Pequenos Contos escrita por Tah Madeira


Capítulo 20
Sensibilidade- Um Pedido (Parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Olá... demorei um pouquinho mais, porém estou de volta.

Então vamos lá as considerações desse conto "Sensibilidade", na minha cabecinha está divido em três partes ( Um Pedido, Uma Vida, Um Recomeço) espero conseguir fazer desse jeito.

Esse é mais para entendermos como Susana entrou nesta história.

Quero muito, mas muito mesmo por todas as opiniões que foram dadas no capítulo anterior, vocês são demais, agradeço muitíssimo.


Sem mais vamos ao desenrolar desse pequeno conto.

Bjs...



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(Por Julieta)

— Ela me procurou está muito doente, está grávida e quer que eu fique com a criança. — digo olhando em seus olhos que não esboça nenhuma reação— E Aurélio, eu  não sei o que fazer — o silêncio se instaura no escritório, por fim ele diz.

— Ela não está mentindo? Não seria a primeira vez, nem eu ficaria surpreso, você sabe tão bem quem ela é.

— Também pensei nisso, ela está sob os cuidados de Rômulo e sabe que confio nele.— ele apenas concorda.

— Que tal me contar toda essa história— ele me olha fundo, acaricia meu rosto, acho que não há nada que ame mais que esse carinhos em minha face, encosto meu nariz em sua bochecha, aspirando seu cheiro e beijando seu rosto, deitei  minha cabeça em seu ombro. — Que tal uma caminhada? Está um lindo dia lá fora, e faz tempo que não damos um passeio — apenas resmunguei um sim, por melhor que seja estar em seu colo e receber seus carinhos tínhamos coisas para resolver. Concordo com um sorriso, beijei novamente  sua bochecha, desço do seu colo, Aurélio se põe de pé, estende a mão, a seguro entrelaço meu braço no dele, adorava caminhar assim, caminhamos em silêncio rumo ao jardim.

— Eu recebi uma ligação mas assim que soube que era ela desliguei sem ouvir— falo assim que sento em um banco, Aurélio senta ao meu lado pegando em minhas mãos.— Foram mais algumas ligações assim— vejo ele me olhar como indagando o porque nunca falei nada, sei que tem coisas que deixei de falar e que vou receber mais desse olhar então  prefiro ignorar e continuo a falar.— Mas no dia em que você estava doente, lembra que estávamos todos no quarto e recebi uma ligação? — ele apenas confirma com um gesto de cabeça.— Era o Rômulo, pensei que era relacionado a você, mas não, disse que Susana estava em seu consultório, e que assim que eu pudesse ir até lá, a única coisa que  ele falou foi que era urgente. Relutei em ir, não sabia o que ela queria, mas se Rômulo, um médico estava pedindo eu não poderia deixar de ir e foi o que fiz no dia seguinte.— podia ver que ele estava relembrando as vezes em que ela atendeu as ligações ou que saiu inesperadamente com Olegário após o almoço.

 

(Início das lembranças)
 

Estou no carro com Olegário, minha cabeça dando volta e mais voltas tentando saber o que estava acontecendo .

— Olegário, você tem certeza?— já era a segunda vez que ela perguntava.

— Sim dona Julieta,  fui logo cedo como a senhora pediu, falei com o doutor ele garantiu que é verdade.

— Não será mais um truque dela, você a conhece bem—  ela sabia bem do envolvimento de Susana e Olegário, mas sabia mais ainda do quanto ele tinha mudado e o quanto ele  era fiel, sabia que podia confiar nele.

— Acredito que desta vez seja a mais pura verdade, por mais ardilosa que Genésia era, não creio que ela fosse tão longe, a ponto disso— neste momento ele parou o carro e estamos em frente a pequena clínica que  o médico comandava com o outro, doutor Jonas. O funcionário abre a porta e a ajuda a descer do veículo. Já dentro do consultório Rômulo a recebe.

— Dona Julieta, como está Aurélio? diz estendendo a mão para ela.

— Já está melhor, acredita que hoje já estava jogando cartas com o pai e o sobrinho? Com certeza amanhã já vai querer  verificar os cavalos.— os dois sorriem, porém dura pouco.

— Desculpas chamar a senhora aqui, assim, mas ela insistia em que eu a procurasse, a encontrei na porta do consultório ontem a tarde, e ela deu sorte pois eu não voltava mais e Jonas estava fora, iria passar a noite ao relento e sabe bem que não posso deixar isso acontecer, ela só aceitou atendimento depois que  eu prometi que iria procurar a senhora.

— Onde ela está?— perguntei.
Ele me leva a um  corredor, em um porta mais ao fundo ele abre eu demoro a entrar, parece que meus pés não querem terminar o caminho, não era medo da pessoa dela, isso eu nunca tive, mas um certo receio a quem eu passei a conhecer depois de muito conviver, era receio de ver alguém que tantas vezes não só desejou como fez mal a mim e a quem eu amo, estava pensando em voltar e ir embora dali, quando ouço um gemido abafado de dor vir de dentro daquele aposento. Então respiro fundo e termino a curta caminhada. É um quarto pequeno, mas limpo,  na cama encontra-se uma figura diferente da Susana que outrora ela conheceu, cabelos bagunçados, estava magra, pálida, podia ver os ossos do seu rosto onde antes tinha uma bochecha, manchas escuras em volta dos olhos, parecia dormir, mas tinha uma respiração agitada, que nem mesmo Aurélio no pior momento da gripe teve, seus lábios ressecados e com alguns machucados se mexiam, mas não conseguia decifrar o que ela dizia, então vê o volume no ventre dela, sua barriga bem grande, por certo a gestação estiva no fim, se aproxima mais da cama, conseguia ver gotas de suor em sua testa, mas não ousa tocar nela, se vira e encontra o olhos de Rômulo sobre si.

— O bebê está perto de nascer— ela diz sem que eu precise perguntar— Não sei precisar bem o tempo, nem mesmo sei se ela tem muitas informações sobre a sua gravidez, sei que não teve acompanhamento médico até aqui— ouço ele sem ter certeza do que devo falar, se é que devo falar algo.

— O que ela quer comigo?— questiono, ele apenas balança a cabeça, como quem diz não saber, então escuto meu nome.

— Julieta... você está aqui?— ela fala tão baixinho, que mal escuto, dou um passo incerto em direção a cama, bem  na hora que ela abre os olhos, e aquele olhar antes tão vivo, sempre a procura de algo, não deixando nada escapar, estava  hesitante, temeroso.

— Estou aqui Susana — digo clara e firme, surpreendendo a mim mesma, pois a visão dela naquele estado mexeu comigo. Ela abre mais os olhos e busca o meu rosto, acho que conseguiu me focalizar, pois percebi um pequeno sorriso em seus lábios, mas foi por um segundo, nem consegui decifrar que tipo de sorriso era aquele.

— Eu achei que não teria tempo de ver você, de pedir para para você.— ela fecha os olhos.

— Rômulo?— é só o que consigo dizer,ele vem até mim.

— Ainda não sei o que ela tem, Jonas que tem mais experiência deve chegar  depois de amanhã, no momento consegui detectar uma forte desnutrição, pressão alta...

— Julieta — a voz fraca de Susana nos interrompe— Vem até aqui — relutante chego mais perto e apesar do cheiro que a clínica sempre tinha sentia algo mais no ar, algo podre.

— Porque me chamou aqui, o que quer de mim? — a raiva é quem fala por  mim.

— Eu preciso que você fique.

—Que eu fique, como assim?

— Quero que fique com esse bebê, se ele sobreviver, quero que você tome ele como seu filho.

— O que está dizendo.— aquelas palavras são como um soco em mim, jamais conseguiria  imaginar uma situação dessa, um pedido desses.— Só pode ser mais um truque barato seu, quer o quê? Dinheiro?  — então pela primeira vez vejo a Susana de antes, ela sorri e dá aquela risada debochada que sempre teve, mas parece ter feito um grande esforço por isso, pois perde mais  cor do rosto, e uma tosse a atinge com tudo, a vejo sufocar não consigo mexer, Rômulo quem vem e trás o copo de água até seus lábios, que toma pouco a pouco.

— Não— leva alguns minutos para ela voltar a falar, com a ajuda do médico ela se ajeitou mais na cama.— Nem seu eu quisesse eu iria querer seu dinheiro, não vou ter tempo de usufruir isso, estou morrendo Julieta— ela ergueu o lençol que a cobre e vejo seu pé coberto por um tecido branco que ela arranca e é dali que vem o cheiro que ela estava sentindo desde que entrei naquele quarto, uma ferida que parecia tomar todo o pé esquerdo, algumas partes pretas, outras roxas, não sabia precisar o que causou aquilo, mas era algo muito grave, senti um enjoo, a garganta queimar com o gosto ácido que sobe até minha boca— Não é isso que vai me matar é apenas um ferimento mal cuidado, sei que vou morrer ao dar à luz esse ser que toma as minhas últimas forças, mas só posso ir com a certeza de que você fique com ele— era demais ouvir, sai dali quase correndo, deixando o médio e a ex funcionária para trás, mas nem sem antes ouvir os gritos dela.Caminhei de volta ao carro, Olegário me esperava e sem muito dizer partimos dali..

 

****

 

No outro dia após seu encontro quente com o marido nos estábulos.

—Logo após eu sair do  Vale, eu e Petúlia vagamos muito, dormimos na rua, enquanto eu ainda tinha algo a oferecer  nós comíamos, mas isso durou pouco, logo precisei oferecer meu corpo, mas era difícil achar alguém na rua disposto a tal. Encontramos uma casa onde abrigava mulheres da vida, cobravam um valor alto, mas ofereciam, um quarto, comida, Petúlia ajuda nas tarefas da casa,  na cozinha, e assim pode permanecer, as semanas foram passando e eu aceitava os clientes sempre em busca de alguém para me tirar daquela vida, eu não me acostumava com os desmandos deles, as insaciedade de uns, e coisas quase impossível de relatar. — eu preciso fazer força para não trazer todas aquelas imagens que ela estava contato, não queria aquilo em minha cabeça, sabia como era fazer coisas por obrigação, em cada etapa daquela conversa eu perguntava onde estava a mulher que jurou vingança, onde estava a pessoa ardilosa, não conseguia ver, perguntava o porque eu decidi ir  ver ela de novo, então olho para a sua barriga, e estava ali a resposta.

— E esse bebê? — era aquilo que me interessava de fato.

— Sim o bebê— vejo que ela leva a mão até o ventre mas não o toca, deixa ao lado do corpo— Eu não sei precisar quando ele chegou, nem me lembro de ter passado por todos os sintomas típicos, só o volume dos seios, as roupas mais apertadas, quando eu percebi fiquei quieta, não falei para ninguém, sabia que se a dona da casa soubesse logo seria posta para fora, então montei um plano— ela para por um momento,  estende a mão para tentar pegar o copo de água, mas não alcança, então faço isso e esse é o mais perto que consigo chegar dela. — Como deve imaginar eu tentei roubar, mas dona da casa era muito esperta, descobriu, ao tentar querer sair de alguma punição mais severa confessei a gravidez, mas fui expulsa de lá mesmo assim, na fuga acabei ferindo o meu em uma lata enferrujada que pisei ao longo do caminho, tinha alguns poucos trocados, o que meu uns dias em uma pensão barata e suja, Petúlia ficou naquela casa, e foi a minha salvação, conseguia comida para mim, mas tudo foi de mal a pior, o dinheiro acabando a barriga crescendo, não conseguia ajuda, passava mal mais a cada dia, sabia que tinha algo errado com isso que está crescendo em mim, e usei um pouco do dinheiro que Petúlia conseguiu para vir para cá, para tentar que pelo menos fazer algo de bom no mundo antes de partir.

— Porque eu Susana? Porque veio até mim e pediu isso? — eu ainda não entendia essa parte.

— Não há mais ninguém onde eu possa ir,  sei que vou morrer, eu sei — pela primeira vez vejo lágrimas em seus olhos, — Fiz tanto mal a você, prejudiquei tanto você, pareço estar recebendo por todo o mal que já fiz, mas essa criança veio inocente neste mundo, sei que tem ódio de mim, mas irei morrer.

— Como você tem tanta certeza assim? —  eu não conseguia assimilar aquelas informações dela, aquele pedido, e se ainda fosse um truque— Nem mesmo Rômulo sabe o que você tem.

—Eu sei, sinto que é meu fim— ela olha bem para  mim, sinto todo o temor que ela tem no olhar e mais uma vez ouço ela pedir — Fique com essa criança, sei que está recomeçando sua vida,  o quanto mudou, não peço que faça por mim, mas por você, por essa criança.

( Fim das Lembranças)

— Foi isso o que ela me contou. — vejo Aurélio pensativo, não me interrompeu em nenhum momento, apenas ouviu, sinto uma apreensão.

—E se for um truque dela, se te entregar a criança e ela resistir e depois  querer de volta.

— Também pensei nisso, mas a pouco Olegário esteve aqui e o doutor Jonas a examinou, e disse que os sintomas que ela apresenta ele já viu em outros casos, claro que não pode ser uma regra, mas que poucas resistiram, porém estavam em condições de saúde melhor do que ela,  a pressão alta pode levar a uma hemorragia na hora do parto, aquela ferida infeccionada também não ajuda…

— Você quer essa criança?— ele olha bem para mim, sem hesitar, e ali estava o que eu não admitia a mim mesma desde que a história começou, “Eu a queria?”  “Eu conseguiria ser mãe dela?” Eu não sabia.

— Você a quer? — devolvo a pergunta ansiosa por sua resposta, não sabendo se eu queria ouvir um sim ou um não — Porque eu não posso querer isso sozinha, estamos casados e sem você eu não posso fazer isso — vejo em seus olhos o que eu mesmo tinha, o receios, os medos, as dúvidas.


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Notas finais do capítulo

Bom se puderem deixar os comentários, agradeço muito isso ajuda a saber o que está achando.

Volto logo.