceu.

— O quê? — quase dei um gritinho quando percebi que o que ele falava era verdade, ao aproximar o medalhão da chave, o fecho aparecia.

— Abra. — Hermione sorriu.

Novamente, o medalhão da minha mãe tinha sido enfeitiçado para caber algo maior que o próprio medalhão. Um pedaço de pergaminho muito bem dobrado caiu em cima do meu colo, junto de um frasquinho que continha algo como um pequeno feixe de luz branco. Novamente o medalhão se desmaterializou assim que seus conteúdos caíram no chão.

Cofre Oitocentos e Trinta e Dois, abrir somente em caso de emergência. O quê vocês acham que a minha mãe colocou lá? — questionei sentindo meu coração bater mais rápido, me sentia movida pela expectativa, nunca iria imaginar que havia algo a mais nos colares.

A figura de Quinn apareceu a minha frente, o elfo vivia conosco na tenda sempre em silêncio tentando nos ajudar a preparar as refeições. Ele me olhou brevemente.

— Sua mãe me proibiu de falar sobre isso com você, perdão minha senhorita. — Quinn disse batendo sua cabeça na mesa, recuei um pouco assustada enquanto Hermione o impedia de se machucar.

— Está tudo bem Quinn! Está tudo bem. — disse afobada para o elfo.

Quinn baixou sua cabeça, como se não perdoasse por não poder me dizer as coisas e se sentou em um canto da tenda com o olhar perdido.

— Isso é uma memória, por isso que Dumbledore te deu a penseira, ele queria que visse alguma coisa lá.  — Harry disse enquanto girava o frasco em suas mãos.

Engoli em seco, me sentindo subitamente ansiosa enquanto meu olhar oscilava entre Harry e Hermione.

— Pegue a penseira. — ela me ofereceu um sorriso encorajador.

Mordi os lábios, assentindo.




Elisabeth Schmidt estava nervosa, seus lábios estavam comprimidos quase que em uma linha reta marcada por batom vermelho. Seu salto procurava bater suavemente contra o piso de madeira enquanto seus cabelos esvoaçavam atrás dela. A mulher parou atrás de uma porta onde podia se ver apenas a silhueta de dois homens conversando, eram Robert Schmidt - seu marido -, e Lucius Malfoy.

Olhei para a minha mãe surpresa, aquela memória não era tão antiga como eu imaginava, não podia ter mais de dois anos. Desviei o meu olhar dela, entrando na sala onde Lucius e Robert discutiam.

Você sabe o que isso significa para o Lorde das Trevas, Lucius disse friamente tenho quase certeza de que sua mulher é uma traidora...Caso eu esteja certo você terá que lutar pela misericórdia dele, sabe disso.

Elisabeth não faria tal coisa, ela é apaixonada por mim, jamais me esfaquearia pelas costas. Robert respondeu com o orgulho quase que cego E caso ela fizesse isso, eu nunca a perdoaria…

Malfoy emitiu um barulho que parecia uma risada repleta de sarcasmo, era incrível como eu compartilhava da mesma sensação que Lucius, meu pai era um idiota que subestimava sua mulher.

Não ria, Elisabeth só tem a mim, ela sabe que somente eu irei ficar ao lado dela. Caso ela me trair, quem irá ficar com ela? Ninguém, seu nome será anunciado no Profeta Diário, sua carreira será arruinada…

Você é tão… me aproximei de meu próprio pai com o olhar repleto de desgosto convencido e asqueroso.

Antes que eu pudesse me mover, o cenário da memória se alterou, agora minha mãe estava sentada na sua poltrona favorita na sala de estar. Ela vestia roupas simples - o que era raro - e cobria o rosto com as mãos, ela não estava chorando, mas parecia estar prestes a ter um colapso nervoso.

Minha senhora, como posso servi-la? um de nossos elfos domésticos se aproximou dela com um olhar preocupado, contudo minha mãe apenas fez um aceno com a mão o dispensando.

Ela respirou fundo, e retirou a aliança que estava em sua mão e atirou contra a lareira. Arfei ao ver aquela cena, nunca tinha visto minha mãe tão furiosa, nunca tinha percebido que ela não usava mais a aliança em sua mão. Como eu nunca tinha reparado nesse tipo de coisa?

O casamento dos meus pais estava fadado ao fracasso desde o meu nascimento, nós só estávamos jogando a sujeira para debaixo do tapete e eu nunca tinha percebido até então. Estávamos constantemente vivendo de aparências.

Accio malas. ela sussurrou, com sua varinha em mãos.

Novamente a memória mudou de lugar, minha mãe agora caminhava pelo Beco Diagonal, ela ia em direção ao Banco Gringotes. Abri a minha boca em surpresa, tentando acompanhá-la em meio àquele tumulto de pessoas .

Cofre Oitocentos e Trinta e Dois, por favor. disse para o duende enquanto estendia uma chave em sua mão.

Era a chave que eu tinha achado no meu medalhão.

Fiquei pensando no que poderia estar guardado naquele cofre enquanto minha mãe era guiada pelo duende, ela estava tão linda, eu jamais iria imaginar o que se passava com ela. Minha mãe sempre passava a maior parte do tempo trabalhando e viajando, eu simplesmente não tinha como imaginar o que se passava na mente dela, e agora que eu sabia…

O cofre da família Davies o duende analisou assim que abriu a porta.

Minha mãe sorriu docilmente, de forma que só ela sabia como fazer.

Faz um bom tempo que não venho aqui, mas creio que será necessário, infelizmente. ela murmurou entrando no cofre.

Quase caí para trás quando percebi a enorme quantidades de galeões, sicles e nuques perfeitamente empilhados em um canto, além de jóias preciosas que provavelmente deveriam ser passados de geração a geração.

Antigamente eu me sentia mal por não ter mencionado ao meu marido a existência desse cofre, nunca tinha ouvido o tom de sarcasmo na voz dela, nunca acho que ele não se preocuparia com mais uma mentira, afinal das contas...Precisarei retirar um pouco de ouro para poder sumir do mapa...Espero que seja o suficiente para que as crianças fujam da Grã Bretanha.

Ela se ajoelhou no chão segurando um caderno de aparência antiga, tinha seu nome escrito em tinta dourada o que aparentava ser um diário, e deu um sorriso nostálgico.

Falta pouco, só mais um pouco e eu serei livre.

Deixou o diário no lugar em que estava,se levantou, pegou uma quantia de ouro e partiu.”

 

— E então? — Hermione perguntou assim que eu retirei a minha cabeça da penseira.

— É o cofre da família da minha mãe, ela estava escondendo a existência do cofre do meu pai, a ideia era que eu e meus irmãos usássemos o dinheiro para fugir do país caso uma guerra começasse. Bem, acho que eu descobri tarde demais. — forcei um sorriso, embora sentisse os meus olhos marejarem. Por quê eu sempre era a última a saber das coisas na minha família? — E-Eu preciso tomar um pouco de ar.

Eles não me impediram.







DRACO MALFOY



Draco já estava acostumado com a temperatura gelada da Mansão Malfoy, contudo, naquele momento sua casa não parecia ser um lar “quente” e muito menos agradável. Os comensais da morte tinham tomado a mansão como QG oficial de Voldemort, provavelmente para humilhar Lucius de ter perdido a profecia na batalha do Ministério. Desde então, sua casa não lhe passava a sensação de lar. 

Não sabia ao certo o que era pior a invasão de privacidade que sofria em sua própria casa, ou o novo ano letivo em Hogwarts. Tudo naquele castelo lhe parecia depressivo e frustrante, cada bloco daquele lugar estava preenchido de memórias dolorosas. Ele não conseguia se sentar para comer no Salão Principal sem se lembrar dos gritos agonizantes de Camilla.

As pessoas falavam de Camilla, a todo momento.

Havia uma certa divisão quando se tratava dos boatos, muita gente acreditava que Camilla estivesse morta já que era impossível ela não ter dado um sinal de vida desde o casamento na Toca, outras pessoas acreditavam que ela estava junto de Harry Potter.

Robert Schmidt tinha desistido de procurar pela filha, parecia que os Schmidt tinham aceitado a morte da garota. Aquilo deixa Draco agoniado, não queria se importar com ela, ele não tinha o direito de se importar com ela, mas mesmo assim não conseguia aceitar que Camilla estivesse morta. Ela simplesmente não podia, Camilla tinha lutado demais para morrer assim, sem ninguém saber de nada.

Ele nunca tinha visto Charles Schmidt tão quebrado como daquela vez, o irmão da menina não queria aceitar os boatos que escutava da boca das pessoas. Contudo, todos os boatos que circulavam sobre Camilla indicavam que ela possivelmente poderia estar morta, afinal, como ela estaria ao lado de Harry Potter sendo que não foi vista invadindo o Ministério da Magia?

O que mais o surpreendeu em toda aquela história era a fé do irmão mais velho da menina, Richard Schmidt. Apesar de se odiarem, Richard alegava para todos os cantos que sua irmã estava viva, era sua intuição.

Como se aquilo não bastasse as coisas iam de mal a pior, Draco não iria admitir, mas estava traumatizado. Tinha sido obrigado pelo Senhor das Trevas, em pessoa, a torturar Rowle um dos comensais que tinha perseguido Camilla e o trio de ouro no centro de Londres.

Ele não tinha imaginado o quão difícil era, realizar a maldição cruciatus.

— Você tem que querer que ele sofra, ande, mostre o seu valor ao Lorde. — sua tia Belatriz sorria de uma forma tão irritante que chegava a ser infantil, a maldição cruciatus era uma de suas especialidades.

Mais uma vez ele se sentia impotente, se sentia uma farsa por não ser quem pensava que era. Ele nunca tinha sido a pessoa que pregava ser em Hogwarts, mal tinha conseguido realizar o crucio.

Draco sentia que estava se afogando e a cada dia que se passava ele chegava cada vez mais perto do fundo, estava rodeado pela sensação de miséria e mesmo que o Lorde das Trevas vencesse a guerra e matasse Harry Potter, mesmo assim ele não conseguiria se ver feliz. Na verdade ele já estava infeliz há um tempo.

Crucio. — sussurrou com a voz falhada, o rosto lívido e as mãos encharcadas de suor. O garoto tentava ao máximo canalizar toda a dor que estava sentindo, toda a raiva que vinha guardado e a deixara sair junto do feitiço.

O resultado, ah sim, o resultado o assustou.

Porque aquilo lhe dava poder, lhe dava o poder que ele nunca teve, porque aquela era uma das poucas situações onde ele estava no controle.

Não pode evitar passar as próximas duas horas vomitando, trancado no banheiro.

Ele não era mau, sabia disso, Camilla tinha dito isso.

Ele não era mau.






CAMILLA SCHMIDT






— Nós vamos para Godric Hollows. — foi tudo o que Hermione me disse quando eu retornei para a tenda, foi somente depois da minha cara de quem não entendia nada que ela me explicou o que iríamos fazer lá.

Quando fomos para Godric Hollows os dois estavam disfarçados graças a poção polissuco e eu por estar irreconhecível permaneci da mesma forma, isso porque eu tinha convencido Hermione que seria desperdício fabricar outra poção polissuco a toa.

— Eu nunca vim aqui. — admiti enquanto abraçava o meu próprio corpo, tentando evitar que o meu vestido deixasse rastros na neve, me xinguei mentalmente por não ter pensado que com o inverno chegando haveria neve por toda a parte, felizmente o vestido era quente, o problema de fato, era deixar rastros. Parei olhando em volta do vilarejo coberto por neve, quase que perdendo Harry e Hermione de vista.

— Não fique para trás, — Hermione me alertou — lembre-se que não estamos seguros aqui.

Assenti enquanto caminhávamos para o que parecia ser um memorial de guerra.

— Eu acho que é véspera de Natal. — Hermione comentou e eu senti meu estômago se embrulhar, nunca tinha passado um Natal assim…

Me virei para olhar para uma igreja, havia um cantoria vinda de lá, de alguma forma aquela música me deixou nostálgica me fazendo recordar nos natais que eu tinha passado em casa com minha família quando eu era criança. Infelizmente, a imagem rabugenta do meu pai sempre fora algo que estragara os meus natais.

Conseguia me lembrar, como se fosse ontem, de Charles me dando livros de presente. Ele sempre sabia o que eu gostava de ler, pensei enquanto seguia Harry e Hermione em direção ao cemitério.

— Olhe, Dumbledore de fato viveu aqui. — Hermione apontou sutilmente para um túmulo com o nome de Ariana Dumbledore, aparentemente ela era sua irmã.

Demorou um certo tempo para que achassem o túmulo de James e Lily Potter.

O último inimigo que deve ser derrotado é a morte. — sussurrei enquanto lia a frase agachada na neve, sem preocupar se iria sujar meu vestido ou o sobretudo.

— Esse não era o lema dos comensais da morte?

Olhei para Harry com um pequeno sorriso.

— Não necessariamente. — falei desviando o olhar para o túmulo, fiquei tanto tempo ocupada lendo aquelas palavras que me surpreendi quando Hermione me empurrou.

Camilla — ela murmurou com o tom de voz falhando —, Harry, acho que tem alguém aqui, nos observando.

— Nós estamos sob disfarce. — eu e Harry falamos ao mesmo tempo.

— Ah sim, sob disfarce de trouxas que vieram visitar o túmulo dos Potters? Precisamos sair daqui, agora.

Me levantei seguindo Hermione, era um pouco difícil me movimentar com o meu vestido se arrastando na neve ou com a minha bota, mas estava dando o meu melhor. Arfei quando tropecei em um galho e caí no chão, não demorei muito para perceber que tinha machucado o meu tornozelo que sangrava.

Comecei a andar, ignorando a dor no meu tornozelo.

— Eu sei, eu sei, foi estúpido ter vindo para cá com um vestido. — resmunguei enquanto me aproximava deles.

— Não fique para trás. — Hermione ralhou mas eu apenas dei um sorriso. —  E entre debaixo da capa, ande.

— Mione, eu estou irreconhecível, lembra? Nossa preocupação no momento é Harry! — disse enquanto me juntava a eles debaixo da capa de invisibilidade.

Hermione me olhou de forma severa como se não concordasse comigo mas apenas deu de ombros, não tinhamos tempo para ficar discutindo no meio de um cemitério. Felizmente nós saímos daquele local e retornarmos para perto da igreja. Acabamos encontrando no meio do caminho, a casa destruída dos Potters, junto da casa havia um pedaço de madeira com o nome dos Potters, preenchida por mensagens de bruxos que passaram por ali.

Dei um sorriso morno para Harry.

— Eles não deveriam ter escrito na madeira… — Hermione murmurou mas Harry apenas sorriu.

— Está incrível, fico feliz que eles tenham feito isto…

— Tem uma mulher, nos observando. — falei sacando minha varinha discretamente, ambos Harry e Hermione desviaram o olhar para o vulto da mulher na rua deserta. Era extremamente suspeito que ela estivesse fora de casa em meio a neve, na véspera de Natal apreciando uma ruína.

— Você é a Bathilda? — Harry perguntou por baixo da capa, e eu logo me lembrei do motivo pelo qual estávamos em Godric Hollows.

A mulher apenas assentiu, e começou a andar em direção a alguma casa. Olhei desconfiada para ela, algo não me cheirava muito bem.

— Isso está me cheirando mau, nos dois sentidos da coisa. — falei num sussurro, enquanto torcia o meu nariz.

Contudo, nós continuamos se aproximando embora eu e Hermione não estávamos muito confiantes, Harry estava decidido a entrar na casa da mulher.

— Venham. — ela disse e eu ergui a sobrancelha, então a velha não era muda.

Assim que entramos na casa, eu não pude deixar de olhar para qualquer canto, não me sentindo em segurança. Tudo naquele lugar era estranhamente suspeito, aquela mulher estava tão debilitada que acendia velas com fósforos, e não com magia.

Fiquei de costas para Bathilda, olhando para os quadros em sua parede enquanto Harry e Hermione tentavam arrancar alguma resposta dela. Sinceramente, eu tinha a sensação de que aquela mulher tinha fugido da ala psiquiátrica do St. Mungus, mas resolvi guardar aquele comentário para mim.

— Mostre-me o caminho. — ouvi Harry falar para a mulher, tive de me apressar para segui-los enquanto subiam as escadas.

Harry, eu acho que aqui não é seguro-

Contudo, ele apenas me ignorou. Mordi os lábios me corroendo de ansiedade, em algum momento enquanto eu subia as escadas senti os degraus ficarem mais altos e cansativos, sentia a minha perna doer provavelmente por causa do meu machucado. Resolvi descer os poucos degraus que tinha subido e esperar embaixo, sentia que algo não estava indo bem lá em cima. Tudo estava muito silencioso.

— Camilla?

— Hermione, onde você está? — chamei tentando me movimentar pela casa, um vento gelado soprou pela casa, as velas se apagaram.

Aquela casa me cheirava a morte.

— Harry! — Hermione chamou.

— Ele está vindo Hermione! — foi tudo o que eu ouvi Harry gritar.

Recuei no escuro, segurando a minha varinha com força.

Lumos. — sussurrei e senti meu sangue gelar quando vi tudo o que eu menos queria ver naquele momento. Richard, na minha frente. — Saíam daqui agora, Richard está aqui, não esperem por mim! — gritei, sentindo que minha voz rasgava minha garganta.

Richard sorria de uma forma macabra.

— Olá irmãzinha, eu sabia que você estava viva esse tempo tod-

Expelliarmus!

Estupefaça!

Infelizmente Richard tinha sido mais rápido, o feitiço tinha me atingido em cheio e em meio a confusão eu tinha deixado minha varinha cair. Senti minha costas baterem contra a parede e logo meu corpo parar no chão sujo e gelado.

— Eu posso perder o Potter de vista irmã, mas você irá voltar comigo, pode ter certeza.

Rangi meus dentes enquanto me arrastava no chão, tentando ao máximo me aproximar da minha varinha. Joguei uma vela nos braços dele e foi uma distração boa o suficiente para eu conseguir me aproximar da varinha, contudo eu não era mais ágil do que ele.

— Sua pestinha. — gritou chutando a minha mão para longe da varinha.

Senti cada célula do meu corpo se encolher de dor enquanto eu rolava para o lado da parede. Richard pegou minha varinha do chão e agarrou meu pulso.

  Logo a minha vista começou a se distorcer e tudo girar, tentei gritar e quando o meu grito finalmente saiu eu senti que estava caindo. Eu conhecia aquela sensação, tinha desaparatado.

Minha cabeça bateu contra algo gelado, me parecia ser madeira.

Forcei meus olhos a se abrirem e senti uma enorme ânsia de vômito.

— Levante-se. Agora. — disse puxando o meu braço — Nosso pai deseja te ver.

Fiquei deitada no chão, encarando o teto enquanto meu peito subia e descia em uma velocidade anormal. Era o fim, definitivamente o fim.

— LEVANTE AGORA. — ele gritou furioso me puxando pelos cabelos, um grito agudo escapou da minha boca. Finalmente eu fiquei de pé, mesmo sentindo a minha pressão baixar. — Não percebe que eu estou tentando te ajudar Camilla? — Richard sibilou e apesar da raiva eu podia perceber sua preocupação.

— Onde eu estou? — perguntei zonza, me apoiando em uma parede. Pude ouvir Richard rir seco.

— Na Mansão Malfoy.

Alguém me mate por favor, tudo menos isso, pensei enquanto afundava o meu rosto na parede. Não queria acreditar naquilo, se eu tivesse ouvido Hermione e não tivesse se separado dos dois nada disso teria acontecido.

Meu irmão mais velho agarrou meu pulso com brutalidade e começou a me arrastar pelos enormes corredores da mansão.

— Não pense em fazer nenhuma gracinha, não irei pensar duas vezes antes de te matar.

Senti o gosto da bile na minha boca.

— Por que demorar tanto então? — provoquei, embora eu não quisesse de fato morrer, estava borbulhando de ódio e faria qualquer coisa para tirar meu irmão mais velho do sério.

Ele não me respondeu, apenas continuou a me arrastar, e quando finalmente chegou onde queria Richard me jogou no chão gelado.

— Quem é essa? — ouvi uma voz familiar e gelei, era Lucius Malfoy, podia perceber que seu tom de voz estava carregado de desdém.

— Minha irmã.

Estava com a minha cabeça doendo demais para poder olhar ao redor, mas ao ouvir várias risadas de deboche eu pude notar que haviam várias pessoas naquela sala.

— Camilla Schmidt está morta, seu pai desistiu de procurar por ela há semanas.

— Essa garota é a Camilla, ouçam o que eu estou falando! — ele gritou furioso, aparentemente meu irmão não era levado a sério em meio aos comensais mais velhos. Sorri com malícia, podendo vislumbrar o seu olhar de raiva.

Eu e meu irmão trocamos olhares, não havia nada amigável naquela troca. Filho da puta, foi as palavras sem som que eu soltei.

— Chamem Draco Malfoy aqui, eu tenho certeza de que ele irá reconhecê-la, ele ou Charles! — meu irmão tornou a falar, ele estava irado.

Se eu engoli em seco, ninguém na sala preenchida de comensais reparou.

— Richard, pare com isso agora. — era a voz do meu pai, tive de erguer meu rosto para poder olhar para ele. Robert Schmidt estava deplorável, Azkaban tinha acabado com ele. — Camilla está morta, eu tenho certeza.

— Chamem. O. Malfoy. — disse com raiva contida, falando as palavras com pausas exageradas.

Aproveitei que minha visão estava se normalizando e dei uma olhada no local, minhas tentativas de escapar eram nulas. Haviam pelo menos sete comensais da morte dali, contando com Lucius e Robert. Os olhares de todos na sala estavam sobre mim, eles estavam curiosos mas também não hesitariam em me matar.

Não é hora de ter um ataque de pânico. Pensei.

— Mandaram me chamar? — somente a voz cansada de Draco Malfoy fez meu coração disparar, mesmo assim, eu me mantive, meu olhar permanecia em Richard. Eu queria tanto acertar um soco naquele rostinho prepotente, eu era sua irmã caçula e mesmo assim ele estava me entregando de bandeja para uma sala lotada de assassinos.

— Richard acredita que essa garota é Camilla Schmidt, hm… — Lucius Malfoy pronunciou o meu nome com enorme desconforto — você poderia...averiguar?

Meu corpo parecia estar atingindo um pico anormal de ansiedade, eu tinha que pensar rápido. Não queria olhar para Draco e também não podia deixar que ele me reconhecesse, se eu fosse rápida talvez conseguisse virar o jogo ao meu favor. Esperei pacientemente até que Draco Malfoy viesse até a minha frente, como esperado ele tinha sua varinha em mãos.

Engoli em seco.

Acho que depois disso eu ficaria quite com o pai dele por ter apagado as minhas memórias.

Aproveitei o tempo em que Draco ficou parado me encarando e o dei uma rasteira, roubando sua varinha logo em seguida.

Tinha sido incrivelmente fácil.

O puxei pela camiseta, fazendo com que ficasse em pé, passei um braço ao redor do pescoço dele enquanto com minha outra mão eu apontava a varinha  dele para a sua própria cabeça. As pessoas na sala pareciam ter congelado, como se não esperassem que a garota caída no chão de aparência frágil fosse fazer algo assim.

— Baixem as varinhas, todos vocês. — gritei com uma raiva descomunal. — AGORA.

Senti que Draco tremia, ele estava com medo de mim.

— Por favor, abaixem as varinhas. — Narcisa Malfoy sussurrou com voz chorosa.

Intensifiquei o aperto contra o filho dos Malfoy.

— Eu não vou repetir de novo, abaixem as varinhas AGORA.

Expe- 

Antes que Richard sequer pudesse terminar de recitar o feitiço, eu o lancei um feitiço estuporante que o lançou contra a parede, ele não iria mais me interromper agora que estava desacordado.

— Você não sabe o que está fazendo. — Lucius Malfoy me olhou duramente. —  O Lorde das Trevas estará aqui em instantes e você estará morta, Camilla, não é mesmo? Ainda posso reconhecer o seu tom petulante.

Draco arfou, como se estivesse reconhecendo minha voz somente agora.

Forcei um sorriso amável para Lucius.

— Me diga algo que eu não saiba. — respondi bruscamente — Eu quero sair daqui sozinha, caso contrário irei aparatar e levarei o seu filho junto.

Meu pai me olhava espantado, com se não reconhecesse a própria filha.

— Baixe a varinha e deixe Draco ir, se você colaborar, não iremos te matar. — Lucius disse com a voz firme, embora eu soubesse que no fundo ele estava com medo, medo de que algum comensal na sala lançasse um feitiço - sem querer - em seu filho. — Você não irá conseguir sair da mansão, somente comensais podem aparatar aqui.

Mordi o meu lábio furiosa com tanta força que senti o gosto metálico de sangue.

— Eu sei que você não irá machucar o meu filho, deixe ele ir. Sei que está com medo e garanto que se você quiser viver, vai ter que abaixar sua varinha.

Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ouvi um arfar, quando fui olhar na direção da porta encontrei o meu irmão Charles paralisado.

— Camilla, o quê pensa que está fazendo? — ele disse em voz baixa — Porquê você não fugiu?

Respirei com dificuldade, eu já não conseguia mais manter o aperto para prender Draco. A varinha soltou das minhas mãos enquanto eu corria para abraçar o meu irmão, escondi meu rosto em seu peitoral e fiquei ali como se ele fosse a única pessoa no mundo capaz de me proteger.

— Camilla. — era a voz de Robert, ele parecia estar atrás de mim — Você está viva.

— Não encoste em mim. — me virei falando em tom de ameaça, pude ver a mágoa no rosto.

Minha filha está viva. — ele sussurrou como que em transe, sem encostar em mim.

Todos os olhares estavam sobre nós, a maldita famílIa Schmidt, a família unida que aparecia na primeira página do Profeta Diário não parecia estar mais tão unida assim. Eu odiava cada um daqueles olhares que me enchiam de ansiedade.

— Tranquem Camilla em uma cela particular, assim que o Lorde das Trevas chegar decidiremos o que fazer com ela. — era Lucius Malfoy que dava o veredito.


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