Twilight escrita por Srta Hale


Capítulo 25
Não me deixe.




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Demorei alguns segundos para perceber que a dor havia passado, tudo parecia calmo e silencioso. Eu continuei com os olhos fechados durante algum tempo, tentando me assegurar de que o fogo havia sido apagado, agora eu conseguia sentir cada parte do meu corpo novamente. Tudo parecia bem, talvez até demais. O que o silencio significava? Eu não ouvia nada além do suave bater do vento nas janelas. 

A sala ao meu redor estava muito silenciosa, eu sentia a presença de três pessoas ali, mas tudo estava tão calmo e morno, conseguia sentir o cheiro de carvalho queimado. Eu deveria me levantar? Era seguro abrir os olhos? Alguém se moveu sutilmente ao meu lado, o cheiro era extremamente familiar. 

—Camille, meu amor? Sou eu. Abra os olhos. 

A voz de Emmett pareceu muito clara para mim, como ver um farol depois de dias no escuro. Era perfeita e clara demais para ser apenas um sonho ou outro pesadelo. Não exitei em fazer o que ele pediu e me surpreendi. Tudo estava tão claro. Nítido. Definido. A luz forte no alto ainda era ofuscante, e, no entanto, eu podia ver muito bem os filamentos cintilantes dentro da lâmpada. Podia ver cada cor do arco-íris na luz branca, e na extremidade do espectro uma oitava cor para a qual eu não tinha nome. Por trás da luz eu podia distinguir cada fibra da madeira escura no teto. À luz, conseguia ver os grãos de poeira no ar, os lados que a claridade tocava e os lados escuros, distintos e separados. Giravam como pequenos planetas, movendo-se em torno uns dos outros numa dança celeste. 

A poeira era tão linda que eu inalei, chocada; o ar assoviou por minha garganta, fazendo rodopiar os grãos de pó. A ação parecia errada. Pensei no assunto e percebi que o problema era que não havia alívio ligado à ação. Eu não precisava de ar. Meus pulmões não esperavam por aquilo. Eles reagiram com indiferença ao influxo. Eu não precisava de ar, mas eu gostava dele. Com ele eu podia saborear o quarto à minha volta, saborear os adoráveis grãos de poeira, a mistura do ar estagnado com o fluxo levemente mais frio que entrava pela porta aberta. Saborear um luxuriante sopro de seda. Uma leve sugestão de alguma coisa quente e desejável, algo que devia ser úmido, mas não era... Esse cheiro fez minha garganta arder, seca, um fraco eco do ardor do veneno, embora o odor estivesse contaminado pela intensidade do cloro e da amônia. E, mais que tudo, eu podia sentir o gosto de um cheiro parecido com maçãs, menta e sol, que era o mais forte e o mais próximo a mim. 

Ouvi o barulho dos outros, voltando a respirar agora que eu também respirava. O hálito deles se misturava ao cheiro que lembrava maçãs, menta e sol, trazendo novos sabores. Pera, água do mar, pão no forno, pinho, baunilha, lavanda, chocolate... Fiz uma dezena de comparações diferentes em minha mente, mas nenhuma se encaixava com exatidão. Era tudo muito doce e agradável. Tudo estava tão calmo e silencioso. 

Eu conseguia ouvir uma leve movimentação lá fora, parecia o vento batendo em alguma coisa. Folhas? Neve. Só percebi que alguém segurava minha mão quando a pessoa a apertou suavemente. Como havia feito antes, para esconder a dor, meu corpo se contraiu, pego desprevenido. Não era um toque que eu esperasse. A pele era perfeitamente lisa, mas a temperatura estava errada. Não era fria. 

Depois do primeiro segundo paralisada pelo choque, meu corpo reagiu ao toque desconhecido de um jeito que me chocou ainda mais. O ar sibilou por minha garganta, passando por entre meus dentes trincados com um som baixo e ameaçador, como o de um enxame de abelhas. 

Antes que o som saísse, meus músculos se enrijeceram e contraíram, afastando-se do desconhecido. Eu girei tão rápido que o quarto devia ter se transformado em um borrão incompreensível, mas não foi o que aconteceu. Vi cada grão de poeira, cada lasca nas paredes revestidas de madeira, cada fio solto em detalhes microscópicos quando meus olhos dispararam por eles. 

Então, quando me vi agachada contra a parede, na defensiva, um segundo depois eu já tinha entendido o que me assustara, e que minha reação fora exagerada. Era Emmett. Ele estava debruçado por cima da enorme cama onde eu estava deitada antes, sua mão estava estendida para mim, sua feição demonstrava um pouco de ansiedade e preocupação. Por que ele estava preocupado? Minha mente vagou por todo o quarto, procurando por algum sinal de perigo. Mas não parecia haver nada, mas então por que ele estava preocupado? 

—Camille? Meu amor? -ele chamou fazendo-me voltar a olha-lo. 

Seu rosto estava diferente, mais claro. Ele era tão bonito, como eu não havia visto tantos detalhes antes? Seu rosto era o que mais importava para mim ali. Mas ainda sim minha mente vagou novamente pela sala, notando Alice e Jasper encostados na porta, ambos pareciam calmos. Alice sorriu tranquilizadoramente para mim e Jasper fez o mesmo em seguida. 

—Camille. -Emmett chamou novamente. Ele rodeou a cama com calma e cuidado, como se tivesse com medo de me assustar. -Está tudo bem, você está segura. Sei que você está confusa, mas está tudo bem. 

Meu corpo relaxou e eu voltei minha postura ficando ereta novamente, olhei para minhas mãos um pouco confusa. Minha pele estava perfeita, sem nenhum ferimento. Mas não deveria haver alguns? Eu me lembrava da dor, dos gritos, de James. Senti meu corpo tensionar automaticamente ao me lembrar dele, meus olhos correram a sala o procurando, eu não estava mais no estúdio de ballet que foi cenário de vários pesadelos enquanto eu queimava. O lugar onde eu estava agora era calmo e silencioso, tinha paredes brancas e uma enorme cama com roupas limpas e acinzentadas, havia um tapete felpudo no chão, eu podia ver cada fio da lã que foi usado para fabrica-lo.  

Voltei a olhar para Emmett, maravilhada novamente, quantas vezes eu havia pensado o quão lindo ele era? Lindo não parecia descreve-lo agora. Ele andou até mim com cuidado, parando na metade do caminho. Eu tentei encontrar algo para dizer, mas não conseguia pensar em nada agora. O que aconteceu comigo? Uma parte de minha mente vagou para o estúdio novamente, para quando James me esfaqueou e me mordeu. Eu me lembrava da dor, do sangue, dos gritos, dos rosnados e de Bella desmaiando. Bella! Ela estava machucada. O que aconteceu depois? Ele me mordeu, eu estava fraca, mas alguém o tirou de cima de mim. Quem? Edward? Sim, mas eu não me lembrava de mais nada depois disso. 

—O que aconteceu? -eu perguntei confusa. A voz que saiu de minha garganta pareceu errada, era muito bonita, clara e suave. Não parecia minha. 

—Do que você se lembra? -Emmett perguntou me observando. 

—James me mordeu. -eu sussurrei levando a mão para o pescoço, não estava doendo mais, também não havia ferimento. -Edward o tirou de cima de mim e a Bella estava chorando. Você me chamou, mas eu não consegui responder e... e então tudo ficou escuro e confuso. Havia algo me queimando.  

Eu senti o desespero chegar em mim novamente, as lembranças pareciam sufocantes. O calor parecia vívido, como se eu tivesse sendo jogada em uma fogueira mais uma vez. Isso durou um segundo, pois logo depois uma onda pesada de calma tomou conta do meu corpo, estava tudo bem outra vez. Por que eu estava tão calma agora? Meu olhar foi para Jasper e ele sorriu gentilmente. Emmett se moveu novamente e eu voltei a fita-lo. 

—Está tudo bem agora. -ele sorriu. -Eu vou te explicar tudo o que aconteceu. Mas você precisa se manter calma, James está morto. Ele não pode mais machucar você e o que você sentiu agora foram só as lembranças, você está segura. 

—Onde está minha irmã? -eu perguntei olhando ao redor. Bella não estava ali. Ela estava segura também? 

—Ela está com Edward e Carlisle, em outro lugar. Mas ela está bem, não precisa se preocupar com ela. Todos estão bem. 

Todos estavam bem? Então Victoria também havia sido morta? Os Cullen estavam seguros? Eu realmente tinha me transformado? Ou ele só estava tentando me acalmar? E Charlie? Quando ele dizia que todos estavam bem, isso incluiria meu pai, certo? O que eu diria a ele agora? O que lhe disseram? O que ele pensava que havia acontecido comigo? E minha mãe? O que eu faria agora? E Bella? Ela também se transformou? Por que ela não estava comigo? 

Enquanto eu refletia por uma pequena fração de segundo sobre qual pergunta fazer primeiro, Emmett estendeu a mão, inseguro, e afagou meu rosto com a ponta dos dedos. Liso como cetim, macio como uma pena, e agora na temperatura exata de minha pele. Seu toque pareceu se estender sob a superfície de minha pele, atravessando os ossos de meu rosto. A sensação era de formigamento, eletrizante, que percorreu meus ossos, descendo pela coluna e vibrou em meu estômago. Eu senti falta disso. Meus olhos se fecharam aproveitando a sensação e ele me abraçou, o cheiro que emanava dele era ainda melhor do que eu me lembrava, seu toque afugentou todas as minhas dúvidas e receios, eu estava com ele novamente, então do que importava as outras coisas? 

As emoções que eu sentia agora eram tão mais fortes do que aquelas à que eu estava acostumada, que era difícil me prender a uma linha de raciocínio, apesar do espaço extra dentro de minha mente. Cada nova sensação me subjugava. 

—Camille? -Alice chamou. Sua voz também estava diferente, muito mais clara agora do que era antes. Eu me afastei de Emmett e a olhei, ela sorriu satisfeita por ter minha atenção. -Como se sente? 

Eu pensei em sua pergunta por um segundo. 

—Confusa. -eu confessei. -Eu sou uma de vocês agora, não é? A dor que eu senti... Eu estava me transformando? 

Ela assentiu abaixando o olhar, parecendo receosa e envergonhada. 

—Sim. -ela confirmou. -Por favor, nos perdoe por não ter perguntado se era isso que você queria, mas não havia outra forma de te salvar. Seus ferimentos eram graves demais, James havia tirado muito sangue de você. 

Eu respirei fundo, mais uma vez sem nenhuma necessidade. Eu havia pensado em como seria ser transformada, o pensamento que isso facilitaria tantas coisas foi muito forte, mas eu não sabia o que estava sentindo sobre isso no momento. 

—Estamos aqui para te ajudar a compreender tudo o que aconteceu, eu imagino que tenha muitas perguntas. -disse Jasper. 

—Vamos responder todas elas. -disse Emmett com as mãos em meus braços. -Mas eu acho que você deveria caçar primeiro. Deve estar com sede. 

Sede? Então a ardência em minha garganta era isso. Era como uma extensão da transformação, ardia tanto que eu sentia como se alguém estivesse enfiando uma barra de metal em brasas em minha garganta. Eu me virei para Emmett e ele sorriu. 

—Eu não sei como... 

—Vou lhe ensinar. -ele me tranquilizou. -Você vai se sair bem. 

 -Mas primeiro, não quer ver como você está? -perguntou Alice parecendo animada. Ela desapareceu e então voltou alguns segundos depois, carregando um enorme espelho com moldura de madeira. Ela andou até mim e estendeu sua mão, como um convite. -Venha. 

Eu aceitei e peguei sua mão me deixando ser guiada até o espelho, mas eu não estava preparada para aquilo. A criatura estranha no espelho era indiscutivelmente bonita, tão bonita quanto Alice ou Esme. Ela era fluida até mesmo imóvel, e seu rosto imaculado era pálido como a lua, em contraste com a moldura do cabelo escuro e pesado. Seus braços e suas pernas eram lisos e fortes, a pele cintilava um pouco, luminosa como uma pérola. 

Eu não conseguia encontrar meu rosto naquelas feições perfeitas. E os olhos! Meus olhos não eram mais o azul que eu conhecia, eram vermelhos, tão vermelhos quanto o de James e isso me provocou um arrepio de pavor e raiva. Durante todo o tempo em que eu analisava e reagia, seu rosto estava perfeitamente composto, o entalhe de uma deusa, sem nada mostrar do turbilhão que tinha lugar dentro mim. E, então, os lábios cheios se moveram. 

—Meus olhos... 

—É normal, acontece com todos os recém-criados. Vão mudar dentro de um curto período de tempo. -explicou Alice antes que eu terminasse minha pergunta. -O sangue animal dilui a cor mais rapidamente do que uma dieta de sangue humano. Primeiro ficarão âmbar, depois dourados. 

Eu assenti um pouco assustada. Então aquela era minha aparência agora. Eu observei com mais atenção o meu reflexo, se eu olhasse com minha atenção eu podia ver que meus lábios pareciam levemente mais cheios que antes. As curvas do meu corpo pareciam mais evidentes e se destacavam no vestido preto e justo e curto que eu usava, o casaco cinza e longo dava um contrate bonito com as longas botas de salto. Aquela com toda certeza tinha sido uma escolha de Alice. Minha garganta voltou a arder novamente, queimando e fazendo-me levantar a mão até o pescoço, meu reflexo me imitou e eu pude reparar o vermelho dos meus olhos ficarem mais escuros, até chegarem em um preto tão profundo que eu poderia me perder neles. 

—Acho que deveríamos ir. -disse Emmett colocando sua mão em minha cintura. Eu abaixei o olhar para longe do reflexo e assenti. A sede parecia torturante. 

—Fiquem mais ao sul, vão encontrar mais presas lá. Quando voltarem podemos conversar e explicar tudo o que aconteceu e o que você precisa saber. -disse Alice pendurando o espelho em uma das paredes.  

Emmett assentiu e sua mão deslizou até a minha, me puxando para fora do quarto. Eu o segui em silencio enquanto tentava distrair minha cabeça para longe da sede, observei a casa rapidamente, tinha dois andares, um pouco menor do que a casa deles que eu estava acostumada, mas era igualmente clara. Todas as paredes eram brancas, a escada era de mármore cinza, os sofás no andar de baixo tinham a mesma cor, havia uma enorme televisão de tela plana e uma lareira que estava acesa, era dali que o cheiro de carvalho vinha. Havia alguns jarros com rosas pela casa e alguns pequenos espelhos na parede.  

Assim que saímos da casa eu olhei surpresa para a quantidade de neve, o chão estava completamente branco, as árvores estavam cheias de cristais de gelo que enfeitavam perfeitamente o lugar que parecia ter saído de um conto de fadas, eu olhei para trás observando a casa, me lembrava um chalé, as paredes eram de pedras e havia dois enormes jarros com pequenas árvores em cada lado da enorme porta de aço. 

—O que acha de corrermos? -disse Emmett chamando minha atenção. -Vai ser divertido. É só me seguir. 

Ele sorriu e então desapareceu em direção a floresta, entretanto eu podia vê-lo perfeitamente. Olhei para o chão e então fiz o que ele havia sugerido, sem pensar muito. O vento frio era reconfortante, o cheiro da neve e das plantas era bom, as árvores pareciam passar como várias manchas ao meu lado e eu podia ver cada centímetro da floresta, cada animal minúsculo que tentava se esconder, alguns que eu nunca havia visto antes. Encontrar Emmett não foi difícil, o cheiro de canela e menta que ele havia deixado para trás era forte e familiar, logo eu o alcancei e ele sorriu orgulhoso.  

Eu parei de correr e olhei para a clareira ao meu redor, não havia nada além de árvores e neve e eu achei isso lindo. Se eu olhasse para o céu eu podia ver as nuvens pesadas sob nossas cabeças. Eu gostaria de passar o dia observando tudo aquilo, depois da escuridão era um alívio ver o céu novamente. Não pensei que teria essa oportunidade outra vez. No entanto, por mais que a paisagem fosse maravilhosa, a sede ainda me torturava. Eu fechei meus olhos respirando fundo e abri olhando para o norte, eu podia sentir algo quente naquela direção, o cheiro não era muito bom, mas eu conseguia ouvir um barulho incessante, algo liquido correndo. Senti meus lábios se repuxarem enquanto a minha garganta queimava com mais intensidade.  

—Não pense, apenas se alimente. -sussurrou Emmett ao meu lado.  

Eu fiz exatamente o que ele disse, não pensei em nada, apenas corri em direção ao barulho que me atraia, a cada passo parecia ficar mais perto e a cada segundo a sede aumentava. Assim que parei eu observei o enorme lobo de pelo negro na minha frente, seus olhos focalizaram em mim e ele rosnou mostrando suas presas. O barulho parecia um convite e eu sorri ao aceita-lo. Meus braços se fecharam ao redor do lobo e eu o ouvi rosnar novamente enquanto tentava me morder, suas patas bateram inutilmente contra o ar e ele uivou quando meus dentes perfuraram sua jugular. Não foi difícil, pelo contrário, sua carne pareceu tão mole quanto manteiga derretida e o liquido que foi para minha boca era quente e delicioso, minha garganta pareceu se acalmar na medida que o sangue ia escorrendo por ela, entretanto, acabou antes que eu pudesse me sentir satisfeita. O corpo do lobo caiu no chão e eu o olhei, completamente sem vida. Senti algumas gotas escorrerem pelo meu queixo e respirei fundo.  

Eu havia matado um animal. Um lobo. Senti minhas pernas fraquejarem e irem de encontro ao chão, ao lado do corpo do bicho. A presença de Emmett se fez presente e ele parou poucos metros de mim, seu olhar pareceu confuso por um segundo e então ele estava ao meu lado, com os braços ao meu redor, puxando-me para um abraço. Eu não tirei meus olhos do animal morto. 

—Meu amor... 

—Eu o matei. -eu sussurrei. -Emmett, eu matei um animal inocente. 

Fechei meus olhos deixando-o me abraçar e prendi a respiração. Não conseguia acreditar naquilo. Era isso que eu teria que fazer para sobreviver, matar animais para não matar humanos e o gosto do sangue, por mais que tivesse diminuído a sede, não pareceu valer a vida do animal. 

—Me desculpe ter feito isso com você. -ele disse alguns minutos depois. -Eu fui egoísta. Você não faz ideia do quanto a ideia de te perder doeu. Não pensei nas consequências, apenas não queria te perder. E graças ao meu egoísmo você é forçada a fazer isso.  

Eu permaneci em silencio absorvendo suas palavras enquanto me lembrava do estúdio e do desespero em sua voz ao chegar. Eu não podia culpa-lo, teria feito a mesma coisa. Eu me lembrava da dor ao achar que iria perde-lo, me lembrava de chorar e tremer durante a noite com medo de nunca mais o ver novamente. Me lembrava de que enquanto andava em direção à minha possível morte, eu torci para que ele me parasse, para que eu aparecesse e não me deixasse sozinha novamente. O abracei com mais força, se eu pudesse, estaria chorando apenas com as lembranças.

—Por favor, não me deixe ir. -eu sussurrei sentindo um nó em minha garganta, o peso das lembranças era esmagador.

—Por favor, me perdoe. É minha culpa. É tudo minha culpa, eu não deveria ter te deixado... Se eu tivesse ficado ao seu lado você ainda seria humana, não estaria condenada a fazer isso para sobreviver. Se eu tivesse lutado contra os meus sentimentos no começo, você teria tido a oportunidade de ter uma vida humana. Mas eu te amei tanto, desde o primeiro momento, desde a primeira vez que Alice citou seu nome, eu te amei a cada olhar... Eu não consegui me afastar.

Eu me afastei olhando em seus olhos, havia tanta dor. 

—Está tudo bem. -eu sussurrei colocando minha mão em seu rosto. Eu me aproximei e o beijei suavemente, seus lábios pareciam mais macios do que nunca, o beijo parecia se encaixar ainda mais agora. Mas não durou mais do que três segundos. -Eu tive tanto medo de nunca mais te ver novamente. Durante todo o caminho eu pensei em você. Em como eu queria estar ao seu lado, não interessava em qual forma, humana ou vampira, o que me importa é ficar com você. Se para isso eu preciso passar por algo assim, eu não me importo. Eu jamais trocaria uma vida imortal ao seu lado por uma vida humana sem você. 

—Mesmo se tiver que matar animais inocentes? -ele perguntou com um pequeno e fraco sorriso, a dor ainda estava nítida em seus olhos.

—Mesmo se eu tiver que extinguir os lobos da Terra. -eu concordei o abraçando. –Eu te amo. 

Ele devolveu o abraço e respirou fundo, não sei quanto tempo ficamos assim, mas já estava escuro quando me afastei dele, a sede havia voltado a incomodar. Ele pareceu entender e se levantou puxando-me com ele. 

—Por mais que seja difícil, é melhor voltarmos a caçar, não é bom para você ficar com sede e nem é seguro. -ele disse abaixando o olhar. -Quando eu cacei pela primeira vez, eu odiei a sensação de ter que fazer isso, odiei o gosto do sangue animal e o que eu senti sobre mim ao acabar. É complicado de dizer para você não ligar para isso, mas você precisa. Deixe esse lado humano para trás e se concentre na sede, isso vai ajudar a você esquecer o que está fazendo. Não pense, só siga seu instinto. E eu vou estar ao seu lado. 

Eu assenti e assim voltei a caçar, não pensei no que estava fazendo ou sequer olhei o que estava matando, Emmett nunca ficava longe, eu sempre conseguia sentir sua presença por perto. Eu demorei a me saciar, no final eu tinha matado cinco alces, um lobo e sete cervos. Minha garganta não ardia mais e eu me sentia mais forte e um pouco mais calma. Limpei minha boca com a manga do casaco e olhei orgulhosa para mim ao perceber que não havia sequer sujado minha roupa. Emmett apareceu na minha frente, com uma pequena gosta de sangue no queixo, que ele limpou antes de sorrir. 

—Você foi incrivelmente bem para uma recém-criada. -ele disse um tanto surpreso. -Nem mesmo uma linha da roupa está fora do lugar. A maioria faz muita bagunça na primeira caçada. 

Eu sorri e ele pegou minha mão puxando-me para si antes de me beijar novamente. Ele não foi tão hesitante nos movimentos, seus braços se fecharam em minha cintura e me puxaram com força para seu corpo. Seus lábios esmagaram os meus, mas pareciam macios. Era como se o toque de sua pele, seus lábios, suas mãos, estivesse penetrando minha pele lisa e dura, até chegar aos ossos, me aquecendo cada vez mais. Até a essência do meu corpo. Eu não imaginara que podia amá-lo mais do que antes, mas eu amava. Eu correspondi ao seu vigor, e então, de repente, estávamos no chão. Eu o olhei e ele riu alto, sua voz ecoando pela floresta. 

—Ops. -eu disse rindo em cima dele. 

Eu me sentei e suas mãos saíram de minha cintura e foram para minhas pernas, subindo e descendo, um sorriso apareceu em seu rosto quando ele voltou a olhar para meu rosto.  

—É. Ops. -ele repetiu com a voz rouca. 

Um barulho agudo e irritante nos interrompeu e ele reclamou baixo antes de tirar o celular do bolso e colocar no ouvido, ainda sem tirar os olhos de mim. Eu me concentrei em observar seus lábios, tão convidativos, mas a voz de Alice do outro lado da linha era clara demais para ignorar. 

—Desculpe interromper, mas Carlisle está aqui. -ela disse rindo baixo, então sua voz ficou séria logo em seguida. -E a Bella quer ver a Camille, agora.


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