Pequenos Contos escrita por Tah Madeira


Capítulo 2
Cuidar.


Notas iniciais do capítulo

Mais um One Shot, contado momentos depois da discussão de Camilo após ele descobrir sobre o casamento falso.



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Não precisamos perder tempo com isso, o que eu exijo é muito simples que você admita esse absurdo, como você foi capaz de contratar um padre falso, e ainda iria deixar eu morrer com essa mentira, não íamos recomeçar juntos mãe?”

Essas foram as palavras menos agressivas que Camilo me disse naquela noite, eu mereci cada uma delas mas, doeu, cada palavra foi como um ferimento que abriu em minha pele e sangrava, julguei minhas atitudes como atos de amor, mas não foi, percebo agora que nunca foi, hoje conhecendo Jane e vendo como ela ama meu filho, posso compreender o que é amor na sua essência mais pura, como poderia defender minhas ações  diante de Camilo, quando mais do que nunca sei o quanto presumi  tudo errado.

“Desejo sorte, pois, vocês vão precisar” as palavras de Susana repercutem em minha cabeça, tenho certeza absoluta que foi ela quem contou a Camilo, nunca me senti tão sozinha.

Aurélio deixou  a sala, não sem antes eu ver a decepção em seu olhar, não o vi mais,  penso que como os outros ele vai me deixar também, não sei se vou conseguir voltar a ser sozinha de novo, é mais difícil voltar com a solidão depois que conhece pessoas que voltam a dar cor em sua vida, essa casa nunca pareceu mais tão grande, tão triste, tão fria, caminho passos lentos até o escritório, só agora dou conta do quanto ele parece intimidante, será um reflexo meu? A cabeça dói decido sentar um pouco, fecho os olhos e ainda consigo vislumbrar Camilo vermelho de raiva, raiva de mim, e o escuto falar que sou perversa e cruel, ouço passos ao longe, deve ser a lembrança de quando ele deixou a sala e bateu a porta, mas não são passos indo e sim vindo em minha direção, me obrigo a olhar e Aurélio está ali, um  semblante desolado, tenho medo, mas não posso deixar de perguntar. “Veio se despedir?”, por que  depois de tudo o que ele ouviu de Camilo ele nem deva querer olhar em minha cara. “o que você fez foi abominável” ele diz e tenho a certeza que vai me deixar, porém termina dizendo “Eu sei que não basta, mas você tem a mim, pra a vida toda se quiser” .Meu coração dá um pulo e lágrimas se formam em meu olhar, levanto a cabeça e sinto os seus lábios nos meus, doce como sempre, só consigo agradecer por ele ser o ar fresco em meio a toda a minha dor, eu o deixo e subo as escadas, estava por demais cansada.

Após o banho, que me deixou um pouco mais calma, estou em frente ao espelho e lampejos das coisas que Camilo despejou sobre mim voltam “Isso é o que mais me assusta, ser seu filho, imaginar o quanto da sua imoralidade pode haver em mim, basta para mim você morreu, por favor, não me procure nunca mais” olho para a porta do quarto como se  mais uma vez ele tivesse virado as costas para mim e saído porta fora, um grito mudo sai de mim, e quase vou ao chão, mas fico apoiada sobre a poltrona, lágrimas escapam de meu olhar sem que eu tivesse força para relutar,  naquele momento eu soube que tinha perdido o meu filho, não sei quanto tempo passou, por fim levanto, a solidão daquele quarto era sufocante, sai dali seguindo incerta pelo corredor, porem me deparo em frete a porta da única pessoa que não me deixou, que prometeu ficar, prendo a respiração e bato antes que a coragem desapareça, ouço um “entra” tão calmo, tão gentil, por fim sou capaz de soltar o ar e com passos lentos, carregados de medo e apreensão consigo entrar no quarto, Aurélio se surpreende por me ver, estava lendo um livro, mas não faz nenhum movimento apenas pergunta "Julieta, está tudo bem?", falo apenas o que esta preso em minha garganta "Eu não  quero ficar essa noite sozinha", cauteloso Aurélio levanta e vai até mim e diz que não estou só, como aquelas palavras pronunciadas por ele tem o poder de me tranquilizar, tento não chorar o que é quase improvável, suas mãos tocam meu rosto, aquele gesto já tão conhecido e até esperado, fecho os olhos  e no momento seguinte sinto os seus lábios nos meus, foi um beijo breve, Aurélio me olha intensamente, encosta em meus cabelos e assinto de leve, então ele solta os meus cabelos que caem lentamente em minhas costas, seu rosto fica contemplando o meu, ele ajeita uma mecha que insiste em ficar em minha face, ouço um suspiro e o meu nome  ser pronunciado, "Ah Julieta" mais de uma vez ele fala daquela forma, em seguida me beija de novo, uma mão segurando forte em minha cintura e outra deslisando em minhas costas, queimando onde o tecido da camisola não cobre deixando a pele exposta, seus toques me incendeiam e sou tomada pelo desejo que percorre meu corpo junto com as mãos dele, minhas mãos ficam em volta de seu pescoço, preciso ficar na ponta dos pés para poder alcança-lo e retribuir seus beijos, tomo a iniciativa e dou pequenos passos para frente, enquanto Aurélio caminha para trás, por um momento nos separamos, mas só o tempo de o ar entrar em nossos pulmões, o puxo pela camisa querendo ele junto de mim, suas mãos voltam a percorrer meu corpo com um pouco mais de ousadia, e  outra vez minha boca já encontra a sua, sinto o impacto de cair em cima da cama com ele ao meu lado, mas não nos separamos, os beijos continuam, não quero que  ele pare,  mas quando sinto a mão de Aurélio querendo baixar a alça de minha camisola, procurando descobrir mais de meu corpo, meu passado me puxou com tudo e o medo me trava,  nem o desejo que sinto por ele é capaz de vencer essa barreira, "Não, não para" digo, Aurélio para imediatamente, fico ajoelhada sobre a cama e olhando para ele, com a vergonha que jamais pensei em sentir na sua presença, nossas respirações estão descompassadas, mas me obrigo a dizer "Eu não consigo"  sai em um sussurro,  ele me olha com ternura confirmando seu respeito por mim e aumentando a minha admiração por ele 'Não vamos fazer nada que você não queira" mesmo eu dizendo que queria, mas que não iria conseguir, talvez nunca venha conseguir, ele foi compreensivo e me chamou para deitar em seus braços que, eu precisava descansar, repouso a cabeça em seu peito, seus dois braços estão em volta de mim, sem apertar, mas me sinto tão protegida que não desejo nunca mais sair daquele abraço,  me arrisco a deixar a mão sobre o seu peito, fazendo um afagando de leve, consigo ouvir seu coração acelerar ao meu toque, ele acaricia as minhas costas, e assim trocando carinho, senti meus olhos ficarem pesados,  acabo por  dormir sem perceber.

Acordo com  a fraca claridade que tem ao amanhecer, o sol ainda não apareceu totalmente, diferente de como dormi, sobre o peito de Aurélio, estou deitada de costas, com ele atrás de mim, sua respiração em minha nuca, seus braços ainda em volta de mim, e a colcha da cama sobre nós, de certo no meio da noite ele nos envolveu com ela,  encosto em seu braço e sinto a pele que o pijama não cobriu, ele nem se mexe, mas seus pelos se arrepiam, ah se ele soubesse que era assim que eu reagia quando se aproximava de mim, dormi uma das melhores noite dos últimos tempos, nem poderia imaginar que após mais uma discussão com Camilo isso pudesse acontecer, meu peito aperta ao pensar em meu filho e meus ouvidos doem ao lembrar de suas palavras tão cruéis, Aurélio que mesmo dormindo parece ler meus pensamentos resmunga algo que não entendo e fecha um pouco mais seus braços em volta de mim como diz que vai ficar tudo bem, que está comigo, e com efeito as lágrimas não caem, respiro fundo e com jeitinho consigo me virar sem me soltar dele ou sem que ele acorde, era estranho estar tão próxima e não ter aqueles olhos azuis focados em mim, ele tem um ar sereno, uma respiração tranquila, bem devagar aproximo a minha mão de seu rosto,  ele sorri de leve, baixo minha mão e consigo passar por baixo de seu braço, também o abraço, encosto minha cabeça em seu peito e deposito um beijo, que não podia ter resultado melhor, suas mãos apertam minhas costas, e ouço ele falar "Julieta?"  com sua voz rouca por causa do sono, "Sim" digo levantando um pouco a cabeça, volto a fechar os olhos ao sentir seu beijo em minha testa ele mexe mais uma vez em meus cabelos, "Não foi sonho? Você ficou e ainda está aqui?" não posso deixar de sorrir, como para confirmar que estou  mesmo junto a ele, beijo seu pescoço e busco  o seu cheiro naquela curva onde minha cabeça encaixa perfeitamente, ele me aperta mais em sus  braços e repete aquele "Ah Julieta" da noite anterior, não preciso olhar pois sei que ele sorri. 

Sento um pouco na cama, me apoiando na cabeceira, Aurélio ainda deixa seu braço atrás de mim tocando em meu braço sobre o tecido fino da camisola, "Desculpe se a noite não foi como imaginou, como desejou" me viro para olhar para ele, que ajeita meu cabelo, parecia uma nova necessidade que ele tinha de tocar meus fios soltos, acho que vou gostar tanto quanto ele toca em  minha face, "Você dormiu bem, descansou?" perguntou  buscando o meu olhar, não entendi o questionamento, mas tinha que responder "Sim, dormi muito bem", seus dedos dos meus cabelos vai para meu rosto, me perco um pouco  naquele carinho, mas  escuto a voz dele clara, "Então se você descansou, dormiu bem, minha noite foi perfeita, foi como tinha que ser"  acho que ele não sabe como as palavras dele tem poder sobre mim, para não começar o dia chorando, dou um beijo em seu rosto e deito de novo minha cabeça em seu peito,  seus braços voltam a envolver meu corpo, sinto seu queixo pousar em minha cabeça, seus dedos brincando com meus cabelos, assisto os raios de sol invadir o quarto através da cortina branca, ainda não estou pronta para enfrentar  a realidade, sair daquele quarto, daquela cama, e principalmente daqueles braços, fecho meus olhos.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem.