Eu respirei fundo algumas vezes antes de sorrir para o travesseiro, eu conseguia sentir o sol batendo nas minhas costas, mas o que me fez acordar feliz foi a sensação dos dedos gelados de Emmett acariciando minhas costas, tão leves que quase se assemelhavam ao toque de uma pluma. Permaneci com os olhos fechados, apenas apreciando a sensação de tranquilidade que aquilo me trazia, eu realmente poderia me acostumar a acordar daquele jeito.

—Vai continuar fingindo que está dormindo até quando? -ele perguntou baixo fazendo-me rir.

—Só mais um pouco. -eu respondi baixo. -Está tão bom assim.

—Sabia que já passou do meio dia?

Eu abri meus olhos surpresa e me sentei olhando em volta, o relógio marcava 12:45. Faziam muitos anos desde que eu dormi até essa hora sem perceber. Amarrei meu cabelo em um coque e respirei fundo. Emmett estava sentado ao meu lado na cama, com uma blusa de mangas curtas preta e uma calça jeans, os tênis pretos estavam para fora da cama e eu podia ver sua jaqueta em cima da minha cadeira do outro lado do quarto, era uma bela visão e eu com toda certeza estava amando acordar ao lado dele. Mas estranhamente a casa parecia muito silenciosa.

—Onde está todo mundo? -eu perguntei confusa.

—Bella saiu cedo com o Edward, eles vão passar o dia juntos e seu pai saiu ainda mais cedo que eles, antes disso ele desconectou os cabos da bateria da caminhonete, achei interessante, isso impediria vocês de saírem se quisessem?

—A Bella talvez, mas eu sei arrumar uma caminhonete. -eu dei de ombros. Levantei-me respirando fundo e peguei minha toalha e algumas roupas para me trocar.  -Vou tomar banho e volto logo. Sinta-se à vontade, mas se o meu pai chegar, se esconda. -eu disse enquanto ia ao banheiro.

Tranquei a porta colocando minhas roupas na pia e escovei os dentes. O lado bom de ser fim de semana é que eu não precisava fazer nada com pressa. Pelo o que eu me lembrava, Charlie passaria o dia pescando e só voltaria amanhã de tarde, então não havia motivos para que eu corresse com tudo hoje. Tomei um longo banho lavando o cabelo e então me vesti enquanto tentava secar o cabelo com a toalha. Estava fazendo um pouco de sol lá fora, mas não parecia que iria continuar assim, pois pela janela eu já podia ver algumas nuvens acinzentadas e pesadas se aglomerando no céu. Pendurei a toalha e joguei a roupa suja no cesto.

Coloquei as calças jeans pretas e uma blusa leve de mangas compridas cinza com listras finas e brancas. Calcei minhas botas preferidas e fiz uma maquiagem leve e rápida antes de abrir a porta do banheiro enquanto pegava o secador e usava-o para arrumar meu cabelo. Pelo canto do olho pude ver Emmett se encostar na soleira da porta e me observar enquanto eu me arrumava.

—Então é por isso que você se atrasava no começo das aulas? -ele perguntou. -Porque passava bastante tempo se arrumando?

—Eu não me atrasava.

—Atrasava sim. Só parou de atrasar quando eu passei a te buscar. Fico até surpreso por você estar sempre pronta quando chego. -ele riu -O que você faz? Acorda mais cedo pra se arrumar?

—Cala a boca Emmett. -eu ri guardando o secador assim que estava pronta. Revirei os olhos quando percebi que ele ainda esperava uma resposta. -Sim, eu acordo mais cedo pra me arrumar quando você vem me buscar.

—Eu sabia! -ele riu alto  me seguindo pela casa.

Desci as escadas indo direto para a cozinha enquanto o ignorava e peguei dois pedaços de pães e os coloquei na torradeira antes de ir até a cafeteira fazer meu café. Emmett me seguiu e se sentou em uma das cadeiras enquanto ainda ria baixo. Encostei-me no balcão e bufei antes de revirar os olhos.

—Até agora não entendi a graça. -eu disse cruzando os braços.

Ele apareceu na minha frente e colocou suas mãos na minha cintura.

—A graça é você achar que precisa de tudo isso para ficar bonita. -ele respondeu baixo no meu ouvido. -Você fica linda de qualquer jeito. Dormindo, maquiada, quando acorda, quando sorri e principalmente quando está brava comigo.

Eu sorri e ele se afastou assim que o café ficou pronto. Peguei minha caneca e minhas torradas e nos sentamos novamente. Ele olhou para a comida com uma careta engraçada no rosto.

—Isso é bom mesmo? -ele perguntou enquanto eu tomava um gole do café.

—Eu gosto. -eu dei de ombros. -Sangue é bom mesmo?

—Eu gosto. -ele deu de ombros.

—Como é? -eu perguntei depois de alguns minutos. -Como é só se alimentar de sangue?

Ele abaixou o olhar parecendo pensar por alguns minutos.

—Bem, eu não me lembro mais como era gostar de comida humana, então não posso comparar direito. Mas o sangue é bom de uma maneira diferente. O sangue animal da para sustentar a gente, mas não tem um gosto tão apetitoso, já o sangue humano é doce e inebriante, além de nos deixar mais fortes. É por isso que um recém criado é tão forte, eles ainda tem sangue dentro do corpo.

—Você sente falta do sangue humano? -eu perguntei o observando. Ele não respondeu e nem olhou diretamente para mim, então achei melhor mudar de assunto. -O que faremos hoje?

—Pensei em levar você para ver a Esme de novo, ela gostou muito de você.

Eu sorri satisfeita.

—Eu também gostei muito dela. Adorei a ideia. Vou escovar os dentes e podemos ir.

Subi as até o banheiro e escovei os dentes com calma, assim que terminei fui até meu quarto e peguei meu celular e minha bolsa, coloquei meu cachecol ao redor do pescoço e olhei para a tela do aparelho antes de respirar fundo para atender minha mãe.

—Oi mãe.

—Camille! Charlie me contou que você tem um namorado. Como não fiquei sabendo disso por você?

Parei na metade da escada um pouco surpresa. Como eu me esqueci de contar para ela e como Charlie me dedurou assim sem eu nem perceber?

—Bom, eu ia te contar essa noite... Tá, a verdade é que eu esqueci de contar.

Assim que cheguei na porta de casa eu peguei as chaves. Emmett já estava me esperando do lado de fora da casa.

—Como você esquece de falar algo assim?

—Bom, eu estava meio distraída?

—Falando em distração, espero que esteja usando camisinha. Sou muito nova para ser avó!

Senti meu rosto ficar vermelho e fechei os olhos enquanto Emmett ria baixo à caminho do Jeep.

—Mãe eu realmente não quero falar sobre isso. Mas não se preocupe.

—Mas precisa falar! Não quero ser aquela mãe que não conversa sobre sexo com as filhas.

Mais uma risada do Emmett eu iria me jogar do carro em movimento. A porta do jeep se fechou assim que eu entrei e eu fechei os olhos.

—Estou no carro com o Emmett agora, posso te ligar depois?

—Posso falar com ele? —ela perguntou animada

—Ele está dirigindo.

—Então coloque no viva voz. Anda logo Camille. Quero conhecer o garoto!

Coloquei o celular no mudo por um instante e o olhei.

—Por favor, releve tudo o que ouvir e se comporte. -eu disse corando.

—Prometo que serei um amor de vampiro.

Revirei os olhos rindo baixo e transferi a ligação para uma chamada em vídeo. Logo o rosto de minha mãe sorriu para mim e eu sorri de volta. Ela estava bonita, o cabelo castanho claro estava um pouco ondulado e acima dos ombros, os olhos azuis como os meus pareciam alegres.

—Você está usando o cachecol que te dei. -ela disse feliz

—Sim. -eu sorri de volta. -Mãe, este é o Emmett, Emmett essa é minha mãe, Renée. -eu os apresentei virando o celular para ele.

Emmett a olhou e sorriu estacionando o jeep no encostamento da estrada.

—Olá senhora Dywer é um prazer conhece-la, posso ver perfeitamente de quem Camille puxou a beleza. -ele disse sorrindo. Pude ver minha mãe corar do outro lado da tela e sorrir em seguida.

—Muito obrigada Emmett, é um prazer te conhecer também. Espero te conhecer pessoalmente logo. E espero que esteja cuidando bem da minha menina.

—Mãe! -eu a repreendi corando.

Minha mãe e Emmett riram.

—Ela é um pouco tímida, as vezes.

—Tudo bem, por hoje chega né? Estamos indo até a casa do Emmett ver a mãe dele. Eu posso te escrever de noite?

—Claro querida, divirta-se. Foi um prazer te conhecer Emmett!

—Digo o mesmo Renée. -ele respondeu sorrindo.

—Tchau mãe, te amo. -eu disse sorrindo para ela.

Ela sorriu e segurou o choro por um instante.

—Eu também te amo minha filha.

Assim que ela desligou a tela ficou preta e eu respirei fundo ainda olhando para meu reflexo. Senti um aperto no coração ao perceber o quanto eu sentia falta dela. As lágrimas se acumularam nos meus olhos e eu as afastei com pressa, não queria chorar agora. Senti a mão de Emmett na minha perna e deitei minha cabeça em seu ombro, ele deitou sua cabeça sob a minha e ficou em silencio até que eu me acalmasse. Assim que eu me afastei um pouco dele eu já estava bem melhor.

—Está bem? -ele perguntou me analisando.

—Sim, apenas sinto falta dela. -eu respondi sorrindo fraco. -Mas é melhor irmos, sua mãe deve estar esperando.

Ele assentiu e voltou a dirigir, desta vez segurando minha mão. O caminho até a casa dele foi silencioso, passei todo o caminho o observando. A maneira como ele sorria quando percebia que eu estava o olhando e o jeito que ele cantava baixo quando tocava alguma musica que ele gostava. Percebi que o que estava tocando era Jason Walker, meu cantou favorito e sorri. Assim que chegamos ele estacionou em frente sua casa e desceu abrindo a porta para me ajudar a descer.

Nos andamos de mãos dadas até a porta e ele sorriu dando um rápido beijo em mim. A porta foi aberta e Esme sorriu abrindo seus braços para me receber com um abraço que eu retribui feliz.

—Camille, como é bom te ver querida. Como você está? -ela perguntou enquanto entravamos.

—É muito bom vê-la também. Estou bem e você?

—Estou ótima. Espero que Emmett tenha se comportado no caminho.

—Dessa vez sim. -eu ri enquanto ele fazia uma falsa cara de indignado.

Esme riu junto e logo eu pude ver um vulto branco e preto parar na minha frente. Alice sorriu e me abraçou, ela estava usando um vestido preto que combinava perfeitamente com as sapatilhas e o batom claro.

—Oi Camille! -ela disse animada

—Olá Alice.

—Eu estava te esperando! Planejei uma tarde muito divertida para a gente! Vamos assistir filmes e eu vou fazer suas unhas e a Esme fez cookies para você! -ela disse me arrastando até a sala

Eu ri enquanto a seguia.

—Alice você não pode roubar minha namorada assim! -disse Emmett atrás de nós

—Posso sim, você fica com ela o tempo todo! Essa tarde ela pertence a mim e a Esme! Mas você é bem vindo para se juntar à nós, se quiser. Se não, pode ir encontrar o Jasper na floresta com o Carlisle, eles foram caçar.

Eu me sentei no sofá enquanto Alice se sentou no enorme e felpudo tapete que tinha no chão e ri enquanto ela e discutia com Emmett. Esme riu enquanto se sentava na poltrona mais próxima para assistir alguns dos filmes que Alice havia selecionado.

A tarde passou tranquila, depois do primeiro filme Alice pintou minhas unhas de vermelho escuro e, enquanto estávamos assistindo algum filme antigo que eu não prestei muita atenção, Emmett ficou deitado no meu colo com os olhos fechados enquanto eu mexia em seu cabelo, até parecia que ele estava dormindo. Esme parecia entretida com o filme.

Eu sorri, precisava fazer aquilo com Bella um dia, fazia algum tempo desde que não passávamos o dia juntas assim.

—Emmett? O tempo estará perfeito para jogarmos amanhã. -disse Alice assim que terminou de fazer a minha unha do pé.

Emmett pareceu animado, ele virou o rosto para sua irmã, finalmente parecendo interessado em algo.

—Mesmo? Isso é ótimo! -ele disse animado. Depois ele se virou para mim com um enorme sorriso. -Você poderia ir conosco, vai ser divertido.

—Claro. O que vão jogar?

—Beisebol. -ele respondeu com os olhos brilhando. -Você vai ver que sou ótimo nisso.

—Pode ficar de juíza comigo. -disse Esme sorrindo. -Você também vai ver que é bastante complicado manter eles honestos quando jogam.

—Minha mãe acha que nós trapaceamos no jogo. -ele disse revirando os olhos

—Eu não acho, eu tenho certeza. -ela disse rindo.

Nós ficamos ali por mais uma hora, até que Emmett disse que me levaria de volta para casa. Eu me despedi de Alice e Esme e o segui até o jeep. Fiquei surpresa como havia sido fácil e bom passar o dia com a família dele, eu nunca havia pensado que iria gostar de um programa tão tranquilo e familiar. Sempre gostei mais de festas e de sair com meus amigos porque nunca me senti confortável o suficiente para querer algo a mais, mas aqui, com Emmett, eu finalmente podia me imaginar com uma família completa.

Ele dirigiu em silencio pela estrada, dessa vez um pouco mais devagar e segurando minha mão. Eu o observei durante todo o caminho, havia tanto que eu ainda não sabia sobre ele e sobre sua família e ainda sim eu já os considerava parte da minha própria família.

—Emmett? -eu o chamei, assim que ele estacionou em frente minha casa.

—Sim? -ele me olhou sorrindo

—Eu te amo.

Ele me olhou por alguns segundos e colocou a mão em meu rosto e me beijou com calma, senti sua mão em minha cintura e sorri quando ele se afastou alguns centímetros para me olhar.

—Eu também te amo. Você é tudo para mim. -ele disse baixo. -Não sei o que seria de mim sem você.

—Espero que você não tenha que descobrir.

—Se dependesse só de mim, nunca teria nem que imaginar. -ele falou.

Abaixei a cabeça olhando para minhas próprias mãos. Eu sabia o que aquilo significava, se eu fosse uma vampira, ele jamais teria que correr o risco de imaginar ou descobrir como seria viver sem mim. Ficaríamos juntos para sempre, eu jamais envelheceria e sempre estaria ao lado dele, sem restrições, sem medos ou perigos. E apesar disso ser maravilhoso, eu também sabia que eu perderia tanta coisa com essa escolha, tanta coisa que eu nem sequer sabia se queria ter ou não, mas que se optasse por esse caminho, jamais poderia tentar descobrir.

—Como é ser um de vocês? -eu perguntei baixo

Senti seus olhos em mim por alguns instantes, mas não consegui olhar de volta.

—No começo é difícil, o primeiro ano é o mais complicado. Você fica instável porque todas suas emoções são ampliadas, você sente tudo mais intensamente e isso inclui a sede. A maioria não consegue pensar em outra coisa que não seja sangue. Você começa a aprender a lidar com tudo e pode se distrair muito facilmente. Os recém criados são muito fortes, eles ainda tem sangue dentro do corpo e juntando com a quantidade que eles normalmente consomem e com as emoções bagunçadas, isso os deixam muito perigosos. -ele explicou devagar. -Mas é claro que é bem mais fácil quando se tem um clã, eles ajudam a passar por tudo e a entender o que está acontecendo com mais rapidez.

—Foi fácil pra você?

—Mais fácil do que minha vida humana era. -ele deu de ombros. -Os Cullen me ajudaram muito, Edward foi o irmão que nunca tive e Carlisle foi um pai melhor do que eu poderia sonhar um dia em ter. Eles me apoiaram e me ajudaram em tudo o tempo todo.

—Você acha que seria fácil para mim? -eu perguntei após alguns minutos em silencio.

—Não sei, acho que apenas Alice poderia responder isso, mas independentemente de ser ou não, eu estaria ao seu lado o tempo todo. Isso eu posso te afirmar com toda certeza.

Eu sorri fraco ainda olhando para minhas mãos.

—E você ainda me amaria mesmo se não fosse fácil para mim? Mesmo se eu fosse uma recém criada descontrolada? -eu perguntei baixo, minha voz quase saiu como um sussurro. -Ou continuaria me amando se eu não quisesse ser uma de vocês? Ou você me deixaria se eu quisesse ser humana?

Suas mãos levantaram meu rosto fazendo-me olhar para ele e encontrar conforto em seus olhos dourados.

—Eu amaria você em qualquer versão, vampira ou humana. Você sempre vai a minha Camille e isso nunca vai mudar. -ele sussurrou de volta. -Eu não vou deixar você, nunca. Eu não conseguiria nem se quisesse, o único modo de eu sair do seu lado, seria se você me mandasse ir embora e ainda sim, eu te amaria por toda a eternidade, por cada segundo em que eu vivesse.