Pequenos Contos escrita por Tah Madeira


Capítulo 17
Descobertas( Parte 4)


Notas iniciais do capítulo

Olá, voltei...

Peço desculpas pela demora, queria ter postado antes, mas foi uma semana corrida.

Quero agradecer pelos comentários, todos que esses "Contos" tem recebido, mas principalmente pelos do último capitulo, muitíssimo obrigada, isso dá tanto ânimo, que vocês nem sabem.

Quero também dizer que não foi intencional deixar corações aflitos e despedaçados com o último trecho do capítulo anterior, para me redimir fiz esse capítulo mais suave, ainda não a reconciliação, mas o caminho para tal.

Boa leitura



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(Por Aurélio)

— Vai me tomar a força, como o outro? — na hora que as palavras dela saem eu paro, na verdade eu nem respiro, pensando no que estava fazendo no quanto eu estava violando a sua privacidade a sua intimidade,  na forma como eu estava agindo, olho em seus olhos, vejo um lampejo de arrependimento, mas eu tinha causado tudo aquilo, todas aquelas lembranças, todo aquele caos, levanto, ela permanece deitada e me acompanha com o olhar.

— Desculpas eu não tinha essa intenção, só não quis que pensasse eu eu não amo você, que eu faço por pena e que muito menos compare o que sinto com aquele monstro, minha intenção nunca foi de ofender você ou violar,  mil desculpas— levantei e sem olhar para trás fui até a porta e deixei o quarto arrasado não só pelas palavras dela, mas principalmente por minha atitude ter desencadeado todo aquele caos, aquela mágoa e principalmente por ter sido eu tenha despertado as piores lembranças nela, e que por uma atitude impensada tinha criando a primeira rachadura em nosso casamento, e que tenha sido eu quem trouxe  a antiga Julieta, a que feria com as palavras.

Desço as escadas, a casa se encontra em um silêncio total, nem condiz com o vendaval do quarto e muito menos com o temporal de a pouco,  eu vou para a pequena varanda que fica nos fundos da mansão, a brisa que a chuva trás ajuda a pôr as ideias no lugar, respirei fundo o ar de terra molhada como se isso fosse fazer a minha respiração voltar ao normal,mas não impede o choro que vem a seguir, jamais imaginei  que a noite terminasse assim, novamente se arrepende amargamente por ter invadido a privacidade dela, não deveria ter feito o que fez, e ainda que tivesse feito, deveria ter falado com ela antes de tudo, teria sido melhor do que ela descobrir daquele jeito, Julieta tinha razão em se sentir traída, falhou com ela, principalmente com sua confiança, ao qual ela depositava em poucas pessoas.

Ao longe vê algo que chama a sua atenção, um cavalo no pasto, cavalgando e relinchando, assustado com os trovões, sem pensar sai na chuva que recomeça, quando se aproxima mais percebe se tratar de Soberano, o cavalo preferido de Julieta, com custo consegue se aproximar e acalmar o animal, o leva para os estábulos e fica com ele até o ver mais calmo, sem se importar com a roupa molhada, ficar com o animal o ajuda a se acalmar também.

Retorna para a mansão e sem se importar consigo mesmo, senta em uma cadeira e não vê o tempo passar, as palavras que os dois trocaram ainda ecoavam em sua cabeça, a chuva novamente ganha mais força, os relâmpagos repercutem mais alto  na noite, o barulho só não é maior que as batidas do seu coração, fazendo-o perder a noção do tempo, por fim mais uma vez a chuva acalma, com o corpo dolorido, cansado e com a cabeça latejando resolve entrar, sobe lentamente as escadas, parei em frente ao quarto do casal, abre a porta devagar, o lugar  quase em uma escuridão total, salvo por uma luz fraca vinda do banheiro, ele entra sutilmente, percebe Julieta encolhida na cama, a face vermelha e inchada, rosto ainda molhado pelas lágrimas, se ajoelha na cama e silenciosamente chora, pensa em tocar o rosto dela, mas desiste ao lembrar das palavras que ela lhe disse antes, peguei um cobertor e a cobri, fazendo de tudo  para não tocá-la, com medo que ela venha acordar e sofrer ao vê-lo ali, pega o seu pijama e sai do quarto, não se sente confortável em dormir ao lado dela naquela noite, depois de tudo o que aconteceu, decide ocupar o quarto que foi seu enquanto ainda eram noivos.

O sono veio sem ele perceber, era mais por cansaço do que por vontade, era complicado voltar a dormir só, quando já tinha a muito se acostumado a dividir o leito com Julieta, seus braços tateavam o vazio em busca do corpo dela, a falta do peso dela em seu peito era desconfortável, nem mesmo o seu cheiro aquela cama tinha, por fim com o dia quase amanhecendo seus olhos fecham.

Já era deveria ser perto da hora do almoço quando despertou, mas não ousou levantar da cama, seu corpo todo doía, sua garganta parecia fechada, sente as roupas úmidas por causa do suor, levanta pouco a pouco, sentei na cama  a cabeça pesada, tem recordações da noite passada, isso faz com que queira voltar para cama, se entregando ao um sono sem sono.

(Por Julieta)

Ao ouvir a porta fechar um grito subiu até a sua garganta, mas não ousou  expor e o engoliu, aquilo desceu amargo e arranhando sua garganta, e isso pesou em seu estômago, viu tarde demais que foi cruel com as suas palavras, que fez pior que Aurélio quando ele leu sobre o seu passado, tinha feito a pior das barbaridades comparando seu doce Aurélio com o monstro de Osório, senta na cama pensando em ir  atrás dele, mas tem medo de ferir mais ele, de dizer coisas terríveis, tem medo de ir atrás dele e ver o desprezo que ela merece depois do que falou, volta a deitar na cama se encolhendo sobre si mesma, permitindo-se chorar.

Julieta acordou com o corpo dolorido por causa da posição que dormiu,  percebe que há uma coberta em cima dela, mas não lembra de a ter pego, se estica na cama, e sentiu o vazio  sem Aurélio na cama, que era uma das poucas vezes que dormiam separados, era a primeira vez que brigavam, ou melhor que disse coisas horríveis, ela só dormiu depois de muito chorar, os dois tinham se magoados muito naquela noite, nunca quis comparar ele com Osório, nunca, quando deu por si a frase infeliz já tinha deixado seus lábios ao mesmo tempo que vi  a dor nos olhos dele, tinha depois de muito tempo ferido ele com palavras.

Deita de costas olhando para teto, sabia que Aurélio ao ler seus relatos não agiu por maldade, foi por impulso, por curiosidade, deixou isso claro, foi por acaso que ele achou, que não foi atrás de saber mais sobre o passado dela, ela também não se esforçou a esconder aqueles papéis, bem a verdade que nem lembrava deles, estava vivendo tão feliz nos últimos meses, que ler e recordar tudo o que viveu era o que doía mais, mas ela falou aquela frase para ferir mesmo, para machucar, extravasar um pouco da dor e tinha ido longe demais, esperou que ele voltasse logo, mas não, Aurélio não o fez, pensou em ir atrás dele, deveria ter ido, deixando que as lágrimas fosse sua companheira naquela noite infeliz.

Levanta da cama decidida a ir atrás do marido, tinham que se resolver, não queria mais ter aquela dor no peito,  toma um banho demorado, o que ameniza as dores de seu corpo, pois o seu coração só iria pesar menos quando olhasse para Aurélio, colocou um vestido fechado mas justo na cor verde escuro, que realçava o seu olhar e trançou os cabelos. Desceu, a mesa do café ainda servida.

— Bom dia Rute— sento achando estranho o lugar vazio— Meu sogro onde está?— ele era um dos primeiros a levantar e um dos últimos a sair da mesa.

— Dona Julieta, ele foi ontem com Tenória, eles iriam visitar a senhorita Ema, e pelo que seu Aurélio disse iria passar uns dias lá.

— Sim, e ... o meu marido?

— O senhor Aurélio ainda não vi, acho que não desceu para o café— a empregada diz se retirando, não era do interesse dela a vida da patroa, conhecia a muito tempo Julieta, apesar das mudanças, boas em sua maioria, sabia que não deve se meter, muito menos que se assustou ao ver o homem jogado em uma cama em um dos quartos de hóspedes quando foi arrumar a parte de cima da casa.

Mal tomo o café, e deixo a mesa, aquele silêncio da casa a incomodava, queria saber onde andava Aurélio,o tempo apesar de nublado ainda não chove,  vou as estábulos nada, um dos empregados diz que ele não passou por ali naquele manhã, mas disse que Soberano estava agitado, decidi passear um pouco com o cavalo afim não só de o acalmar, como a mim mesma, sei que é uma pequena fuga do inevitável, aproveitar que a chuva parou um pouco.

Um pouco depois caminho de volta para casa desanimada, ando até o escritório, não me concentro e deixei o aposento, perambulo pela sala como se aguardasse algo, uma angústia crescendo em mim, dispenso o almoço, por fim Olegário chega.

— Dona Julieta, está aqui a documentação que solicitou ontem— pego os papéis e deixo em meu colo sem prestar a menor atenção— Está tudo?

— Não, não sei onde está Aurélio— digo sem pensar, não tinha perguntado a mais  ninguém, mas era algo que me incomodava muito.

— Bom — ela vê o  empregado ponderar sobre continuar ou se calar, ela ergue o olhar prestando atenção no que ela vai dizer— Eu não quero me intrometer, mas logo pela manhã, ouvi comentarem que ele estava em um dos quartos de hospedes— ele diz envergonhado, e me sinto uma tola, julgando que Aurélio tinha saído de casa, nem procurei em outros cômodos, mas ele não poderia estar até aquela hora em um quarto, mas ela também não iria sumir sem dizer nada a ninguém.

— Está bem, obrigada Olegário— quando ele deixa a sala , subo e entro em cada cômodo, no quarto em frente ao meu abro a porta e encontrei vestígios de seu ocupante, a cama desfeita, a camisa do pijama sobre a poltrona, dou um passo fechando a porta, quando a outra porta se abre e o vejo, apenas enrolado na toalha, cabelo molhado, peito nu, mas não é seus atributos que chamam a minha atenção,  sei só de olhar em seus olhos que há algo errado e nada tem a ver com a nossa briga.



(Por Aurélio)

Desperto, algum tempo depois com uma crise de tosse que me tira completamente o ar, minutos consegui ficar de pé, lentamente segui para o banheiro, achando que um banho possa me  ajudar, a tarefa tão simples tomou mais tempo que imaginei, ao sair do banho tenho uma grata surpresa. Mesmo sentido o corpo todo dolorido, a garganta queimando, não deixei de reparar o quão linda ela estava, aquele vestido justo verde tão escuro a deixando mais e mais bonita, o cabelo com um penteado diferente.

— Julieta.— fiquei parado no mesmo lugar, preferi ver a reação dela, não ousei tomar nenhuma atitude, por mais que a emoção disse que eu deveria correr e pegá-la nos braços.

— Acordei de manhã e não o vi, demorei a achar você aqui e fiquei preocupada por sua demora em acordar, em descer.— diz nervosa, pois remexe as mãos  quando está neste estado, e é o que faz naquele momento, caminhando até a janela.

— Não achei por bem ficar em seu quarto após o que aconteceu, após a nossa discussão e sua acusação, suas palavras, as minhas atitudes — vê a mudança dela assim que relaciona o quarto dos dois como sendo só dela, e mudar mais ainda quando menciona o ocorrido, tinha sido ácido em suas palavras, mas não poderia permanecer assim, machucá-la com palavras não era de seu caráter, resolver impor outro tom, mais baixo, mais apaziguador.— Precisamos conversar sobre o que aconteceu...

— Não há mais nada para falarmos sobre ontem — ela o corta e vai passar por ele, que usando de toda a delicadeza que tem,  segura em sua mão.

— Julieta, por favor, me ouça ...me ...eu...— sua visão embaça um pouco e inclina levemente para o lado, se apoiando na mesa que tem ali.

— Aurélio — ela diz agudo demais, o segurando, coloca  mão em seu rosto — Você está quente, por Deus você está queimando, vem vamos deitar.— colocou uma mão na cintura dele e apoia um dos seus braços em seu corpo, como se o seu corpo franzino dela  fosse suportar o peso dele.

— Eu estou bem, não precisa se preocupar.— se desvencilhou do frágeis braços dela, não queria tocar nela e ouvir as mesmas palavras da noite anterior.— Posso ir sozinho.— tento dar um passo, mas ela impede.

— Deixa de ser teimoso — ela volta agarrar ele e aos tropeços vão para a cama, ele deita pesadamente e sem querer a puxando, que fica sobre ele,  Julieta o olha, segundos demais, ele vê tanta coisa naquele olhar, sem esperar ela beija a sua testa —Está queimando de febre Aurélio, eu sabia que tinha algo de errado, preciso chamar o Rômulo.

— Julieta, diz que me perdoa — ele pede quase choramingando, por causa da febre sua razão está fora de controle, ele põe os braços em volta do corpo dela, mesmo com medo que ela o compare com o monstro do falecido marido— Meu amor eu sinto muito.— ela deixa sua testa junto da dele, não consegue ficar brava o vendo naquele estado, ela também deve um pedido de desculpas para ele;

— Depois conversamos, está bem? —  diz olhando em seus olhos, sabia desde que que entrou que aquele azul estava diferente, passa os dedos em seu rosto, por fim solta os braços dele do seu corpo — Vamos cuidar da sua saúde e depois quando estiver melhor vamos conversar, prometo— e se solta dele deixando o quarto.

        (Por Julieta)

Vai a cozinha avisa a Tião para buscar o médico, pede a Rute  para preparar uma bandeja com coisas leve, sabia que ele não tinha comido nada durante o dia, pede para chamar Olegário, e sobe as escadas, passando antes no quarto do casal e buscando uma roupa para o esposo, já que ele se encontrava apenas de toalha, volta rapidamente para perto de Aurélio e o encontra na mesma posição que o deixou, os olhos fechados.

— Aurélio  — o chama assustada, ele se mexe, senta perto dele — Precisamos colocar uma roupa em você.—sem muito pensar agindo mais por instinto, veste o pijama no marido que apenas obedece os seus comandos, quando terminar alguém bate a porta.

— Dona Julieta, Rute disse que a senhora chamava por mim— diz Olegário, o empregado com um semblante preocupado ao ver Aurélio atirado na cama.

— Aurélio está doente, já pedi para chamar Rômulo, mas quero ajuda para levar ele para o nosso quarto, você pode? — ele prontamente segue até a cama e ajuda Aurélio a caminhar o curto espaço entre um quarto e outro, quando o ajeitam sobre a cama, uma crise de tosse o acomete, ela se preocupa, dá água a ele, que parece um pouco mais desperto.

Ele sai deixando os dois sozinhos, eu sento na cama, pouso a mão em sua testa, ainda está quente, o que será que ele tem, minha preocupação só aumenta a cada minuto.

— Aurélio — o chamo, ele lentamente abre os olhos febril sussurra algo que não decifro, encosto meu ouvido próximo a sua boca — Repete, meu amor— digo baixinho e ouço ele falar " eu te amo Julieta" — Eu também — beijo o seu rosto e repouso minha testa na dele— Sinto muito pela noite anterior, por minhas palavras, me perdoa?— falei, e ao abrir os olhos ele parece dormir e nem deve ter registrado a minha súplica, o que agradeço, pois devo um pedido de desculpas a altura dele, que sempre foi um bom homem para mim, sempre me amou, antes mesmo que eu pudesse pensar em ter algo com ele, me amou mesmo sem eu merecer, sem merecer ele.


 

Os minutos passam, Rômulo veio, examinou ele, que deu seu diagnóstico, uma forte gripe, Aurélio em um momento de lucidez confessou que andou na chuva, um cavalo estava assustado e ele socorreu o animal ficando com ele enquanto o bicho se acalmava, permanecendo assim tempos com as roupas molhadas no corpo, sinto que a dor que causei em seu coração contribuiu para adoecer mais rápido, mas nada comento. Horas passam Aurélio comeu pouco, dormiu muito, eu quase nada, não consigo descansar o vendo tão frágil, corpo tremendo a cada crise de tosse, troco seguidamente as compressas frias que estão em sua testa para ajudar a baixar a febre, a madrugada chega e não consigo nem deixar o quarto, permaneço sentada ao lado dele, Olegário, Rute se prontificaram a ficar ali para que eu descanse um pouco mas não quis dispensei os dois, nem mesmo Rômulo que se dispõe e ficar aquela noite  e me ajudar, mas não permito, sei que o bebê dele e Cecília também se encontra adoentado e o dispenso, avisando que qualquer mudança não deixaria de chamar por ele. Eu queria cuidar dele, necessitava acompanhar minuto a minuto o seu estado, o dia começa a amanhecer e a febre parece ceder, as compressas e os remédios cumprem o seu papel, assim como eu, relaxo ao ver a respiração dele melhor, permitido encostar o corpo na cabeceira da cama, fechando um pouco os olhos, e me assusto ao sentir um peso em meu colo, baixo meu olhar e me deparo com Aurélio repousando a cabeça em minhas pernas, passando os braços em minha cintura, descanso as minhas mãos em seus cabelos, e deixo os meus olhos fechado, aproveitando daquele contato. Um barulho na porta me desperta, Rômulo entra.

— Que horas são?— perguntei assustada, sentei melhor, mas não muito pois os braços de Aurélio apertam minha cintura.

— Já passa da hora do almoço— Ema diz entrando no quarto.— Rute falou que vocês não se alimentaram principalmente a senhora que não saiu do lado de papai.— ela se aproxima de nós, passa a mão na cabeça de Aurélio e deixa um beijo em meu rosto.

— Ema o que faz aqui? Você deveria estar repousando — digo alisando a barriga avantajada de quase oito meses.

— Eu vim ajudar a senhora, sei como o papai é doente e sabia que a senhora não iria conseguir descansar com ele neste estado.— diz cruzando os braços sobre o ventre.

— Eu estou bem— falo e recebo um olhar zangado.— Dormi um pouco.

— Acredito, mas não deve ter sido muito, pedi a Rute que prepare algo para a senhora, se quiser descer, ou ir descansar um pouco, ficarei aqui.

— Não eu...— começo a dizer e ela interrompe.

— Dona Julieta, papai não vai gostar de saber que a  senhora não se cuidou pra ficar cuidando dele.— sei que ela tem razão, mas não desisto, por fim Rômulo interfere.

— Pode ir, eu preciso examinar o paciente— me dou por convencida e pouco a pouco solto Aurélio de mim, ele resmunga um pouco, mas deixa eu sair sem grandes problemas.

Deixo o quarto tentando ser o mais breve possível, preferi por tomar um bom banho e relaxar, tentado assim espantar o cansaço da noite insone, a segunda mal dormida.  Quando desço mais surpresas, Tenória e o Barão voltam, ganhando assim minha atenção e tomando o meu tempo me obrigando a comer com eles, uma clara estratégia de Ema, Olegário chega, eu preciso instruir ele de como fazer algumas coisas sem mim, isso toma mais do meu tempo do que eu esperava.

Rômulo nos interrompe.

— Dona Julieta, acabei de examinar Aurélio.

— E como está — perguntei aflita, torcendo as mãos no tecido do vestido.

— Está bem melhor, já acordou, está sem febre, tomou um banho e agora Ema está fazendo com que ele coma um pouco— ele sorri para mim e respiro aliviada— E sabemos como aquela menina sabe ser persuasiva.

— Sim, sabemos— dou a volta na mesa e aperto a mão do jovem médico e saiu, eu novamente  fico a sós com Olegário, agora um pouco mais tranquila, quando consigo subir de novo ao quarto, estranho o silêncio da sala, mas só o tempo de perceber, já no corredor, as vozes e risadas que se seguem até o nosso quarto, e lá Estilingue estava fazendo uma piada levando todos a sorrirem, o Barão em sua cadeira resmungando  algo com Ernesto, mas já o conheço o suficiente para saber que está feliz, Tenória entra com uma bandeja, mas todos entretidos, eu no entanto só consigo ver aquele par de olhos azuis sobre mim, novamente vividos, Aurélio tem a mão sobre barriga da filha, que estava em uma animada conversa com o primo, ele a toca delicadamente sem tirar os olhos de mim, suspiro aliviada por vê-lo assim.

— Julieta vai querer?— Tenória me chama com uma xícara de café estendida a pego e sento na poltrona livre, no cantinho do quarto.

— Eu falei para todos descerem, que a senhora não iria gostar dessa invasão, mas ninguém ouve  mais um velho como eu— meu sogro resmungou pegando o café das mãos da filha, todos me olham atentos para saber o que vou dizer, se fosse a meses atrás eu nem sei o que seria de mim ao ver tal  cena em minha casa, meu quarto, mas agora estávamos todos ali em prol de uma pessoa, preocupados com aquele homem sobre a cama, que nos uniu, agora sua família.

— Podem ficar a vontade, Aurélio gosta de ter todos vocês por perto.

— Sim, uma pena Camilo ter viajado com Januário por causa dos negócios— Ema diz, apenas confirmo com a cabeça, a conversa volta  a ser animada, continuo a olhar a cena de longe, meus olhos sempre sobre ele que agora conversa com a irmã, todas as peças perfeitamente encaixadas e eu no meio deles, era inacreditável pertencer a uma família tão numerosa, falante e gostar disso, esqueço os meus problemas, a briga que tive com Aurélio e o quanto o machuquei como que disse. Permaneço um bom tempo ali, até que Rute  avisa sobre um telefone, desço, e após a ligação permaneço no andar de baixo, indo para o escritório adiantar uma documentação para Olegário despachar no dia seguinte.

(Por Aurélio)

Ema não me dá sossego, seu lado maternal mais aflorado com a gravidez. Acordei com ela já aqui, nem sei como vim parar em meu quarto com Julieta, achei ter dito delírios de ter seus olhos sobre mim, sua mão em minha testa, estar repousando a cabeça em seu colo, abraçar seu corpo pela cintura, e ouvir algumas palavras, achava ter sonhado com aquilo, mas durante o banho que Rômulo me ajudou, ele confessou que ela não saiu do meu lado, e Ema aparecer foi a única forma de ela deixar o quarto e descansar um pouco daquilo tudo, mas se a conheço bem ela não descansou nada.

A tarde foi cheia de risadas e conversa, todos ali reunidos em minha volta, mas sentia falta dela, e  quando eu iria pedir para Ema chamar por ela, eis que Julieta entra na porta, olha todos ali, e pousa seu olhar sobre mim, parecia que estávamos a tempos separados, que tinha passado uma eternidade desde aquela noite onde nos amamos, podia ser saudade mesmo que estando na mesma casa, seu olhar de preocupada vai suavizando pouco a pouco, vejo olheiras em volta dos olhos, claramente por ter ficado velando o meu sono e cuidando de mim, diz que tudo bem todos estar ali, a sinto retraída não pela presença dos demais, mas por assuntos que precisamos resolver. Julieta sai para atender uma ligação e não volta mais, isso me preocupa, por fim vencido pelo o sono, por remédios, acabo cochilando, despertando com a cama se mexendo, mas não abro os olhos, Julieta descansa a mão em meu peito, sinto seu beijo em minha testa e deita ao meu lado, precisamos conversar, mas naquela noite vamos deixar tudo de lado, precisamos de descanso, viro de lado a abraçando de costas, mesmo com as palavras dela na noite passada eu me arrisco e passo um braço por seu corpo eu precisava tocá-la, precisava sentir o corpo dela junto ao meu, mesma que seja por apenas uma noite, Julieta se aconchega mais a mim, entrelaçando seus dedos nos meus, sei que ela está acordada, mas não sei se ela pensa que estou ou se é apenas um reflexo meu dormindo, e assim cheirando seus cabelos, meu nariz encostando em sua nuca, ouvindo sua respiração acalmar vou adormecendo, deixando os problemas para o outro dia.


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Notas finais do capítulo

Bom por hoje é isso.

Continue dizendo o que acham, o que vai vir, o que querem.

Volto breve....Até mais.



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