Pequenos Contos escrita por Tah Madeira


Capítulo 31
365 DIAS (Final)


Notas iniciais do capítulo

Olá...

Quem é vivo sempre aparece, mesmo que seja uma eterna cara de pau.

Trago o último capitulo desse conto, mas calma, vai ter outros contos mais de Julieta, Aurélio, e uma Isabel um pouco mais desenvolvida na história.

Falar do primeiro ano de um bebê é complicado, pois não sei se consegui colocar direitinho as coisas, espero que sim.

Bom sem mais, boa leitura.



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DIA 312

—Acho muito injusto isso Isabel— Aurélio tem a filha sentada à sua frente, os dois sobre uma colcha no chão do quarto da pequena— Como assim fala mamãe e até agora nada de papai—ele alcança a boneca que a criança quer pegar, eu coloco a mão na boca para não rir— Veja bem minha filha, papai é tão mais fácil de falar, tudo bem que sua mãe ficou feliz e tudo mais, também fiquei feliz por ela, e por estar presente, mas que tal começarmos a ensaiar — ele a pega e deixa de pé em sua frente—Olha para o pai— ele faz uma careta, e assim atrai a atenção da pequena— Agora repete junto comigo PA-PAI, vai minha bonequinha é tão fácil PA-PAI— a criança ri, eu acabo rindo, então Isabel me olha .

— Mã — ela diz, Aurélio me olha e não seguro a risada.

— Achei que nós estávamos conversando Isabel—eu acabei caminhando até eles, deixei minha mãos sobre seus ombros.

— Pelo visto ela não estava de acordo.— toquei em seus cabelos, enquanto lanço beijos para aquela sapeca que dava pulinhos ao me ver.

— Essa menina é apaixonada por você.—ele diz a deixando sentada no chão, logo ela busca a sua boneca.

— E eu sou por ela— inclinei meu corpo até chegar em seu ouvido— E sou mais ainda pelo pai dela.— finalizo beijando seu rosto, Aurélio segura em minha mão e me puxou para seu colo, selando os nossos lábios com um breve beijo, pois alguém resolveu falar.

— Mã — e novamente sinto a emoção da primeira vez em que a ouvi, o mesmo sentimento ao ouvir pela primeira vez Camilo me chamar assim, ela estica os bracinhos gorduchos para mim eu a pego a sentando em meu colo, ela logo segura um pouco meus cabelos. — Mã.

— Sim Isabel, já entendemos, sua “mã” está aqui, seu pai também.— Aurélio fala, escondo meu rosto em seu pescoço para poder rir.

 

DIA 333

 

— Mas veja só dona Julietinha— ouço o grito estridente da mãe de Elisabeta, que aponta para o neto, Thomas, que dá alguns passos desajeitados pela sala.—E a sua menina, ainda não caminha?

—Não dona Ofélia, Isabel tem apenas onze meses, é cedo ainda.

— Cedo nada, Elisabeta começou a caminhar antes do primeiro ano.— ela segura uma mão do neto, Isabel e o pequeno Eduardo, meu neto, brincam alheios ao diálogo, enquanto Lucas, filho de Ema, ganha a sala engatinhando.— Mas também Elisabeta, sempre quis ser independente e ganhar o mundo, esse aqui tem quem puxar—diz apontando para o neto, que queria se soltar dela e andar só.

—Sim, ele é muito esperto.— digo, enquanto pego a boneca que Isabel deixou escapar— Isso que você quer minha filha?— perguntei esticando o objeto para ela, que sorri, passei os meus dedos por seus cabelos, que já apresentava pequenos cachinhos nas pontas.

— Eu acho tão lindo ver vocês juntas— a senhora mais velha, fala com os olhos marejados.— Foi uma benção para essa menina ser de vocês.

—É uma benção para nós em ter ela—dou um brinquedo a Eduardo, enquanto dona Ofélia trás Thomas e Lucas para junto de mim.— Todos os dias eu agradeço por ter o meu destino traçado ao dela.

— A senhora e senhor Aurélio pretendem contar a verdadeira origem dela?

— Nunca falamos sobre isso —senti um estranho aperto no peito, um incômodo por apenas cogitar a possível conversa em um futuro que torço estar muito distante.—Não sei como vamos fazer, bem verdade não é algo que eu penso com frequência, e acredito que nem Aurélio o faz.

— Essa menina não poderia ter pais melhores, a senhora mudou muito, e mais ainda com a chegada dela.—sorri abertamente ao ouvir isso, era tão verdade.

—Quando cheguei ao Vale vocês me achavam uma bruxa— falei arrancando uma risada da mais velha.

— Não bem uma bruxa, sempre achei que por trás da cara carrancuda e da roupa preta tinha uma história, e uma mulher de fibra— ela abre os braços apontando as crianças — E veja onde estamos, aproveitando uma tarde ao lado dos nossos netos e da sua filha.

 

DIA 352

 

— O que está acontecendo aqui? — entro na cozinha e nada no mundo poderia me preparar para tal cena, Julieta coberta de farinha dos pés a cabeça.Tenória e Jane na mesma situação.

— Julieta e Jane, querem por que querem cozinhar.

— E porque essa cozinha mais parece um campo de batalha, está ensinando elas a cozinhas ou a ir ao uma guerra— papai diz entrando na cozinha também.

—Não exagere Barão— Julieta fala batendo a farinha da roupa, levantando mais pó branco pelo ar.— Mas Jane ...Jane....— as três dão risadas— eu e papai ficamos sem entender o que acontecia, mas pouco me importava a situação, a risada gostosa que Julieta dava, acabei por me contagiar também, e sem saber a história, acabei rindo também, minha esposa volta a ficar séria, ou tenta—Então Jane foi pegar o pote com a farinha e derrubou no chão— ao final da frase as três voltam a gargalhar.

— Ninguém me disse que farinha pudesse ser tão pesada.— mais uma rodada de risos, por fim as crianças na sala acabam chamando a nossa atenção.

— Bom deixa eu ir ajudar Estilingue com as crianças—Julieta fala indo, mas coloquei meu braço em sua frente impedindo sua passagem.

— Acho melhor não, meu amor, capaz dela se assustar com a mãe branca desse jeito— falei sorrindo, acabei por receber em meu nariz seu dedo todo branco.


          DIA 364

Julieta

Você não sabe o bem que me fez ao aceitar o meu pedido, de ficar com esse bebê, de dar uma vida que mesmo que eu vá sobreviver, coisa que eu não acredito, eu nunca poderia dar a essa criança.
Você não tinha nenhuma obrigação, pelo contrário poderia com todo o direito recusar a oferta.

Voltei ao Vale sem nenhuma esperança de conseguir o que eu pretendia, mas você se mostrou superior a mim, e pude comprovar o quanto mudou, eu que não acreditava nisso acabei sendo beneficiada por essa nova Julieta.

Sabe muito bem que nunca tive muito tato com crianças, apesar de não maltratar elas nunca tive jeito, esse bebê eu nunca o senti como meu, nunca nem mesmo desejei ser mãe, como outras tantas coisas em minha vida eu fiz algo errado, e me vi em uma circunstância completamente equivocada, quando eu descobri estar grávida já era tarde demais para tentar reverter essa situação, sabe bem do que falo. Então passei a acreditar no destino, que tudo o que fazemos seja de ruim ou de bom, volta para nós, e desde o momento que soube dessa criança era em você que eu pensava, e pensei mais ainda quando sentia que não iria sobreviver a essa gestação, certa vez eu sonhei, muitos anos atrás, que eu estava nessa situação, grávida, o bebê nascia e eu não sobrevivia, nunca dei a devida importância aos sonhos, e acabei por esquecer, mas agora sonho quase todas as noites, sempre a mesma coisa. Tenho certeza do meu fim.

Escrevo a você para mais uma vez não mencionar a esse bebê quem eu fui e a minha importância em trazê-la ao mundo, ele não merece saber dos podres da sua genitora, e do quanto fui falha, o que quero é que me esqueçam, esqueçam que um dia eu existi, e do quão mal eu fiz a vocês.

Sei que será a melhor mãe que ela pode ter, e Aurélio, mesmo sendo o caipira que é, será um bom pai.

Eu espero que seja uma menina, que assim você ganha uma companheira e Aurélio perca mais os cabelos, e que ela venha para colorir mais os seus dias, e que a veja como sua, não como algo que foi dado a você, mais uma vez eu nunca a senti como minha, menos ainda ao ter a certeza que você aceitou esse bebê como seu.

Me despeço com o coração mais leve, com a certeza de que pelo menos uma vez na vida agi certo, fiz o certo.

Susana Maldonado."

Deixei a carta de lado, e caminhei até o berço, Isabel dormia lindamente agarrada a sua boneca de pano,um presente de Camilo , quando montou o berço. Ela respirava tranquilamente, alheia as batidas do meu coração, no dia seguinte iria fazer um ano desde que ela entrou em minha vida, sinto uma mão em minhas costas, nem preciso virar para saber quem é, seu corpo colou ao meu, sinto um beijo em minha cabeça, busquei seu braço e entrelaço meus dedos ao seu.

— Sabia que iria encontrar você aqui.— ouço sua voz em meu ouvido.

— Um ano, um ano atrás éramos acordados no meio da madrugada.— falei sem tirar os olhos do corpinho dormindo no berço.

— E voltamos para a casa com o bem mais precioso…

— Nossa filha

— Sim, nossa filha.— ele diz e beija meu rosto.— Eu não lembro mais como era nossas vidas antes da chegada dela.

— Eu não sei mais como era minha vida antes da chegada de vocês.— virei para olhar para ele— Na verdade, nem faço questão de lembrar— beijo seus lábios, deixo meu corpo colado ao dele, enquanto ele me abraça.— Sou tão grata por ter vivido cada dia desse último ano seu lado.

—Eu que sou grato, por ter dividido cada dia com você— ele beija minha testa. Virei novamente meu corpo para o berço, me debruçando, passo meu dedos pelo rosto dela, pelo relógio vejo que já passou da meia-noite

— Feliz aniversário minha pequena.— digo enquanto abaixo e beijo sua cabecinha.


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Notas finais do capítulo

Confesso que fiquei bem na dúvida de postar ou não esse capítulo...mas aqui está.

Até breve



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