Pequenos Contos escrita por Tah Madeira


Capítulo 16
Descobertas( Parte 3)


Notas iniciais do capítulo

Um novo capítulo ....

Então, peço apenas que não me matem, pois se eu morrer quem vai continuar a história...

Deixei o ponto de vistas de ambos os personagens, como fiz no conto anterior, acho que assim fica melhor, digam o que acham.

Boa leitura.



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(Por Aurélio)

 

Levantei apenas  para constatar o óbvio, ela não estava no quarto, e pelo silêncio nem no banheiro,  tomei um banho rápido, para quem sabe assim desfrutar mais da companhia dela no café da manhã, antes que eu vá para a fazenda vizinha, cuidar de um cavalo que estava no meio de um tratamento e  que Julieta se enfie no escritório. Ao sair do banheiro reparei que as nossas roupas , que na noite anterior foram jogadas pelo quarto, estão arrumada em cima da poltrona, as minhas principalmente, por mais que tenhamos intimidades, sejamos casados, e ousamos entre quatro paredes, Julieta não gostava de que deixássemos vestígios espalhados por aí, salvo algumas situações, das quais ele ficou bem constrangida, acabei  por sorrir de tais lembranças. Sou puxado dessas recordações ao reparar na minha calça sobre o móvel, bem dobrada em cima da pilha de roupas então lembro dos pedaços de cartas, onde há relatos da vida de Julieta com Osório, dou largos passos até lá e atesto que os papéis sumiram, meu coração por um segundo parou ao visualizar a cena em minha cabeça de Julieta achando e sabendo que eu estava ciente de alguns detalhes de sua dor e mais ainda, que não tinha dito a ela que sabia.

Sai quase que correndo pelo corredor, descendo os degraus  da escada de dois em dois, querendo que o tempo fosse meu amigo e ela ainda estivesse a mesa do café da manhã, mas aquele começo do dia não estava fácil, encontrei apenas meu pai, ainda tomando o seu café.

— Cadê Julieta papai? — pergunto quase sem fôlego.

—Bom dia para você também, Aurelinho.

— Sim papai, bom dia— respondo  sem paciência ou nervoso pela situação.

— Sua esposa acabou de sair com aquele funcionário alto e folgado — ele nem termino de escutar as implicâncias que o pai tem com Olegário, afinal seu velho pai implicava com  todo  mundo, pois já estava a caminho da porta,  ao longe ele a vê, cavalgando em Soberano, e o funcionário ao lado, no cavalo de Camilo, faço menção de chamar por ela, mas estão longe, de certo não iriam ouvir seus chamados, voltei para dentro de casa sem saber bem o que fazer, sei que ela tinha uma importante negociação para aquele dia, então não adiantava eu ficar ali, a reunião poderia se estender por toda a tarde e ir atrás dela  seria o pior. Resolve ir até a fazenda cuidar do cavalo do qual está tratando, sentia que a situação iria piorar e muito. 


 

(Por Julieta)

 

—Tudo bem dona Julieta?— já é a segunda vez que ele perguntava, eu apenas o olho.— A senhora conseguiu a fazenda, achei que era isso que queria.

— Sim— é só o que digo.

— Achei que estaria mais feliz.

—Não sabia que a minha felicidade lhe diz respeito Olegário.— ela estava sem paciência nenhuma, mas sabe que o homem que cavalga ao seu lado não tem culpa do seu péssimo humor.

— Vamos para casa?— ele pergunta envergonhado e isso a incomoda, não era mais aquela Julieta que machucava com palavras as pessoas ao seu redor, mas naquele dia não conseguia deixar de ser aquela que por muito tempo foi.

— Não— seguro Soberano fazendo com que ele pare— Quero cavalgar um pouco mais antes de ir para casa.

—Mas parece que vai chover o tempo está feio para aquele lado— ele aponta com o dedo, e de fato consigo ver algumas nuvens cinzentas, mas ainda estava cedo e eu precisava pensar um pouco antes de voltar para a fazenda e encarar meu marido e as sua invasão ao meu passado.

— Eu preciso pensar um pouco antes de retornar, se não quiser me acompanhar tudo bem, irei só — ele apenas balança a cabeça, Olegário me ajudava muito nas negociações, aprendia rápido e eu sempre via o seu esforço em cada tarefa, o único ruim é que ele tinha se tornado uma sombra minha— Tudo bem vá comigo, mas por favor não faça perguntas.

Andamos até um ponto onde se tinha uma imagem linda da cachoeira, desci do cavalo e me sentei em uma pedra, Olegário tratou de cuidar dos cavalos, se afastando, dando um pouco de espaço para mim e meus pensamentos, e eu volto a reviver aquela manhã.

 

(Início dos  Pensamentos )

 

Acordei com os braços de Aurélio sobre mim, nenhuma novidade quanto a isso, somente os braços dele me prendendo mais forte, como se tivesse medo que eu no meio do sono me perdesse dele, ergo um pouco meu olhar para olhar em seu rosto, estava tão sereno, dormia placidamente, nem parecia o homem aflito que entrou no quarto, e muito menos o homem que fez amor com ela, percebi em seu ombro a marca que seus dentes deixou, pousei um beijo ali, aproveitando para cheirar seu pescoço, seu cheiro era  tão bom, nem parecia que estavam casados a apenas quatro meses, pareciam ter vivido uma vida inteira juntos, ali nos braços dele nem lembrava dos dias sombrios que teve e muito menos das dores que vivenciou, dá mais um  beijo nele intimamente querendo que ele acordasse e tivessem uma manhã de amor como na noite anterior, mas Aurélio apena se mexe sem abrir os olhos, desiste de perturbar o sono dele, teriam outro momentos, eles tem a vida toda juntos, lentamente vou soltando um pouco seus braços que estão em volta de mim, antes que ele acorde, deixo a cama, normalmente eu acordava antes dele, e o acordava, ou ele acordava para em seguida me acordar, gostávamos de tomar café juntos, isso quando Aurélio não trazia uma bandeja para mim na cama, mas naquela manhã preferi deixar ele descansar mais um pouco, tinha alguma coisa o angustiando, ela sabia pelo seu olhar, sua ação ontem era motivado por algo, não que ele não fosse carinhoso, ele sempre foi, mas sentia ter algo a mais, com esses pensamentos tomou um banho e começou a se arrumar, parando para ajeitar um pouco a bagunça de roupas espalhadas pelo quarto que os dois deixaram pela noite intensa que tiveram.

Pegou a camisa dele e riu ao ver que alguns   botões estão faltando culpa de sua impaciência ao quase rasgar a camisa quase rasgar a camisa em seu corpo, ajeitou os calçados dele, pegou sua camisola que pendia na beira da cama, e por fim a calça de Aurélio que estava quase escondida embaixo da cama, ao pegar alguns papéis caíram do seu bolso, teria deixado para lá, colocando-os de volta no bolso, sem dar importância, se não tivesse reconhecido que eram seus aqueles papéis, que aquela letra era sua, que ali tinha um pouco de seu passado, de sua dor, abriu cada  um à medida que ia descendo ao chão, lendo cada um, lembrando de cada situação, o que mais a assustou foi que não chorou, se sentia invadida, exposta, como não sabia que estaria,não sabia que poderia estar diante dessa situação não sabia como agir, olhou para cama e agora entendia o porque Aurélio estava naquele estado ao entrar  no quarto do casal, agora entedia aquele choro, aquele olhar penoso que ele carregava ao abraçá-la, engoliu um soluço, tapando a boca com as mãos ao constatar que de todos os olhares que queria dele o de pena era o pior de todos, com cautela  recolhe as folhas, dobra a calça e ajeitou as peças dele sobre a poltrona, se arruma o mais rápido que pode, pegando um vestido azul escuro, quase preto, por mais que estivesse aderido de volta as cores em seu vestuário, as escura predominavam, e hoje queria ter um de seus vestidos pretos fechados, estava triste, estava magoada e ferida, ao sair lança um último olhar de desânimo para Aurélio.

(Fim das Lembranças)

 

Eu não queria que ele tivesse todos esses detalhes, que a olhasse com aqueles relatos em mente, que a olhasse através de sua dor, tinha dito que sofreu, mas nunca em minúcias cada sofrimento seu, não havia necessidade, agora ele sabia, e o pior mexeu em suas coisas,  não tinha lhe dito nada.

— Dona Julieta, desculpas— Olegário está ao seu lado, tocando em seu ombro chamando sua atenção, por certo já tinha chamado por ela algumas vezes e imersa em lembranças em indagações não o ouviu.— Sei que não devia interromper, mas vai chover a qualquer instante e acho bom voltamos antes que a tempestade chegue. — ela apenas assente e caminha até o cavalo, mas não puderam fazer muito, a chuva os pegou.



 

 

(Por Aurélio)

 

As horas pareciam se arrastar, as cartas e Julieta não saiam de sua cabeça, cuidei do animal o mais breve possível, por sorte o seu estado melhorou muito desde de o dia anterior, sinal que o seu tratamento foi melhor que o esperado.

Voltei para a fazenda com esperanças de que Julieta tivesse voltado, mas ela ainda não tinha retornado, sem apetite ou com vontade de conversar se recolheu ao quarto do casal, após um banho voltou a remexer o guarda roupas e a bolsa onde encontrou os desabafos dela não estavam mais ali, decerto ela tinha os pego e guardado em outro lugar, se sentiu um intruso, um invasor, sentou na cama pensativo,  viu a tarde chegar e com ela o início de um temporal, os trovões anunciavam que a chuva iria demorar a passar, desce as escadas ao mesmo tempo que a porta é aberta e por ela entra Julieta e Olegário molhados, sorrindo como duas crianças.

—Eu falei para a senhora, Dona Julieta — o funcionário sorri para a patroa.

— Ainda bem que você conhecia aquele atalho, pois senão  ainda estaríamos no meio da tempestade….— então seus olhos encontraram os meus, e seu sorriso desaparece do seu rosto, e tenho a certeza que estou em maus lençóis.

— Vou deixar vocês a sós, mas dona Julieta não deve ficar molhada, pode pegar um....— Olegário termina, não sei porque isso me irrita, sem perceber ou se quer pensar eu digo, o cortando.

— Ela sabe e pode deixar que da minha esposa eu cuido — olho bem para ele, que apenas balança a cabeça e sai sem nada dizer, assim como Julieta que iria passar ao meu lado, mas seguro em seu pulso.— Precisamos conversar.

— Eu não tenho nada a dizer a você— e puxa seu braço de minha mão como se eu tivesse a machucado, aquilo doí, mas não há tampo para as minhas lamentações — E como fez questão de lembrar a Olegário com essa sua cena patética de ciúmes,  eu preciso ir me cuidar, com licença.

Ela sobe as escadas  e vou logo atrás, antes da porta se fechar eu entro, mas não tenho tanto sucesso com porta do banheiro que com um baque se fecha, quase na minha cara.

— Julieta, Julieta— a chamo em vão, pois nem resposta eu recebo. Sento para esperar ela sair, sabendo que ela vai demorar e protelar aquela situação, e eu  querendo quem sabe um acordo de paz, desço e  preparo uma bandeja, sei que ela não deve ter se alimentado bem, se já não o fazia quando trabalhava, imagina com raiva e ainda mais de mim, não demorei muito na cozinha, ao retornar ao quarto ela já deixou o banheiro, como na  noite anterior ela estava penteando os cabelos, suspiro fundo está mais linda, mesmo se fosse possível ser diferente,  está apenas de camisola, uma que ele não lembra de ter visto, um vermelho escuro de alças, era comprida, cobria os pés, mas nem por isso deixava de ser sensual, se fosse em outra noite ele deixaria a bandeja de lado a amava, mas via a ira em seu olhar, esse era um dos primeiros olhares que ele conheceu dela,que veio seguido de um tapa, antes do primeiro beijo. Um trovão o faz voltar a realidade.— Trouxe algo para você comer.

— Estou sem fome—  diz seca, ela continua a pentear os cabelos, sem no mínimo olhar para ele, que não desiste e repousa a bandeja perto dela, na penteadeira.

— Vou deixar aqui caso tenha fome depois. — ele fica atrás dela, buscando o olhar dela, que faz de tudo para não corresponder, e quando o faz ele preferia não ver o seu olhar, agora havia tanta tristeza, dor, como se algo no fundo a machucasse, e ele sabia o que era, ele era o culpado daquilo, sua curiosidade e imprudência, ela baixa o olhar, olha suas mãos— Julieta — a chamo, passa uns segundos, apoio um joelho no chão ao seu lado, tento tocar em seu rosto, querendo sua atenção, ela desvia do meu contado.

— Você não tinha o direito — ela o olha  e não gosta do que vê, ali em sua frente era a Julieta que um dia conheceu, a amargurada, a que tinha a tristeza em seu olhar, aquela que se escondia através das roupas pretas.

— Julieta eu...

— O quê? Não foi o suficiente o que te contei, precisava de mais, precisava retalhar a minha dor — ela levanta ficando de pé a sua frente, ele também se põe de pé,  se olham e doeu ao ver o olhar que ela lança, não era fúria, nem raiva, esses olhares dela ele já teve e reconhece, o que ela carregava era dor, mágoa, e tem certeza que se pudesse voltar atrás jamais teria lido, tudo o que queria e não ser o motivo para ela estar naquele estado, queria tocá-la,  abraçá-la, pedir perdão e quando pensa em fazer isso, Julieta se afasta e vai até onde se encontrava a bolsa que ela carregava, tirando de lá o que ele já sabe, os papéis amassados e um pouco molhados— Se não foi o suficiente o que contei, e nem essas palavras que leu sem a minha permissão, posso fazer mais revelações a você, quem sabe assim fica satisfeito,  que tal como a vez em que descobri estar  grávida e em um acesso de raiva por Osório ter perdido um negócio, sim pois era o que ele vinha mais fazendo nos últimos dias, perdia dinheiro, então em um momento de ira que descontou em mim perdi o bebê, quase  morrendo junto, até cheguei a desejar tamanho as dores que senti, mas só não pedi pois tinha Camilo ainda pequeno precisando de mim— nem sei quem de nós dois chora mais, dou um passo à frente, mas ela dá dois  atrás.— Quer mais, deixa eu ver...ah sim Camilo tinha aprendido a andar a sem querer, sabe como são as crianças nessa fase, bateu na mesa dele, derrubou a água sobre os seus papéis, não havia nada de importante, mas fiquei três dias sem comer devido ao tapa que tomei para proteger meu filho— ela nem se importa de limpar as lágrimas, muito menos eu, ainda assim ela é implacável e continuou — Teve também...

— Chega ....chega — eu implorei, não aguento mais ouvir a sua dor, os momentos que passou, as imagens do que ela relatava invadia a minha cabeça , não aguentava mais ela despejando aquilo em cima de mim, era dor demais— Por favor para.

— Mas não era isso que queria saber, que queria ouvir— ela dá mais um passo atrás assim que vê eu me movimentar, suas costas encontram a parede, mesmo sabendo que ela vai protestar me aproximo dela, que deixa seu corpo ir ao chão.

— Meu amor, por favor me desculpas, por favor, eu não tinha a intenção de te ferir ou magoar, eu não queria.— sua cabeça está abaixada, só consigo ouvir o seus soluços, a peguei no colo, ela se debate um pouco batendo os punhos em meu peito, mas não me importo  era pouco o que eu merecia, a sento na cama  e eu fico ajoelhado em sua frente — A sua bolsa caiu e vi o conteúdo sem querer. Me perdoa — levanto o seu queixo, lágrimas molham seu rosto.— Por favor.

— Agora entendo por que estava daquele jeito ontem a noite— diz limpando as lágrimas — Eu não queria que você me olhasse desse jeito...

— Que jeito?

— Desse mesmo modo que está agora, com pena, com dó da pobre mulher que foi violentada.— ela ergue as penas na cama e abraça o próprio corpo, sento ao seu lado e seguro em seu rosto.

— Meu olhar nunca foi de pena nunca.

— Por isso me amou daquela forma, eu sabia que tinha algo errado, seu olhar , seus toques, a necessidade de me fazer sentir...— ela fala irracionalmente, e não posso deixar ela pensar assim e sem pensar a puxo e a beijo, ela reluta e um primeiro momento mas corresponde ao beijo, vou deitando sobre, beijo o seu pescoço, seu colo, mas ela volta a se debater— Me solta.

— Eu não quero deixar você pensando que eu fiz amor com você por pena — e não paro com minhas carícias, sinto sua mão empurrar meus ombros, voltei ao seu rosto e tento beijar sua boca ela desvia.

— Vai me tomar a força, como o outro? — na hora que as palavras dela saem, eu parei, na verdade eu nem respiro, pensando no que estava fazendo no quanto eu estava violando a sua privacidade a sua intimidade,  na forma como eu estava agindo, olho em seus olhos, vejo um lampejo de arrependimento, mas eu tinha causado tudo aquilo, todas aquelas lembranças, todo aquele caos, levanto, ela permanece deitada e me acompanha com o olhar.


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Notas finais do capítulo

Prometo voltar logo...