Pequenos Contos escrita por Tah Madeira


Capítulo 11
Memória (Parte 8)


Notas iniciais do capítulo

Olá, voltei com mais uma parte desse conto.

Demorou mas ficou grandinho, iria dividir em duas partes, mas acho que seria morta se o fizesse.

Está tenso, tem o que tanto pediram, uma das coisas, tudo bem que não é da forma que queriam.

Quero deixar aqui meu agradecimento a TODOS os comentários, aprecio cada um e motiva mais e mais a escrever.

Sem mais, boa leitura.



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(Por Julieta)



Ah!! Aurélio, como pode querer sair e me deixar assim entre encantada e frustrada querendo e desejando mais, o vejo tentar deixar o escritório sem olhar para trás, porém registrei o passo incerto dele na porta dúvida de ir e a incerteza de voltar atrás, quantas vezes era eu quem estava naquele mesmo passo indefinido.

 — Aurélio — o chamei em um impulso, lentamente ele virou seu corpo e seus olhos encontram o meu—Você disse para mim algumas vezes, eu já disse e repito  “Eu espero o tempo que for por você”. — roubo mais uma vez a sua frase, cada vez mais entendendo o sentido dela e como cai bem na nossa relação, mais do que nunca estou do outro lado, aquele que só quer dar, mesmo sem a garantia de ter algo concreto em troca.

— E se nunca for? E se eu nunca recuperar a memória?— com um pequeno acréscimo ele repete o que eu disse certa vez, involuntariamente acabei por sorrindo po essa troca de papéis.

— Ainda assim eu estarei aqui com e para você, como sei que estaria por mim, como muitas vezes prometeu.— ele apenas acena com a cabeça, olha para a porta e para mim, hesita mais uma vez, porém ele continuou seu caminho.

Minha respiração só voltou ao normal minutos após sua saída, meu corpo ainda continuava quente e com vontade demais,lentamente  levanto do sofá e subo as escadas, a água que fui buscar ficou perdida em algum espaço da minha cabeça, longe das lembranças daqueles breves momentos, caminhei devagar pelo corredor, novamente parei em frente ao o quarto de Aurélio, mas dessa vez não havia luz nenhuma embaixo da porta, encostei minha mão na porta, como quem queria mais uma vez sentir a pele dele sob meus dedos, mas foi muito para uma noite, suspiro e relutante vou para meu quarto, seria mais uma madrugada onde o sono iria demorar a vir.

O dia amanheceu chuvoso, tinha até um ar de tristeza, por mais que seu coração buscasse por  esperanças, os trovões lá fora a faziam tremer e sentir algo de ruim no ar, se permite ficar mais que o normal na cama, o dia parecia pedir isso, então tem uma ideia, de retomar a leitura em conjunto com Aurélio, iriam para a lareira e aproveitar aquele ar frio e a chuva na companhia um do outro.

Entretanto seus planos terão de esperar, aos descer para o café e não ter nenhum de seus hóspedes, principalmente a pessoa que mais queria ver, pelo visto a sua estadia na cama  resultou em tomar o café só, quando já tinha finalizado e se retirado da mesa, cansada de esperar e se perguntar onde todos estavam. Pelo visto não foi a única a querer aproveitar da cama, ouve passos e da escada surge Ema, bem vestida, mas com um semblante triste.

— Bom dia, minha querida— dou um beijo em seu rosto— Resolveu ficar um pouco mais na cama?— falei sorrindo, mas não recebi o mesmo de volta, logo ela que sempre tinha a risada fácil.

— Bom dia, dona Julieta, não, eu desci no horário de sempre— esboçou um sorriso fraco, com quem faz força para parecer simpática e esconder algo dentro de si — A senhora quem  demorou mais, mas esse tempinho chuvoso pede isso mesmo.

— O que houve Ema? — ela questionou antes que ela falasse sem parar, a menina se cala— O que está acontecendo? — nada, apenas o silêncio por parte dela, como quem procura as palavras — Ema estou ficando preocupada — a moça começa a abrir a boca para falar, mas a porta abre em um rompante surge Ernesto molhado da chuva.

— Ernesto, o que faz aqui com esse tempo?— Ema pergunta já caminhando em direção ao noivo.

— Dona Julieta a senhora precisa vir comigo.— o italiano diz.

— Com você? Para onde? Porquê? — não sei o que ele quer comigo, mas quando ele fala o nome do  meus filho, já estou saindo porta fora, e todas as outras coisas que eu tinha em minha cabeça ficam um pouco sem importância naquele momento.

A chuva amenizou um pouco, mas ainda era forte, Tião não está ali, nem meu carro, mas Darcy que havia descido, já está ao meu lado, me levando até seu carro, durante o caminho só penso em Camilo e o que tinha acontecido, sinto Ema ao meu lado, segurando em minhas mãos, o caminho é curto, subo rápido as escadas sem esperar pelos outros, logo estou em frente ao quarto que ele e Jane ocupam, entro sem bater, meu anseio de mãe e preocupação não conversam com minha educação e com o fato de estarmos brigados, nada mais tem relevância, somente o meu desejo de ir vê-lo.

A cena seria linda se não fosse triste, Camilo encolhido na cama, Jane por trás dele tentando o tocar, a pouca mobília destruída pelo aposento, papéis em cima da cama, pouco a pouco me aproximo, minha nora olha para mim, surpresa e aflita, seus olhos vermelhos de tanto chorar, a mão trêmula afaga meu menino.

—O que houve? Você está bem? — perguntei, ela apenas faz que sim com a cabeça, diz algo ao ouvido do marido, mas ele nem parece registrar e se debate ao contato dela, resmunga algo o que a faz tremer mais.— Deixa eu falar com ele— pedi com uma calma que não sei de onde emergiu,   a moça reluta em deixar o amado, mas de fininho sai dando espaço para mim, meu menino parecia tão indefeso, não mais aquele homem com o qual estava inutilmente guerreando, parecia tão pequeno, tão frágil, sento na cama e toquei em seus cabelos, beijei o topo de sua cabeça, era tão mais fácil agora quando aprende a dar carinho,  tocar também era forma de demonstrar amor, cheguei perto de seu ouvido e sussurro —Sou eu meu filho —afago seus cabelos, ele não foge do meu contato— Estou aqui meu filho, sua mãe— seu choro parece ficar maior, mais sentido, mais profundo, doendo em minha alma, aliso suas costas em afagos contínuos, passei minutos assim, por fim já estava praticamente deitada sobre ele, abraçando seu corpo, tentando conter seus temores, sua dor, o choro vai reduzindo, Camilo se ajeita e vira de frente para mim  na cama, quanta tristeza em vi em seus olhar, chorei ao vê-lo assim, estou praticamente deitada, olhos nos olhos como nunca antes estivemos, eu desarmada, sem armadura ou máscaras, ele indefeso e sofrendo.

— É verdade? — ele fala em um sussurro rouco por causa do choro, apenas o olho e não respondo, tentei fazer a inocente não sabendo que verdade era aquela, mas meu interior sabia, conhecia aqueles papéis que estavam em cima da cama, os reconheci quando me aproximei  e o beijei.— Ele foi um monstro, um canalha, nem posso mais chamar ele de pai, nem deveria carregar o nome dele—  e já não tenho mais a dúvida do que ele falava, e aquilo que eu nunca queria contar a ele, ao meu filho está deitado em nosso lado, em forma de palavras escritas, um novo choro, tanto meu quanto dele— Me perdoa, por favor, mãe fala comigo— não sei o que responder, muito menos o que falar, ele limpa minhas lágrimas— Mamãe, minha mãe.

—Não quero ter de falar disso, não mais, nas  cartas que leu está todo o horror que eu vivi, todas as atrocidades que passei, está tudo, não me faça reviver, por favor.— fecho os olhos para não mais ver o horror estampado no rosto dele, sinto seus dedos limpando minhas lágrimas.

—Por isso nunca tocava em mim, se mantinha distante, foi por causa da forma que fui concebido?— sinto a dor em sua voz, aquela dor acumulada de anos de infância sem o toque maternal, carinhos que sempre recusei a dar, mas não podia deixá-lo pensar daquela forma.

— Não, meu menino, meu filho, sempre meu— o abraço mais forte que consigo naquela posição, falei aquelas palavras repetidas vezes— Como eu poderia demonstrar amor se tudo o que eu recebi foi dor? Como afagar se eu só recebia tapas? Tinha medo de fazer o que faziam comigo, manter a distância era a forma que eu via que poderia proteger você de mim mesma, da vida desgraçada que eu tinha, e depois eu já estava em um caminho que julgava sem volta, que já tinha passado o tempo de eu amar e demonstrar todo o amor que tinha, que fiz tantas coisas julgando ser amor...

— Agora eu passo a entender seus atos— ele me corta e senta na cama, sentei junto sua mão entrelaça nas minhas — Penso que eu deveria ter sabido antes quem era meu pai…. quem era Osório,  e o que ele fez com você, mas olhando como eu reagi agora, já adulto, não sei se teria sido o melhor saber de tudo antes— ele recolhe as cartas e me entrega, não consigo olhar para aqueles papeis, sei o que tem em cada linha, que em todas as cartas há respingos de lágrimas minha, folhas e mais folhas  que eu escrevi anos atrás, era forma que eu tinha de aliviar meu sofrimento, minhas angústias, cartas que julguei estarem esquecidas.

— Como elas chegaram até aqui?— perguntei enrolando as cartas e as colando na minha bolsa.

— Um mensageiro do hotel trouxe— sabia bem quem tinha mandado, Susana só podia ter sido ela.

— Meu filho vamos colocar uma pedra em cima disso tudo, podemos?— ele faz que sim e deita a cabeça em meu ombro.

— É o que mais quero minha mãe— minha mão segura as suas, era um acordo de paz e de dias melhores, mas sou surpreendida por seus atos, os dedos dele  tocaram os meus, ele lentamente retira as minhas alianças — A senhora não deve mais usar isso, não mais, elas não tem o significados que deveriam ter, então por favor se livre disso.— chorei mais uma vez, era mais uma libertação, um peso a menos, uma lembrança a menos.

Sai do cortiço quando Camilo dormia serenamente, após conseguir fazê-lo comer e tomar um banho, parecia um garoto  novamente, mas uma criança que eu conseguia abraçar e beijar, os ressentimentos e medos ficaram para trás, conversei com Jane e tentei convencê-la a irem para a mansão, fui embora com a promessa de que ela e Camilo iriam conversar e pensar a respeito, a tarde já estava se encerrando e com ela dava início mais uma pancada de chuva pelo visto iria por toda noite aquele temporal, nem vi o tempo passar ao lado de Camilo e aquele dia em parte estava oscilando entre glórias e perdas, Ema já tinha retornado a mansão, passei no hotel e Susana tinha sumido, nem me admirei com isso, uma bela rata ela é, viu o navio naufragar e fugiu, mas uma outra hora nós acertamos as contas, voltei para casa pensativa, e saudosa de Aurélio de relatar o que aconteceu, por mais que ele não lembrasse de todo o meus erros e a dor que passei eu precisava desabafar com ele, só no trajeto de volta foi que lembrei de não o ter visto durante aquele longo dia, precisava vê-lo.

— Boa noite Ema.— a menina parece se assustar com sua voz;

— Olá dona Julieta.

— Onde está seu pai?— perguntei ansiosa por estar ansiosa por sua presença.

— Papai voltou ao Vale, hoje cedo.— seu relato fez com que eu sente no sofá.

— Como assim?— e de novo naquele  dia sem fim entrava em mais um furacão— O que ele foi fazer no Vale? Como ele foi? E por que não me disse— eu mais parecia uma versão de Ema fazendo perguntas e mais perguntas. A menina senta ao meu lado.

— Papai foi cedo, antes mesmo de a senhora levantar.

— Com essa chuva toda— interrompi ela,  preocupada.

— Disse o mesmo para, mas papai tem acessos de teimosia, Tião o levou, desculpe não pedir permissão, mas acho que foi melhor assim ou ele iria se arriscar a ir só.

— Tudo bem, foi bom que tenha sido assim, por isso nem ele e o carro estava aqui de manhã—digo  mais para mim mesma, reflito um pouco e não consigo pensar sobre o que ele foi fazer lá, então exponho meus pensamentos.— Ema o que ele foi fazer no Vale?

— Ele disse que precisa reencontrar a si próprio, que talvez lá ele iria conseguir, onde nasceu e cresceu, coisas de papai.

— Eu poderia ter ido com ele, gostaria de ter ido.— falei tentando ao máximo não parecer uma criança infantil que perdeu a boneca.

— Sei que sim, Dona Julieta— ela segura em minhas mãos— Eu mesma o questionei sobre isso, ele disse que não queria sobrecarregar a senhora com os problemas dele.

— Eu entendo, essa foi a decisão dele de não me avisar, mas a  minha é de ir amanhã mesmo para o Vale.

Levantei do sofá, pedi para Mercedes avisar para Tião descansar bem que na primeira hora do dia iriamos para o Vale, o jantar não tinha gosto, nem a conversa alegre de Elisabeta e Charlotte a mesa chamou a minha atenção, por fim desisti de comer desejei  boa noite a todos e subiu para meu quarto, deitada em minha cama, os pensamentos não a deixavam, primeiro por sua reconciliação com o filho, seu doce menino, e aquela múltiplas emoções que viveu, por mais que Susana tenha feito para ferir Camilo, acabou contribuindo para um recomeço na relação dos dois, após ver o que Aurélio estava aprontando no Vale, iria estreitar ainda mais a relação com o filho, com a nora principalmente, devia muito a Jane, particularmente por julgá-la mal, hoje entendo que não teria mulher  mais perfeita para Camilo.

Meus pensamentos voltam para Aurélio e sua ida inesperada para o Vale, não entendia o porque não comunicar e não querer a presença dela, iria tirar satisfação cara a cara com ele.

 

 

(Por Aurélio)

 

Ter a deixado no escritório daquela forma não foi fácil, nem um pouco, mas se tivesse ido adiante e a tomado ali daquela forma não o teria feito o homem mais feliz e muito menos o mais completo, quando disse que sentia que aquele momento teria que ser especial para ela, era um certeza viva em seu íntimo, mais uma coisa esquecida, mas ainda assim sentida.

Fui dormir com as  palavras dela em minha cabeça e apesar de ter dormido pouco acordei com a certeza que precisava lembrar, não só por mim, mas por ela, precisava lembrar as coisas que vivemos, o que falamos e principalmente tudo o que sabia sobre Julieta. Por isso decidi voltar ao Vale, talvez lá eu pudesse recordar.

Ao sair pelo corredor vejo minha filha.

— Bom dia papai. — seus braços me abraçam e sinto o cheiro de lavanda que ela sempre teve.

— Bom dia minha menina—  beijo sua testa e nos afastamos, Ema olha além de mim.

— Porque essa mala?— indagou curiosa.

— Vamos conversar lá embaixo—Pego em sua mão e descemos as escadas— Decidiu voltar ao Vale do Café.

— Ah! — ela olha para as escadas — E Julieta, vai ir com o senhor?

— Não, prefiro ir só.

—Mas papai— ela faz um ar contrariado— Então deixe que eu vá com o senhor.

— Não minha filha, conheço o Vale, ou pelo menos minha memória conhece uma parte dele, eu preciso recuperar o resto, e penso que lá irei de conseguir, você não acha?

— Não sei— ela cruza os braços.

— Irei voltar logo.

 

(Por Julieta)

 

As estradas apesar de ruim por causa da chuva não a atrasam como ela pensou que poderia ocorrer, a noite mal dormida junto com o cansaço fez com que ela fosse o caminho inteiro dormindo, não quis que Ema a acompanhasse, tendo em vista que ela e Ludmila estavam a todo o vapor com a coleção que iriam lançar, e Ema já tinha fugido muito sua atenção do seu sonho, era sempre com prazer que via a fazenda assim que o carro fazia a curva na estrada.

Ao chegar constata mais um desagrado Aurélio não se instalou ali, foi para a  casa de Brandão, nem dou sossego a Tião e peço que avise Aurélio de sua chegada e que quer vê-lo, enquanto o motorista se encarrega da tarefa que ela deu, decide tomar um banho e tirar a poeira da estrada, quem sabe assim acalma a ansiedade que sente.

— Dona Julieta o senhor  Aurélio não estava, o Barão disse que ele tinha ido dar uma volta pelo Vale, deixei recado de que a senhora estava aqui e queria falar com ele o quanto antes — Tião me diz assim que desço as escadas.

— Está bem, obrigada Tião, vá descansar.— o motorista se retira e fica eu e os meus pensamentos, sem mais nada que eu possa fazer, vou ao escritório, nada melhor que o trabalho para desviar a minha atenção, não muito tempo depois, Rute, a empregada da fazenda, bate em sua o porta.

— Dona Julieta, desculpa incomodar, mas há aqui um menino com um recado, dizendo para a senhora ir encontrar o senhor Aurélio na fazenda de Ouro Verde.

— Na antiga fazenda dele? Tem certeza? —questiono, achando estranho aquele recado, Rute apenas confirma que sim, levantei da cadeira e  fui até a sala, mas não havia mais nenhum menino.

— Onde se meteu esse moleque?— a empregada está tão confusa, sem saber bem o que fazer caminho até a porta e vejo ao longe o menino correndo, por certo fugiu talvez da fama que eu tinha, coitado — Quer que eu chame Tião?

— Não, deixe o pobre   homem descansar, é perto, vou cavalgando, será bom para Soberano e para mim.— Dizendo isso fui para os estábulos, o vestido que estava era um dos mais leves e iria servir para cavalgar.

 

 

(Por Aurélio)

 

 

A ida até o Vale, foi com o único propósito de recuperar as memórias, ver onde sempre vivi poderia desengatilhar suas lembranças, ao chegar no dia anterior Tião quis que ele fosse para a fazenda de Julieta, mas não achava ser o certo ocupar  a casa sem a dona presente, decide ir para a casa do Coronel Brandão, que já acolhia seu pai, e lembrava de que eram muito amigos, devem ter mantido a amizade, com de fato ele comprovou.

— O que me diz Aurelinho?

— Oi papai, não escutei o que disse— já nem estranhava mais ver meu pai em sua cadeira de rodas, ele continuava o mesmo de sempre, seu humor ácido e rabugento em alguns aspectos.

— Deixa para lá, está muito distraído,  e nem é pela falta de memória e por causa dela não é?

— Dela quem papai?

— Ora quem, pela rainha das cascavéis, quem mais pode ser.

— Não a chame assim não fica elegante para um Barão—  Aurélio sorri da cara do pai, sabia quanto ele fazia questão de honrar seu título. — Mas sim penso em Julieta, eu gostaria de lembrar de tudo, principalmente do meu relacionamento com ela, mas já andei por um bom caminho do Vale hoje pela manhã, penso em ir a outros lugares agora a tarde, mas não descubro nada, não reativo nenhuma lembrança, apenas sensações, e isso não basta, muito menos é o que quero.

— Entendo— diz pensativo — Que Deus me perdoe pelo que estou prestes a dizer e pelo que estou a incentivar, mas me diga Aurelinho o que sente quando a tem por perto, quando pensa na Rainha das cas….do Café?

— Sinto tudo e nada, que encontrei o que nem sabia que procurava, que anseio por toques e beijos — fiquei vermelho em relatar isso ao meu pai—Porque pergunta?— falo mais para desviar os meus pensamentos e sentimentos.

— Eu convivi com vocês dois antes da perda de memória, e eu nunca vi tanta sintonia entre um casal, que Deus me perdoe por confabular com isso, mas nunca vi tanto amor entre duas pessoas, nem com a mãe de Ema você transbordava essa felicidade, e nem que me dessem todas as sacas de café do mundo eu poderia acreditar em ver a gélida Rainha do Café apaixonada, pois era dessa forma que estavam, apaixonados, ainda agora quando fala dela vejo aquele brilho, então não se prenda muito nas memórias e sim ao sentimentos—dizendo isso ele dá meia volta na cadeira e planeja sair da sala, mas recua e finaliza— O motorista dela esteve aqui, procurando por você, dizendo que ela está no Vale e quer vê-lo. — por fim meu pai sai, Julieta tinha ido atrás dele, não se sentia surpreso quanto a isso, sabia que ela logo estaria ali, mas não um dia após a sua chegada e que pelo visto tinha deixado São Paulo logo cedo.

 

 

—Como assim Tião na fazenda Ouro Verde?

— Chegou uma mensagem do senhor pedido para dona Julieta ir ao se encontro lá, ela montou em Soberano e foi, dizendo que a cavalgada iria fazer bem a ela, foi o que Rute disse.

—Eu não mandei recado nenhum, assim que soube que você foi atrás de mim e que ela queria me ver, segui para cá— Sinto uma apreensão fora do normal, passei nervosamente a mão nos cabelos— Isso não está certo, tem algo no ar, vamos até lá.— os dois seguem rumo a fazenda vizinha.

 

(Por Julieta)

 

—Com licença— abri a porta depois de inúmeras batidas e ninguém retornar, estranhei, na verdade desde que saí de casa um sensação de mau agouro me assombra— Aurélio…. Aurélio— nada, nem um barulho ou sinal, nem mesmo Dolores, a empregada que trabalhava ali desde o tempo dos Cavalcantes e Darcy a manteve, dou passos incertos para dentro da casa, na sala ninguém, penso em subir, mas por fim vou ao escritório— Aurélio...Você está aqui?—o chamei e entro no escritório, novamente o silêncio me responde, então a porta bate e antes que eu possa olhar naquela direção, sou segurada por trás e um pano e colocado em meu nariz, e aspiro um cheiro forte e perco os sentidos.

 

 

(Por Aurélio)

 

 

O motorista vai o mais rápido que pode, a distância é curta, mas mesmo assim  vou pedindo aos céus que nada de ruim aconteça com Julieta, tenho um mau pressentimento.

Quando estamos perto da entrada, vejo uma figura correndo e sei bem quem é, e tenho a certeza que algo ruim tinha acontecido.

 

 

(Por Julieta)

 

Meus olhos demoram a abrir e a focar o lugar onde estou, ainda no escritório um pouco escuro demais, iluminado por algumas velas, mas deitada sobre o sofá, há um vulto em minha frente, lentamente percebi de quem se tratava.

—Sabia que você iria vir, minha querida— ele se ajoelha e fica na minha frente.

—Xavier? Você!— estou um pouco confusa , pisco algumas vezes.

— Sim— ele sorri para mim, um sorriso cínico— Vi quando chegou ao Vale, e que logo em seguida seu motorista foi até a casa do Coronel, sabe que aqui as notícias correm rápido, e que queria falar com Aurélio, nossa você e Aurélio, um falido, e ainda por cima sem memória, achava que você sabia apreciar as boas coisas da vida  e principalmente os bem de vida.— mais uma risada nojenta vinda dele, sua mão tenta tocar meu rosto, mas repudio o gesto, ele não desiste e toca em minha mão— Imagina você e eu juntos, dois grandes e com o mundo todo a conquistar.

— Não quero nada com você, nunca quis e mais do que nunca irei ter— reúno minhas forças e sento no sofá.

— Minha rainha não diga isso, sempre a desejei, sua força, sua beleza, até assim de preto, sempre quis descobrir os mistérios por trás desse luto— seu rosto se aproxima de mim, sinto o bafo de bebida, sua mão vai até meu colo e abre um dos botões do vestido, aquilo me causa uma repulsa e tenho vontade de vomitar ao ter velhas recordações, travo ao sentir sua respiração tão perto— Tão bela— quando vejo sua mão ir em minha direção mais uma vez reajo e o empurro com o pé ele cai batendo na mesa derrubando coisas, levantei rápido e caminho para a porta, mas Xavier logo se recupera e mesmo no chão me puxa pelo pé, fazendo com que eu vá ao chão, sem demora seu corpo já está sobre o meu.

— Socorro—  gritei o mais alto que podia— Socorro…

— Pode gritar o quanto quiser, ninguém vai te ouvir, não há ninguém que possa te ajudar— ele gargalha e ouço o tecido do meu vestido se rasgar, novamente travei como em outras ocasiões, mas diferente das outras vezes tenho coragem e o acerto com meu joelho entre suas pernas o que o faz se contorcer de dor e o empurro para longe de mim, me arrastei  pelo chão e consigo alcançar a porta, quando o alcanço sinto novamente ser puxada minhas pernas serem puxadas e arranhadas ao olhar para trás vejo um chama, vela no chão e aos poucos o fogo no ambiente— Você não vai sair daqui.

— Me solta.— por ser mais forte Xavier consegue domar minhas pernas, e quando novamente está em cima de mim, eu já começo a perder as esperanças, rezando aos céus que pelo menos seja rápido, quando ouço a voz que me desperta, clamando por  meu nome, penso ouvir coisas, mas na segunda vez que me chama respondo na hora — Estou aqui….Aurélio... aqui— logo ouço os passos dele, e em segundos ele entra, se assusta não sei se com o fogo, comigo, ou com Xavier em cima de mim, sou respondida por gestos, pois ele logo o tira de cima de mim e dá um soco em sua cara.

— Desgraçado— mais um soco e logo os dois rolam pelo chão, perto demais do fogo.

— Aurélio, pare ….o fogo— o chamo e consigo ter a  sua atenção, ele se vira para mim e dá poucos passos e me levanta do chão, já estamos na porta , quase ganhando o corredor no exato momento que um disparo é feito por Xavier, em seu último ato pois perde os sentidos, o tiro por pouco não nos atingiu, talvez pela fumaça ali presente Xavier não mirou bem, mas faz com que Aurélio ao querer me proteger bata a cabeça e desmaia quase sobre mim, consigo o puxar e  o arrastar alguns passos,ele é pesado e já estou sem forças, então o coronel Brandão nos encontra no meio do caos e nos auxilia colocou Aurélio em seu ombro e eu o ajudo, juntos caminhamos para a fora, na rua longe da casa que está parcialmente em chamas, Aurélio está ao meu lado, estamos deitados lado a lado naquele gramado, vou perdendo a noção e os sentido enquanto ele vai despertando e quase consigo ouvir ele dizer:

— Julieta eu lembrei — e a escuridão toma conta de mim.


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Notas finais do capítulo

Bom só queria dizer que essa parte de Camilo não iria aparecer, mas como diz uma amiga minha, não consigo deixar partes soltas, por isso não aprofundei muito esse trecho dos dois, talvez em outro "conto" trago mais dela com o filho, não sei, ideias.

E não me matem eu disse que traria a memória dele de volta. bjs até o próximo capítulo.



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