Pequenos Contos escrita por Tah Madeira


Capítulo 29
365 Dias (Parte 6)


Notas iniciais do capítulo

Olá...

Estou de volta... Não demorei tanto...

Agradeço muitíssimo pelos comentários no capítulo anterior, foi de grande ajuda.

Se tiver algum erro (sempre tem) peço desculpas... Mas fiquei sem tempo.

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/764263/chapter/29

DIA 225

 

— Estou tão feliz que vocês, resolveram passar uns dias aqui— falei segurando em sua mão.

— Veja só minha sogra, até parecem que se entendem.— Jane diz olhando o filho e Isabel “conversando”, os pequenos se encontram em uma colcha sobre o tapete da sala, as duas mães com os olhares atentos sobre seus filhos.— Muito estranho chamar ela de cunhada, tão pequena.

— Verdade— acabo por concordar sorrindo— Afinal a diferença entre Isabel e Eduardo é de quase dois  meses, e com o bebê de Ema apenas algumas semanas.

— Ouvi meu nome— e a baronesinha adentra a sala carregando o seu pequeno Lucas, logo atrás vem Ernesto carregando bolsas, pastas e cobertores, Ema continuava exagerada em algumas coisas, principalmente depois do nascimento do filho.

— Ema— levantei e recebi minha enteada nos braços.— Não sabia que já tinha voltado do Rio de Janeiro, que saudades minha querida.— beijo seu rosto e ela me abraça mais uma, mais forte que da primeira vez.

— Voltei ontem de noite, eu iria vir até  aqui de qualquer modo, mas assim que soube que Jane e Camilo estavam no Vale, vim correndo.

—Que saudades minha amiga, e como está a mais nova e famosa  estilista do Brasil?—Jane caminha até a amiga, Ema deixa o filho em meus braços.

—Eu quem estava com saudades de vocês.

— Eu estou bem só para que fiquem  sabendo— Ernesto diz, deixando as coisas que trouxe em cima do sofá, acabamos por rir da cara que ele faz.— Onde estão os homens dessa casa, meus sócios principalmente?— falou após ligeiros cumprimentos.

— Nos estábulos— deixei Lucas junto com Eduardo e Isabel.

—Oi garotão — diz apertando as bochechas de Eduardo e sentando junto dos pequenos —  E como está a minha irmãzinha?— Ema pergunta passando os dedos pelo rosto de Isabel — Ela está um pouco  quentinha, será febre?

— Deixa eu ver?— a peguei e percebi que de fato ela estava sim um pouco febril.— É por causa dos dentinhos, Rômulo falou que é normal.

— Sim Dudu, ficou com febre, irritado e mal comia quando os dentes começaram a nascer.— Jane comenta entregando o brinquedo que o filho deixou escapar.

— Já dá para ver os dentinhos dela ?

— Ainda não Ema, pelo menos não reparei— levantei —Vou dar o remédio a ela e já volto.— deixei

as duas na sala.



— A febre baixou? — Ema entrou no quarto, eu estava deitada vendo Isabel dormir.

— Sim, ela acabou pegando no sono— falei e reparei que Ema não tinha dado um passo, ficando parada na porta, olhando.

— Tudo bem?—falei sentando, ela apenas balança a cabeça que sim— Vem cá— bati na cama, no lado vazio, ela dá passos lentos, um pouco tímida, enfim senta ao  meu lado— Está tudo bem mesmo?— perguntei mais uma vez, segurei em sua mão, seu olhar baixa para a irmã que dorme serenamente na cama.

— Eu...o lançamento da linha de roupas no Rio foi um sucesso.

— Acredito que sim, seu desenhos são lindos, suas ideias são ótimas— digo, ela dá um sorriso fraco para mim— Achei que era isso que queria, que eu iria ver uma Ema transbordando alegria, com mil planos, falando pelos cotovelos— dessa vez ganhei um sorriso maior.

— Eu estou feliz, a senhora não imagina o quanto… mas...

—Mas? — sentia que havia mais alguma coisa, e que ela tinha escolhido a mim para desabafar.

—Não é bem um “mas”  é que eu recebi uma proposta, uma grande oportunidade e não sei bem o que fazer, eu queria a sua opinião— ela olha fundo para mim, o mesmo olhar de Aurélio, com exceção da cor dos olhos, mas a mesma profundidade—  A senhora sempre foi para mim um grande exemplo a ser seguido, a força em forma de mulher, tão inteligente, tão segura de si, uma mulher que soube ressurgir das cinzas, que não se abateu a adversidades, tão a frente do seu tempo, que lutou tanto, tão forte.— os olhos dela ficam marejados, sua face vermelha.

— Assim eu vou acabar chorando— digo com a voz um tantinho embargada,  mas uma lágrima já rolava por minha face.

— Dona Julieta Cavalcante chorando, não creio— sorrimos entre lágrimas

— Fiquei mais fraca nos últimos tempos, principalmente desde a chegada de sua irmã.

— Não mais fraca, mais sensível, mas ainda assim exalando sua força, me inspirando e certamente vai causar o mesmo em Isabel — ela me diz olhando em meus olhos, como ela tinha tanto de Aurélio, em momentos assim eu via claramente, porém Ema me puxa dos meus pensamentos e continua com seu desabafo— Essa grande oportunidade é lançar a minha linha de roupas na Europa.

— Ema mas que notícia maravilhosa— falei a recebendo em meus braços, mais uma vez naquele dia,provavelmente não o último.

— Vou precisar viajar, passar uma temporada por lá, e ainda não falei com Ernesto, não sei como ela vai reagir...

— Oh— agora entendia o porque daquele semblante feliz mas preocupado— Minha querida.— eu a aperto mais forte em meus braços.

— Eu não sei o que fazer Julieta— as lágrimas dela  ganham força, a voz se perde, eu apenas a balanço em   meu colo, assim como faço com Isabel quando fica inquieta.Uns minutos passam, a deixei se acalmar um pouco, por fim ela volta a se ajeitar e me olhou— O negócio do café deles está indo bem, ele fez alguns bons contatos no Rio, mas  para mim é uma oportunidade que não posso desperdiçar.

— Quando eu tive que reerguer o negócio que Osório afundou,  tive que fazer uma escolha também, sei que não chega nem perto da sua, mas Camilo foi para um colégio interno ainda pequeno, com muita dor eu tive que mandá-lo,  não foi fácil, mas foi preciso, tive que deixar de lado a minha parte mãe e ser só a empresária que tinha escolhas difíceis para fazer, homens para enfrentar, situações novas para resolver, ali começou a surgir a Rainha do Café— puxei ela para olhar em seus olhos— Você tem uma escolha complicada para fazer, mas deve sentar com Ernesto e conversar, ver o que é melhor para vocês, para sua família, sei que veio atrás de um conselho, e o que posso dizer é, não desista dos seus sonhos, você tem um excelente homem ao seu lado, que tenho certeza que jamais vai podar as suas asas, creio que ele vai te incentivar, vocês só precisam estarem juntos nessa caminhada.

—Eu espero que sim, Ernesto quem foi um dos incentivadores de eu ter que ir trabalhar com Ludmila,— ela parou um pouco de falar, eu aperto mais forte a mão dela que ainda segurava a minha.

— Vocês vão encontrar um jeitinho, tenho certeza.

— Obrigada Julieta, por me ouvir, eu precisava tanto disso.— ela diz limpando as lágrimas, eu beijo sua testa e a puxei para meus braços encostando de novo sua cabeça em meu peito.

— Vou estar sempre aqui que precisar minha querida, quando casei com seu pai, nossas vidas, você, Camillo, seu avô, Tenória, nos tornamos uma família— passo os dedos por seus cabelos — Fico muito feliz que tenha vindo até mim, obrigada pela confiança.—beijei o topo de sua cabeça.

— Isabel, você nem imagina a sorte que tem— Ema fala pegando na mãozinha da irmã — Nossa mãe é uma grande mulher— ela completa, eu limpo uma lágrima de meu rosto, sempre me emocionava quando Ema falava dessa forma, fico ali deitada com minhas meninas, um tempinho depois uma sombra aparece na porta chamando minha atenção, avisto Aurélio olhando para nós, ele caminha, senta na cama de frente para nós, passa os dedos pelo cabelos da primogênita, por não ver  nenhuma movimentação dela e por sua respiração mais calma, deduzo que Ema, assim como a caçula acabou dormindo.

—Tudo bem por aqui? — aqueles olhos azuis olhando fundo para mim, como se fosse ler em minha face o que estava acontecendo, confesso que por vezes Aurélio era bem capaz de ter esse tipo de leitura, apenas me olhando.

— Sim, está tudo bem meu amor— digo sorrindo,coloquei a mão sobre a cama, o convidando a sentar do meu lado, assim, ele faz, Ema ficou entre nós ainda deitada sobre meu peito, o braço de Aurélio passa por meus ombros, beija meu rosto, deixo minha cabeça em seu ombro, sinto uma paz invadir meu peito, faltava apenas Camilo para completar aquele quadro, mas meu menino estava na mesma casa, isso já acalmava mais meu peito, estávamos juntos.

 

DIA 247

 

— Ele é tão lindo Ema— ouço ao longe Elisabeta dizer, a sala da fazenda Ouro verde estava cheia, estou um pouco longe olhando a cena, uma mão quente acaricia minhas costas.

— Como está se sentindo o avô mais bobo do Vale?— sua mão deslizou por meu braço e encaixa seus dedos com os meus.

— Devo estar tão ou mais feliz como a avó mais linda— meus dedos soltam os dela, só para poder puxá-la para um abraço, e ali olhamos a  cena. Ema com o seu filho Lucas, Ernesto ao lado, Elisabeta e Darcy com o pequeno Thomas, Jane com Eduardo no colo, Camilo conversa com o Barão e Januário,  Isabel se encontra no colo de Charlotte, Olegário ao lado, Tenória e Jorge naquele círculo, os quatro babando pela afilhada, difícil saber qual deles ficou mais emocionado com o convite.

Tinha sido o dia do batizado das três crianças, precisaram esperar por Elisabeta e Darcy que tinha feito uma viagem pela Europa, Darcy precisava resolver alguns dos negócios do pai, , mas  a espera tinha valido a pena ao reparar aquela cena da sala. Alguns dos Benedito já tinham ido embora.

— Tudo bem quanto ao amanhã?— Julieta perguntou, entrelaçando  o seu braço pelo meu, sua cabeça encostando em meu ombro.

— Ainda não quero pensar que só vou ver a minha filha daqui a alguns meses, será o tempo mais longo que ficamos separados.

— Ela vai ganhar o mundo.

—Eu sei, mas ainda assim não posso deixar de sentir saudades, mesmo que agora ela esteja a alguns passos de mim.

—Eu ainda não acredito que o Barão vai ir junto.

—Por mim ele ficava, já está com idade avançada demais para esse tipo de viagem, mas quando ele coloca uma coisa na cabeça, ninguém é capaz de o fazer mudar de ideia.

—Eu sei bem disso, oh se sei. —seu braço se solta do meu ficando de frente para mim. — E assim a casa vai ficando vazia, mais uma vez.—Abraço seu corpo, colando nossos lábios rapidamente.



DIA 272

 

Ouvi um barulho na porta, logo em seguida passos são dados, mas não ergui minha cabeça para ver quem estava ali.

 

—Viu, falei que sua mãe estava ocupada. —ouço a voz de Aurélio, olho para ele e vejo Isabel de pé, suas mãos segurando as mãos do pai.

 

—Aurélio, está cedo para carregar ela assim. —falei pousado os óculos sobre a mesa e levantando da cadeira, ele ao ver minha ação começa a dar passos lentos com a filha, e a ela “caminha” assim com ele, sorrindo, sempre sorrindo com o pai, por um minuto eu paro e fico observando a cena.

—Ela fez nove meses, e vc diz que devemos estimular ela. E você está gostando, não é mesmo minha filha. —ele caminha com ela até mim.

—Sim até parece que ela não iria gostar de fazer algo com você. —fico de frente para eles e me abaixo a pegando no colo, —Você e seu pai, o que andaram aprontando para estar assim toda suada — ela sorri, mostrando os dentinhos, seus dedos passam por meu rosto, juntei o meu nariz perto dela e sinto um cheiro diferente, conhecido, mas não o perfume que ela tem, desço meu nariz por seu pescoço—Aurélio?

—Sim meu amor? —diz ele com uma cara estranha.

—Que cheiro é esse nela? —aspiro mais uma vez, para tentar descobrir de onde vinha aquele odor —Por onde vocês andaram —a criança ri da minha pequena investigação por seu corpo.

—Estávamos pela fazenda, passeando, né filha—ele estica os braços para pegar —Deixa ela comigo, vou dar um banho nela—Isabel estica seus pequenos braços para ir para o colo do pai. Novamente eu a cheiro e descubro.

—Eu não acredito —falei olhando para ele, eu a apertei mais em meus braços, ele recolhe o braço —Você a levou aos estábulos? — ele nem precisou responder sua cara denunciava —Aurélio, o que nós tínhamos combinado?

—Eu só queria mostra os cavalos para ela, e Isabel gostou, não foi filha?

—Não vem com esse filha—parei e observei ele mais atentamente —Me diz que não a pôs em cima de algum cavalo —novamente o silêncio  é resposta da minha pergunta. —Aurélio Cavalcante, é perigoso.

—Julieta eu estava junto.

—Mesmo assim, poderia acontecer alguma coisa. .. —comecei a caminhar, saindo do escritório, com ele atrás de mim.

—Estava com ela, Soberano estava calmo…

—Você lembra como perdeu a memória? —virei para ele e indaguei.

—Isso é golpe baixo, são situações diferentes — não deixo ele terminar de falar e volto a caminhar. —Eu jamais deixaria algo acontecer a ela, jamais. —ele passa por mim subindo as escadas.






Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!