Pequenos Contos escrita por Tah Madeira


Capítulo 8
Memória (parte 5)


Notas iniciais do capítulo

Bom voltei, com uma parte desse conto.
Algumas coisas (como a visita ao médico) nem sei se é dessa forma, se não é vai ficar sendo.
Se tiver algum erro releve, pois foi feito na correria.
Sem enrolar, boa leitura.



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(Por Julieta)



Fecho a porta do quarto com receio de que Aurélio vá atrás de mim e  assim eu não consiga resistir, sento na cama com o coração acelerado, na boca ainda o gosto dele, levei os dedos até ali, parece que ainda os tenho e mim, não fazia muito tempo desde que nos beijamos, mas com tudo o que aconteceu, parecia uma eternidade.

Fugir foi um ato tão bobo, mas como prosseguir nesse mar de confusão que estamos neste momento, preciso antes de tudo saber o que vai ocorrer na consulta do dia seguinte antes de levar histórias que Aurélio não vai conseguir assimilar, perguntas que não vou saber como responder e que trará mais problemas que solução, assim penso eu.

Beijá-lo foi errado, mas inevitável, e agora  sabia como foi na primeira vez em que ele a beijou naquele mesmo escritório meses atrás, apesar de ela ter correspondido depois de um primeiro momento de surpresa, ainda assim  a iniciativa tinha sido dele, está noite por duas vezes esteve do outro lado da situação, sua sorte quem é estava do outro lado era Aurélio e não a Julieta de antes, pois não sabia se iria sobreviver se ele fosse como ela tinha sido, rude, amarga que só sabia afastar as pessoas.

 

Já deitada em minha cama, relembro o que Aurélio disso sobre o sonho, que na verdade foi uma lembrança da noite que relatei o meu passado, meu segredo, meu sofrimento, "por que sinto a sua dor como se fosse minha?", eu sabia que ao  falar do meu passado tinha o impactado, o perturbado, o grito de raiva que ele deu quando relatei do quanto eu tinha ficado machucada, e com medo que alguém soubesse o quão minha pele ficava marcada após os atos de Osório, marcas que ele deixava por prazer, como quem marca um objeto seu, era isso que eu era, aquele grito de Aurélio ainda ecoa em minha cabeça, agora fazia mais sentido, foi isso o que ele sentiu, a minha dor, nunca acreditei que alguém pudesse sentir ou compreender o que passei, ainda mais um homem, mas Aurélio demonstrou que sim, cada vez admirava mais a pessoa que ele era, e o que vinha fazendo por mim, e eu iria reencontrá-lo dentro dele mesmo.


Um novo dia surgiu, com ele as minhas  esperanças, nem percebi que dormi, em meio aos pensamentos, talvez o cansaço e a tensão dos últimos dias contribuiu.


Ao abrir a porta do meu quarto, a primeira pessoa que vejo é Aurélio, o destino parecia  rir às minhas custas. Ele apenas fica olhando-me, não consigo decifrar aquele olhar, ele me olha dos pés a cabeça, porque eu não sei.

— Senhor Aurélio, bom dia. — relutante dou um passo em sua direção, afinal  a saída do corredor era naquele sentindo, mesmo que ele não o faça, percebo um sorriso em seus lábios.

— Dona Julieta bom dia. — quando estamos bem perto ele coloca o braço em minha frente impedindo a passagem — Acho que precisamos conversar sobre ontem a noite. — concentro o meu olhar a frente, não posso olhar para  o lado e encarar aqueles olhos.

— Acho que esse não é o momento— tento andar, mas seu braço não se move impossibilitado que eu prossiga. Ergo a minha mão para baixar o braço dele, mas Aurélio põe força e não consigo movê-lo, mas nem por isso retiro minha mão dali,ele repousa a sua outra mão sobre a minha, meu corpo estremeceu de leve, mas não demonstro,  segundos se passam e não nos movemos, por fim retiro a minha mão e virei meu corpo e o encaro — Se continuarmos aqui, vamos nos atrasar para a sua consulta e não queremos isso, não é mesmo?

 

— Não, não queremos— ele retira  o braço da minha frente— Mas ainda assim vamos conversar sobre a noite passada, se não agora, depois.— se move, sem ao menos me deixar que eu responda, mas o que eu iria falar? Também caminho, descendo as escadas.

 

(Por Aurélio)

Não lembro de ter demorado tanto para dormir, mas aquela noite foi difícil, aquela mulher estava mexendo comigo, o beijo aconteceu, ela fugiu deixando as dúvidas no ar, ao abrir a porta dou de cara com ela, e mesmo com vestimentas escuras, pois parece só vestir preto, como toda a viúva, não posso deixar o quanto é bonita, ficamos nos olhando, trocamos poucas palavras, quero saber o porque do beijo, mais que isso quero saber porque meu coração bate acelerado quando a vê, e por mais que a minha memória esteja falha, aquele sentimento não era coisa de um dia, era algo mais profundo, sonhei novamente com  ela,nós dois dançamos, em uma festa, assim parecia, ela sorria timidamente e eu abertamente, estava muito feliz por a ter ali, rodando em meus braços, o salão parecia estar cheio, mas era só ela quem eu via, só o brilhos daqueles olhos é que prendia o meu olhar, era um sonho tão real, não sei se vou falar com ela sobre isso, talvez fale com Ema, ela pode me ajudar mais que Julieta, vamos ver depois dessa bendita consulta.

 

(Por Julieta)

 

—Como assim doutor  pode não voltar.

— Veja bem Dona Julieta, esses exames iniciais não demonstraram nada que tenha afetado drasticamente  o senhor Aurélio, a memória é um campo ainda muito desconhecido para nós, pouco se sabe como ela atua, armazena e se desenvolve, ele perdeu uma parte, analisando outros casos semelhantes ao dele, o resultado é positivo, muitos recuperam a memórias aos pouco, se não total uma boa parcela dela.

 

A conversa se estendeu por mais alguns minutos, tanto Ema quanto Aurélio fizeram perguntas, eu fiquei calada alheia ao que diziam, estava pensando no que o doutor disse sobre ele recuperar apenas uma parcela, não era isso o que ela queria, e se ela ficasse na parte esquecida, seus pensamentos voltam a conversa quando a questionam

— O que acha dona Julieta? — era Ema quem falava com ela

— Desculpe querida, mas não ouvi.— me desculpo por perder o rumo do assunto.

— O que acha de voltarmos ao Vale, o médico acha que  as memórias podem voltar estando em lugares onde papai já foi.— ela  repete.

—Penso que deve ser uma  boa ideia.

— Há alguns exames que o resultado ainda demoram a vir, em duas semanas quero voltar a ver o senhor— o médico se levanta e estende a mão para Aurélio, dando assim a consulta por encerrada, esticando alguns papéis, continua— Aqui um medicamento que vão ajudar se tiver dor de cabeça.

— Eu gostaria de trocar uma palavrinha com o senhor— falei quando já estamos na porta, Ema e Aurélio se retiram fechando a porta.— E quanto ao que falar coisas para ele, o senhor acha bom?

— Bom Dona Julieta o melhor é ele recordar por si só, perguntas vai ser inevitável, mas não o forcem para que ele lembre, isso deve ser um processo gradual e de paciência, tanto dele quanto dos que o cercam— eu apenas assinto— Ele deve saber as coisas mas deve partir dele a curiosidade de saber.

 

No carro o silêncio é total, tinha sido um longo dia, já é final de tarde quando deixamos o consultório médico. Paramos em frente ao cortiço e Ema nos convida a jantar com eles, Ernesto  e os amigos tinham planejado fazer o jantar para seus pares.

— Quer vir conosco Dona Julieta?

— Não querida, estou um pouco cansada, prefiro ir para casa, seu pai também deveria fazer o mesmo— bem verdade que o corpo pedia descanso, mas não queria ter de encarar o filho e receber o seu desprezo.

— Eu irei ficar.

— Aurélio não deve ser bom, tantas pessoas e ….

— O médico mesmo disse que devo voltar e lugares e rever pessoas e pelo que Ema disse eu conheço esse lugar e muitos dos que moram aqui— Aurélio fala deixando o veículo.

— Depois voltamos com Darcy.— Ema fala.— Não quer mesmo ficar?

— Não, cuide de seu pai, qualquer coisa você me avisa.



(Por Aurélio)

 

Aquele lugar era um ambiente muito divertido, pareciam viver todos em mais perfeita harmonia, estranho era falarem com ele  nem sabem que era, mas estava tudo bem, até ele descobrir sobre Camilo Bittencourt, filho de Julieta, o menino morava ali, sendo a mãe quem era, não quis indagar ninguém sobre aquilo, Ema poderia dizer o porque daquela situação, mas a menina se encontrava alegre entre as amigas, mesmo que às vezes seu olhar fugia para onde ele ou onde Ernesto estava, não iria atrapalhar o momento da filha com aquilo.

 

Assim como no princípio foi estranho ver a filha já crescida, ver as Beneditos meninas que viu crescer, que brincavam com sua Ema, e ali estavam as duas uma noiva de Darcy e outra casada com Camilo.

 

Tudo corria bem, o jantar foi divertido, as risadas, conversas, só lhe fizeram bem, mas então o tempo mudou, ao mencionarem a Rainha do Café, Camilo se transformou, talvez pela bebida ou pelo rancor.

—A toda poderosa Rainha do Café mudar, não sei onde, nem que o mundo acabem ela irá mudar, vejam bem ao que ela fez ao próprio filho— ele ri sarcástico, a s moças o olham penalizadas, os rapazes ficam quietos.— A povo não fiquem com essas caras, sabem bem quando se trata de dona Julieta tudo é questão de negócios, poder e dinheiro.

— Você não deveria falar assim de sua mãe— não sei porque mas me incomodou a forma como ele falava dela.

— o senhor a defende, como pode?— mais um gole de bebida, talvez para adquirir coragem— Depois de tudo o que ela fez ao senhor e sua família— ele ri alto e bate a mão na testa — Claro perdeu a memória, esqueci — vejo Jane o puxar, mas o corpo fino da moça não move o homem.

—O que quer dizer rapaz— o indago.

— Papai deixe para lá, Camilo não sabe o que diz, não nesse estado— Ema fala mas nem presto atenção.

— Vou fazer um favor e ajudá-lo, dona Julieta comprou as dívidas de sua s família, e os expulsou de casa— ele abre os braços e gira no mesmo lugar — Por isso Ema veio morar aqui, não é?

—Chega Camilo— Ernesto intervém e consegue o puxar.

—Papai vamos para casa— ele puxa minha mão, mas não me movo.

—Isso é verdade? — a olho, vejo em seus olhos a verdade.

— Vamos papai, em casa conversamos.

— Que casa Ema? Como pode esconder que estou vivendo na casa de quem nos tirou tudo?

— Não é bem assim a história.

— Então Camilo mentiu?  Ela não nos expulsou de casa, não tomou a fazenda.

—Sim, mas Dona Julieta mudou.

— E porque?

— Pelo senhor.


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