Quando abri meus olhos novamente o quarto ainda estava escuro, a única iluminação vinha de um abajur do outro lado do cômodo. A cama de Bella estava vazia, eu podia ouvir sua voz do outro lado da porta, vindo da sala. Me sentei na cama e respirei fundo algumas vezes para tentar me acalmar novamente, o pesadelo ainda estava vívido em minha cabeça, eu ainda podia ouvir os rosnados e ver os olhos vermelhos de James. Afugentei essas lembranças e me levantei indo até a sala. Alice estava sentada em frente à mesa seus olhos estavam fora de foco. Jasper estava atrás dela, segurando seus ombros e a observando. Bella estava encostada na parede oposta, seu olhar era confuso.

—O que aconteceu? -eu perguntei confusa.

—Alguma coisa mudou. -Bella explicou. -Aparentemente o rastreador mudou o caminho dele.

—Alice, o que você viu? -eu pergunte me inclinando para entender sua voz rápida e baixa.

—Eu vi um quarto. -Ela respondeu ainda com os olhos fora de foco. -É longo, e tem espelhos me todo lugar. O chão é de madeira. Ele está nesse quarto, e ele está esperando. Há dourado... Uma faixa dourada por entre os espelhos.

—Onde é o quarto? -Jasper perguntou

—Eu não sei. Está faltando alguma coisa, outra decisão que ainda não foi tomada.

—Quanto tempo? -eu perguntei assustada

—Em breve. Ele estará na sala dos espelhos hoje, ou talvez amanhã. Isso depende. Ele está esperando por alguma coisa. E está no escuro agora.

A voz de Jasper estava calma e metódica enquanto ele a interrogava cheio de prática.

—O que ele está fazendo?

—Ele está assistindo tv... Não, ele está passando uma fita de vídeo, no escuro, em outro lugar.

—Você consegue ver onde é?

—Não, é escuro demais. -Ela respondeu frustrada.

—E o quarto dos espelhos, o que mais há lá? -ele perguntou

—Só os espelhos, e o dourado. E uma faixa, ao redor da sala. E há uma mesa preta com um grande som e uma TV. Ele está tocando um videocassete lá, mas ele não está assistindo como faz na sala escura. Nessa sala, ele só espera. -Os olhos dela vaguearam, e então se focaram no rosto de Jasper.

—Não há mais nada?

—Não.

—O que isso significa? -Bella perguntou.

Nenhum deles respondeu por um momento, e então Jasper a olhou.

—Significa que os planos do perseguidor mudaram. Ele tomou uma decisão que vai guiá-lo ao quarto dos espelhos, e ao quarto escuro.

—Mas nós não sabemos onde esse quarto é? -eu perguntei

—Não. -respondeu Alice com a voz vazia. -Mas sabemos que ele não estará nas montanhas á Norte de Washington, sendo caçado. Ele vai enganá-los.

A voz deles se distanciaram para mim naquele momento. Aquilo era importante. Era algo assustador, as lembranças de meus pesadelos voltaram e eu andei em silencio de volta para o quarto. Sentei-me na cama e respirei fundo algumas vezes. James iria conseguir engana-los, isso só podia significar que ele havia descoberto que não estávamos lá. Significava que Bella e eu estávamos em perigo novamente. Ele poderia estar indo para qualquer lugar no mundo. Ele poderia estar vindo para Phoenix.

Ignorei o arrepio em minha espinha e forcei um sorriso quando Bella abriu a porta do quarto. Minha irmã sorriu e me entregou um celular saindo em seguida e fechando a porta atrás de si, olhei para o número desconhecido na tela e coloquei no ouvido.

—Alô?

—Camille. -disse a voz aliviada de Emmett. Eu me levantei imediatamente acordando e sorri ao ouvir sua risada baixa. -Pude ouvir você se levantando daqui.

—Emmett! Eu estou com tanta saudade! Você está bem, não é? Não se machucou nem nada? Quando vou ver você? Como meu pai está? Como os outros estão? E o James?

—Camille, se acalme meu amor. -Ele riu novamente. -Eu também estou com saudades, vamos nos ver logo, estou indo te buscar. Os planos do James mudaram, não sabemos para onde ele foi, o perdemos nessa tarde. Edward acha que ele descobriu que o enganamos.

—E o que fazemos agora? -eu perguntei com medo.

—Agora eu vou buscar você e te levar para algum lugar longe, não vou sair de perto de você de novo. -Ele disse sério. -Charlie está bem, Esme ficará na cidade para protege-lo. Os outros estão bem, todos nós estamos bem. Desculpe não ter conseguido terminar isso tudo rápido como prometi.

—Não se preocupe, você fez o melhor que podia. -eu sorri fraco olhando a janela do quarto, o vento parecia forte lá fora. -Agora, por favor, venha logo.

—Vou pegar o primeiro avião que tiver. Logo estarei com você de novo. Camille, eu te amo.

—Eu também te amo.

Assim que o telefone ficou mudo novamente eu encarei o céu lá fora, a nuvem de depressão ameaçou cair sobre mim e eu balancei minha cabeça respirando fundo e afugentando as lágrimas. Ele vai chegar logo. Eu repeti isso na minha cabeça cinco vezes antes de conseguir me mover para a sala novamente. Me virei pra entregar o celular pra Alice, e encontrei Jasper inclinado sobre a mesa, onde Alice estava fazendo desenhos num papel com o emblema do hotel. Inclinei no sofá, olhando por cima dos ombros dela.

Ela desenhou uma sala: longa, retangular, com uma sessão quadrada, mais fina lá no final. As placas de madeira estavam expostas na longitudinal em todo o chão da sala. Nas paredes, as linhas denotavam o espaço de um espelho para o outro. E então, atravessando os espelhos, acima da altura cintura, uma longa faixa. A faixa que Alice dizia ser dourada.

—É um estúdio de Ballet. -eu disse, repentinamente reconhecendo as formas familiares.

Eles olharam pra mim, surpresos. Bella se aproximou de mim olhando para os desenhos na mesa, por sua feição eu podia adivinhar que ela também tinha reconhecido o lugar.

—Você conhece essa sala? - A voz de Jasper parecia calma, mas havia algo por baixo dela que eu não podia identificar.

—Sim, Bella e eu fizemos aulas lá quando éramos crianças. Eu adorava ir lá, continuei até os quatorze anos. Bella costumava se esconder aqui para não ter que dançar. -eu disse apontando para o enorme armário de madeira. -Do outro lado da sala tem uma porta com uma maçaneta preta, é onde minha mãe dava aula de piano.

—Esse estúdio fica aqui em Phoenix? -perguntou Alice.

—Sim. -respondeu Bella. -No final da rua da nossa casa, Rua Cinquenta e Oito. É um enorme prédio de tijolos amarelados.

—Vocês teriam algum motivo para ir lá hoje em dia? -perguntou Jasper alternando o olhar entre minha irmã e eu.

—Não, não vamos lá faz alguns anos. -Eu dei de ombros. -Paramos de frequentar quando Bella cansou das aulas e eu quis fazer aulas de luta.

Nós todos sentamos em silêncio, olhando para o desenho. Não sei quanto tempo passou, mas a cada segundo o ar parecia mais pesado.

—Alice, o telefone é seguro? -Bella perguntou baixo

—Sim. -Ela assegurou. -O número vai ser localizado em Washington.

—Então eu posso usá-lo para ligar para a minha mãe.

—Eu pensei que ela estivesse na Flórida. -ela disse confusa.

—Ela está, mas vai voltar pra casa em breve, e não pode voltar pra casa enquanto...

Eu senti outro arrepio ao imaginar que minha mãe poderia ficar em perigo.

—Jasper? -Alice o olhou.

—Não acho que vá fazer mal algum. -ele disse dando de ombros. -Apenas não diga onde está.

—Tudo bem. -Bella sorriu pegando o celular. Minha irmã discou o número e então olhou para mim. -Quer falar algo?

Neguei com a cabeça, não estava bem para conseguir disfarçar o medo na voz. Bella assentiu e então esperou que caísse na secretária. Fiquei ao seu lado esperando.

—Mãe? -ela falou depois do bipe -sou eu, Bella. Escute, eu preciso que você faça uma coisa. É importante. Assim que você escutar essa mensagem, me ligue neste número. -Alice já estava ao seu lado, escrevendo o número pra ela em cima do desenho dela. Eu o li cuidadosamente, duas vezes. -Por favor, não vá a lugar nenhum antes que eu tenha falado com você. Não se preocupe, Camille e eu estamos bem, mas precisamos falar com você imediatamente, não importa a hora que você receber esta ligação, está bem? Te amamos, tchau.

Eu não consegui dormir novamente naquela noite, as horas pareceram passar muito rápido. Jasper e Alice conversaram baixo algumas vezes, mas na maioria eles ficavam em silencio. Alice parecia forçar mais visões e Bella adormeceu no sofá. Quando amanheceu Jasper trouxe comida para mim, uma vasilha cheia de frutas e uma caneca de café. Eu comi tudo muito devagar, mastigando tudo com calma, me concentrando em cada fruta. Minha cabeça parecia estar funcionando lentamente, talvez fosse o medo. Jasper continuou me acalmando com seu dom, mas naquele momento parecia mais uma anestesia do que um sentimento de paz. Quando Bella acordou novamente Alice estava tendo outra visão.

Quando me aproximei da mesa e olhei o desenho minha voz sumiu. O medo passou por meu corpo fazendo-me tremer. Bella arfou chamando a atenção de Jasper.

—Vocês conhecem esse lugar? -ele perguntou alarmado.

—É a casa da minha mãe. -minha irmã respondeu. -Aqui fica o telefone e uma foto de minha irmã e eu no nosso primeiro dia no ensino médio. -ela indicou.

Alice já estava fora do sofá, com o telefone na mão, discando.

Eu olhei para a precisa descrição da sala familiar da minha mãe. Como não era do seu costume, Jasper escorregou pra perto de mim e de minha irmã. Ele colocou levemente sua mão nos nossos ombros, e o seu contato físico pareceu fazer sua influência calmante ser ainda mais forte. O pânico ficou nublado, desfocado.

Os lábios de Alice estavam tremendo com a rapidez de suas palavras, o ruído baixo era impossível de decifrar. Eu não conseguia me concentrar.

—Bella, Camille. -Alice disse, eu olhei pra ela entorpecida. -Edward e Emmett estão vindo buscar vocês. Eles e Carlisle vão leva-las para algum lugar, pra esconderem vocês por algum tempo. Jasper e eu vamos ficar aqui e proteger sua mãe e procurar por ele.

—Emmett está vindo. -Eu sussurrei para mim mesma tentando me acalmar.

—Ele vai chegar essa noite. -Confirmou Alice.

—Mas, minha mãe... Ele veio aqui pra pegar minha mãe, Alice! -Bella disse desesperada.

Mesmo com Jasper, a histeria estava borbulhando nas palavras de minha irmã.

—Jasper e eu ficaremos até que ela esteja a salvo.

—Eu não vou conseguir Alice! Vocês não podem cuidar de todas as pessoas que eu conheço pra sempre. Ele vai achar alguém, ele vai machucar alguém que eu amo... Alice, eu não consigo.

—Nós vamos pegá-lo, Bella. -Ela assegurou.

—E se você se machucar? Você acha que vai ficar tudo bem pra mim? Você acha que ele só pode me machucar com a minha família humana?

Alice deu um olhar cheio de significado pra Jasper e então os olhos de Bella se fecharam, ela balançou a cabeça parecendo forçar seus olhos a se abrirem e se levantou, se distanciando das mãos de Jasper.

—Eu não quero voltar a dormir. -Ela falou correndo para o quarto.

Eu me mantive parada no lugar, olhando para o desenho da sala de minha mãe, Alice foi atrás de minha irmã e Jasper se sentou ao meu lado.

—Camille...

—Bella está certa. -Eu sussurrei o olhando. -Não é apenas com nossa família humana que estamos preocupadas. Jasper, eu não quero perder ninguém. Não quero perder vocês e nem a minha família. Eu não quero que a Bella esteja em perigo, eu não conseguiria sobreviver se algo acontecesse com minha irmã.

Ele pegou minha mão e a calma foi reaparecendo aos poucos.

—Nada vai acontecer com a Bella, nem com sua família humana e nem com a nossa família. Vamos assegurar que vocês duas estejam seguras e então vamos fazer de tudo para acabar com isso logo. Vamos pedir ajuda a alguns amigos e então vamos achar James e o matar. Vai ficar tudo bem.

Eu assenti respirando fundo. Deixei que Jasper me acalmasse e fiquei quieta por cerca de duas horas e meia, Alice não obteve sucesso com Bella e voltou deitando sua cabeça em meu ombro. Ela parecia muito confortável perto de minha irmã e eu. Assim como Jasper parecia confortável perto de mim. Eu a abracei e sorri antes de ir atrás de minha irmã. Bella estava deitada, sentei-me ao seu lado e coloquei sua cabeça em meu colo enquanto acariciava seu cabelo. Depois de alguns minutos Alice bateu na porta, ela esticou o telefone em direção à Bella.

—É a sua mãe. -Ela disse sorrindo.

Minha irmã pegou o telefone com pressa e Alice nos deixou a sós fechando a porta atrás de si.

—Mãe, fique calma. -Ela disse usando sua voz mais tranquilizadora. -Está tudo bem, tá legal? Só me dê um minuto e eu vou explicar tudo, eu prometo. -Ela pausou, parecendo surpresa por algo. -Mãe?

Minha mãe provavelmente disse algo que a deixou congelada, eu conseguia imaginar várias broncas que ela poderia estar proferindo agora. Mas Bella pareceu mais pálida que o normal. Seus olhos pareciam fora de orbita, assustados, desesperados.

—Não, mãe, fique onde você está. -Sua voz mal passava de um sussurro. Olhei confusa para minha irmã e peguei um pequeno bloco de papel e uma caneta colocando na sua frente.

Ela olhou para o papel por alguns segundos e escreveu devagar enquanto falava ao telefone. Assim que ela terminou eu tive que segurar o grito que ameaçou sair de minha garganta.

Fique quieta, Alice pode te ouvir. É o James, ele pegou a mamãe.

Observei aquelas palavras pelo o que pareceu uma eternidade. A voz de Bella pareceu sumir para mim. Eu me sentei na cama com medo de que poderia cair se ficasse muito tempo em pé. O rosto de minha mãe apareceu na minha mente, sendo constantemente substituído pelos olhos carmins de James. O que faríamos? Ele estava ali. Ele tinha minha mãe e Emmett só estaria aqui dentro de quatro horas.

—Eu te amo, mãe. -disse Bella com a voz rouca. -A gente se vê logo.

Assim que ela desligou o telefone eu levantei o olhar para ela, minha irmã parecia congelada no lugar. Ela pegou o caderno de minhas mãos e começou a escrever sem parar, assim que ela me entregou eu li cada palavra sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

Ele está com a mamãe, disse que se avisarmos alguém ele a matará, a única forma de ele deixar que ela viva é se nós formos até ele no estúdio de ballet. Ele disse que se alguém for conosco ele poderá sentir então matará a mamãe. Ele nos deu até às nove horas para estarmos lá.

Eu levantei o olhar para a parede em silencio e respirei fundo. Nada se passava em minha cabeça. Então era assim que iriamos morrer? Não parecia haver outra saída. O desespero tomou conta de mim, não tinha jeito. Como poderíamos engana-lo? Eu nem teria a chance de ver Emmett novamente. Não poderia correr até ele e o abraçar novamente. Não ouviria sua risada novamente e nem o veria revirar os olhos quando eu dissesse algo que ele não concordava. Na minha cabeça se passavam mil coisas que eu perderia. Não veria meus pais novamente, não poderia mais deitar ao lado de Bella e assistir filmes até de madrugada, não iria mais poder irritar Edward ou rir da animação de Alice. Não teria mais conversas com Jasper ou não riria da maneira que Esme dava bronca em Emmett quando ele fazia algo errado. E acima de tudo, minha irmã também estaria morta. Ela nunca teria a chance de se casar com Edward, de se transformar, como eu sabia que ela queria, e ser feliz para sempre ao lado dele. Ela perderia tantas coisas quanto eu.

Minha irmã se levantou e saiu do quarto por algum tempo e enquanto ela estava fora eu me foquei nas lembranças de nossa infância.

—Camille eu não quero tirar foto com o Mickey! -disse Bella revirando os olhos enquanto eu a arrastava por toda Disney procurando pelo homem fantasiado com meu personagem favorito.

—Qual é Bella! Vai ser ótimo! O Mickey é legal!

—Eu tenho medo dele. -ela admitiu bufando.

Eu ri e abracei minha irmã.

—Eu jamais o deixaria machucar você. -Eu disse revirando os olhos. -Aliás, eu juro que jamais deixarei ninguém te machucar. Vou te proteger para sempre.

Não sei quanto tempo eu fiquei me lembrando de nossos momentos favoritos, mas quando ela voltou e se deitou em meu colo novamente eu consegui pensar em uma coisa, eu não podia deixar ela morrer, ao menos uma de nós merecia um final feliz e eu não podia deixa-lo machuca-la.