Obliviate escrita por Downpour


Capítulo 40
Capítulo 40 - Failure




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Capítulo 40 - Failure



DRACO MALFOY 




Uma das coisas que Draco Malfoy mais gostava em Camilla, era o como ela sussurrava o seu nome enquanto dormia. A sensação de ter aquela garota em seus braços, dormindo e ainda por cima sonhando com ele era no mínimo recompensadora. Poder sentir as batidas do coração dela, poder sentir os lábios dela contra os dele. Era como um breve vislumbre do paraíso, ele sentia que sempre que estavam próximos seus dias cinzentos ficavam coloridos. Contudo, logo a cor desaparecia.

Ele era um mentiroso.

Sentia a culpa em sua consciência, tinha escondido tanta coisa de Camilla, vivia se perguntando como conseguia ter coragem de sequer olhá-la. 

— Por que você está me encarando desse jeito? — Camilla sussurrou de olhos fechados, ainda aninhada ao corpo magricela do garoto.

Draco riu soprado, cobrindo a garota com beijos, desde a ponta do nariz até as bochechas.

— Bom dia. — disse apertando a menina contra seu corpo. Um sorriso se formou em seu rosto ao ouvir a risada feliz dela.

Quando olhou novamente, Camilla já estava de olhos abertos. A garota vestia uma camiseta cinza que era dele, e o olhava silenciosamente com um sorriso de canto.

— Bom dia. — ela respondeu, o garoto percebeu que havia um certo rubor no rosto dela. Draco adorava o fato de fazer ela corar.

— Se você continuar me olhando assim, serei obrigado a te beijar. — disse brincando, embora mantivesse uma expressão séria em seu rosto.

Camilla ergueu as duas sobrancelhas com uma expressão zombeteira.

— Só depois que você escovar os dentes.

Draco abriu a boca surpreso.

— Schmidt! — exclamou indignado enquanto a menina se contorcia rindo na cama — Como você ousa ser rude comigo na minha cama, no meu quarto? Ninguém nunca me negou um beijo.

— Existe uma primeira vez para tudo. — Draco revirou os olhos, Camilla sempre tinha uma resposta para tudo que ele fosse falar.

Ficou encarando ela, não havia um traço de maquiagem (ele demorou um pouco para entender o que era aquilo que ela passava na pele a deixava tão bonita) no seu rosto, o cabelo ondulado caía sobre seus ombros que estavam marcado com mordidas e chupões dele. O seu perfume exalava de Camilla, e aquilo o confortava. Pelo menos por algum momento, Camilla era dele e vice versa.




(...)






— Deixe Draco em paz. — Narcisa ralhou com a irmã, ele poderia jurar ver fagulhas saírem dos olhos da mãe.

Bela olhou para a irmã chocada.

— Mas Cissa, o que ele fez foi inadmissível. Você tinha que ter visto a forma como ele abraçou ela...Foi repugnante, um Malfoy com uma mestiça de sangue imundo…

— Basta. Somente eu sei como lidar com o meu filho, e cabe somente a mim a decisão do que fazer com ele. Por agora eu gostaria que você ficasse em silêncio, e que Draco subisse para seu quarto. Sim?

O Malfoy sequer questionou, não estava em seus planos ficar mais um segundo próximo de sua tia. Estava indignado com o que ela tinha feito Camilla passar. Bela tinha torturado a garota a sangue frio, como se não fosse nada. Ele não pode evitar correr em direção aos gritos de dor da garota, e quando a encontrou praticamente desfalecida, ensopada de sangue, teve de controlar cada célula do seu corpo para não voar em cima de sua tia.

Não conseguia mais olhar para Belatriz e chamá-la de família.

O Lorde das Trevas ficará desapontado quando descobrir essa desfeita. Eu sabia que Draco teve uma amiga mestiça, mas eu achei que ela tivesse sido eliminada da vida dele!

Era doloroso ouvir a conversa de sua tia com sua mãe. Ele se perguntava se talvez sua mãe o apoiasse já que Narcisa nunca tinha declarado ódio a Camilla.

É exatamente por isso que você não vai abrir a boca! Caso contrário o Voto Perpétuo terá sido em vão. — sua mãe ralhou, o garoto não pode negar ficar admirado como ela ia contra sua irmã de sangue (Black) para cuidar de sua atual família (Malfoy).

Draco se trancou em seu quarto, se sentindo incapaz de fazer qualquer coisa, o garoto se sentia completamente destruído.

Ele tinha falhado.

Falhado com Camilla.

Falhado com sua família.

Falhado com o Lorde das Trevas.

Era tão difícil assim fazer alguma coisa dar certo em sua vida? Porque ele não conseguia acertar em nada?

Seu pai ficaria tão decepcionado, ele tinha certeza de que sua mãe não esperava que ele cumprisse a tarefa. 

Deitou-se na cama, se sentindo extremamente inútil e vazio. Se perguntava como Camilla estava naquele momento, a garota estava tão machucada que ele temia pela vida dela. Será que Camilla estava sequer viva? Só de pensar naquilo seu coração doeu, porque se ela morresse seria culpa única e exclusiva dele. Se perguntava se ela sequer tinha lido a carta que ele escreveu. 

Estava tão perdido em pensamentos que foi surpreendido por Charles Schmidt na soleira de sua porta.

— Que diabos. — se levantou num sobressalto, Draco tinha medo dos irmãos de Camilla.

Charles deu um sorriso zombeteiro, analisando o loiro de cima a baixo.

— Sabe Malfoy, eu podia quebrar o seu rostinho agora. — disse sem expressar sequer uma reação. Charles estava furioso com a notícia que recebera sobre o estado de sua irmã — Uma pena que esta marca nos iguale, porque eu te juro que se não tivesse a Marca, você seria um homem morto. Machuque a minha irmã novamente e você desejará não ter nascido.

Draco engoliu em seco com certa dificuldade, sua garganta arranhava. O loiro ficou paralisado, vendo Charles sumir pelo corredor. Queria gritar com ele, dizer que Charles era tão culpado quanto ele, mas optou pelo silêncio. Draco tinha a plena certeza de que Charles não era o melhor irmão do mundo para Camilla. Mas afinal, quem era ele para opinar?

Malfoy não percebeu que as lágrimas desciam pelo seu rosto enquanto ele encostava a porta. Sentou-se na cama dando o seu melhor para não soluçar alto. Era como se seus sentimentos fossem uma enorme bola de neve que tinha se acumulado até àquele momento, se ele tinha surtado aquele dia no banheiro da Murta, agora ele estava mil vezes pior.

Não conseguia deixar de pensar em como era um fracasso. Draco não era parecido com o seu pai, Lucius Malfoy era um homem intimidador, poderoso e corajoso em certo ponto; também não era parecido com a mãe, Narcisa exalava elegância, ela tinha uma capacidade de manipular muito bem suas palavras. Já ele era uma falha, uma desgraça. Não tinha conseguido matar um homem, não tinha conseguido ser sincero com a garota que gostava. 

As vezes, só às vezes, quando seu orgulho se perdia, Draco Malfoy desejava nunca ter nascido.





CAMILLA SCHMIDT




Eu avisei, eu avisei que essa garota deveria ser analisada de perto e ninguém sequer me ouviu. A saúde mental de Camilla Schmidt deveria ter sido levada a sério. O que irei fazer agora com essa criança? Ela está apática a semanas!”

Madame Pomfrey gesticulava nervosamente diante do pequeno Professor Flitwick. 

Apatia.

Eu não sabia o que ela palavra significava até então, talvez eu pudesse descrevê-la como um estado cinza, um limbo mental. Meu corpo estava paralisado, contudo eu permanecia respirando e piscando como alguém normal. Faziam duas semanas que eu não abria a minha boca para falar, a última coisa que saiu da minha boca foi um grito de dor.

Apesar da agonia, tinha cedido ao limbo e sinceramente não me parecia ser tão ruim, na verdade me aparentava ser algo silencioso e melancólico. Passava boa parte do meu dia sonhado acordada, podia jurar ver a minha mãe se sentar na ponta da minha cama, e eu podia jurar ouvir ela falar comigo. Minha mãe poderia gritar comigo, me xingar, qualquer coisa, eu não me importava, o simples ato de ver ela a minha frente falando preenchia o meu coração vazio.

Em um dos meus curtos períodos de lucidez, eu escutei Madame Pomfrey mencionar que eu estava passando por um surto, e que aquilo se tratava de uma reação pós traumática. Como não haviam muitas soluções no mundo bruxo que dessem conta de problemas da mente, ela esperava que o tempo fosse ajudar no processo de cura.

Meus amigos vinham constantemente me visitar, tinha descoberto que Gina e Harry tinham começado a namorar, e eu não poderia ficar mais feliz pelos dois. Também fiquei ciente da morte do Professor Dumbledore, acho que seu funeral foi uma memória tão dolorosa que minha própria mente tinha  o distorcido.

— Você se recordou do quê? — Hermione questionou, tentando não demonstrar o quão surpresa estava, se apoiando na beirada da cama enquanto Harry, Rony e Gina estavam em pé atrás dela.

— Lucius Malfoy, — falei com a voz fraca, eram poucos o momento durante o dia em que eu abria a minha boca para falar alguma coisa — ele apagou a minha memória porque eu o vi com Rabicho quando era criança. Rabicho foi até a sua casa…

Meus olhos se fecharam lentamente, Madame Pomfrey tinha me dado um remédio que me faria dormir logo. Senti cada pedacinho do meu corpo começar a ceder.

— Foi entregar o diário de Tom Riddle. Eu fugi antes que ele me encontrasse-

Isso faz todo o sentido. — pude ouvir a voz de Hermione distante — Malfoy aproveitou a situação para apagar o filho dele da vida dela e para cortar laços....Ah, ela adormeceu.

— Por favor, saiam da enfermaria. Não podem ver que a minha paciente precisa de descanso?

Ao todo, demorou mais de duas semanas para que Madame Pomfrey considerasse me liberar da Enfermaria. Agora eu já conseguia comer, andar e até mesmo manter uma conversa. Qualquer pessoa do lado de fora diria que eu estava perfeitamente bem, embora somente eu podia dizer o quão ruins as coisas estavam na minha mente. Finalmente eu tinha me recuperado parcialmente daquele evento, Madame Pomfrey tinha me aconselhado a evitar pensar sobre o que aconteceu e ocupar a minha mente, ela até insistiu em manter lá por mais tempo.

Mas eu não queria perder mais tempo na enfermaria, eu tinha um ano letivo para terminar.

Eu acho que foi mais ou menos nesse período que eu decidi não retornar para a escola no ano seguinte, e foi uma das decisões mais difíceis que eu tomei em toda a minha vida. Amava aquela escola, aqueles professores, eu amava estudar. Contudo, minha vida estava em risco. Não sabia o que poderia acontecer com Hogwarts depois da morte de Dumbledore.

Ninguém estava seguro. Não mais.

Por isso, eu passei meus últimos dias estudando tudo o que podia, socializando tudo o que eu podia, sem mostrar para as pessoas que por trás da máscara que eu tinha construído, as coisas não iam tão bem assim.

Em suma, o trio de ouro, Luna, Sabrina e Gina estavam preocupados comigo. Ernie continuava a não olhar na minha cara, ele estava furioso e continuava a dar ouvido a fofocas distorcidas sobre a minha pessoa. Era incrível o como ele tinha conseguido perdoar Harry, mas eu...não.

— Você tem certeza de que está bem? — Sabrina me perguntou assim que descemos do Expresso Hogwarts, me doía pensar que aquela seria minha a última vez lá, na plataforma nove três quartos  — Meus pais podem te acolher lá em casa...Você…

— Está tudo bem, — sorri de forma sincera — eu sou uma Schmidt, posso lidar com qualquer coisa. — repeti a fala que Charles usava para me encorajar quando criança.

Sabrina forçou um sorriso torto, e logo em seguida me deu um abraço de urso.

— Por favor, me escreva. Eu preciso saber que você está bem. Ah, e leia a carta que eu coloquei na sua mala.

— Eu vou. — disse me despedindo dela, com o cenho levemente franzido, não me lembrava de ter nenhuma carta no meu malão. Dei de ombros, indo ao encontro do trio de ouro.

Por uma última vez eu olhei para trás, olhei para o Expresso Hogwarts. Jamais iria imaginar que eu consegui chegar onde tinha chegado, e apesar dos empecilhos, eu me orgulhava da minha própria força.

E agora, era hora de mudar. E era aquilo uma das coisas que mais me assustava.


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