Viena, Áustria

Victor fechou a porta de seu laboratório subterrâneo calmamente. Odiava ter de estar a tanto tempo escondido naquela caverna, mas sabia que não havia lugar mais seguro para ele e seus sócios.

— Olá, Victor. - Disse Loki ao aparecer atrás do homem, de forma assustadora e sobrenatural. No entanto, Victor pareceu não se assustar.

— Loki. - Ele abriu um largo sorriso ao ver o deus. - Como é bom revê-lo, meu caro. - Disse por fim.

— Não trago boas notícias. - Loki disse seriamente. - É sobre o cristal. - Continuou.

— Você conseguiu pegá-lo? - Perguntou Victor cheio de esperança.

— Não. - Loki suspirou, ainda sério. -A tecnologia humana tem evoluído muito. - Disse ao olhar ao redor. - Não tenho como chegar ao cristal me passando por um deles. Eles têm um sistema de segurança muito bom. - Completou.

— Isso não é nada bom. - Victor respondeu. Estava perdido em pensamentos.

— Eu poderia destruir a S.H.I.E.L.D com as minhas próprias mãos e roubar o cristal, mas então, o plano estaria arruinado porque eles descobririam. - Disse Loki e Victor o encarou.

— Sim. Não podemos fazer escândalos. - Respondeu Victor levando uma mão no rosto. - Precisamos do cristal. - Concluiu.

— Eu tenho que ir agora. - Disse Loki por fim. - Mas não se preocupe - Sorriu. - Eu vou conseguir pegar esse cristal. De um jeito ou de outro.

Evie

Quando cheguei em casa depois do treinamento na S.H.I.E.L.D, Loki já estava em casa. Eu ainda não estava acostumada com a sua capacidade de sair e desaparecer dos lugares sem deixar rastros. Isso era um tanto assustador pra mim, mas ainda assim, incrível.

— Oi! - Falei logo que entrei. Ele estava sentado no sofá, lendo um jornal. Não que ele realmente parecesse interessado naquilo, mas parecia procurar algo. Fish estava aninhado em uma almofada, ao seu lado. Nem se mexeu ao me ver. Traidor.

— Oi, criança tola! - Respondeu por fim ainda sem tirar a atenção do jornal.

— Como você fez aquilo? - Perguntei ao lembrar do ocorrido na S.H.I.E.L.D.

— Achou que eu iria permitir que um humano desqualificado te ensinasse algo sobre manipulação da magia? - Perguntou calmamente desviando sua atenção do jornal. - Eu sou o único que pode lhe ensinar sobre isso. Eu conheço muito bem essas habilidades e como controlá-las. - Me encarou. Nisso ele tinha razão. Ninguém sabia tão bem como manipular a magia como Loki Laufeyson. Fiquei me perguntando como teria sido se eu tivesse descobrido minhas habilidades quando era uma criança. As coisas provavelmente teriam sido um tanto mais fáceis.

Não pude deixar de reparar sacolas em cima da mesa. Nem precisei me aproximar para perceber. Estavam cheias de comida, de todos os tipos.

— Você comprou comida? - Perguntei não podendo conter minha surpresa. Minha felicidade logo foi embora ao pensar de que forma ele tinha conseguido aquilo. - Onde conseguiu dinheiro pra comprar tanta comida? - Perguntei com medo da resposta.

— Comprar? - Ele soltou uma risada gutural. - Quem disse que eu comprei, criança tola? - Perguntou por fim.

— Você roubou? - Eu quase gritei, mas ele me interrompeu.

— Mas é claro que não. - Respondeu por fim. Quase suspirei aliviada. - Eu disse ao humano insolente que se ele não me desse a comida eu arrancaria a cabeça dele. - Deu de ombros.

— O que? - Ele só podia estar brincando. - Não pode fazer isso. - Disse e ele riu.

— Posso sim. Arrancar cabeças é algo muito simples pra mim. - Respondeu orgulhoso de si mesmo.

— O que eu quero dizer é que isso não é certo. - Disse por fim e ele revirou os olhos entediado, como se eu fosse a adulta responsável que estivesse atrapalhando sua diversão.

— Você disse que precisava comer, não disse? - Perguntou por fim. Abri a boca para responder mas não tinha resposta certa para aquilo. Eu precisava de comida, mas não roubada. Mas, como explicar isso para o Loki, deus da trapaça?  - Como eu pensei. - Completou calmamente, voltando a sua atenção para o jornal.

— O que tanto procura nesse jornal? - Perguntei por fim e ele me encarou.

— Quero saber o que os humanos dizem sobre a Lança do Destino. - Respondeu. A famosa lança. Como eu suspeitava, isso era algo realmente importante, ou então, meu pai não estaria procurando algo sobre ela em um jornal.

— Então, ela é mesmo poderosa? - Perguntei me sentando no sofá. - O que ela pode fazer? Acha que estamos em perigo? - Ele me encarou.

— Você pergunta de mais, criança tola. - Respondeu. Ele dobrou o jornal e o deixou de lado, hesitando por um  momento antes de falar. - É um artefato mágico. Não sei porque os humanos resolveram o guardar em um museu. - Loki parecia perdido em pensamentos.

— Então é isso que os Vingadores estão investigando? - Perguntei e ele apenas assentiu com a cabeça.

— Mas isso não é assunto para crianças. - Disse por fim.

— Não sou mais criança. - Retruquei e ele gargalhou. Fish deu um miado fraco como se concordasse com ele. Esse gato estava me saindo um belo de um traidor.

— O fato de negar tanto que é criança é a maior prova de que ainda é uma. - Respondeu ainda rindo.

***

No dia seguinte

Fish lambeu minhas bochechas e suas unhas afiadas agarraram nos meus cabelos. Quem precisa de despertador quando se tem um gato assim?

—Ai, Fish! - Resmunguei enquanto lutava para tirar suas unhas do meu cabelo. Depois de muito trabalho, consegui tirar as garras do bichano e abrir a porta. Fish saiu desesperado do meu quarto. - Apressadinho. - Murmurei comigo mesma.

Me arrastei até a sala como sempre. Eu definitivamente não era uma pessoa da manhã. Minha mãe costumava me chamar de ursinho por causa da minha quase “hibernação” diária. Não pude conter um sorriso ao me lembrar dela.

Loki não estava. E não havia nenhum bilhete. É! Ele realmente não era de deixar bilhetes. Peguei duas fatias de pão e coloquei na torradeira. Me servi um copo de leite e coloquei um pouco na vasilha do Fish, que correu logo para beber.

Resolvi ligar a TV para quebrar a silêncio matinal. Passeei pelos canais procurando alguma coisa interessante para assistir. Parei em um noticiário. Não gostava de noticiários, mas a notícia me chamou a atenção.

— “Já passam de 50 o número de mortos encontrados com mutação genética, na Áustria”— Disse a repórter em um tom sensacionalista. - “Mas, até agora, não se sabe quem ou o que está causando essas mortes” — Definitivamente, tinha algo de muito errado acontecendo com o mundo. Quem poderia estar fazendo algo tão cruel assim? A notícia parecia coisa de filme de ficção científica. Mas, a essa altura da vida, eu já não duvidava de mais nada.

— Não devia assistir essas coisas. - Ouvi a voz atrás de mim. Mas, eu já não me assustei mais. Já estava me acostumando com isso.

— Onde você estava? - Perguntei o encarando. Loki esboçou um sorriso.

— É… - Ele hesitou por um momento. - Tem alguma coisa queimando? - Perguntou por fim. A torradeira. Eu tinha esquecido completamente.

— Ah não! - Corri até a cozinha, que estava coberta de fumaça.

— Por Odin. - Disse Loki enquanto absorvia o fogo do que um dia tinha sido uma torradeira. - Você precisa parar de colocar fogo nas coisas. - Completou.  Ele se livrou do objeto queimado rapidamente.

— Eu não sei como isso foi acontecer. - Respondi tentando espantar o resto da fumaça que tinha sobrado no ar. - Torradeiras não pegam fogo assim.

— Isso não teria acontecido se não tivesse ficado distraída. - Apontou. Não parecia exatamente uma bronca. Fish apareceu, dando um miado fraco.

— Eu vou me arrumar para a escola. - Falei por fim, o deixando na cozinha. Algo estava me dizendo que aquele seria um longo dia. E, eu não estava com um bom pressentimento sobre isso.

—________________________________________________________

Torre Stark, Nova York - Algumas horas depois

Todos os Vingadores e Loki estavam reunidos para mais uma reunião importante. Thor girava uma caneta entre os dedos para tentar passar o tédio, enquanto seu irmão murmurava algo. Todos estavam tensos e ninguém dizia nenhuma palavra sequer.

— Só falta a Natasha. - Disse Steve calmamente para seus colegas. Loki bufou, entediado por ter que esperar mais ainda.

— Já estou aqui. - Disse a jovem ao adentrar na sala. - Desculpe a demora, mas eu estava tentando resolver algo com a polícia. - Completou enquanto se sentava à mesa.

— Com a polícia? - Tony arqueou uma sobrancelha. - O que você fez, Natasha? - Perguntou curioso.

— Eu, nada. - Respondeu por fim. - Mas, o grandalhão aí, sim. - Natasha apontou para Loki, fazendo todos o encararem, confusos. - Assaltou um supermercado. - Disse por fim.

— Assaltou um supermercado, irmão? - Thor estava boquiaberto com o que tinha ouvido. Loki revirou os olhos.

— Não foi pra mim. - O deus se defendeu rapidamente. - Foi para a criança tola. - Continuou. - Eu não preciso disso… - Loki murmurou para si mesmo em seu tom presunçoso.

— Era de se esperar. Quando eu falo que ele não tem capacidade de ser responsável de alguém.  - Tony acusou. Loki não conteve sua carranca.

— Enfim… - Natasha interrompeu. - Eu falei para a polícia que o Tony vai pagar tudo. - Deu de ombros.

— O que? - Tony não podia acreditar no que tinha acabado de ouvir. - Por que eu que tenho que pagar o prejuízo do grandalhão? - Perguntou mal-humorado. Loki comprimiu um sorriso.

— Porque você é rico. - Ela respondeu como se fosse óbvio.

— Tudo bem. - Stark bufou. - Mas, eu faço isso pela menina que não tem culpa de ter um pai assim. - Completou encarando Loki, que sorriu cinicamente. - Bem, voltando à reunião… - Tony caminhou até o balde de gelo, servindo seu copo com algumas pedras de gelo e um pouco de whisky. - Alguém quer? - Ofereceu.

— Não, obrigado. Ainda é cedo para beber. - Respondeu Steve calmamente.

— Tudo bem. - Tony deu ombros. - Vocês que sabem. - Ele tomou um gole de sua bebida e voltou a sentar à mesa. - Bem. Dr. Banner e eu praticamente terminamos de analisar o cristal. - Disse calmamente.

— Sim. - Interrompeu Bruce um pouco desanimado. - Não tem outra função, além de destruir o universo. - Completou.

— Vocês humanos têm a mania de querer explorar tudo. Sempre. - Loki interrompeu fazendo todos o encararem. Havia um certo desgosto em sua voz. - Descobriram o que já sabia. - Completou.

— Bem, pelo menos nós tentamos. - Respondeu Bruce encarando Loki.

— Então, eu e o Dr. Banner decidimos que talvez seja melhor destruí-lo de uma vez por todas. - Disse Tony bebendo o último gole de seu whisky.

— O que? - Loki se levantou de sua cadeira bruscamente. - Não podem destruir o cristal. Vocês vão arruinar tudo! - Acusou. - Você vão acabar com o universo!

— Não podemos correr o risco de deixar o cristal parar em mãos erradas. - Respondeu Tony encarando o deus.

— Loki tem razão. Como pretendem destruir o cristal? - Perguntou Thor, visivelmente preocupado.

— Tony, eu e Peter descobrimos uma maneira de destruir o cristal sem sugar o universo inteiro. - Disse Bruce calmamente.

— Não vai funcionar! - Respondeu Loki entredentes. Ele se sentou novamente em sua cadeira, cruzando os braços.

— Eu proponho, então, uma votação. - Interrompeu Tony chamando a atenção de seus colegas. - Quem acha que o cristal deve ser destruído, levante a mão. - Pediu e logo levantou sua própria mão. Bruce o acompanhou em seguida.

Natasha e Steve se entreolharam por um momento, até que a jovem levantou a sua mão.

— Eu já vi a maldade humana de perto. Não podemos correr o risco desse cristal parar em mão erradas. - Disse Steve levantando sua mão, após hesitar por um momento.

— Eu estou com você, Capitão! - Sam levantou sua mão, acompanhando os colegas.

— Já que não temos outra opção… - Clint levantou sua mão depois de relutar.

— Thor? - Tony perguntou. O loiro abaixou a cabeça relutando em responder.

— Thor, você sabe tão bem quanto eu que isso é uma loucura…- Disse Loki encarando seu irmão.

— A tecnologia humana é bem avançada… - Respondeu o deus do trovão. Loki riu com escárnio. - Eles podem encontrar uma maneira de destruir o cristal de forma segura. - Completou e finalmente levantou sua mão.

— Muito bem! - Disse Stark por fim. - Então está decidido! Vamos destruir o cristal! - Concluiu.

— Vocês vão levar esse planeta à ruína! - Murmurou Loki dando socos leves na mesa.

— Que curioso você estar preocupado com o planeta, Loki, quando você já tentou destruí-lo… - Provocou Tony fazendo Loki fechar a cara. Quando o mesmo ia responder, foi interrompido por um barulho vindo da porta.

— Aí! - Disse Peter Parker ao invadir a sala como um foguete. Estava esbaforido e com algumas gotas de suor se formando em sua testa.

— Mas de onde você surgiu, pirralho? - Perguntou Tony, incrédulo.

— Desculpa, Sr. Stark. - O garoto respondeu completamente sem fôlego enquanto enxugava o suor da testa com a mão. - É uma emergência…- Respirou fundo tentando recuperar o fôlego. - A Evie… - Hesitou. - Aconteceu uma coisa terrível...