Undercover escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 7
Capítulo 6




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— Isso não é certo!

Jane mexeu-se na cama, escutando as suas criadas irem de um canto a outro do quarto, sussurrando nervosas e apressadas.

— Eu só cumpro ordens, senhoras.

Ela levantou a cabeça antes de abrir os olhos, sentindo o peso de não ter acordado por conta própria. Sábado não era dia de descanso? Abriu ligeiramente os olhos, antes de registrar a cena à sua frente. Levantou-se rapidamente, jogando o edredom para longe, quando notou que um guarda abria as gavetas da sua cômoda enquanto outro revirava o seu armário.

— Ei! O que significa isso? — perguntou Jane, puxando o braço de um deles.

— Jane, não! — Hope exclamou.

— Não pode entrar assim no meu quarto! Eu estou de camisola! — ela começou a irritar-se — Isso é inapropriado e desconsiderado de sua parte!

— Só seguimos ordens, senhorita.

Liam tinha ordenado que revirassem as coisas dela?

— Você não tem o direito! — ela saiu do seu choque, gritando, quando um dos guardas puxou o envelope de dentro da sua gaveta e começou a abri-lo.

Vance — como dizia o seu crachá — levantou o braço, afastando-a com força, quando Jane tentou recuperar a carta de suas mãos. Myrtle soltou um grito horrorizado, quando ela caiu no chão, sendo impedida de ir para perto da selecionada pelo outro guarda, que Jane não conseguia ler o nome no crachá.

— A senhorita está interrompendo o nosso trabalho, isso é desacato. Saia daqui ou será presa — disse Vance, puxando-a pelo braço.

— Esse é o meu quarto! — Jane gritou, debatendo-se — Solte-me, está me machucando!

A porta do quarto abriu e McKinnon apontou a arma para Vance. O outro guarda também tirou a arma do coldre, apontando para ele, o que fez Myrtle soltar outro grito apavorado.

— Solte-a.

Vance soltou o braço de Jane, que aproximou-se quase que correndo de McKinnon, que não abaixou a arma.

— Saiam daqui agora — ele ordenou.

— Estamos seguindo ordens — Vance repetiu o seu bordão.

— De quem?

Os guardas ficaram em silêncio, antes que o outro respondesse:

— A senhorita Dursley deu falta de uma pulseira de prata. Ela exigiu que o quarto de todas as selecionadas fosse revistado.

Jane mal conseguiu se recuperar da situação, antes que ouvisse outros gritos do lado de fora.

— O que é isso? — McKinnon perguntou de cenho franzido, antes de pôr a arma de volta no coldre e ir para o lado de fora.

Myrtle aproveitou a distração dos guardas para correr para perto de Jane, que seguiu McKinnon para o corredor. Um guarda, não muito mais gentil que Vance, tinha empurrado Noelia Avery para fora do seu quarto e jogado várias das coisas dela no chão.

Toda a confusão tinha atraído atenção. Tanto os guardas pessoais das selecionadas quanto outros funcionários do palácio e as selecionadas estavam ocupando o corredor, observando o desenrolar da situação. E então Veta surgiu, empurrando algumas criadas. Um dos guardas, sem dizer nada, apenas mostrou uma pulseira de prata para ela, como que perguntando se era a mesma.

— Senhorita Avery, está expulsa da Seleção e será julgada por seus crimes — ela disse — Prendam-na.

Veta lançou um olhar duro na direção de Rachel, antes de sair, segurando a pulseira. Os choros de Noelia e Rachel foram escutados por um bom tempo depois.

♛♛♛

— Foi a Snape.

Sirena olhou-a através da prateleira de livros, antes de pegar um volume bem acima de seu alcance.

— Como tem tanta certeza disso? — ela sussurrou, folheando rapidamente algumas páginas.

Aquela era a parte da biblioteca que elas podiam acessar. Nenhuma edição perigosa ou muito rara, apenas as informações que consideravam necessárias que elas soubessem, como possíveis futuras rainhas de Illéa. Era um absurdo que não houvesse uma réplica que fosse de algum daqueles quadros que Liam tinha lhe mostrado, apenas uma janela para quem gostava de ler sob a luz do sol.

— Ela saiu ontem à noite do quarto — respondeu Jane, pegando um livro escrito em germânico — Pouco depois que todas entramos.

— Já contou isso ao Liam?

Ela levantou o olhar, vendo os guardas, que guardavam a grande porta aberta da biblioteca.

— Não, ainda não.

Fechou o livro, pegando um que falava sobre a história aprofundada de Illéa, antes de contornar a prateleira e ir para uma das mesas, atrás de Sirena.

— E o que garante que ela tenha saído para roubar a Veta? — perguntou Reyna, sem levantar os olhos do seu livro de geografia, assim que Jane sentou-se ao seu lado — A Murissa também não tinha entrado no quarto até aquele momento. Talvez tenha ido atrás dela.

— Desde quando elas são amigas? — Sirena descartou a ideia.

— Desde quando você sabe sobre as amizades das outras selecionadas? — ela retrucou — E por que você não acha que tenha sido a Noelia?

— Você acha que foi? — perguntou Jane — Seria muito fácil encontrar a pulseira no quarto dela, para quem conseguiu entrar no quarto da Veta. Outra coisa: o primeiro furto foi da pulseira da Valerie. Os guardas jogaram todas as joias da caixa da Noelia no chão, teriam visto a pulseira dela, porque quem pegou a pulseira da Valerie é a mesma pessoa que pegou a da Veta.

Sirena soltou um assobio, impressionada pelo raciocínio dela.

— Tem razão. Não faria o menor sentido — ela concluiu — Então, colocaram a pulseira no quarto da Noelia para incriminá-la.

Jane sacudiu a cabeça, não satisfeita.

— Isso não faz o menor sentido. Para quê uma pessoa vai roubar uma pulseira para colocá-la no quarto de outra? — ela perguntou — Seria lógico que a Veta iria atrás, mas quem tem algo contra a Noelia para fazer isso?

— Talvez não tenha algo contra, apenas entrou em desespero de ser pega — comentou Reyna.

— A Rachel pareceu bem abalada — disse Sirena — Ela e a Noelia eram próximas. A Rachel tinha desafiado a Veta ontem. Acham que foi ela?

— Mas por que não colocar no quarto da Rachel? — perguntou Jane.

Ela conteve um grito quando sentiu uma mão em seu ombro.

— Senhoritas, precisam ir — disse um guarda, sorrindo simpático — Está na hora do almoço.

— Oh! Obrigada, senhor — agradeceu Reyna, pegando os livros das mãos delas para pôr nos respectivos lugares.

— Como ela sabia de onde eu peguei o meu, se ela nem estava olhando? — perguntou Sirena, assombrada.

Jane apenas deu de ombros.

Ela podia fazer teorias sobre furtos e crimes dentro do castelo, mas sobre as capacidades de percepção de Reyna era demais para ela.

— Vamos compartilhar mais uma agradável refeição com a Dursley e seu noivo — debochou Sirena, assim que Reyna aproximou-se delas.

— Eu estou com enxaqueca — ela resmungou.

— Não vai colar — cantarolou.

Sábado era o dia reservado a visitas no castelo, então todas já tinham sido alertadas sobre essa possibilidade. Então, quando passaram por um grupo de diplomatas conversando em irlandês, tentaram agir naturalmente. Exceto Sirena.

Em vez de passarem reto e paralelamente, os dois grupos pararam. Sirena encarava fixamente um homem de barba e cabelos negros, os olhos azuis beirando ao cinza e ao verde, a sua expressão de desprezo. Jane notou com estranheza como um homem loiro de olhos azuis claros familiar sorriu cortês, cumprimentando.

— Senhoritas.

— Senhor — cumprimentou, estranhando ainda mais aquela situação.

Os diplomatas seguiram seu caminho, enquanto Sirena permaneceu parada. Assim que viraram o corredor, antes que Reyna ou Jane pudessem dizer algo, ela saiu em disparada em direção à escada.

— O que foi isso? — perguntou Reyna, depois de alguns momentos em silêncio.

— Eu não sei — ela respondeu.

♛♛♛

Quando se tratava de Sirena, forçar uma conversa era sempre uma péssima ideia.

Por esse motivo, Jane passou o resto da manhã e começo de tarde no Salão das Mulheres ao lado de Reyna, enquanto Sirena estava em seu quarto, dizendo ter sofrido algum mal estar passageiro. Porém, assim que algumas horas se passaram, ficar confinadas naquele espaço tendo opções limitadas de entretenimento cobrou o seu preço.

— Eu queria falar com Noelia — Reyna lhe confidenciou, em voz baixa, enquanto costurava alguns panos escondida.

Se Hope visse sua filha fazendo aquilo, daria uma bronca monumental nela — ela e qualquer outra empregada se sentiria ofendida por ver uma selecionada fazer algo que era o trabalho delas —, mas a garota não se importava realmente com isso. Jane conseguia entender como poderia ser relaxante manter as mãos e mente ocupadas.

— Mas ela está nas masmorras — ela respondeu.

Recebeu um olhar estranho da amiga, que deixou a sua costura de lado por um momento.

— O quê? Não, a prisão não fica no subsolo — Reyna franziu o cenho — Isso é realmente medieval.

— Então onde fica? — perguntou Jane, surpresa.

— Do lado de fora. Tem uma entrada. Bem, tudo bem que não é na superfície, mas não é uma masmorra, como você disse.

— Isso não é perigoso? E se houvesse uma fuga em massa?

Era sempre desconfortável conversar com Reyna, ela era a que notava com mais facilidade os erros cometidos e, apesar de não insistir, duvidava que simplesmente esquecesse.

— Não é como se tivesse tantos prisioneiros assim. E não tão perigosos, no geral — ela respondeu, vagamente.

Depois de alguns instantes de silêncio, Jane percebeu que não deu uma resposta para a pergunta muda que iniciou a conversa.

— Vamos, então? — ela perguntou.

Reyna pareceu surpresa, como se não fosse plano seu realmente realizar o seu desejo.

— O quê? — ela perguntou — Mas... Nós não podemos ir até lá. Liam jamais permitiria.

— E quem disse que ele precisa ficar sabendo?

Rachel permaneceu imóvel por todo o tempo, olhando pela janela do Salão, enrolando a ponta de seu cabelo nos dedos, sentada no peitoril.

— Vamos, aqui não é lugar para conversar — sussurrou Jane, ao notar que Severina parecia bem interessada em encará-las, como se estivesse desconfiada de que estivessem aprontando alguma.

Bem, elas estavam. E não era da conta da Snape.

A vontade de Reyna pareceu sobrepôr-se a sua sensatez, pois ela rapidamente seguiu a amiga pelos corredores do castelo.

— Mas é uma prisão! Cheia de celas de contenção bem guardadas — ela sussurrava tão baixo que Jane precisava fazer um esforço para conseguir escutar e entender o que ela dizia.

— Conheço o cúmplice ideal.

Apesar de todas as selecionadas estarem no Salão das Mulheres, a maioria dos guardas ainda permanecia guardando as portas dos quartos, para evitarem que outros furtos ocorressem naquele meio tempo. Talvez fosse mais fácil simplesmente instalar uma tranca na maçaneta. Sinceramente, qual era o problema daquele castelo com chaves? Nem o castelo da Nova Germânia era tão arcaico quanto a segurança dos monarcas.

— McKinnon — Jane disse, assim que aproximaram-se do guarda.

— Não — ele disse, sem hesitar, assim que olhou em seu rosto — Não tenho ideia do que você vai pedir, mas a resposta é não.

— Preciso da sua ajuda — ela continuou, não desestimulada por sua recusa — É importante.

— Eu sigo ordens, prin... — McKinnon corrigiu-se rapidamente — Senhorita.

— Sim, você é meu guarda. Portanto, minhas ordens — Jane resolveu mudar de estratégia — Preciso consultar o príncipe quanto a isso?

— Se você precisa de ajuda, por que não pede a ele? — rebate.

— Porque ele não vai aceitar.

Eles continuaram encarando-se por um tempo.

— Está bem — McKinnon deu de ombros — Quer entrar onde?

Reyna deixou o queixo cair, parecendo impressionada. Como se não se lembrasse que aquele mesmo guarda tinha encobrido-as anteriormente nos jardins.

— Preciso falar com a Noelia — Jane sussurrou.

— Precisamos — Reyna corrigiu.

Não seria loucura se ele de repente recuasse, dissesse que não poderia fazer isso. Afinal, só poderiam imaginar o que Liam faria se soubesse.

— Okay — foi apenas o que ele respondeu, antes de guiá-las pelo corredor.

Reyna trocou mais um olhar impressionado com Jane, antes de segui-lo.

Aquele dia estava cheio de surpresas.

♛♛♛

— Vieram zombar de mim?

Noelia nem levantou os olhos para elas, quando aproximaram-se das grades de metal da cela.

Era absurdo. Jane não podia acreditar que Liam simplesmente tinha deixado que as coisas terminassem daquele jeito. O vestido colorido, que outrora fora limpo e elegante, contrastava completamente com o ambiente de aparência metálica e estabular.

— Está tudo bem contigo? — as palavras escaparam da sua boca — Eles te... maltratam aqui?

Reyna deu um olhar sombrio para Jane.

— Não, não maltratar — respondeu Noelia — Só é uma mudança brusca de ambiente. De tudo. Eu preferia voltar para casa.

— Você já falou com Liam? — perguntou Reyna, agachando-se para ficar mais perto dela, que estava sentada.

— Ele me disse que resolveria a minha situação. Não tivemos muito tempo para conversar.

Por que ele tinha que ser sempre tão misterioso e de poucas palavras?

— Você brigou com alguém? Alguém que teria motivos para fazer isso? — perguntou Jane.

Noelia olhou para a parede, dando uma revirada de olhos completa.

— Por que estão me interrogando? O que as garante de que eu não roubei mesmo aquela pulseira? — ela perguntou — E por que estão tentando provar o contrário? Eu sou a adversária. Todas nós somos.

— Porque eu não penso como você — retrucou Jane, sem paciência para ser delicada — Se quer ficar aqui, ótimo. Não responda.

Reyna continuou parada, enquanto ela ajeitou o vestido para caminhar para longe.

— A única pessoa que entrou comigo no quarto foi Murissa — Noelia respondeu — Quero dizer, Rachel nunca faria isso comigo e eu confio no guarda. Ele não arriscaria a própria profissão sem ganhar algo em troca e as joias são falsas.

— Do que está falando?

— As joias do palácio. Não são de verdade. Eles não nos deixariam levá-las assim do nada, não é? A Evanna me contou, os pais dela são donos de uma joalheria, ela sabe reconhecer uma joia falsa. E isso explica porque nem a Janeth nem a Valerie usam.

Reyna olhou para Jane, que tinha parado a alguns passos de onde elas estavam, escutando calada a conversação.

— Eu acho que entrou no meu quarto para tentar pegar alguma das joias, mas deve ter sido pega — continuou Noelia — Talvez o guarda tenha se incomodado. Não podem deixar selecionadas sozinhas nos quartos das outras.

— E o quê? Colocou a pulseira de Veta dentro da caixa? — perguntou Reyna, sem entender.

— Escutei-os discutindo do banheiro. Quando cheguei ao quarto para que ele soubesse que eu estava lá, o vi revistando-a. Ele não achou nada, e então depois apareceram os guardas da piranha.

Jane saiu daquele espaço sem esperar pela amiga ou despedir-se da prisioneira.

Precisava conversar com Liam sobre o que tinha escutado.

Escutou os saltos baixos de Reyna pouco tempo depois, tentando alcançá-la em um dos corredores do castelo. O terceiro andar era proibido para elas, mas esperava que aquele tipo de situação fosse...

Parou de caminhar, assim que viu Liam conversando com Severina. Reyna pensou rápido, puxando-a pelo braço para trás de uma armadura, que permaneceu silenciosa apesar de sua movimentação.

— Eu a segui naquela noite.

— E por que você faria isso?

— Estava desconfiada. Ainda mais depois do que aconteceu com a Valerie. Não foi a Noelia.

— Isso não muda muita coisa.

Escutaram Severina caminhar atrás de Liam.

— Como não? — ela perguntou — Ela é inocente! Não pode ficar lá embaixo!

— Sim, ela será solta, mas ainda voltará para casa hoje.

Eles continuaram se afastando.

— Ela demorou para contar a ele — comentou Reyna, assim que ficaram sozinhas.

— Eu não confio naquela garota — Jane saiu de trás da armadura.

— Não faça nenhuma loucura.

O silêncio de Sirena durou até Jane chegar ao seu quarto, após a incursão pelo castelo. McKinnon já estava de volta em seu posto, parecendo entretê-la até a sua chegada. Assim que notou-a, levantou-se da cadeira da penteadeira, pondo as mãos a frente do corpo.

— Podemos conversar? — ela pediu.

Jane esperou McKinnon sair e fechar a porta do quarto, antes de virar-se para Sirena, que ainda estava de pé.

— Não seja ridícula — retrucou, tirando os sapatos de salto.

— A verdade é que eu não vim para cá nos melhores modos — confessou Sirena.

— Queria sair de casa, não é? — ainda lembrava-se da conversa que tiveram no avião.

— Era para a minha irmã, Regina, se inscrever. O meu pai é parte do conselho do rei, então ele iria mexer os pauzinhos para que ela entrasse.

— Aquele homem?

Fazia sentido a sua reação. Encontrar o seu pai, que te trata tão friamente e parece nutrir ódio por você, não deve ser nada fácil.

— Sim, estraguei os seus planos. Estava desesperada. Mais um dia naquela família e eu poderia me tornar exatamente como eles são.

Jane abriu os braços, fazendo-a olhá-la sem entender.

— Eu preciso ser mais clara, Black? — ela reclamou.

Então Sirena foi até lá, deixando-se ser abraçada.

Sabia os segredos de Reyna, sabia os segredos de Sirena. E elas não tinham ideia de quem ela era.

♛♛♛

Se possível, o clima do jantar era pior do que o do almoço. Murissa e Noelia tinham sido eliminadas naquela tarde, a primeira por causa do roubo e a outra por puro capricho de Veta. Aparentemente, voltar atrás não era algo que a monarquia considerava. Jane não levantou os olhos do prato por nenhum segundo, sentia que a sua raiva por Liam aumentaria se o olhasse por um segundo que fosse, ainda mais considerando as demonstrações de afeto do casal de noivos que, embora não fossem indecentes, ainda causavam um embrulho no estômago. Ao fim, ela quase não tinha tocado em seu prato. Permaneceu sentada, olhando para a mesa, esperando o momento em que seriam liberadas para os seus quartos.

Petya parecia completamente alheia ao clima tenso ao seu redor, Rachel ainda olhava com ódio mascarado na direção de Veta. Nada nem ninguém poderia convencê-la de que não havia uma participação na tramoia que tinha eliminado sua amiga. Ninguém parecia verdadeiramente incomodado por Murissa, ainda mais sabendo de tudo. Valerie estava sentindo-se especialmente vingada, mas Jane duvidava que os guardas sairiam da frente de suas portas depois daquele episódio. Não reclamava de McKinnon, mas esperava não cruzar com Vance outra vez em seu caminho.

Só percebeu que algumas garotas cochichavam entre si quando Reyna assentiu para Stelle, sentada ao seu lado, e virou-se para Jane, sussurrando:

— Salão das Mulheres depois do jantar.

Os monarcas pareceram notar o clima ruim e, por isso, liberaram-nas mais cedo, antes que eles acabassem de comer, ficando sozinhos na Sala de Jantar. Apesar de não terem certeza se era contra as regras, ainda assim fecharam as portas do Salão das Mulheres, após entrarem.

— As fotos saíram esta tarde — disse Gintare, mostrando uma revista ainda com o plástico envolvendo-a — Pedi a uma das minhas criadas para pegar para mim, eu tenho contatos na editora...

Lucy puxou a revista da mão dela, antes que ela terminasse de falar.

— Muito bem, vamos ver o que o povo acha de vocês — ela disse, mostrando um sorriso debochado.

Assistiram-na rasgar o plástico e virar as páginas sem o menor cuidado, atrás da matéria que ilustrava a capa.

— Isso só pode ser uma piada — disse, depois de alguns minutos.

— Se você não vai ler, não atrapalhe quem está interessado — Fabiane tirou a revista da mão dela — Estou sentindo como se estivesse vendo o meu boletim da escola.

— Eles nos classificaram por notas — Stelle leu por cima do ombro dela — E tem um Top 10 das melhores classificadas.

— Você me chamou aqui para isso? — Jane resmungou para Reyna.

— O quê? Vai me dizer agora que não está curiosa? — ela retrucou.

— Jane está em primeiro lugar — disse Fran.

Todas olharam para ela, que se sentiu no meio de um julgamento criminal.

Lucy saiu batendo os pés e a porta do Salão das Mulheres, ainda mais irritada quando puseram em voz alta o que tanto a incomodou.

— Ela está em segundo, não sei do que reclama — comentou Edge, olhando para a direção em que ela foi.

— Isso deve mudar depois das entrevistas de sexta — disse Margot.

Stelle e Fabiane olharam para Artemisa no mesmo momento, os pescoços se virando tão rápido que até um estalo tinham dado. As três trocaram olhares cheios de significado que não foram compreendidos ou compartilhados por mais ninguém.

— Sei que as senhoritas devem estar muito agitadas para dormir, mas peço que vão aos seus quartos — a rainha Doralice pediu-as, sorrindo docemente e ninguém conseguiu negar tal pedido.

Benny e Stelle começaram a puxar a revista, tentando ver quem conseguia levar.

— Jane, eu posso falar com você? — Artemisa pediu.

Esperaram a maioria das selecionadas ir na frente, a caminho de seus quartos, antes da ruiva começar a falar.

— Pode me ensinar?

— Ensinar o quê? — perguntou Jane, sem entender.

— Você saiu em primeiro lugar. Todo mundo percebe que você tem um jeito que encanta as pessoas, um jeito como o da rainha — Artemisa disse.

— Está sendo gentil. Eu não faço nada demais, não tenho o que ensinar.

— Eu não consigo pegar as lições tão fácil. Por favor, Jane, eu não tenho coragem de pedir ajuda para a McGonagall.

Não sabia o que responder, mas não tinha escolha.

— Tudo bem, eu te ajudo.

♛♛♛

— Postura ereta — Jane pôs o dedo no queixo de Artemisa, tentando fazê-la levantar o rosto mais — A realeza não cruza as pernas, cruza os tornozelos. Assim, de lado.

Foi assim que as garotas as encontraram no dia seguinte.

O Salão das Mulheres estava vazio até então, aproveitou o espaço e tempo disponíveis para começar a ajudar Artemisa a agir de uma forma mais adequada para o palácio.

— Do jeito que você explica, parece fácil — ela comentou.

— Mas é fácil, você só precisa... — Jane virou-se, vendo a porta finalmente aberta — se lembrar dessas regras o tempo todo.

Sirena levantou uma sobrancelha para ela, aproximando-se.

— É algum tipo de pacto para eliminar a todas nós? — ela perguntou.

— Ela só me pediu ajuda — Jane respondeu.

— Ajude a nós também, oras. Direitos iguais.

Se já era difícil arrumar algo para dizer a Artemisa, imaginava como seria as outras.

— Certo — cedeu novamente — Vamos mais uma vez, então.

Era difícil de dizer quem era mais cômica: Stelle ou Fabiane. Elas não tinham seriedade o suficiente para caminhar pela sala com um livro na cabeça. Toda hora caíam na gargalhada ou faziam os outros caírem na risada com suas brincadeiras e caretas.

— Isso é impossível! — concluiu Reyna.

O livro não parava na cabeça de alguém.

— Teria que ser um livro curvo ou de capa mole. Duro assim não tem como ficar na sua cabeça.

— Só se você quiser andar como uma lesma — Sirena acrescentou.

Jane levantou-se do sofá, pegando o livro da mão dela.

— Permita-me.

Ajeitou a postura, um pouco enferrujada pelo tempo que esteve tentando agir naturalmente no castelo, e pôs com cuidado o livro na cabeça, antes de começar a caminhar.

— Quero ver sentar sem deixar o livro cair — desafiou Fabiane.

Apoiou as mãos na cadeira, antes de sentar com cuidado.

— Essa é a cena mais bizarra que já vi na minha vida — comentou Sirena.

— Quero ver correr sem o livro cair — brincou Stelle.

Jane tirou o livro de cima da cabeça e pegou o travesseiro para jogar na direção dela, que desviou rapidamente.

— Vamos, Reyna, vamos tentar de novo.

Ela ajudou a amiga a erguer os braços para ver se isso a ajudaria a manter o equilíbrio.

— Feche os olhos — aconselhou.

— Se os braços estivessem erguidos para a frente, você ia parecer um zumbi — brincou Sirena.

Reyna riu, se desconcentrando e fazendo o livro cair.

Jane lançou um olhar repreensor para a amiga, antes de voltar a ajudá-la.

— Controle a respiração, relaxe — ela estava com a mão pairando abaixo dos braços dela, sem encostar, para ajudá-la caso caísse — Um passo de cada vez.

Fran ajeitou-se no sofá, observando atentamente a linguagem corporal dela. Edelweiss ofereceu algumas fatias de abacaxi, que suas empregadas tinham pegado da cozinha, silenciosamente às outras meninas.

Assim que Reyna abriu os olhos, elas aplaudiram-na por conseguir não derrubar o livro, fazendo-a dar um sorriso tímido e corar.

Sirena olhava para a porta e, quando Jane seguiu seu olhar, viu o príncipe Liam observá-las com um sorriso no rosto, antes de afastar-se. Voltou seus olhos para a amiga, que agora ria do desastre que Edelweiss e Artemisa estavam proporcionando. Elas começaram a dançar e cantar cantigas, que Jane tinha escutado de algumas festas tradicionais germânicas. Seguravam os livros em suas cabeças como se fossem chapéus, enquanto os braços livres entrelaçavam-se.

No final das contas, as duas tropeçaram e caíram no chão e Fabiane foi a primeira a correr para pular em cima delas.

— Lição número cinco: princesas não saem deitando umas em cima das outras — disse Jane, em um tom de brincadeira.

— Não somos princesas ortodoxas — retrucou Sirena, estendendo a mão — Me ajude a levantar.

Jane suspirou, derrotada, antes de erguer a mão para ajudar a amiga, que a puxou para que ela caísse, em vez de tentar levantar-se.

— Isso não é ético! — ela reclamou.

— Cale a boca e vamos ficar deitadas aqui.

A visão seria bem melhor se estivessem deitadas no jardim, com o céu se abrindo além de seu campo de vista.

Quantas vezes mais poderiam ficar apenas deitadas, rindo de alguma palhaçada?


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