Obliviate escrita por Downpour


Capítulo 38
Capítulo 38 - It feels cold inside




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Capítulo 38 - It feels cold inside 



ROBERT SCHMIDT 



Gelado, era a melhor palavra que poderia descrever Azkaban.

Robert Schmidt tinha conseguido uma cela só para si, boa parte de seu tempo era gasto encarando as paredes da prisão. As vezes ele se perguntava se já estava morto de fato.

Sentia como se os Dementadores estivessem conseguindo roubar todas as suas memórias felizes, sequer se lembrava de como tinha sido o parto de seu primogênito Richard, ou do dia de seu casamento.

Ocupava seu tempo com as poucas memórias felizes que lhe restara, ou até mesmo com as mais tristes e sombrias.

Quando era noite, e a cela era tomada pela escuridão, Robert podia jurar ver a silhueta de sua mulher. Podia vislumbrar seu corpo pequeno, porém, repleto de curvas que denunciavam sua descendência latina, curvas essas que eram exaltadas pelos vestidos quais ele a presenteava.

Eles eram tão felizes, onde tinham se perdido?

Será que ele tinha sido o único culpado?

A primeira vez que pensou ver Elizabeth, ele chamou por seu nome, assustando os guardas de sua cela que o julgavam louco. E talvez ele realmente estivesse enlouquecendo. Era o preço a se pagar por sua ganância.

Ah é, fora exatamente ali onde eles tinham se perdido.

A busca pelo poder.

Elisabeth tinha chorado tanto quando descobriu a Marca Negra no antebraço do marido, naquela noite chuvosa em especial, ela o deixou sozinho na enorme Residência Schmidt.

“Como eu poderei amar um homem que segue aqueles que pregam a minha morte? Como eu posso carregar uma criança sua Robert?”

Fora aí que as discussões tinham começado, e Elisabeth só não tinha o deixado porque carregava uma criança dele em seu ventre. Era o ano de 1977, a Grande Guerra Bruxa estava em seu pior momento. O mundo era marcado pelo terror.

Semanas depois Elizabeth retornou para a casa, e meses após ela teve seu primeiro filho, Richard. Por alguns momentos aquela criança tinha conseguido unir o casal novamente, embora vivessem constantemente brigando.

— Eles vão me matar na primeira oportunidade que tiverem Robert! — lembrava-se de sua mulher gritando estridente.

Tinham o péssimo hábito de quebrar a mobília da casa enquanto brigavam.

  — Não irão! Basta que você renegue o seu sangue trouxa.

— RENEGAR? — Elizabeth estava furiosa com o rosto completamente vermelho — Eu prefiro morrer do que renegar as minhas origens Robert, nós dois sabemos que nunca houve um bruxo que de fato é um sangue puro.

— Não diga esse tipo de coisa! Quando você irá entender que eu estou tentando te proteger?

  — PROTEGER DO QUÊ? O seu egoísmo eventualmente irá me matar.

Antes que a discussão pode continuar, o bebê Richard tinha começado a chorar. Lisa lançou um olhar mortal para o marido, e em seguida fora cuida da criança.

As brigas entre eles sempre fora assim, nunca chegavam em um consenso, quebravam a mobília e quando paravam ou iam cuidar de Richard ou iam para a cama. Contudo, não havia nada que pudesse consertar aquele relacionamento que já vinha se desgastando. 

Além das brigas, Richard tinha crises de ciúmes quanto o passado de sua mulher. Se lembrava muito bem do ex-namorado dela, Christopher West.

Richard apostava todo o seu dinheiro que se aquele sangue-ruim não estivesse morto Elizabeth iria correr para os braços dele a qualquer momento.

E talvez fosse por isso que mais tarde ele criasse problemas com sua filha mais nova, Camilla Schmidt. Ele sabia que ela era sua filha, havia muito dele nela, contudo, ela era tão parecida com Christopher que o enjoava.

Camilla tinha um certo desprezo pela hierarquia de sangue, e assim como o mãe, tinha orgulho de ter seu sangue mestiço. Sua filha nunca tinha baixado a cabeça para ninguém que a julgasse inferior por seu sangue, e isso o tirava do sério. Porque West era exatamente assim.

E embora ele se sentisse assim em relação a filha, Camilla o admirava mais que ninguém no mundo.

— Bem, então eu acho que o papai é meu super herói. — Richard ouviu a voz da garota do outro lado do corredor, e logo torceu a sua boca com desprezo, não podia acreditar que sua mulher estava ensinando coisas de trouxas para as crianças.

— Elisabeth, precisamos conversar. — adentrou o quarto, interrompendo a conversa.

Camilla sorriu ao ver o pai, pulando da cama da mãe, indo abraçar suas pernas.

— Pai, mamãe estava me contando sobre super heróis!

O olhar furioso de Richard se encontrou com o de sua mulher, que não demonstrava estar assustada ou muito menos intimidada com sua raiva.

— Camilla, saía, eu e sua mãe temos que conversar.

Quando viu que a garota não se moveu, ele gritou.

— SAÍA.

Camilla saiu correndo do quarto, com lágrimas nos olhos, enquanto tropeçava em seus próprios pés.

— Patético. — Elisabeth comentou olhando para o marido de forma desaprovadora — Camilla te vê como um exemplo, um super herói Robert. O que custa tentar ser um pai bom com ela? Ao menos finja ser o bom homem que sua filha acha que você é.

E antes que ele sequer pudesse reagir àquelas palavras, Elizabeth desaparatou, deixando-o sozinho com os punhos cerrados.

Papai é o meu super herói.” A voz inocente da caçula o atormentava.

Robert tinha a total certeza de que atualmente sua filha o via como um monstro, e que se pudesse, iria cuspir em seu rosto. Não havia nada que ele pudesse fazer para reconquistar a confiança de sua filha.

Ele tinha desarmado sua mulher.

Tinha deixado ela ser assassinada em sua frente.

Como se não bastasse a traição de Elizabeth, sua caçula também estava no lado oposto ao dele.

O estrago já fora feito, não havia volta.

E era por isso que estava frio, porque até mesmo os sentimentos mais quentes dele haviam congelado. Richard se sentia morto, porque já não sentia mais nada além de arrependimento.

Tinha feito de tudo por poder, e como consequência perdeu tudo aquilo que mais almejava. 

Elizabeth Davies era uma das garotas mais lindas de seu ano, ele tinha a conquistado com muito custo, e mesmo assim a perdeu.

Teve filhos brilhantes, mas em momento algum demonstrou o quanto ele os estimava e amava. Sua única forma de demonstrar amor provinha da destruição.

Richard se perguntava se monstros sabiam demonstrar amor, e se deu conta que a resposta era não, afinal ele era um monstro que só tinha causado destruição.





CAMILLA SCHMIDT 





Adentrei o Salão Principal me arrastando, tinha tido uma péssima noite de sono, as olheiras debaixo dos meus olhos me denunciavam. Tinha prendido meus cabelos em um rabo de cavalo, e por mais incrível que pareça não havia colocado nenhum resquício de maquiagem me meu rosto.

— Bom dia. — murmurei para Sabrina que ergueu seus olhos de um livro para me analisar.

— Tudo bem? — ela questionou, e eu apenas balancei a cabeça. 

Dei um gole em um copo de leite enquanto olhava para a mesa dos professores, estranhamente a cadeira de Dumbledore estava vaga. Isso vinha acontecendo há alguns dias.

— Eu falei com o Harry, ontem. — disse colocando o copo de volta na mesa, meu olhar estava perdido em algum lugar enquanto falava — Ele me disse que não machucou o Draco por querer, disse que usou o feitiço sem saber do que se tratava…

Parei de falar, aproveitando para respirar fundo.

— Draco tentou usar uma maldição imperdoável contra ele. — sussurrei com a minha voz morrendo aos pouquinhos, ainda estava digerindo aquilo lentamente. Eu sempre soube que o Malfoy não era uma pessoa muito admirável, mas jamais iria imaginar que ele fosse fazer isso com alguém. — Cruciatus.

Só de lembrar do nome daquela maldição meu estômago se revirava, memórias ruins invadiam o meu corpo. A sensação crescente de dor, de desesperança e de rezar para que a morte chegasse logo…

— É engraçado como todo mundo sempre esteve certo sobre ele, em pensar que eu achei que conhecia ele…

— Por que você pensaria isso? — Sabrina perguntou confusa.

Suspirei, era uma história tão grande, tão cansativa.

Antes que eu pudesse abrir a minha boca para falar uma coruja jogou - literalmente - o Profeta Diário na minha cara, derrubando um pouco de leite na minha saia.

Bufei, pegando o jornal desajeitadamente.




“COLUNISTA DO PROFETA DIÁRIO, JANICE EDWING É ENCONTRADA MORTA



A colunista do Profeta Diário, Janice Edwing, conhecida por representar a causa dos nascidos trouxas e mestiços é encontrada morta em sua casa. Ao chegarem na casa da colunista, funcionários do Ministério da Magia declararam ter visto a Marca Negra sobre a casa da mulher.

Após severas investigações acredita-se que o caso de Janice tenha se tratado de um ataque, visto sua recente oposição contra os ataques realizados por seguidores do Lorde das Trevas.

Janice Edwing foi inspirada pela jornalista ativista Elisabeth Schmidt, também assassinada…”



Fechei o jornal com força, conseguindo ver a figura sorridente da minha mãe ao lado da mulher que eu tinha conhecido na festa do Slug. 

Senti a bile subir pela minha garganta. Janice Edwing tinha sido assassinada, a mesma mulher que tinha falado comigo e eu tinha ignorado, tinha sido assassinada.

Minha mãe tinha sido assassinada.

A próxima poderia ser eu.

Camilla? — ignorei quem quer que estivesse me chamando, minha cabeça estava doendo demais para que eu agisse de forma racional.

Sentia o pânico tomar cada pedacinho do meu corpo.

Eu estava em uma falsa bolha de segurança. Lá fora, pessoas como eu estavam sendo assassinadas a todo momento.

Minha respiração falhou, o ar tinha se tornado difícil de ser respirado. Meus pulmões estavam pesados e a minha visão desfocalizada.

Eu tinha ignorado ela. Tinha ignorado alguém que conhecia a minha mãe, tinha ignorado alguém como a minha mãe.

Sentia cada batida acelerada do meu coração pesar no meu peito, acompanhada da sensação agoniante de que meu coração fosse literalmente saltar para fora. Respire, você precisa respirar, precisa se controlar. Ande, respire.

— Cam! — a voz de Sabrina me chamou a atenção — O que foi isso? Você estava em um transe?

Suspirei, afundando meu rosto nas minhas mãos. Fui respirando lentamente, me focando no tempo que eu demorava para soltar o ar, tentando ao máximo para voltar ao normal.

— Está tudo bem, está tudo bem. — sussurrei mais para mim do que para ela.

Sabrina recuou, me olhando atentamente em silêncio. Antes que ela pudesse falar algo, Gina Weasley apareceu na nossa frente.

— Ei, — Gina deu um sorriso torto — Dumbledore está te chamando na sala dele.

— Ah, obrigada Gina. — forcei um sorriso, me levantando da mesa.




(...)




A sala do Professor Dumbledore era diferente de tudo que eu já tinha visto, mesmo sendo minha segunda vez lá, ainda conseguia me surpreender com o que via.

— Camilla, fico contente que tenha vindo me ver. — Dumbledore sorriu enquanto sua longa barba prateada balançava — Venha, sente-se e tome uma xícara de chá.

Me aproximei um tanto receosa até a mesa de Dumbledore, não sabia ao certo o porquê de ele ter me chamado ali. Tudo bem, eu tinha me envolvido em algumas confusões mas não esperava que minhas confusões chegassem nos ouvidos do diretor da escola. Engoli em seco, olhando desconfiada para o homem a minha frente.

— Fique tranquila, apenas requisitei sua presença para conversarmos.

Acenei com a cabeça, sem ter muita certeza do que ele falava, me sentando à sua frente.

— Vejo que terei de ser direto com a senhorita. Bem, o Professor Flitwick tem andando bastante preocupado quanto a sua saúde mental, alguns professores debateram entre si e consideraram te dispensar esse ano para que possa voltar no ano seguinte com uma saúde melhor.

Arregalei os olhos, não, não, não.

Eu não iria parar de estudar, não podia parar de estudar. Os estudos eram a única coisa que estavam ocupando a minha cabeça, Hogwarts era o único lugar que me restara, era o único lugar seguro naquele momento.

— Contudo, eu resolvi intervir na situação, pois sei que Hogwarts é um lugar seguro para você. Lá fora está muito perigoso, e receio que os comensais da morte conseguiriam te rastrear na Itália. Foi tomado bastante esforço para que os professores concordassem com a sua estadia.

— Muito obrigada Professor Dumbledore, de verdade, muito obrigada. — sussurrei, ainda sem as palavras certas para poder demonstrar o quão grata eu estava por ele ter me ajudado quando eu mais precisava.

Dumbledore deu um pequeno sorriso, seu típico sorriso de quem sabia mais do que transparecia.

— E bem, quero que a senhorita saiba que sempre poderá encontrar auxílio em Hogwarts. Reconheço o quão desafiadoras as coisas se tornaram para a você nesses últimos anos, sua mãe sempre se orgulhou muito da forma como você lidava com as dificuldades. Da última vez que a vi, Elisabeth me disse que você era mais forte do que pensava ser, e agora eu posso ver isso. Há muito tanto de Robert quanto de Elisabeth em você, bem aqui — ele apontou gentilmente para o meu coração, mesmo lugar onde o meu medalhão Schmidt pendia. — Sua mãe vive em você, lembre-se disso.

Engoli em seco e assenti com a cabeça, sentindo algumas lágrimas se formarem nos cantos dos meus olhos.

— Sua mãe foi uma importante ativista na causa dos mestiços, ela inspirou diversas pessoas por suas colunas no Profeta Diário assim como a Sra. Edwing. Elas procuram inspirar pessoas como você Camilla, pense sobre isso.







 


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