Twilight escrita por Srta Hale


Capítulo 1
À Primeira Vista




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Está fazendo pouco mais de 38° em Phoenix, o sol está brilhando tão forte que nem mesmo os óculos escuros no rosto de minha mãe impedem que ela cerre seus olhos para que a luz não a incomode, quando ela faz isso uma pequena ruga se forma entre suas sobrancelhas, é adorável. Eu presto muita atenção em tudo o que ela fala e faz, tentando gravar cada detalhe de seu rosto, eu não a veria tão cedo.

À medida que o carro se aproxima do aeroporto eu começo há contar os dias que faltam para que eu volte a vê-la. Nem fui embora e já sinto a falta dela.  Eu estou indo para Forks. Uma pequena e insignificante cidade situada na península de Olímpica, no estado de Washington, com a população de aproximadamente 3.545 pessoas. Foi lá em que minha mãe, Renée, conheceu Charlie Swan, meu pai. Eles nasceram e foram criados lá, se apaixonaram e casaram ainda jovens. Foi lá que eles tiveram duas filhas, Isabella Marie Swan, minha irmã, e eu Camille Joelle Swan. Minha mãe fugiu de Forks quando tínhamos apenas poucos meses de idade, deixando um marido deprimido para trás.

Renée sempre foi o oposto de Charlie. Minha mãe é apaixonada pelo sol, por aventuras e novos ares. Ela sempre sonhou em sair de Forks, morar em uma cidade grande, acordar com o sol batendo em seu rosto e ir dormir sem o barulho da chuva. El amava o céu azul, como seus olhos, ela gostava dessa comparação, dizia que não tinha nada mais bonito que o céu claro e sem nuvens. Ela era uma jovem no corpo de uma adulta, uma sonhadora que raramente tinha os pés no chão.

Charlie sempre amou Forks, a pequena cidade da qual ele se tornou chefe de polícia e jurou protege-la até o fim de sua vida. Meu pai gosta de pequenas coisas, uma vida calma e do barulho da chuva batendo no telhado. Ele gostava do frio e conhecer todo mundo da cidade. Ele era sempre calmo e tímido, não era muito de conversar ou de expressar sentimentos, mas tinha um coração maior do que o corpo.

Foi em Phoenix, quando Bella e eu tínhamos pouco mais de quatorze anos, que ela conheceu Phil Dwyer, seu atual marido, que é alguns anos mais jovem do que ela. Phil é jogador de beisebol, dos escalões menores, não é um jogador muito bom, mas sonha alto e tem muita determinação. Ele é apaixonado por minha mãe tanto quanto ela é por ele. Olhando de perto você vê que eles fazem um belo casal, um casal feliz. Depois que Phil foi contratado, ele passou a viajar muito, era nítido o quanto a distancia machucava minha mãe, mesmo com ela tentando disfarçar. Ela se casou com ele em uma tarde de verão a pouco mais de um ano, depois do casamento só ficou mais evidente o quanto ela sofria em ficar longe dele, e foi então, depois de um tempo vendo minha mãe chorar sempre que ele ia viajar, que minha irmã e eu tivemos a brilhante ideia que de estava na hora de passarmos um tempo com nosso pai.

—Queridas, vocês não precisam fazer isso. –disse minha mãe pela quinta vez enquanto eu entregava um copo de café para Bella. Ela agradeceu com um sorriso cansado antes de se virar para minha mãe.

—Nós queremos. –ela disse tentando soar sincera. –Vai ser bom passar um tempo com Charlie, ele precisa da gente e você poderá ficar mais tempo com o Phil.

—Não se preocupe mãe, falaremos com você todos os dias. –eu disse a abraçando novamente.

Ela respirou fundo, secando as lágrimas que escorriam em seu rosto e tentando se acalmar. Eu sabia que uma parte dela se sentia horrível por deixarmos ir. Phil se aproximou em seguida, entregando os bilhetes das malas para mim. A aeromoça chamou mais uma vez para entrarmos e nós nos despedimos de minha mãe com um aperto no peito.

—Mande lembranças ao Charlie! –ela gritou enquanto entravamos no avião.

Bella e eu nos acomodamos nas poltronas e respiramos fundo enquanto as pessoas terminavam de se arrumar para a decolagem. Eu observei minha irmã enquanto ela olhava para nossa mãe se afastando no aeroporto. Bella é a mais velha, dois minutos de diferença, mas com a mentalidade de pelo menos dez anos a mais do que eu. Minha irmã e eu sempre nos demos bem, apesar de sermos muito diferentes uma da outra nós nunca tivemos uma briga sequer. Minha mãe costumava dizer que éramos complementos uma da outra.

—Você está bem? –eu perguntei a observando. Ela parecia cansada e insegura, como se estivesse com medo do que viria a seguir. Nunca passamos mais do que um mês longe de nossa mãe e Bella era a mais apegada, eu entendia perfeitamente seu receio.

—Estou. –ela mentiu.

Revirei os olhos. Bella era uma péssima mentirosa, sempre se denunciava, pois sua voz sempre saia tremida e baixa demais quando ela mentia. Decidi que não perguntaria mais, era melhor deixa-la se acalmar e digerir as mudanças em paz. Deitei a cabeça na poltrona e comecei a imaginar como seria agora para frente. A viagem seria muito longa e cansativa. De Phoenix para Seattle o vôo duraria quatro horas, depois mais uma longa hora em um pequeno avião até Port Angeles, e finalmente uma hora de carro até Forks. A viagem de avião seria tranquila, eu provavelmente passaria esse tempo dormindo ou pensando em como a minha vida seria de agora em diante, mas o tempo no carro com meu pai era preocupante. Charlie e Bella eram tímidos demais, ambos sempre ficavam calados e nunca sabiam o que dizer e isso sempre fazia com que o tempo passasse se arrastando. Provavelmente chegaríamos a Forks ao anoitecer.

Charlie estava sendo muito legal sobre essa história toda de mudança, ele parecia verdadeiramente feliz de irmos morar com ele, quase que permanentemente, pela primeira vez. Ele já tinha nos matriculado na escola e iria nos ajudar a arranjar um carro. Mas eu sabia que ele estava confuso com essa decisão, minha irmã e eu nunca escondemos que não gostávamos de Forks. Apesar de não gostar da cidade e saber que sentiria falta de minha mãe, eu também estava feliz de ir morar com meu pai, seria bom passar um tempo com ele.

Assim que o avião pousou em Port Angeles, eu percebi que estava chovendo. Minha irmã e eu arrastamos nossas malas pelo aeroporto enquanto ela bufava pela chuva. Eu ri baixo, ao contrário de Bella, eu gostava da chuva. Não foi difícil ver Charlie, ele estava escorado na viatura. Ele colocou nossas malas no carro com pressa e nos deu um abraço desajeitado. Eu sorri e o abracei novamente, fazendo-o corar. Dentro do carro estava quente e confortável.

—É bom ver vocês, meninas. –ele disse ligando o carro enquanto colocávamos o cinto.

—Bom te ver também. –respondemos juntas.

Ele riu baixo, sempre achava engraçado quando respondíamos algo na mesma hora.

—Vocês não mudaram muito, estão lindas. –ele sorriu. –Como Renée está?

—Ela está bem. Mandou lembranças. –respondeu Bella mexendo na rádio.

Ela parou assim que encontrou uma música calma. Lá fora a chuva parecia engrossar. Passamos alguns minutos em silencio, eu já estava quase dormindo quando meu pai resolveu conversar novamente.

—Eu encontrei um bom carro para vocês. –ele disse parecendo orgulhoso.

Eu cerrei os olhos. O que ele queria dizer com “um bom carro para vocês” ao invés de “um bom carro”? Bella pareceu perceber a mesma coisa.

—Que tipo de carro? –eu perguntei.

—Na verdade, é uma caminhonete. Pertenceu ao Billy Black, lembram-se dele? –ele perguntou

—Não. –respondemos juntas.

—Nós sempre íamos pescar com ele em La Push. –ele tentou nos ajudar. Respirou fundo quando não obteve sucesso. –Enfim, ele sofreu um acidente alguns anos atrás e está em uma cadeira de rodas agora. O filho dele e ele reformaram toda a caminhonete, trocaram o motor, os pneus, arrumaram até mesmo a pintura e o estofamento da coisa.

“Coisa”. Tá ai um bom apelido para um carro.

—É nova? –Bella perguntou. Meu pai fez uma careta.

— Ele comprou em 1984. Eu acho.

— Era nova quando ele comprou? –eu perguntei olhando para fora da janela. Parecia que estávamos chegando a Forks.

—Não. Acho que era nova no começo dos anos 60, ou no fim dos 50, no máximo. - ele admitiu, envergonhado. –Mas olhe, ele e o filho trabalharam bem naquilo. A coisa anda perfeitamente e é muito forte. Não fazem mais carros como aquele.

Eu respirei fundo voltando a olha-lo.

—Quanto?

—Bem, na verdade, eu já comprei para vocês. Como um presente de boas vindas. –ele deu de ombros. –Quero que sejam felizes aqui.

—Uau. –eu disse surpresa. –Obrigada, pai.

—Sim, muito obrigada. Não precisava, mas muito obrigada. –disse Bella sorrindo.

Trocamos mais alguns comentários sobre o tempo, que estava molhado, e era isso em termos de conversa. Ficamos olhando pela janela em silêncio. Logo a enorme placa de “Bem vindos a Forks!” apareceu no meu campo de visão.  A cidade era linda, claro, não podia negar isso. Mas tudo era muito verde, as árvores, os troncos cobertos de musgo, os galhos pendurados formando uma cobertura, o chão coberto com plantas. Até mesmo o ar ficava meio verde ao passar pelas folhas. Parecia um planeta alienígena.

Finalmente chegamos à casa do Charlie. Ele ainda morava na pequena casa branca que ele comprou com a mamãe assim que eles se casaram. A pequena árvore de flores brancas que eles plantaram quando eu nasci estava perfeita ali no jardim da frente. E estacionada na rua em frente à casa que nunca mudara, estava a caminhonete. Era uma cor vermelha desbotada, com uma grande cabina e enormes calotas. Não era bonita, mas parecia forte, o que já era bom para mim. Bella pareceu gostar, seus olhos brilharam enquanto ela olhava para a coisa. Nós descemos do carro e tiramos as malas de lá com pressa, parecia que logo começaria a chover.

—Uau! É perfeita! –disse Bella animada ao lado da caminhonete.

—Sim, obrigada mesmo pai. –eu agradeci sorrindo.

—Fico feliz que tenham gostado. –ele sorriu envergonhado.

Com nossa ajuda não foi preciso mais o que uma viagem para levar as malas para dentro de casa. Bella havia trago três malas, duas de roupas e uma com suas coisas. Eu havia trago o mesmo tanto. Quando entravamos eu observei a casa, estava tudo igual. O chão da sala era de madeira clara e as paredes eram brancas, as cortinas de renda eram antigas, mas estavam limpas e bem conservadas. O sofá marrom e comprido ficava de frente para uma televisão de tela plana, havia uma poltrona da mesma cor que o sofá e uma pequena mesinha de centro em cima de um tapete que deixava o lugar mais confortável. A pequena lareira estava acesa, aquecendo a casa.

Havia apenas um banheiro, que eu dividiria com Bella e Charlie. Tentei não pensar sobre isso. O bom do meu pai era que ele nunca ficava vigiando a gente. Ele nos dava total privacidade.

Nós subimos as escadas e eu escolhi o quarto que ficava no sótão, meu pai havia o reformado quando dissemos que moraríamos aqui. Ele me entregou minhas malas e eu olhei ao redor, as paredes eram brancas e o chão era de madeira igual ao da sala. O quarto era simples e bonito. A pequena cama de casal de madeira, com pesados edredons acinzentados ficava ao lado da porta, tinha um tapete felpudo em baixo dela com a mesma cor das cobertas e das cortinas. Uma mesinha de estudos de frente para a cama com uma prateleira em cima. Uma cômoda com um espelho grudado na parede e três prateleiras na parede do lado esquerdo do quarto.

Decidi que arrumaria tudo ainda hoje, então coloquei minhas roupas dentro da cômoda e peguei meus livros colocando-os nas prateleiras. Liguei o notebook e coloquei-o para carregar na mesa. Eu não tinha muitos objetos de decoração, apenas alguns bichinhos de pelúcia e algumas fotografias que tirei com Bella e minha mãe em nossa última viagem. Esses eu coloquei na prateleira mais baixa. Percebi que ao lado da cama havia um pequeno criado mudo com um abajur branco em cima. Eu andei pelo quarto e olhei para a janela que dava para os fundos da casa, para a floresta. Já estava chovendo.

Eu tirei a jaqueta de couro que estava usando e a pendurei atrás da porta. Sentei-me na cama olhando ao redor e respirei fundo imaginando a manhã que estava por vir. A Escola de Forks tinha o aterrorizante total de apenas trezentos e cinquenta e sete, agora cinquenta e nove, alunos. Só no meu ano, lá em Phoenix, havia mais de setecentos alunos. Todo mundo aqui tinham crescido junto, seus avós tinham sido bebês juntos. E minha irmã e eu seriamos as garotas novas da cidade grande. Seriamos novidade. O que me fazia arrepiar de repulsa, eu odiava ter gente me observando. Eles provavelmente ficariam um pouco desapontados com o que veriam. Minha irmã e eu não parecíamos com as típicas meninas de Phoenix. No lugar dos cabelos loiros e pele bronzeadas, éramos pálidas demais e com cabelos escuros. A diferença entre Bella e eu era que eu tinha os olhos azuis de minha mãe, enquanto ela tinha os olhos castanhos de nosso pai, eu também tinha o corpo um pouco mais desenvolvido que o dela, devido aos esportes e danças que eu fazia desde criança. Já minha irmã nunca suportou atividades físicas.

Eu não dormi muito bem naquela noite, fez muito frio e mesmo com os edredons pesados sobre mim, eu ainda consegui me arrepiar de frio durante a madrugada. A chuva não me incomodou, mas eu me perguntava se nunca teria uma noite silenciosa aqui. Pela manhã o tempo estava muito nublado, quase não dava para enxergar as árvores da floresta. Eu acordei antes de todos, tomei um longo banho quente e lavei os cabelos agradecendo por Charlie ter comprado o shampoo de baunilha que eu estava acostumada a usar. O cheiro familiar me acalmou. Voltei para meu quarto e me vesti com calma, uma calça jeans preta, minha bota que batia em meu calcanhar, uma blusa de mangas compridas vermelha e minha jaqueta da mesma cor que a blusa. Sequei meu cabelo com calma e fiz uma maquiagem leve, mais preocupada em tampar as olheiras da noite mal dormida o que em ficar bonita, passei um tanto de rímel nos cílios e apenas um protetor labial, com o frio que fazia aqui, eu tinha certeza que machucaria a boca em algum momento. Arrumei minha mochila mais uma vez e peguei meu celular descendo as escadas. Bella e Charlie já estavam na cozinha.

Minha irmã me entregou um copo de suco de laranja e algumas torradas e eu agradeci. O café foi silencioso. Charlie já estava fardado e pronto para sair quando ele resolveu falar algo. Ele entregou um chaveiro com cinco chaves para cada uma.

—Essas são as chaves de casa. –ele explicou cada uma delas e sorriu. –Estarei em casa ás sete. Boa sorte no primeiro dia.

Agradecemos e ele saiu com as sirenes desligadas. Depois que ele saiu, Bella e eu continuamos sentadas à mesa quadrada, observando as que cadeiras que não combinavam entre si. Eu examinei sua pequena cozinha, suas paredes com azulejos cor de gelo, armários amarelo brilhante, e piso de linóleo branco. Nada mudara. Minha mãe pintara os armários dezoito anos antes na tentativa de trazer um pouco do sol para dentro da casa.

Sobre a pequena lareira na sala, havia uma fileira de fotos. A primeira era uma do casamento de Charlie e minha mãe em Las Vegas, uma de meu pai nos segurando quando minha irmã e eu nascemos e então uma procissão de fotos de nossa infância. Essas eram embaraçosas de se ver, teria que ver se convencia Charlie a colocá-las em outro lugar, pelo menos enquanto eu estivesse morando aqui. Eu percebi, com pesar, que aquilo tudo deixava bem claro que meu pai nunca havia superado o divorcio com minha mãe. Isso me fazia ficar desconfortável.

Bella e eu resolvemos ir para a escola mais cedo naquela manhã, ainda não estava chovendo, mas a neblina era forte e o frio fez as maças do meu rosto ficarem vermelhas. Nós entramos com pressa dentro do carro e minha irmã dirigiu pacientemente em direção à escola. Não era difícil de achar, já que como a maioria das coisas, ela ficava na estrada principal da cidade. Admito que fiquei admirada com o lugar, era bem diferente da escolha de Phoenix, havia muitas árvores e arbustos ali e a estrutura da escola me lembrava duma coleção de casas geminadas, construídas com tijolos marrons. Era enorme e bem cuidada. O estacionamento era bem espaçoso e estava vazio, então estacionamos o mais perto possível da escola, assim poderíamos ir embora rápido.

Minha irmã e eu nos dirigimos até o primeiro prédio, onde tinha uma enorme placa escrito “secretaria”. Lá dentro estava bem iluminado e bem mais quente do que imaginava. A secretaria era pequena, com uma pequena sala de espera com cadeiras dobráveis, carpete laranja, avisos e prêmios abarrotados pelas paredes e um grande e ruidoso relógio. A sala era partida ao meio por um grande balcão, cheia de cestas de arame repletas de papéis e anúncios coloridos colados na parte da frente. Havia três mesas atrás do balcão, uma delas ocupada por uma mulher ruiva e grande, usando óculos. Ela sorriu sendo simpática e minha irmã se pronunciou.

—Somos Isabella e Camille Swan. Viemos pegar nossos horários.

A clareza passou pelo rosto da mulher enquanto ela assentia e abria uma pasta velha e tirava de lá alguns papeis.

—É claro! As filhas do chefe Swan. Sejam bem vindas à escola e à cidade! –ela disse feliz. –Aqui estão seus horários e o mapa da escola, preciso que tragam este papel assinado por seus professores ao final da tarde.

Ela ditou todas as nossas aulas e explicou o mapa para nós duas, eu me perguntei se ela era prestativa assim para todos ou apenas por nós duas sermos filhas do chefe. Assim que ela terminou eu enfiei os papeis na mochila e as de lá sendo seguida por minha irmã. Ela cobriu seu rosto com o capuz enquanto nós andávamos, tentando não chamar atenção.

—Sabe, fazendo isso você chama amais atenção do que se fingir normalidade. –eu ri baixo a observando.

Ela revirou os olhos e eu sorri tentando encoraja-la. Logo ela tirou o capuz e fomos para nossa primeira aula. Teríamos quase todas as aulas juntas, tirando Literatura Inglesa, Francês e biologia. A sala de aula era pequena e bem iluminada, com longas janelas de vidro que davam vista para as árvores. O professor baixinho e gordo estava sentado em sua mesa, entregamos nossos papeis para ele e ele leu atenciosamente para sorrir em seguida e nos indicar onde sentarmos. Bella e eu nos sentamos juntas nas ultimas cadeiras na sala. Era aula de ciências políticas, fixei meus olhos no caderno e fiz algumas anotações durante a aula. Percebi que minha irmã estava com os pensamentos distantes.

—Vai ficar tudo bem. Logo vamos nos acostumar. –eu sussurrei para ela.

—Eu duvido muito que vamos nos acostumar com isso. –ela disse sorrindo.

Ao final da aula, assim que o sinal bateu, um menino alto e magricelo apareceu na nossa frente, o cabelo preto e liso caia um pouco sobre seu rosto que tinha algumas espinhas. Ele sorriu um pouco desajeitado.

—Vocês são Isabella e Camille Swan, certo? –ele perguntou. Algumas pessoas pararam para nos olhar quando ele disse nossos nomes. –Sou Eric.

—Bella. –minha irmã corrigiu automaticamente. Ela odiava ser chamada de Isabella.

—Qual a próxima aula de vocês? –ele perguntou animado.

—Tenho Literatura Inglesa. –eu disse enquanto minha irmã olhava seu horário.

—Tenho aula de cálculo. –ela informou guardando o horário dentro do bolso da jaqueta.

—Bom, calculo fica no prédio cinco e a aula de literatura, que eu também tenho agora, fica no prédio sete. Eu posso acompanhar vocês, se quiserem. –ele ofereceu sendo prestativo.

Nós andamos ao seu lado pelo campus da escola, as pessoas nos observavam enquanto Eric perguntava mais sobre Phoenix e sobre nós duas. Minha irmã e eu respondíamos de acordo com suas perguntas, boa parte foi ela, já que na metade do caminho eu já estava cansada dele. Eric parecia legal, mas conversava tanto que me deixava tonta. O resto do dia pareceu passar rápido, durante a aula de trigonometria o professor pediu para que minha irmã e eu nos apresentássemos diante da sala. Decidi que não gostava dele por esse motivo. A garota que se sentava na nossa frente, Jéssica, era baixinha e irritante, seu cabelo era castanho e cacheado, ela falava muito e parecia ser um tanto fofoqueira. Ela nos contou sobre a vida de todos seus amigos, mesmo sem perguntarmos. Durante o intervalo nós nos sentamos com ela e seus amigos, decidi que gostava apenas de uma garota com quem ela andava. Ângela, a única que era educada e não ficava investigando nossas vidas.

Havia um garoto, Mike, que ficava tentando chamar a atenção de minha irmã e de mim. Eu o ignorei enquanto comia um doce de caramelo que Ângela havia me oferecido.

—Quem são eles? –Bella perguntou baixo para Jéssica.

Eu olhei na direção em que minha irmã olhava na mesma hora em que Jéssica. Eles estavam sentados num canto do refeitório, o mais longe possível de onde eu estava. Eram quatro. Não conversavam e não comiam, apesar de cada um deles ter uma bandeja intocada de comida na sua frente. Eles não estavam nos encarando, como a maior parte dos outros alunos.

Eles não se pareciam em nada. Dos três garotos, um era grande e muito musculoso como um levantador de peso profissional, com cabelo escuro que caia um pouco sobre seus olhos. O outro era alto e mais magro, mas ainda musculoso, e com cabelo loiro escuro. O outro era mais magro, menos musculoso, com cabelo cor de bronze, meio bagunçado. Ele parecia mais jovem do que os outros. Havia ainda uma garota, ela era linda, com os cabelos negros e curtos, ela era muito magra, não de uma forma doente, mas como uma modelo, tirando é claro o fato de que ela era baixinha, bem menor do que eu. Eles eram todos extremamente bonitos e muito parecidos, mas ao mesmo tempo muito diferentes. Todos eram muito pálidos, os mais pálidos de todos os alunos dessa cidade sem sol. Mais pálidos do que eu, a albina. Todos tinham olhos bem escuros, apesar da diferença na cor dos cabelos. Além disso, eles tinham olheiras profundas, como se todos eles tivessem passado várias noites em claro. A garota se levantou graciosamente e saiu do refeitório.

—Os Cullen. –respondeu Jéssica. –A garota é Alice Cullen, os garotos são Edward e Emmett Cullen e Jasper Hale. Eles são filhos adotivos do doutor Cullen e da esposa dele.

—Eles são muito bonitos. –disse Bella corando.

Eu segurei o riso e desvirei o olhar. Minha irmã me repreendeu com o olhar.

—Sim! –disse Jéssica animada. –Jasper, o loiro, está com Alice. Emmett, o de cabelos escuros e o Edward estão solteiros. Mas eles não namoram. Ninguém chama a atenção deles o suficiente.

Eu sorri levantando a sobrancelha, sua fala parecia um sério caso de dor de cotovelo. Segurei-me para não fazer um comentário maldoso e respirei fundo.

—Filhos adotivos? Parecem bem velhos para isso.

—Agora são. –ela respondeu. –Jasper é sobrinho da senhora Cullen, eu acho que ela o cria desde que ele tinha quatro ou oito anos. Já os outros foram adotados quando eram crianças.

—Muito legal da parte dela. –disse Bella.

—Sim, um gesto admirável. –eu concordei. –Ela deve ser uma mulher e tanto.

—É, acho que sim. Mas eu acho que ela não pode ter filhos. –disse Jéssica.

Como se isso diminuísse a grandeza do ato da senhora Cullen. Por alguma razão aquilo me incomodou.

—Algumas pessoas realmente não deveriam ter tido. –eu disse não contendo o comentário ácido.

Bella me repreendeu e eu revirei os olhos me calando.

—Eles sempre moraram aqui em Forks? –perguntou Bella tentando amenizar o clima.

—Não, eles se mudaram para cá faz dois anos. Vieram de algum lugar do Alasca. –ela informou de prontidão.

Eu me levantei saindo do refeitório e deixando minha irmã com Jéssica. Não aguentava a voz da garota. Enquanto andava percebi que Emmett Cullen me observava com curiosidade. Tentei ignorar e respirei aliviada assim que o vento frio bateu em meu rosto. Eu teria aula de Francês agora, no prédio quatro. Quando cheguei à sala já havia alguns alunos, o professor estava sentado em sua cadeira, ele assinou meu papel e pediu para que eu me sentasse na última mesa da sala. Eu agradeci mentalmente por meu parceiro ou parceira ainda não ter chegado e me sentei tirando a jaqueta e colocando-a no encosto da cadeira. Peguei meu celular e olhei para as mensagens de minha mãe. Eu sorri e decidi que a responderia quando chegasse em casa.

 A cadeira ao meu lado foi arrastada e eu ousei olhar para quem seria meu parceiro. Prendi a respiração assim que percebi que era um rosto familiar. Emmett Cullen. Ele me observou por alguns segundos e então olhou para frente com o maxilar travado. A aula pareceu se arrastar mais do que deveria. Durante a aula eu não consegui o olhar direito, evitei contato visual durante a maioria da aula, mesmo com ele me observando durante o tempo todo. Ao final eu respirei fundo e o olhei de volta, seus olhos eram negros e intensos. Ele sustentou o olhar por alguns minutos antes de desviar e não voltar a me olhar novamente naquele dia. Assim que o sinal bateu, ele se levantou e saiu, ele se destacava na multidão, que apenas abriu passagem para ele ir. Juntei minhas coisas e fui seguida por Tyler enquanto ele tagarelava algo sobre a aula e como ele era “bom” em francês.

A outra aula era educação física, encontrei minha irmã na metade do caminho e ela parecia tensa, provavelmente por Mike estar ao seu lado. Trocamos de roupa e nos juntamos à aula. O professor obrigou minha irmã a jogar e eu a ajudei, deixando-a ficar longe do alcance da bola de vôlei. Assim que acabou eu tomei um banho rápido e me vesti, Bella e eu nos dirigimos até a secretaria em silencio, ambas com a cabeça cheia demais para conversarmos durante o caminho.

—Quer que eu entregue seus papéis? –ela perguntou virando-se para mim.

Eu assenti e entreguei a ela pegando as chaves da caminhonete.

—Vou ligar a caminhonete e te espero lá dentro.

Ela assentiu e entrou na secretária. Enquanto andava eu vi Emmett Cullen encostado em um Volvo prateado, do outro lado do estacionamento. Alice estava na frente dele falando algo, ele não parecia prestar atenção, estava com os braços cruzados no peito e então olhou para mim quando abri a caminhonete. Eu desviei o olhar e entrei ligando o carro e respirando fundo. Minhas mãos estavam geladas e levemente tremulas. Eu ainda sentia seu olhar em mim enquanto o Volvo se afastava. Alguns minutos depois Bella abriu a porta, ela parecia ainda mais pálida que de costume, seus olhos estavam cheios de lágrimas. Ela estava assustada.

—Você está bem? –eu perguntei preocupada. Esquecendo-me do arrepio de estar sob o olhar de Emmett.

—N-não. –ela admitiu deixando uma lágrima escorregar de seus olhos. –Eu quero ir para casa.

Eu a abracei e deixei que ela chorasse por alguns minutos, até que o soluço cessasse e ela se acalmasse um pouco. Sequei suas lágrimas e segurei sua mão.

—Forks é nossa casa agora. –eu disse baixo

Dirigi em silencio pela estrada até em casa. Durante o caminho Bella pareceu se recompor. Chegamos em casa exatamente às seis horas da tarde. Deixei minha mochila na sala e fiz um chá para minha irmã enquanto começava a preparar uma janta.

—Quer me dizer o que aconteceu? –eu perguntei cortando os tomates para fazer um molho.

Ela respirou fundo.

—Edward Cullen é meu parceiro de Biologia. –ela disse baixo, quase como um sussurro. –Camille, quando eu me sentei ao lado dele... Eu nunca vi tanto ódio em um só olhar. Eu nem fiz nada para ele! Mas ele me odeia! E eu odeio essa cidade!

Larguei a comida e me virei para ela. Ela tremia levemente. Ela estava assustada.

—Ele fez alguma coisa com você? –eu perguntei com raiva.

—Não. –ela respondeu. –Mas ele me olhou como se eu fosse a pior pessoa do mundo. Você não viu o ódio nos olhos dele, foi tão... -Sua voz sumiu, como se ela não conseguisse expressar direito o que sentia. –Eu nunca me senti tão vulnerável.

Eu abaixei o olhar lembrando-me do olhar de Emmett. O que tinha de errado com aquela família?


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