Undercover escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 6
Capítulo 5




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— Isso não é certo. Não deveríamos estar aqui.

Jane afastou alguns galhos do arbusto de seu rosto, tentando enxergar Sirena e Liam caminhando pelo jardim, mas sem se denunciar para um observador externo. Reyna estava às suas costas, olhando nervosa para qualquer lugar que não fosse onde o príncipe estava.

— Por favor, Jane, vamos voltar.

Novamente, ignorou os pedidos da amiga.

Pegar os vestidos das empregadas era realmente uma excelente ideia, que Hope e Pomona odiaram, mas que chamaria menos atenção do que os vestidos luxuosos do castelo. De brinde, os guardas que não reconhecessem os seus rostos não se incomodariam em deixá-las passar para o jardim, como foi o caso.

— Vamos, eles estão se afastando — Jane sussurrou, saindo daquele arbusto para ir até outro mais afastado.

Se não fosse uma princesa e chegasse até a Elite, com certeza consideraria trabalhar como investigadora secreta da monarquia. Muitos países tinham essa profissão, imaginava que Illéa também.

Assustou-se quando Myrtle esbarrou em seu ombro, pensando ser algum guarda. Respirando fundo, voltou a observar Sirena encostar-se contra o corrimão da ponte. Ela e Liam não combinavam nem um pouco, pensou sem maldade.

— Ela parece que está curtindo com a cara dele — Myrtle murmurou.

— É, esse é o estado natural dela — respondeu Reyna, impaciente — Vamos embora, por favor.

— Espiando o príncipe?

Jane pôs as mãos na boca para não deixar o seu grito soar muito alto.

Um dos guardas observava-as, parecendo divertir-se em pegá-las no flagra.

— Nós já estávamos indo, senhor — Myrtle apressou-se a dizer — Já estávamos voltando ao trabalho.

— Sim, claro — ele respondeu, debochadamente.

— Você não está aqui a trabalho — Jane disse em um tom cúmplice, antes que Reyna pudesse abrir a boca — Também está espiando o encontro do príncipe, McKinnon.

Nunca tinha visto aquele guarda antes, então agradecia por ele ter um broche pregado no uniforme informando o seu sobrenome.

— Estou zelando pela segurança de Vossa Alteza — ele disse.

— E estamos zelando pelo bem estar de nossa selecionada — Jane retrucou.

— Você não é criada.

Ela continuou olhando-o, sem mudar a sua expressão.

— Tudo bem, vamos cuidar dos nossos superiores e mantermos essa conversa em segredo — McKinnon disse, notando que Liam e Sirena começavam a se mover.

Reyna olhou surpresa para Jane, que apenas voltou a seguir a dupla, como estava fazendo antes de serem interrompidas. Imaginava como a cena seria hilária, um guarda e três criadas espiando um encontro, mas imaginava que a fofoca não devia ser tão incomum por ali, pelo menos se fosse como na Nova Germânia.

Continuaram observando de longe, escutando vagamente a conversa dos dois, Reyna parecendo decepcionada por McKinnon ter decidido unir-se a elas em vez de convencê-las a voltar para o castelo.

— Eu não consigo ver — resmungou Myrtle.

A última coisa que Jane sabia era que a criada tentou trepar nas murtas, mas os galhos da planta eram fracos demais para suportar o peso de uma pessoa, então ela caiu em cima de Reyna. McKinnon ficou paralisado, assim como Jane, quando o príncipe olhou na direção deles.

— Vamos embora agora — murmurou Jane, tentando esconder o seu rosto com o cabelo.

Pela expressão no rosto de Reyna, ela parecia ter vontade de gritar “Ah! Agora você quer ir, não é? E nos últimos dez minutos quando eu estive pedindo isso?”, mas estava desesperada demais para voltar ao quarto para começar uma discussão no meio das plantações do jardim.

McKinnon seguiu-as até o corredor do segundo andar e Jane só notou o quão estranho isso era quando foi abrir a porta do seu quarto.

— Parece que eu sou o seu guarda — ele comentou, colocando-se ao lado da porta.

Tinha se esquecido que, por causa do sumiço do pertence de Valerie, agora todas elas seriam obrigadas a ter um segurança particular dia e noite.

— Eu sou uma criada — ela ergueu o dedo indicador, como em uma ordem silenciosa para ele não contar nada a ninguém.

— Sim, claro.

Os guardas deveriam ser tão bem humorados assim?

Assim que entrou, Pomona as recebeu irritada.

— Francamente, que ideia mais estúpida — ralhava com Myrtle, enquanto ajudava Jane a tirar o vestido.

Sinceramente, depois de usar calças, nada poderia incomodá-la mais, nem mesmo o vestido curto e colado das empregadas.

— Onde está Hope? — perguntou Jane, quando Pomona afastou-se para pegar o seu vestido.

— Foi atrás de vocês, mas pelo visto se desencontraram — a criada resmungou — Seja útil e me ajude, Myrtle.

Quase protestou com a brusquidão com que tratou a mais nova das três, mas ela não pareceu se importar e, sinceramente, não queria levar uma bronca dela também. Não gostava nada da ideia de alguém tratá-la como somente sua mãe deveria, ela era uma princesa.

Assim que Pomona terminou de abotoar as costas do vestido, Jane escutou batidas na porta.

— Oh! Não! — lamentou Myrtle, parecendo aterrorizada.

Conteve a vontade de sair correndo até o banheiro, mas não se sentiu muito mais digna quando Sirena entrou, em vez do príncipe, gargalhando dela.

— Oh, Jane, você sabe que eu te contaria tudo... — ela apertou a sua bochecha, provocante.

— Você prometeu que não falaria mais nesse assunto — Jane ameaçou-a.

— Bem, os Dois não cumprem as suas promessas — deu de ombros, sentando-se na sua cama, sem pedir por sua permissão —, mas tudo bem. Se não quer que eu fale do Liam, eu não falo.

Bufou, irritada, sentando-se ao lado dela.

— Estava praticando escalada, Myrtle? — Sirena perguntou à criada envergonhada, como Jane nunca tinha visto antes — Eu já fiz muito isso, quando queria sair do quarto lá de casa e não podia. É surpreendente como uns lençóis amarrados suportam o nosso peso, é uma experiência bem agradável.

— Você vai continuar me torturando? — Jane resmungou, sentindo-se como uma criança.

— Então... Eu não sei se ele é educado demais para deixar claro o quanto eu o irrito, ou ele se divertiu bastante com as minhas piadas — ela disse, penteando os seus fios longos, que quase caíam para dentro do decote do vestido, mesmo que não fosse tão pronunciado.

— Um pouco dos dois, talvez... Só ficaram conversando nos jardins?

Sirena voltou a rir, fazendo com que Jane voltasse a ficar emburrada.

— Eu não tenho ideia de onde ele planejava me levar, mas foi difícil continuarmos o encontro depois daquela cena — ela explicou, quando conseguiu parar de rir, mas ainda tinha um sorriso zombeteiro enfeitando o seu rosto — Nós rimos tanto. Ele me perguntou se, depois de terem feito a Gema ter um dia de princesa, resolveram vocês terem um dia de criadas.

— Então ele não desconfiou que estávamos o observando? — perguntou Jane, esperançosa.

— Se notou, foi educado para não comentar.

Aquela educação toda era realmente frustrante.

— Oh! Pare de rir! — reclamou Jane, batendo no ombro dela — Precisamos arrumar um emprego para Gema.

— Não, nós precisamos dormir — Sirena retrucou — Já está tarde e acordamos cedo amanhã.

— Temos o jantar ainda.

Ela deu de ombros, virando de costas, como que dizendo que ia dormir ali.

— Vou revistar as suas coisas, então...

Assim que fechou a porta do quarto, escutou Sirena levantando-se da cama para ir atrás dela.

— Tenho certeza de que ele ficará bem...

Jane parou, as mãos na maçaneta, sentindo que estava escutando uma conversa que não deveria — o que era compreensível, ou não estaria escutando atrás da porta.

— Seu pai nunca ficou tanto tempo sozinho — escutou a voz de Hope.

Um estalo meio que surgiu na sua cabeça, ao mesmo tempo que Sirena reclamava:

— Não ouse, Janeth Mirren — ela disse, tentando lançar o seu olhar mais ameaçador, mas hesitando ao ver a sua expressão — Algo errado?

A porta foi aberta e Jane precisou soltar a maçaneta para não ser puxada e cair.

Reyna olhava para as duas com o rosto pálido.

— Ela é a sua mãe — afirmou Jane.

Apesar de saber que tanto Hope quanto Reyna eram da casta seis, era estranho pensar que a mãe dela estava lá aquele tempo todo, trabalhando no castelo. Sendo a sua criada. Podendo conviver todos os dias com sua filha, mas sem poder deixar claro que o era, já que tinha sido escolhida para cuidar de outra selecionada.

— Hope, eu não posso mais fazer isso — Jane disse, depois de um tempo absorvendo a notícia.

— Eu entendo, senhorita — respondeu Hope — Eu suponho que, como não falou ainda com o príncipe sobre Gema, irá me substituir por...

— Eu não vou te substituir.

Ela olhou-a confusa. Reyna levantou o olhar, sentada na cadeira da penteadeira.

— Mas espero que você compreenda que eu não posso dar ordens à mãe de uma amiga — Jane continuou — Tampouco continuar tratando-a como uma subalterna.

— A senhorita nunca tratou-me como uma subalterna.

Resolveu não discutir, virando os seus olhos para Reyna.

— Entendo que não queira contar a ninguém, farei o mesmo.

Tentou não sentir-se incomodada com os olhares impressionados delas e de Sirena.

— Garota, você existe? — a última pronunciou.

— Sirena! — Reyna repreendeu.

— Não, é sério! Ela é da casta cinco, mas não parece! Ela tem todo o jeito de realeza!

— Bem, não é o que estamos tentando fazer aqui? — perguntou Jane — Você também é da Dois e age de outra forma!

— É diferente.

Escutaram batidas na porta, mas ela não se abriu, apenas escutaram a voz de McGonagall chamando Sirena para o jantar.

— É melhor irmos, antes que ela tome susto outra vez — pronunciou-se, lembrando que a instrutora parecia achar que as meninas ficariam sempre reclusas em seus quartos, em vez de irem conversar umas com as outras.

♛♛♛

Se tinha algo que Jane odiava, essa coisa era vestido de cintura baixa.

Parecia que o estilista tinha errado feio nos cálculos de onde a faixa de cetim deveria cruzar a sua figura esbelta, evidenciando os seus quadris em vez da sua cintura. Para quem já não tinha muito quadril, era um verdadeiro pesadelo.

— Jane, pare com isso! — McGonagall repreendeu-a, notando que ela não parava de tentar descer a faixa, mesmo que alguns centímetros.

Não havia escolha nenhuma. Todas estavam com o mesmo vestido ruim e talvez fosse maldade pensar que não tinha como alguém ficar bom nele, mesmo Sirena com seu corpo de dar inveja. A genética a premiou com curvas e simetria, em vez de deixá-la parecendo reta e sem cintura.

Se estivessem nos primórdios da Nova Germânia, muitos séculos antes...

— Pare com isso — disse Reyna, olhando-a com censura.

Teve que controlar-se para não fazer cara feia. Sentia como se cada pensamento seu estivesse sendo controlado.

Todo mundo parecia fazer um esforço para manter a postura com o peso da echarpe vermelha, torcendo para chegar logo a sua vez de tirar foto com Liam e poder ir embora, mas Jane estava reclamando do vestido creme com a costura pecaminosa.

Sim, o decote não era pecaminoso, mas não saber colocar uma faixa no lugar...

— É a sua vez — Chernobyl lhe deu o delicado toque.

Ela respirou fundo, antes de seguir pelo tapete até onde o fotógrafo estava.

— Sem mais crises? — foi a primeira coisa que Liam perguntou, enquanto fingia ajeitar as suas medalhas.

Aquela era uma coisa que a encantava.

Sabia que alguma daquelas medalhas não era apenas herdada de seu pai, mas conquistas próprias. Os príncipes iam para batalhas também. Apenas as princesas ficavam em casa. Bem, a maioria das princesas. Seu pai nunca foi de seguir normas que achava estúpidas.

— Terminei de tomar as vitaminas, se é o que está perguntando — não pôde evitar tocar em algumas medalhas, olhando admirada, antes de sentir o primeiro flash da câmera.

— Isso é bom, me deu um susto e tanto — Liam respondeu.

— O quê? Não está acostumado a ver garotas passando mal?

O fotógrafo indicou para que ela virasse as costas para ele e pôde sentir as mãos dele em sua cintura, puxando-a até que encostasse no seu peito. Mesmo quando mudaram de posição, ainda pôde sentir a sensação das mãos dele por cima do tecido.

— Na verdade, não — disse Liam — O que acha de nos vermos mais tarde? Tem um lugar que eu queria te mostrar.

Continuou olhando fixamente para a câmera. Não entendia o fascínio dos illeanos de documentar cada passo. Gostava de câmeras e existiam fotógrafos na Nova Germânia, mas as coisas não eram daquele jeito. Eram menos calorosas.

Considerou declinar o convite, imaginava como seria a reação dele, mas passar a tarde no quarto sem nada para fazer era uma péssima perspectiva.

— É, pode ser.

Nem precisaram passar para o sofá, como algumas outras tinham feito, o fotógrafo dispensou-a rapidamente. Assim que Jane voltou para perto das amigas, sem despedir-se de Liam, ela arrancou a faixa estúpida.

— Senhorita Mirren! — escutou McGonagall reclamar.

Sirena e Reyna foram logo atrás dela, para fora do Salão.

— Ele te chamou para sair! — Sirena logo exclamou, pulando empolgada.

— Assunto proibido — Jane lembrou-a.

— Fala sério! Eu não consigo te entender. Primeiro, você está gamada nele, depois o ignora completamente!

Ela parou de caminhar, quase fazendo as amigas trombarem nela.

— Eu não sei como agir! Está bem? — retrucou, virando-se para elas.

Não podia fazê-las entender sem explicar toda a sua história. Nunca tinha sentido um encantamento como aquele por outra pessoa. Encontros com garotos? Era sempre uma questão de negócios, política, nada envolvendo assuntos pessoais ou românticos.

— Quem sabe essa sua bipolaridade o instiga — disse Sirena, por fim, suspirando.

— O quê? Estamos em um jogo agora? — perguntou Reyna, sentindo vontade de rir.

— Algumas parecem que sim. Se você acha que a Lucy é irritante com o príncipe por perto, está enganada.

— Eu nunca achei isso — disse Jane — Seria burrice. Ela é irritante, ninguém a suporta, mas deve ser incômodo você se casar com uma pessoa e descobrir que ela é completamente diferente do que você pensava.

— É um risco a se correr, não?

Jane voltou a caminhar, pensando no que elas disseram. Como seria quando voltasse para casa e fosse prometida em casamento sem ter aquela chance de conhecer e poder declinar.

— Mas nós também não o conhecemos — ela disse.

— Desencana — Sirena revirou os olhos — Você se preocupa demais com as coisas.

Era fácil para ela falar.

♛♛♛

Assim que chegou ao seu quarto, respirou aliviada, sem esperar pelas criadas para poder livrar-se do tecido, sem se importar que ele tenha rasgado.

— Que vestido horrível é esse? — perguntou Myrtle, parecendo horrorizada.

— Até parece que vocês já não o viram antes — disse Jane, enquanto Pomona pegava um vestido que ela tinha apontado do armário.

— Na verdade, não. Os vestidos usados para a fotografia da seleção do príncipe Petuel foram diferentes — retrucou Hope.

Aquilo não era nada justo.

— Era mais bonito? — choramingou.

Hope sorriu, parecendo conter a vontade para não rir de sua reação.

— Você fica linda em qualquer roupa.

Elas ouviram batidas na porta.

— Tenho que ir — disse Jane, olhando-se rapidamente no espelho.

— Onde você...? — Pomona começou a perguntar.

Ela abriu a porta e saiu, empurrando Liam, antes que elas começassem a fazer escândalo porque a roupa que tinha escolhido era simples demais para um encontro com o príncipe.

— Vamos? — perguntou, ignorando o olhar surpreso dele e o guarda McKinnon parado ao lado da porta.

— Alteza — McKinnon fez uma reverência, mas a sua voz soou debochada e pessoal demais para que Jane conseguisse levar a sério.

— Vamos — Liam pareceu ter se recuperado — Alguma coisa que eu deveria saber?

Jane olhou para ele, perguntando silenciosamente do que estava falando.

— Você parecia estar fugindo — ele apontou para a porta.

— O quê? Queria entrar no meu quarto? — ela cruzou os braços — Você já o conhece.

Liam ajeitou o cabelo, parecendo um pouco desconfortável, então ela decidiu mudar de assunto.

— Você disse que tinha algo para me mostrar.

— Certo, me siga.

O que Liam sabia sobre ela para que pudesse decidir para onde iriam?

Supôs que ele iria mostrá-la alguma parte do jardim que não tivesse visto, já que ele a flagrou lá mais vezes do que poderia contar. No entanto, seguiram pelo terceiro andar, proibido para as selecionadas, exceto quando resolviam durante a noite tirar uma foto do príncipe dormindo.

Tentou manter a sua expressão serena. Lembrou-se que ele tinha pedido para que ela alertasse as suas amigas para manterem-se longe de lá. Algum dia descobriria o que ela tinha feito?

Precisava parar de quebrar as regras.

— Essa é a biblioteca — Liam apontou para uma porta dupla — Ali do lado fica a sala de reuniões, é onde nos reunimos quando temos que nos resolver com o conselho, mas eu quero te mostrar outra coisa.

Ele seguiu para uma parede mais ao fim do corredor e moveu a madeira para o lado, revelando uma passagem. Não era grande surpresa que o palácio tinha passagens secretas.

— E essa é a galeria de arte.

O espaço não era tão pequeno quanto parecia, mas também não era tão majestoso quanto as pinturas espalhadas em amostras de museus. Alguns quadros estavam pendurados nas paredes brancas, mas algumas obras permaneciam fora de suas molduras, enroladas em cima de prateleiras.

Liam parecia bem familiarizado com aquele lugar, caminhou diretamente para uma das prateleiras, pegando uma caixa pequena.

— Isso são... — disse Jane, enquanto ele voltava para perto dela e lhe dava a caixa.

— Fotos — ele respondeu — Abra.

Sentou-se em cima de um pequeno banco que estava encostado à parede, admirando aqueles quadrados plastificados envelhecidos, alguns eram sépia e outros em preto e branco. Obras de arte tanto quanto os quadros pintados a mão.

— Mas essa foto é da Segunda Guerra Mundial! — espantou-se.

— Do fim dela, na verdade — Liam corrigiu, sorrindo.

Era incrível como Illéa tinha conseguido conservar algo tão antigo por tanto tempo. Uma verdadeira relíquia histórica. Queria tanto poder dividir os conhecimentos que tinha aprendido da Nova Germânia, conversar sobre todos aqueles séculos da humanidade que quase se perderam por completo por causa das três últimas guerras.

Mas ela não podia. Os illeanos não tinham ideia de todos aqueles fatos. Eram muitos anos para se aprender, uma carga pesada que só cabia aos governantes conhecer para não repetirem dos mesmos erros.

— Isso é lindo, Liam — ela disse, incapaz de desviar os olhos daquela mesma foto, mesmo depois de ter visto tantas — Obrigada por me mostrar isso.

Ele ficou parado por um momento, parecendo surpreso, antes de responder:

— Não precisa agradecer, Jane.

Ele nunca tinha chamado-a assim antes.

— Sobre o que é essa foto? — ela perguntou, puxando outra de dentro da caixa.

Liam puxou um outro banco, sentando-se ao lado dela, e começou a explicar o que sabia sobre a Revolução Russa.

♛♛♛

— A senhorita não tinha o direito! — Pomona começou a reclamar, assim que Jane pisou de volta no quarto, horas depois.

— Como foi? — perguntou Myrtle, interrompendo a bronca de Pomona, ao notar o sorriso no rosto dela.

— Ah! Nós ficamos vendo algumas fotografias e falando sobre a história do mundo — Jane deitou-se na cama.

Hope levantou uma sobrancelha para ela.

— Parece que o príncipe soube como entretê-la.

— Bom, pelo menos não há dúvidas que foi original — Myrtle se pronunciou — Afinal, quem mais nesse castelo ia ficar conversando sobre história e fotos em um encontro com o príncipe?

— Eu sou fotógrafa — Jane protestou.

— Então ele podia levá-la a algum lugar lindo que você pudesse tirar fotos.

Teria sido bem previsível. Ela agradecia por não ter sido assim.

A empregada voltou a passar o espanador por cima da grande cômoda que não tinha nem um grão de poeira, e abriu uma das gavetas, tirando um envelope de dentro.

— O que é isso? — perguntou, confusa.

Jane levantou-se da cama imediatamente, tirando-o das mãos de Myrtle.

— Está bem. Eu tenho uma e apenas uma regra. Não abram essa gaveta, por favor — ela pediu, antes de pôr o envelope de volta.

— Eu só estava limpando — a criada protestou, ao notar o olhar de desaprovação de Pomona.

— Deixe pegar poeira à vontade. É bom, algo que torna o quarto diferente, equilibrado.

Pomona riu, murmurando algo que soava como “artistas”.

— Já sabe o que vestirá para o jantar? — perguntou Hope — Afinal, é o seu primeiro jantar depois de um encontro com o príncipe.

Jane voltou a sentar na sua cama, revirando os olhos.

— Vocês criam importância para coisas tão normais — ela disse.

— Ah! Claro! Eu saio com um príncipe toda semana — retrucou Myrtle.

A porta do quarto abriu-se um pouco bruscamente, então não foi surpresa que Sirena estivesse por trás dela, quase saltitando.

— Assunto proibido! Assunto proibido! — Jane começou a gritar, tampando os ouvidos.

— Não! Não! Não! — Sirena fechou a porta e sentou atrás dela, tentando afastar as mãos dela — Você não tem direito!

Myrtle largou o espanador em cima da cômoda e foi para junto das duas, ignorando o olhar de Pomona.

— Você não ouse! — Jane gritou para ela.

— Por favor, Jane, por favor!

Hope resolveu intervir.

— Por que vocês estão sempre discutindo?

— Se ela não insistisse tanto nesse assunto... — Jane reclamou.

— Se ela não insistisse tanto em esconder as coisas... — retrucou Sirena.

— Você sabe que ela não te deixará em paz.

Jane suspirou, deitando-se na cama.

— Como eu disse antes, não foi nada demais. Ficamos vendo algumas fotos raras.

— Eu só não reclamo porque o meu encontro com o Liam foi ficar andando no jardim — respondeu Sirena — Deve ser difícil arrumar 30 encontros e ele nunca ter tido um. Será que o rei dá conselhos para ele?

Jane ajeitou sua pose, sentindo-se levemente ofendida.

— Eles são como qualquer família normal — ela disse — A diferença é apenas os títulos.

— Difícil de acreditar nisso. Ele jantam com uma coroa na cabeça.

— E você sai do banho com a toalha enrolada no cabelo.

Sirena riu.

— Vou me denominar a rainha do banheiro, então.

Uma das criadas de Sirena entrou no quarto de braços cruzados.

— Devo pedir ao príncipe para incluir uma porta? Ou talvez derrubar essa parede? Parece que compartilham do mesmo quarto — ela disse.

Sirena deu uma piscadela para Jane, antes de seguir a criada.

Olhando para Pomona, Hope e Myrtle, concluiu que nem todas as selecionadas tinham a mesma sorte.

♛♛♛

Foi a primeira noite que jantaram sem a presença de Liam.

— Parece que alguém ficou indisposto hoje — comentou Lucy, enquanto cortava o filé, mas Jane conseguiu notar o veneno em sua voz.

— Com quem ele saiu hoje? — perguntou Petya.

Algumas entreolharam-se, tentando descobrir quem tinha sido. Jane só tentava passar despercebida na conversa.

— Não com Fletcher ou Snape, com certeza — disse Lucy — Ou já teriam sido eliminadas.

— O que você disse? — perguntou Murissa, fazendo menção de levantar-se, mas foi contida por Anneliese, que começou a conversar em voz baixa com ela.

— Apenas verdades — ela deu de ombros, voltando a comer.

Severina Snape não respondeu à sua provocação, olhando-a fixamente, como se fosse capaz de descobrir todos os seus segredos apenas observando.

Quando a porta de entrada do salão abriu, Jane já sabia que aquele jantar não acabaria nada bem.

— Isso é algum tipo de pesadelo? — Sirena cochichou — O Liam resolve faltar no dia que o irmão e a cunhada resolvem dar as caras.

Petuel ignorou completamente as selecionadas, indo diretamente para a mesa onde seus pais jantavam, tentando aparentar tranquilidade, mas sem muito sucesso. Veta, em contrapartida, passou seus olhos por elas, uma a uma, julgando cada mínimo detalhe.

— O que significa isso? — escutaram o príncipe perguntar aos pais.

— Aqui não é lugar para discussões, Petuel — disse Doralice.

— Exatamente, saiam — Veta disse a elas — Estão surdas? Saiam daqui agora!

Estava bastante claro o motivo do descontentamento dos illeanos.

— Você não é rainha. Aliás, você não é coisa alguma — disse Rachel Lestrange — Devemos obediência às majestades e ao príncipe, não a você.

— O quê? — Veta perguntou, chocada pelo atrevimento.

— Se esse é o problema, eu ordeno que saiam agora — Petuel interviu.

— Você não manda aqui.

Jane nunca viu Liam tão furioso antes.

— Senhoritas, por favor, nos deixem a sós — ele pediu — O resto do jantar será servido em seus aposentos, se assim desejarem.

Assim que chegaram ao andar dos quartos, Rachel fechou a sua porta com força, o som ecoando pelo silêncio do castelo, assustando a um dos guardas.

— Onde está Murissa? — perguntou Deina.

Nenhuma delas parecia saber a resposta ou mesmo se importar.

— Ótimo, se ela for pega, será menos uma — disse Lucy, antes de entrar em seu quarto.

Reyna segurou Sirena pelo braço, impedindo-a de abaixar para pegar o seu sapato de salto alto e tacar contra a porta.

— Você não pode sair dando sapatada nas pessoas! — ela repreendeu.

— Eu não ia dar sapatada nela, ia dar sapatada na porta!

McKinnon engasgou com a própria risada.

— Esse corredor está bem apertado, não? — perguntou Jane.

— É para compensar o tamanho do quarto da sua senhorita — ele deu uma piscadela para ela.

— Oh! Sim! — fez uma expressão séria — Voltarei ao trabalho imediatamente.

— Faça isso.

Apenas Hope estava no quarto, adormecida no sofá.

Assim que tirou os seus sapatos, percebeu que não tinha conversado com Sirena sobre toda a discussão do jantar. Perguntava-se o que tinha acontecido. Voltou a abrir a porta do quarto, ignorando estar descalça — mais um pouco de rebeldia plebeia. Antes que pudesse abrir a boca para conversar com McKinnon, percebeu Severina dispensando a companhia do seu guarda, antes de se esgueirar para longe de seu quarto, sendo quase que completamente ignorada pelos outros. A função deles não era cuidar de todas elas, apenas de uma.

— Essa profissão é muito interessante — ele murmurou.


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