Pequenos Contos escrita por Tah Madeira


Capítulo 21
Sensibilidade — Uma Vida(Parte 2)


Notas iniciais do capítulo

Olá...Voltei bem rapidinho.

Então chegamos a parte dois desse conto "Uma Vida"

Temos várias coisinhas aqui, o capítulo ficou grande.

Quero agradecer muito por todos os comentários, isso ajuda muito assim consigo ter uma base do que vocês estão achando, tento responder a todos, gosto dessa troca.

Boa leitura.



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(Por Aurélio)

 

— Você a quer? — ela pergunta com uma voz baixa, podia ver em seus olhos as dúvidas, as incertezas, o receio, que toda aquela história trazia, sentia que algo estava acontecendo, mas nunca que poderia julgar  seria algo desse tipo, um bebê, filho de Susana, uma coisa impossível de acreditar.

— Julieta — começo a dizer sem saber como prosseguir, como falar o que ia no meu íntimo mais secreto, nem mesmo tinha conversado com ela essa possibilidade, levanto do banco, permaneço em pé olhando para ela.— Você sabe que sempre vou ir de acordo com o que você quer, mesmo que eu não concorde, mas ...

— Mas você não quer isso, esse bebê, dessa forma— ela o corta e vejo um pouco de desânimo em seu olhar.

— Não é isso ou melhor é exatamente isso, esse bebê...— volto a sentar ao seu lado, segurando em sua mão— Não será apenas um bebê, será um filho, é isso que essa criança vai se tornar, nosso filho, eu sempre desejei, intimamente sempre quis, mesmo nunca falando, não tendo a oportunidade e nem sabendo se ainda podemos.

— Eu não posso mais ter filhos Aurélio—vejo a surpresa no olhar dela pelo que acabei de confessar, mas tínhamos que ser sinceros, ela foi, Julieta agora é quem se afasta, ficando em pé, ouvir que ela não pode mais ter filhos não chega a ser uma surpresa, já estavam casados a quatro meses, e já tinham feito amor muito antes disso, se era para acontecer já tinha dado tempo mais que o suficiente, ela continua com o seu diálogo — Após o parto de Camilo, eu fiquei grávida mais uma vez, como disse a você, a gravidez foi interrompida pela violência de Osório, eu quase morri junto com a criança, o médico que me atendeu disse que dificilmente eu ficaria grávida de novo, na época senti como uma benção, pra que trazer mais uma criança para aquele  inferno no qual eu vivia, e já tinha Camilo, não precisava de mais nada — ela senta de novo, alisa meu rosto— Até você chegar e mudar tudo— ela abre um sorriso, mas percebo uma tristeza em seu olhar.

—E esse olhar?— eu toco em seu rosto, que fecha os olhos.

— Por saber só agora desse seu desejo e não poder realizar— balanço a cabeça eu não deveria ter falado dos meus anseios, a deixando mal por algo que ela não tinha culpa e mais ainda a fazendo recordar de mais uma marca deixada por aquele monstro, beijo seu rosto, e digo está tudo bem em seu ouvido— E também  tenho medo, se ficarmos mesmo, ele passa a ser nosso filho, e não fui uma boa mãe para Camilo, e...

— Ei, olha para mim— peço, lentamente seus olhos se abrem e os vejo inundados de lágrimas, mas não as derrama— Você foi o melhor que conseguiu ser dentro das circunstâncias em que se encontrava, e depois você fez o que pode para proteger o seu filho, julgando o que achava ser o melhor..

— E falhei, agi errado, julguei demais, errei muito — ela me corta, mas não me dou por vencido.

— Sim errou, e principalmente aprendeu com seus erros, assim como eu errei com Ema, e veja estamos todos bem, todos juntos— fico mais próxima dela, passando suas pernas por cima das minhas, fazendo-a sentar em meu colo, de lado, sua mão direita  segura e meu pescoço, seguro em sua mão esquerda — E tem mais uma coisa, você não está mais sozinha— beijo onde está a nossa aliança, olhando em seus olhos pergunto mais uma vez — Você quer ter essa criança comigo ao seu lado?— vejo um sorriso se formar em seus lábios, e um brilho a mais em seu olhar.

— Sim, mesmo  com todos os receios e medos, mas com você ao meu lado eu quero sim— quase não a deixei terminar de falar pois ansioso a beijo, e uma nova expectativa toma conta de mim, sua cabeça repousa em meu ombro, sinto seus ombros relaxarem como soltando o peso que carregava, ou melhor dividindo  a carga, sua mão procura a minha juntando em um aperto forte.

— Então vamos ter um filho, senhora Julieta Cavalcante?— digo após alguns minutos de silêncio entre nós.

— Ou uma filha— diz sorrindo, sem que ela espere a apertei forte em meus braços e levanto do banco com ela ainda meu colo a girando— Aurélio, Aurélio— fala gargalhando— Para, vocês vai nos derrubar— interrompo os giros, deixando seus pés tocar o chão, mas ainda aprendo pela cintura em meus braços.

— Eu jamais iria nos derrubar, meu amor— e a beijo rápido — Só se tivesse uma cama atrás de nós —ouço a  risada gostosa que ela dá, mas silêncio com mais um beijo.


***

— Então é isso Susana, aceitamos receber o bebê, será a partir do momento que nascer o nosso filho— ouço ela dizer firme como sempre, porém o aperto forte de seus dedos entre os meus demonstram apenas para mim o quão apreensiva ela estava, mas apenas eu estava sabendo disso. Tentei fazer com que Julieta fosse com calma, mas ela após ter decidido algo, dificilmente voltava atrás e  não descansava enquanto não resolvesse, Jorge foi chamado posteriormente a nossa conversa, o colocando a par da situação, saiu poucas horas ido resolver a parte burocrática da questão e nós dois nos dirigimos a clínica de Rômulo, só então vendo aquela mulher foi que entendi o porque não só a aflição de Julieta, mas o querer resolver o quanto antes, Susana definhava em cima da cama,  se ele não tivesse visto com os próprios olhos julgava se tratar de uma mentira.— Amanhã Jorge deverá trazer toda a documentação para regularizar a adoção, eu irei vir com ele.— ela se levanta indo até a porta— Vamos, meu amor?— caminho ao seu lado, mas algo faltou, algo que eu precisava dizer.

— Esqueci... — mas Julieta nem presta atenção pois um dos médicos a chama, enquanto eu volto ao quarto, Susana deitada de olhos fechados, tocar a sua barriga, mas quando me vê recolhe a mão rapidamente.

— Eu quero com todas as minhas forças acreditar que você mudou, que realmente está querendo se redimir e fazer algo de bom.— ela me olha surpresa, talvez por minha palavras sair mais rude do que eu esperava— Quero que tenha a real certeza do que está fazendo quando assinar aqueles papéis, isso nos garante a guarda da criança mesmo  se você...se você — me faltam as palavras corretas.

— Eu não vou sobreviver, pode ficar despreocupado Aurélio— ela diz com um pouco do seu deboche de antes, mas não era nem o mínimo do que foi um dia — E mesmo que eu vá sobreviver, o que é quase impossível, eu dei minha palavra, e vou dar a minha assinatura amanhã.

— Porque Susana? Porque nós?— ela se ajeita na cama, olho em seus olhos a procura de algum indício de mentira, mas não encontro.

— Se você soubesse que ira morrer Aurélio, se não tivesse mais ninguém a quem recorrer, e Ema fosse pequena, indefesa, mesmo você sendo uma pessoa ruim , você ainda assim não iria querer o melhor para ela, mesmo que se tivesse que se humilhar, não iria procurar pessoas boas para que olhassem por ela, para que ela fosse criada  para ser uma pessoa melhor do que você foi— vejo lágrimas em seu olhar, mas ela não as permite cair— Eu posso ter sido ruim, mas não sou burra, Julieta é uma pessoa boa, e apesar de eu tentar levá-la por outro caminho você chegou e conseguiu mudá-la, sei que essa criança não pode ter melhores pais que vocês dois. Agora por favor se saia, estou cansada— Com esforço vejo ela se virar de costas para mim, sei que não é só cansaço, é para chorar longe das minhas vistas.

 

(Por Julieta)

 

O caminho de volta para casa é em silêncio, mesmo segurando em suas mãos, Aurélio estava distante, eu também estava, mesmo tendo decidido a ficar com o bebê de Susana, tornando ele nosso filho, algo me incomodava, algo pequeno.

— Chegamos meu amor— ouço ele falar e sair para me ajudar a descer, entramos em casa juntos e logo fomos abordados pelo meu sogro.

— Vocês dois demoram, já jantamos.

— Tudo bem Barão, estou sem fome mesmo, boa noite a todos— soltou meu braço de Aurélio e subo ao quarto, precisava de um banho, de afundar o corpo na água e tentar aplacar aquela tensão em meus ombros.

Após o banho, deitei na cama pensando no que Jonas me disse, tentei deixar de lado, ainda mais quando ouço a maçaneta girar e Aurélio com uma bandeja entra no quarto.

— Sei bem que disse não ter fome, mas precisa se alimentar— acabo sorrindo com aquele gesto que ele sempre tem e sempre me emociona, o seu cuidado comigo — Vou tomar um banho e a senhora trate de comer alguma coisa— deixa a bandeja sobre a cama, beija os meus lábios — E nem adianta reclamar, volto logo.— se recolhe no banheiro, quanto a mim não resta outra opção senão comer, de tão bem que me conhece, há apenas um lanche, suco e frutas, comendo pouco a pouco estou quase no fim do lanche quando ele sai de corpo lavado, vestindo seu pijama e secando os cabelos.— Muito bom, comeu quase tudo, vou levar lá para baixo.

— Deixa que eu levo — digo sem dar oportunidade dele protestar sai, ao voltar no quarto Aurélio estava na janela, olhando o luar, vem uma brisa agradável  que traz até mim seu perfume, caminho devagar e envolvi sua cintura com meus braços, fazendo o que tantas vezes ele fazia comigo, o pego de surpresa, para beijar seu pescoço preciso ficar nas pontas dos pés, Aurélio é mais alto— Obrigada por cuidar de mim— o beijos mais uma vez abaixo da sua orelha, suas mãos apertam as minhas.

— Você tomou o meu lugar — fala sorrindo, virando seu corpo para olhar o meu, beija minha testa e se põe atrás de mim— Assim está melhor— diz ao repousar seus braços em minha cintura e descansar sua cabeça em meu ombro. fecho os olhos para apreciar não só a brisa, como os seus carinhos, seus beijos aqui e ali, trazendo não só uma sensação de bem estar como acendendo um pequeno desejo— Meu amor, porque está tão calada? Desde que saímos do consultória que está quietinha, o que a preocupa?— eles diz do nada, acabo sorrindo, como esconder coisas de alguém que te conhece tão bem, era difícil.

— Só um pouquinho apreensiva com tudo isso, com todas as mudanças que vão vir, não falamos para ninguém, tem também  o tanto que vamos ter de explicar, os olhares que podem vir de todos os lugares — desato a falar, nem reparando no tremor da minha voz, é Aurélio quem tem a voz firme ao falar.

— Não devemos explicações a ninguém, sei que vai ter várias indagações dos outros, mas se estamos firmes nesta decisão os outros são os outros, meu amor— sinto ele sacudir os ombros, dando ênfase ao que diz, e sorrindo ele completa — Eu não me preocupo, casei com a Rainha do Café, sei que ela ficou mais doce e amável, mas não por isso deixa de ser imponente quando precisa, certa vez disse que não era para me preocupar que ela só fazia o que queria, estou enganado?— acabo sorrindo pela referência a frase que usei na nossa primeira vez. Virei meu corpo dentro dos seus braços, olhando em seus olhos, passo a mão por baixo da sua camisa espalmando em suas costas.

— Está certo querido— arranhando de leve  suas costa, vou beijando o seu rosto enquanto falo— Eu só faço o que quero, e neste momento eu quero você— sua mão aperta mais em minha cintura, enquanto as minhas abandonam as suas costas, indo até a barra e a suspendo por seu corpo, ao tirá-la e jogá-la pelo quarto sinto ele passar as suas mãos por meu corpo, mesmo com o tecido da camisola, sinto meu corpo vibrar aos seus toques, agarro em seu pescoço enquanto o beijo, Aurélio me ergue e vira me prensando contra a parede, minhas pernas ganham o apoio que preciso quando envolvo seu quadril com elas, meus dedos apertam seus cabelos ao sentir sua boca em meu seio esquerdo, a brisa que vem da janela não é o suficiente para aplacar o calor que há entre nós dois— Vamos para a cama?— peço entre um gemido e outro, enquanto ele abaixa as alças da camisola, o que acho bom se não eu mesma era capaz de rasgar o tecido.

— Aqui estão tão bom — seus dedos encontram o ponto entre as minhas pernas que me tira de vez o juízo— Não está bom?

— Sim.. está..— consigo articular as palavras, mas as perco quando um dedo me invade, permito deixar levar, extravasando  com uma pequena mordida em seu ombro quando na verdade eu queria gritar quando o seu toque fica mais rápido, em um lapso ao abrir os olhos lembro  da janela— Para a cama meu amor, por favor, a janela— só o que consigo formular, ele entende e caminha comigo em seu colo para cama.

 

(Por Aurélio)

 

— Você precisa assinar nestas linhas Susana— ouço Jorge dizer, seguro na mão de Julieta que ainda estava tensa com tudo aquilo, assim como eu, mas precisava me manter firme para dar o suporte que ela precisava, eu também tinhas alguns receios e medos, mas sem sombra de dúvidas sabia  que estava fazendo o certo, e estranhamente sentia uma pequena felicidade despontando enquanto a ex funcionário dela assinava aqueles papéis.

— Acho que isso é tudo, Rômulo disse que você deve permanecer até o fim da gravidez aqui, é mais seguro para vocês dois, vou vir todos os dias, mas precisando de algo pode me avisar—Julieta diz ficando em pé, sei bem que está apenas usando a sua armadura  que vai usar durante todo o dia, pois mais cedo convidamos nossos filhos para um almoço e assim falar da novidade, Susana segura em sua mão.

— Só um minuto— tira debaixo do travesseiro um envelope e entrega para a minha esposa, que fica surpresa — Uma carta...

— Para o bebê?—  ouço ela perguntar e a sua voz falha um pouco.

— Não, não quero que ele ou ela saiba de mim, essa carta é para você, mas peço que leia depois — pede com lágrimas nos olhos, vejo Julieta apenas assentir e guardar o envelope na bolsa, então saímos de lá.


***

— Isso não pode ser verdade— é a primeira coisa que meu pai  fala, após longos segundos de silêncio entre todos da sala.

— Mas isso é uma notícia maravilhosa — Jane diz enquanto levanta do lado do marido e abraça a sogra— Vocês estão fazendo uma coisa muito boa, assim como minha irmã Mariana,  vão ser muito felizes.

— Então vou ganhar mais um irmão ou irmã — Ema tenta se levantar mas o barrigão a impedia— Vem cá meu pai, não consigo ir até o senhor— vou até ela e ganho o melhor abraço que sua barriga permite, Julieta faz o mesmo.

— Mais pessoas nesta família, coisa boa, antes era só eu e a senhora mamãe, agora veja quantos somos— diz Estilingue feliz para a mãe que tem o neto de Julieta no colo.

— E você meu filho, não diz nada?— Julieta pergunta a Camilo que se mantém calado olhando para o nada específico.

— Como a senhora pode fazer algo assim— ele diz com algo que se assemelha a mágoa na voz — Está dizendo que vai adotar o filho da Susana.

— Não será filho da Susana e sim meu e de Aurélio.

— Mas tinha que ser dela, da Susana, ela que fez tanto mal a nós, a você.

— Sim, ela errou, mas o que uma criança inocente tem a ver com isso— o silêncio é pesando na sala, ninguém ousa falar apenas ouvir aquele difícil diálogo entre os dois.

— Mas ela errou tanto...

— E quem erra, percebe que errou e pede perdão por seus erros não merece uma segunda chance?— vejo ela arquear a sobrancelha, sabemos bem do que ela fala—O que  diz para mim que fiz tanto mal a você e Jane, não merecia o seu perdão, uma segunda chance?

— Não isso mãe— ele resmunga — E que a senhora ...

— Eu o que Camilo? Diga, sei bem o que pensa, mas quero ouvir você dizer

— A senhora não foi uma boa mãe

— Camilo — Jane tentar falar com o esposo, assim como os outros na sala,  mas a voz firme de Julieta se sobrepõe aos demais.

— Deixe ele falar Jane, sei bem que não fui mesmo uma boa mãe, sei que falhei muitas e muitas vezes com você meu filho.

—Concordamos em algo minha mãe, não foi só a falha em algumas situações como  sua ausência falhou mais ainda que seus atos, conseguirá ser diferente?

— Eu não sei, mas  única certeza é que vou  tentar.

— A senhora poderia ter nos perguntado antes o que pensamos disso.

—Não Camilo, não tinha que perguntar nada a você, nem aos demais,  única pessoa a quem devo não perguntar, mas devo apenas conversar, sei que  estará comigo é o meu marido, e eu e Aurélio concordamos em dar um lar a essa criança, seremos os pais dela, e nada mais importa— ela levanta de seu lugar, olha um por um— Vocês podem até não concordar, ter suas objeções quanto as minhas habilidades, seus temores, mas a decisão já está tomada—  olha agora para o filho— Sei bem que vai repensar as suas palavras, que foi um bom menino e se tornou um ótimo homem, ainda que mimado em algumas atitudes, como essa. Com licença— penso que ela vai se recolher, mas não, ela segue o caminho para os fundos da casa, e sei o que ela vai fazer, o que confirmei ao ir até a janela e vê-la cavalgando com Soberano, não seria bom ir atrás dela, precisava dar o tempo dela, sabia que seria uma conversa difícil, mas jamais poderia imaginar que Camilo fosse agir daquela forma, fiquei afastados de todos.

— Viu bem o que você fez Camilo, estragou um momento lindo de sua mãe e do senhor Aurélio— ouço Jane dizer, mas não olho para eles, não tiro meus olhos da figura que some ao horizonte em cima do seu cavalo.

— Como o senhor está papai?— Ema se aproxima de mim, sinto suas mãos em minhas costas.

— Estou bem, sabia que algo do tipo pudesse acontecer, esperava isso do seu avô, claro do jeito resmungão dele de sempre.

— Camilo já sentiu que errou, só dar um tempinho que ele aceita a ideia.

— Não estou preocupado com ele minha filha, e sim com Julieta, esse era o receio dela.— vejo que Jane sai, e Camilo logo atrás carregando o filho, sei que os dois iriam ter uma longa conversa pela frente.

— Então você e Julieta resolveram prolongar meus dias na terra— papai fala se aproximando de nós, e entramos em um conversa agradável quando Ernesto, Tenória e Estilingue  se juntam a nós.

 

(Por Julieta)

 

Já é final de tarde quando decido voltar para casa, passeios com Soberano sempre ajudavam, principalmente em momentos de tensão como estava tendo,Camilo a surpreendeu agindo de uma forma tão infantil e mimada, mas não pode deixar de pensar que ele mesmo assim colocou para fora os receios que ela tinha, o jeito que ela foi, os erros que cometeu, e o medo que ela tinha de falhar com aquele ser que logo iria entrar em sua vida, mas se lembra das boas  palavras de Aurélio, e isso acalma algo dentro de sim.

Deixei  o cavalo  aos cuidados de um empregado e vou  para casa, a primeira pessoa que encontra é o sogro.

— Olá Barão.

— Vejo que o passeio fez bem, está com uma fisionomia melhor do que quando saiu da sala fugida.

— Não fugi, sabe bem que não sou esse tipo de mulher.

— Sei que não és, mas me pergunto se  vai agir assim toda vez que questionarem o seu lado mãe, sairá desse jeito?

— Precisava de ar.

— E logo terá uma crianças em seus braços, precisando de você, não pode simplesmente deixá-a e ir galopar pelos campos.

— O senhor está sendo duro demais com suas palavras.

— A senhora é tem que ser, com as suas e com suas ações — pela primeira vez o seu tom de voz baixa um tom — O que estou querendo dizer minha nora é que o que ouvi de Camilo será só uma prova do que vai ouvir, e assim como disse a ele ser a Rainha do Café e as opiniões alheias pouco importa, aja como tal, és uma mulher forte, sempre foi, aliás entrou no Vale do Café aterrorizando a todos. — por mais estranho que possa ser aquela conversa, entendo perfeitamente o que ele quer dizer, que poderia passar por situações semelhantes e não poderia fugir sempre.

— Achei que o senhor seria um dos primeiros a nos condenar.

— Não, crianças prologam a nossa triste velhice— ele sorri largamente— Terei mais um neto junto com meus bisneto, que presente melhor posso pedir—  ele faz um sinal para que eu me aproxime, assim eu faço— Se o destino quis que essa criança caísse nessa família é porque ela vai precisar de sua força, do carinho de Aurélio, e de um avô que lhe faça as suas vontades.— as lágrimas desfoca um pouco minha visão, mas não impedem que eu beije o rosto do meu sogro.

— Obrigada—é só o que consigo dizer antes de me afastar.

— Aurélio foi levar Ema em casa— escuto o Barão falar antes de começar a subir os degraus da escada.

***

Um banho e deitar um pouquinho era o que eu precisava, não sei de onde vem o cansaço que me faz dormir, acordando com o quarto escuro, Aurélio deitando ao meu lado.

— Desculpe, não quis acordar você— deita  de lado me olhando— Você não está com fome?

— Não— por mais que tenha só almoçado, não sentia fome.

— Você está bem?— apenas faço que sim— Ainda pensando no que Camilo disse a você? —ele passa a mão em meu rosto, você sabe que ele é apenas um garoto ainda, a idade...

— Não, não arranje desculpas para a infantilidade do meu filho, Ema é mais nova e aceitou a ideia muito bem— sei que fui dura com as palavras para descrever meu filho, mas era verdade—  Não é isso, é uma angústia, sabe quando algo está para acontecer?— ele faz que sim, vejo que ele muda de posição e se senta com as costas apoiadas na cabeceira, se dizer nada estica os braços para mim e vou para o lugar onde sempre encontro um pouco de paz, deito a cabeça e seu peito no mesmo momento que seus braços envolverem meu corpo em um abraço apertado.


***
 

Não sei o que me despertou, se o sobressalto dele, a batida na porta ou os raios que vinham forte anunciando um temporal.

— Dona Julieta — era Tião quem batia.

— Sim, só um minuto.

— Deixa que eu vou meu amor— Aurélio já se põe de pé antes que eu consiga sentar direito, leva apenas alguns segundos até que ele se volta para trás e me olha e mesmo sem ele dizer uma palavra em entendo, tinha chegado a hora de Susana dar a luz, levanto e me arrumo o mais rápido que consigo, Aurélio mais ágil já está pronto quando prendo o meu cabelo de um jeito qualquer, no andar de baixo apenas Tião e Olegário.

Não passou trinta minutos desde que Tião nos avisa e  estacionamos na frente do consultório, no primeiro passo que damos ali dentro já ouço o grito da mulher, caminho ao lugar certa, na porta que julgo onde ela está uma enfermeira entra, segundos depois vem Rômulo.

— Que bom que chegaram, está mais complicado que pensamos, a bolsa estou, a dilatação é pouca, e o pior , a criança não está na posição.

— O que isso quer dizer?

— Ela está sentada, Jonas não acha certo tentar virar ela, a perda de sangue pode  ser grande demais, o sofrimento tanto de Susana quanto o da criança vai ser maior,

— O que sugerem?— é Aurélio quem consegue formular as perguntas que estão presa em minha garganta.

— Vamos abrir ela e tirar a criança.

— Mas isso não é perigoso?

— Sim, mas do jeito que está podemos perder os dois, e Susana mesmo que ordenou, eu preciso medicar ela, mas Susana não permitiu, quer falar com a senhora primeiro.— enfim  ele me olha e compreendo seu olhar, ela não tem muito tempo.

Apenas olho para Aurélio e entro no quarto, assim que passo pela porta, meus olhos encontram os delas, conheço aquele olhar é o de medo, poucos passos são dados e já estou ao lado dela na cama.

— Você veio— ela diz entre um gemido de dor e outro.

— Sim, estou aqui.

— Eu não tenho muito tempo Julieta — vejo que o olhar dela sai de mim e vai até Rômulo que já tem uma seringa em mãos, percebi uma troca de olhares entre ele e Jonas.— Eu só queria que você soubesse que estou indo em paz por saber que essa criança está em boas mãos.

— Você pode resistir.

— Vamos ser honestas, eu não vou sobreviver— seus olhos brilham— Tenho um pedido, um último, não conte de mim, não diga que eu a trouxe ao mundo, quero que e a criança  tenho a somente a sua imagem como mãe.

— Susana nós precisamos —Rômulo começa a falar.

— Sim — ela estica o braço — Eu nunca poderia ser mãe dela, não tenho capacidade para isso, não sei o que amar, você não só sabe, como aprendeu novamente,  e quero que seja você a ensinar isso a ela— Rômulo já aplicou a injeção, com um fio de voz ela pede esticando o braço— Segura a minha mão— sem hesitar eu faço, seus dedos se agarram aos meus, sinto ela tremer, e pouco a pouco seus olhos começam a  fechar, mas antes que se fechem por completo me aproximo mais e dou um beijo em sua testa, em seus últimos instantes Susana conseguiu esboçar um leve sorriso— Me perdoa— ela sussurra baixinho, apenas digo um suave “obrigado”, seus olhos fecham de vez, sinto que não vou mais vê-la abrir,  seguro o choro ao ouvir a voz de Rômulo

— Dona Julieta — sei bem o que ele quer, preciso sair,  fico em pé e deixei a sala, ao fechar a porta atrás de mim não consigo deixar de encostar a cabeça ali e dar vazão às lágrimas, seus braços me apertam me levando de encontro ao seu peito, ficamos minutos assim, até que consigo andar ainda sendo amparada por Aurélio e eu possa explicar o que estava acontecendo, sentamos em um sofá, os minutos se arrastam, canso de ficar sentada e caminho pelo corredor, quase um hora depois a enfermeira sai  seguida por Rômulo que tem um embrulho nos braços caminham rápido para outra sala, sigo os seus passos.

— O que houve?

— Ela não está respirando—  ele diz e faz coisas que não compreendo, o bebê é tão pequeno, está com uma cor pálida demais, seus movimentos são rápidos e quase não consigo acompanhar.

— Ela? é uma menina?—perguntei mas não tenho resposta, a porta se abre e outra enfermeira entra.

— Doutor Jonas o chama.—  ela diz e se retira.

— Eu não posso —   ele continua com os seus movimentos frenéticos, aspira, comprime e nada do bebê ter uma reação, por segundos ele tenta e vejo o momento em que ele desiste, pois meu coração saltou quando seus movimentos param, queria gritar para ele continuar, mas nenhum saiu— Eu a perdi— ele olha para mim— Sinto muito dona Julieta— ele some porta fora e deixa a enfermeira ali, me aproximo rápido da cama onde o bebê está.

— Deixa eu pegar ela, só por um pouquinho— peço, mas sem esperar resposta peguei aquele corpo pequenino,  que nem teve a chance de conhecer a vida, encosto  aquele ser tão frágil em meu lado esquerdo e permito mais uma vez chorar por sentir escapar por meus dedos algo que eu não tinha tanta a certeza de querer até a segurar em meus braços.


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Notas finais do capítulo

Eu sei..."Nossa que dramático"...mas sou de câncer o drama corre em minhas veias...

Não tenho nada para dizer em minha defesa...apenas que vou tentar rapidinho como dessa vez.

Bjs



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