Undercover escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 4
Capítulo 3




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Quando Jane acordou, no dia seguinte, era cedo. Os pássaros não cantavam ainda, embora o sol já estivesse no céu, e Hope, a criada que tinha combinado com as outras duas que seria ela a velar o sono da princesa daquela vez — fato que ela não tinha a menor ideia —, dormia sobre o sofá do quarto. Foi um detalhe que a deixou com o coração mais quente, mas a vida em Illéa continuava sendo bem diferente da sua vida na Nova Germânia. Pelo menos, tinha voltado para um palácio.

Levantou-se de sua cama, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Dessa forma, caminhou descalça até o armário para pegar o vestido que usaria no dia, sentindo-se estranha por esse contato com o chão. Estava acostumada a ter sempre um sapato em seus pés, exceto quando entrava na banheira. Assim que abriu a porta do banheiro e começou a tentar desamarrar o laço da parte de trás da camisola, percebeu pelo espelho que Hope começava a acordar.

— Senhorita Mirren?

Ela pareceu assustada ao não vê-la na cama, mas acalmou-se quando percebeu a porta do banheiro aberta.

— Eu não queria acordá-la — disse Jane em tom de desculpas.

Não estava acostumada com criadas dormindo em seu quarto e não existia um protocolo para isso.

— A senhorita realmente acorda muito cedo — Hope permitiu-se comentar, antes de ajudá-la a tirar a camisola.

Concluiu que o problema de lidar com a situação era que não conhecia os funcionários daquele castelo e não era monarca de Illéa. Na Nova Germânia, ela ficava mais à vontade porque as pessoas sabiam quem ela era e a respeitavam. Ali, ela era somente mais uma selecionada, então sentia que o mais correto era agir como uma.

Não muito tempo depois, Pomona e Myrtle apareceram para ajudar no banho e troca de roupa. Pôde sentir o peso das expectativas sobre os seus ombros. Aquele era o primeiro dia que as selecionadas teriam um contato com o príncipe Liam, então podia supor que as três esperavam que ela se destacasse tanto quanto as outras.

Assentiu para o seu reflexo no espelho, ainda tentando acostumar-se com os seus cabelos curtos. Aquilo simplificava as coisas, sem necessidade de penteados elaborados, embora fossem bonitos de se ver. Olhou para o seu vestido salmão, aprovando a sua própria escolha. Não se lembrava de já ter usado aquela cor antes, mas não podia negar que era linda.

Tinha tentado maquiar a si mesma, mas Myrtle parecia empolgada para tentar. Apesar de quererem que ela usasse uma maquiagem mais pesada, Jane realmente não achava necessário, ela não estava em uma festa de gala.

A última coisa que faltava era a escolha das joias. Ou semi joias. Elas poderiam enganar facilmente qualquer selecionada, mas Jane podia perceber só de olhar que aquelas não eram joias puras e imaginava que a família real não teria tanta confiança nas selecionadas a esse ponto, não podia repreendê-los.

— Eu acho que vou pegar das minhas coisas mesmo — Jane disse, por fim.

— O quê? — Myrtle perguntou, parecendo chocada — Não vai usar joias?

— Eu vou, mas não essas.

Não tinha uma desculpa boa o suficiente para explicar como que uma Cinco possuía joias, mas realmente não tinha opção. Se colocasse um brinco ou pulseira daquela caixa, começaria a se coçar no mesmo instante, ela era alérgica.

Pôs o relicário em seu pescoço e então escolheu um par de brincos médios e um anel, dando-se por satisfeita. Não muito extravagante, não muito simples. Elegante, como sua mãe diria, a elegância estava no equilíbrio.

— Até mais tarde, então — Jane sorriu, despedindo-se delas.

Fechou a porta atrás de si, vendo o corredor vazio e silencioso. Supunha que as pessoas ainda estavam acordando e se arrumando. Bateu na porta de Sirena, encostando-se na parede ao lado.

Uma das criadas abriu a porta, parecendo irritada.

— Ela ainda não acordou — disse-lhe.

As outras sacudiam Sirena, tentando ser delicadas e conseguir acordá-la ao mesmo tempo. Era uma visão divertida. A garota tinha um sono pesado.

Jane fechou a porta, assim que entrou, tentando pensar em um jeito de acordá-la. Aproximou-se da cama e subiu, deitando em cima da garota.

— Deixem-me dormir — Sirena resmungou, o rosto virado para o travesseiro, tentando tirá-la de cima.

— Hora de acordar — Jane começou a cantarolar, ajeitando-se para sentar nas pernas dela — Vamos, Sirena. Se você não for, a McGonagall vai vir te acordar ela mesma.

Quase podia imaginar a cena.

Sirena voltou a resmungar, mas apenas virou de lado, quase derrubando-a no chão.

— Okay, agora é questão de honra — Jane tirou os saltos altos para poder subir na cama, sob o olhar das três criadas.

E então começou a pular, assustando Sirena, que precisou segurar-se na mesa de cabeceira para não cair da cama.

— Mas que m...? — ela sentou-se de olhos arregalados — Jane?

— Vejo que está acordada — desceu da cama com o máximo de dignidade que ainda a restava — Bem na hora! Precisa se arrumar.

Colocou os sapatos sem dificuldades, ciente dos olhares abismados de todas as presentes no quarto.

— Vou te esperar lá fora, então — disse Jane, virando as costas.

Sua versão de 6 anos estaria bem orgulhosa.

♛♛♛

Murissa Fletcher estava com tantas joias que qualquer sol que batia nela dava dor de cabeça a todas as outras. Em comparação, Reyna Lupin usava o vestido mais simples do seu armário, e ainda parecia achar exagerado demais.

— Está gostando do seu sonho de Cinderela, Gata Borralheira?

E Lucy Malfoy continuava destilando o seu veneno para manter a sua autoestima alta.

Jane aproximou-se mais de Reyna, tentando demonstrar apoio à garota.

— Fã de contos de fada, Lucy? — Sirena intrometeu-se, descendo as escadas até onde o grupo estava — Eu nem sabia que você era capaz de ler.

Lucy ficou muda, parecendo enfurecida. Não por causa da troca de farpas, mas porque Sirena estava maravilhosa. Jane precisava tirar o chapéu para as criadas dela, e também para o estilista que tinha feito os seus vestidos.

— Você está linda, Sirena — elogiou Fabiane Prewett, os seus cabelos ruivos destacando-se.

— Obrigada, Fabi — ela deu uma piscadela, antes de ficar ao lado de Jane.

McGonagall não demorou a aparecer e não teve a menor paciência para esperar as selecionadas que restavam, dizendo que todas deveriam acostumar-se aos prazos e horários, se queriam se tornar princesas de Illéa. As que estavam prontas, seguiram a instrutora até o Grande Salão, que estava coberto de sofás e equipes de filmagem.

Jane perguntou-se se o Salão das Mulheres estava ocupado para que precisassem ser levadas até lá.

— Espero que tenham descansado bem essa noite. Hoje o nosso trabalho começa — McGonagall começou a falar, assim que elas se acomodaram — Começaremos com as aulas de etiqueta e comportamento, que seguirão até o fim da Seleção. Qualquer mau comportamento será relatado à família real imediatamente.

Fran Longbottom lançou um olhar assustado a Edge Bones, sentada ao seu lado.

— Hoje teremos a nossa primeira aula. Antes de uma refeição com a família real, precisam saber como se comportar à mesa...

Jane e Sirena trocaram um olhar entediante. As duas sabiam de cor e salteado as regras de etiqueta, então aquela seria uma aula inútil para ambas. Petya parecia assustada, mas parecia sempre assustada, então Jane não sabia se deveria levar isso em conta. Reyna parecia engolir cada palavra que McGonagall dizia, concentrada.

— Deveria haver uma prática. Só decorar tudo isso e tentar lembrar na hora é demais para o meu sono e fome — ouviu Artemisa Weasley murmurar, outra que os cabelos ruivos chamavam a atenção — Eu aprendo mais na prática.

— Você pode tentar dez vezes e nunca conseguirá ter a destreza de uma casta superior, Weasley — Lucy sorriu, maliciosamente — Nasceu pobre e permanecerá pobre a sua vida inteira. Se fosse você, nem esperaria pela vinda do príncipe antes de pedir para sair. É melhor poupar-se da vergonha.

— Ninguém pede para sair, Lucy, o príncipe dispensa. Você é burra ou só surda? — Jane não pôde evitar retrucar.

Quase todas as selecionadas olharam surpresas para ela.

A sua invisibilidade na recepção do aeroporto, o fato de quase não conversar com os outros e de que era Sirena sempre a que calava a boca de Lucy pareceram fazê-las acreditar que Jane era incapaz de dizer palavras grosseiras como aquelas a qualquer pessoa que fosse.

No entanto, a rainha Euphemia sabia perfeitamente bem as vezes em que precisou controlar a boca de sua única filha.

As portas do Grande Salão abriram-se e as garotas restantes entraram, parecendo extremamente envergonhadas por seus atrasos, mas provavelmente só porque o grupo não as esperou, fariam de novo se fosse assim.

— Estão atrasadas — disse McGonagall, torcendo a boca — Que isso não se repita.

A aula continuou pelo que pareceu ser a eternidade.

Sirena ensinou em voz baixa Jane a brincar com o dedo polegar. Precisava desviar do polegar da amiga e tentar empurrar o dela para baixo. Ficaram brincando daquilo até que McGonagall decidiu dispensá-las para o café da manhã.

Estava perguntando-se se Fabiane e Artemisa tinham algum parentesco, quando a última a parou.

— Eu só queria agradecer pelo que disse a Lucy mais cedo — ela pôs uma mecha de cabelo para trás da orelha — Aquilo foi muito legal.

— De nada.

As meninas tinham acabado de se levantar quando as portas abriram-se novamente e o príncipe Liam entrou.

— Alteza — McGonagall o cumprimentou.

As outras meninas a repetiram, exceto Jane, que demorou a perceber o que estava acontecendo.

Aquele rapaz não podia ser o mesmo que tinha visto no televisor havia uns dias.

Acordou de seus pensamentos quando recebeu uma cotovelada discreta no braço de Sirena, então fez uma reverência rapidamente, tentando ignorar o olhar curioso do príncipe e o repreensor de McGonagall.

— Espero não ter atrapalhado a sua aula — Liam disse.

— De modo algum, já estávamos nos dirigindo para a Sala de Jantar — respondeu McGonagall.

— Eu espero que não se incomodem se eu tomar mais alguns minutinhos de vocês — ele dirigiu-se às meninas, sorrindo — Vou chamá-las individualmente para que possamos nos conhecer melhor.

E então dirigiu-se para Cara Dearborn, sentada na ponta direita da primeira fileira. Os dois foram para um dos sofás mais afastados conversar, sem a presença das câmeras.

— Você é louca — a voz de Sirena fez com que Jane desviasse o olhar do príncipe.

— Eu... Eu me esqueci! — tentou defender-se.

— Esqueceu de fazer reverência? — perguntou Reyna, incrédula.

Pensou em dizer que não estava acostumada a sair reverenciando as pessoas, mas sabia que soaria estranha, então resolveu ficar calada.

— Janeth dando vexame outra vez. Nenhuma surpresa — Lucy provocou-a, antes de caminhar até onde Cara se despedia do príncipe, sem esperar ser chamada.

Jane mordeu o interior da bochecha, envergonhada ao se lembrar do acontecimento no aeroporto. Lucy nunca a deixaria se esquecer daquele momento.

— Ei, ignore-a — disse Sirena — Vamos mudar de assunto. O que acha que o príncipe vai nos perguntar?

— Talvez ele queira ver com quem tem mais afinidade — Reyna entrou na conversa, tão calma quanto elas diante da perspectiva de uma conversa com Liam — Será que ele irá eliminar alguém depois?

Jane lembrou-se de Myrtle falando das 13 eliminadas na primeira semana da seleção de Petuel. Tinham sido todas naquele momento? Ou outros eventos ocorreriam?

Lucy voltou radiante para o sofá, gabando-se de sua primeira conversa com o príncipe com Chavelle Wilkes. De acordo com a revista que compartilhou leitura com Sirena no dia anterior, Chavelle era filha de uma Elite. Ou seja, a mãe dela tinha sido uma das 10 mulheres a competirem pelo coração do até então príncipe Charles Evans, junto com a rainha Doralice. Não era de se estranhar que Lucy tivesse tanto interesse nessa amizade.

Sirena precisou dar outra cotovelada em Jane para que ela pudesse entender que era a sua vez. Ela seguiu até o sofá onde o príncipe estava, lembrando-se de fazer a reverência dessa vez.

— Alteza — ela disse.

— Senhorita — Liam olhou para o seu broche — Janeth. Sente-se, por favor.

Aquela era uma situação decididamente desconfortável.

— Por favor, Janeth não — ela pediu, sentando-se ao lado dele.

Odiava aquele nome que tinham lhe dado.

— Então como devo chamá-la? — perguntou Liam.

Dava para notar que ele estava bem curioso em relação a ela. Não entendia que tanta curiosidade era essa, era só mais uma entre 34 garotas.

— Jane, talvez. É como todos me chamam — sugeriu.

— Tudo bem, Jane — ele concordou — Qual é a sua profissão?

Duvidava que ele não tivesse dado uma espiada que fosse na ficha das selecionadas e que sabia sobre cada uma delas.

— Eu sou fotógrafa — respondeu mesmo assim.

— Casta cinco? — Liam parecia espantado — Você não parece uma Cinco.

Ela ajeitou-se no sofá, sentindo que tinha sentado errado.

— Isso era para ser um elogio? — perguntou, vendo Sirena conversar com Reyna e Petya do outro lado do salão.

— Perdão. Não quis soar ofensivo — Liam corrigiu-se.

Ela nem ligava para a casta cinco, só se incomodou porque ela estava naquela casta, supostamente.

— Não tem problema. Suponho que seja a reação da maioria das pessoas — Jane deu de ombros.

— Surpreender-se com você?

Ela sentiu o rosto corar, sem entender muito bem o porquê.

— Eu não quis dizer isso — deixou escapar um sorriso.

— Eu sei, queria ver se conseguia te fazer sorrir um pouco — Liam sorriu — Você é um pouco séria, Jane.

— Eu não sou!

Era verdade.

Quando estava com Sirena, ela sempre estava brincando e sorrindo.

— Bem, então espero poder ver esse seu lado mais vezes — ele disse.

Parecia que a conversa tinha terminado.

Liam levantou-se e estendeu a mão para que ela pudesse levantar-se. Os dois despediram-se com uma reverência e então era a vez de Reyna.

— Você gosta dele — Sirena acusou, assim que ela aproximou-se.

— O quê? Não! — exclamou Jane, sem olhá-la.

— Você fica toda envergonhada e sem graça perto dele!

Ela pedia aos céus para que Sirena calasse a boca.

Artemisa olhou curiosa para as duas.

Reyna parecia bem à vontade com Liam, depois do constrangimento inicial. Eles talvez tivessem muito em comum.

Só tinha conversado com o príncipe por dois minutos, não sabia nada sobre ele e ele só sabia que ela era fotógrafa. Mesmo assim, ele terminou a conversa com ela mais cedo do que fez com as outras meninas. O que isso significava? Já sabia que não combinavam nada e que podia mandá-la para casa? Ou ele tinha visto algo nas entrelinhas que o satisfez?

— Muito obrigado pelo seu tempo, senhoritas — Liam sorriu, assim que terminou de conversar com todas — A quem pedi que ficasse, por favor, espere aqui. As outras podem seguir a McGonagall para a Sala de Jantar. Eu já estarei lá em breve.

Jane reconheceu Igone Karkaroff e Aura Rookwood. Sirena lembrou-a os nomes de Gretel Goyle, Imogen Travers e Viola Selwyn. Com certeza o fato de entrar na casta três faria uma grande diferença para Gretel, que vinha da seis.

— Muito bem, senhoritas, vamos — McGonagall foi à frente.

A rainha Doralice e o rei Charles já estavam em sua mesa na Sala de Jantar, as mãos dadas em cima da mesa até a chegada das selecionadas, quando eles tiraram as mãos.

— Curvem-se — McGonagall falou só com os lábios, seguindo o próprio exemplo em seguida.

Mas Jane já tinha feito uma reverência antes mesmo dela precisar dizer, atraindo um sorriso de Doralice.

— Sejam bem-vindas, senhoritas. Espero que sua estada seja o mais confortável possível — ela disse.

— Sentem-se — foi apenas o que o rei disse.

Jane já tinha percebido que a sua esposa era muito melhor em lidar com as pessoas do que ele. Por um momento, sentiu simpatia, lembrando-se do ocorrido no aeroporto. Ele também sentia essa claustrofobia perto da multidão?

Quando o príncipe Liam retornou, o café da manhã já havia sido servido. Jane e outras meninas apressaram-se para cumprimentá-lo, mas ele rapidamente descartou:

— Não há necessidade. Continuem a comer.

Jane observou-o se sentar com os pais.

— Elas não voltaram — escutou Deina Diggle comentar em voz baixa.

— É claro que não — disse Chavelle, cortando a sua omelete com tranquilidade — Foram eliminadas.

As outras, que não sabiam disso, surpreenderam-se.

— Mas já? — perguntou Fabiane.

— É a primeira eliminação — respondeu Chavelle — Na época da minha mãe, dez meninas foram eliminadas só no segundo dia. E na da minha irmã, foram doze. Tivemos sorte que dessa vez foi menos.

— Sua irmã? — perguntou Edge.

— Minha irmã participou da seleção do príncipe Petuel. Não chegou à Elite.

Parecia ser um negócio de família, concluiu Jane.

— Demetria, não é? — perguntou Lucy, tentando demonstrar que sabia, apenas para gabar-se.

Chavelle assentiu.

— Vocês sabem, o príncipe eliminava as garotas aleatoriamente — ela sussurrou para não ser escutada pela família real, olhando por cima do ombro para ter certeza de que nem Petuel nem Veta estavam lá — Desde o primeiro dia sabia muito bem quem ele queria escolher. Só não terminou a seleção imediatamente por causa do protocolo.

— Bem, ele não foi muito discreto, não é? — comentou Sirena.

— Isso é tão injusto. Não deu nem uma chance para as outras garotas — disse Stelle Podmore, agindo como se a irmã fosse dela.

Chavelle deu de ombros como quem dizia que a vida não era justa.

Depois disso, as conversas foram se fragmentando. Jane continuou calada, concentrada na sua refeição. Não estava acostumada a conversar à mesa, somente em grandes eventos, mas aí ela não comia muito para poder conversar melhor.

— Será que o casamento dos príncipes será na mesma época? — perguntou Benny Fenwick, repentinamente.

— Ou será um dos eventos para testar a nossa capacidade como princesas — apontou Amora Diggory — A Seleção é cheia desses.

— Você teve muita conversa com o príncipe, Reyna — comentou Cara, virando-se para ela.

Reyna paralisou.

— Não tanto — tentou fingir tranquilidade, voltando a comer com lentidão.

— Você foi a que mais demorou para ele dispensar — disse Lucy com rancor.

— Sim, sobre o que ficaram conversando? — perguntou Cara.

— Eu pensei que essa era uma competição — Sirena intrometeu-se — Vocês iriam mesmo revelar os seus segredos?

— Só não revela os seus segredos quem tem o que temer — Lucy retrucou — Eu não tenho nada a temer.

— É mesmo? — perguntou Jane — Bem, isso é o que veremos conforme a competição avance.

Um silêncio constrangedor e cheio de tensão fez com que todas se concentrassem apenas na comida.

— Prova a torta de limão — Reyna sussurrou para Jane, que olhou-a surpresa — É uma delícia.

Não voltaram a conversar, mas ela sorriu, seguindo o conselho da garota.

Realmente era muito boa. Nem muito azeda, nem muito doce, a mistura perfeita.

— As tortas da empregada da minha casa são muito melhores — Lucy resmungava para quem quisesse ouvir.

— Certamente não está aqui por causa da comida — Sirena caçoou.

— Ah! Falem por vocês! — disse Petya, e ninguém sabia se ela estava mesmo falando sério ou não.

Jane tinha que confessar que nunca viu um grupo de garotas que brigasse e acalmasse o clima quase que instantaneamente.

♛♛♛

— O príncipe Liam convidou a Chavelle para um encontro! — Fabiane exclamou, entrando apressada no Salão das Mulheres.

Ela olhou para os lados, assustada, mas relaxou ao ver que nem a rainha Doralice nem McGonagall estavam lá para repreendê-la por sua atitude nada convencional a uma dama.

— O quê? — perguntou Petya, largando as roupas que estava costurando.

Lucy pareceu encher-se de inveja, enquanto que Sirena levantou-se apressada do sofá, indo para a janela.

— Estão nos jardins! — ela exclamou.

Jane permaneceu sentada no sofá, enquanto as outras acompanharam Sirena para espiar como o encontro de Liam e Chavelle estava indo.

— Em que momento a convidou? — Cara perguntou — Eu não me lembro de ter visto eles conversando.

— Talvez tenha sido nas conversas individuais — sugeriu Edge.

— Ou talvez ele tenha ido até o quarto dela — disse Fran, de olhos arregalados.

Foi demais para Lucy e seu orgulho. Ela levantou-se de seu lugar, abandonando as suas revistas de moda e fofoca e saiu do Salão.

— Aposto que ela vai estragar o encontro deles  — comentou Barbara Crouch, sem desviar os olhos de seu livro.

— Por favor, que estrague — murmurou Jane, atraindo alguns olhares.

Pensou que tivesse sido mais discreta.

— Uma das regras diz que, se interferirmos no relacionamento do príncipe com outra selecionada, seremos dispensadas — tentou defender-se, sentindo o rosto corar.

— Cada um joga com as armas que tem — Margot Mulciber deu de ombros — A dela é irritar a todas nós.

Repentinamente, Amora soltou um gritinho e todas abaixaram-se na janela.

— Ai, meu Deus! Será que ele nos viu? — Deina perguntou.

Sem poder evitar, Sirena começou a rir da situação em que elas se encontravam, e então todas começaram a rir.

As portas do Salão das Mulheres abriram-se e um soldado parecia assustado. As meninas, que estavam encolhidas na janela, levantaram-se, tentando aparentar normalidade.

— Ouvi um grito. Está tudo bem com as senhoritas? — o homem perguntou.

— Está sim, senhor. Obrigada por se preocupar — Queensley Shacklebolt o dispensou, sorrindo.

Elas voltaram a rir, assim que as portas se fecharam.

— Ah! Não! — exclamou Petya, parecendo decepcionada — Eles sumiram!

— Devem ter ido para um lugar mais reservado, para que não os vigiássemos — disse Reyna, voltando a se sentar.

Não demorou muito para que as outras também se afastassem da janela.

— Te incomoda? — Sirena sussurrou para Jane — Que ele esteja em um encontro com a Chavelle agora?

— Não, você me incomoda — ela retrucou.

Escutou-a rir de seu mau humor.

♛♛♛

Esperava que fosse Sirena, quando a porta do seu quarto abriu-se mais tarde, mas era apenas Hope, vinda da cozinha.

— Pensei que a senhorita gostaria de um pouco de chocolate — disse, sentando-se ao pé de sua cama e estendendo um pote com algumas bolinhas de chocolate com granulado — Parece abatida.

— O que é isso? — Jane perguntou, deixando o seu livro de política de lado.

Não estava conseguindo focar nas palavras das páginas havia um certo tempo.

— Brigadeiro. A gente está acostumado a comer isso em Panama — respondeu Hope.

Parecia delicioso.

Ajeitou-se na cama, sem incomodar-se em como estava sentada e abriu o pote para começar a comer.

— Ai, caramba!

Hope riu da sua reação.

— Isso é muito bom! — Jane elogiou, esquecendo-se de não falar com a boca aberta — É injusto que o resto do país não conheça isso.

— Agradeço, senhorita — ela curvou-se de brincadeira.

A porta abriu-se outra vez, dessa vez era Pomona trazendo um envelope de carta e papéis.

— Vossa Alteza pediu para que entregasse material para que você possa escrever para a sua família, assim como as outras selecionadas estão fazendo agora — ela disse.

Jane ficou em silêncio, continuando a comer os doces.

Hope olhou repreensora para Pomona que, sem entender, apenas disse:

— Vou deixar aqui na gaveta, caso você precise.

— Obrigada, Pomona — respondeu Jane, sem olhá-la.

— Por que você não sai para fotografar um pouco? — aconselhou-a, pondo a mão em seu ombro — Vai te ajudar a espairecer.

Todo aquele afeto a lembrava dolorosamente de sua mãe.

E lembrar de sua mãe, a fazia lembrar-se de seu pai.

O corpo morto.

O sangue.

— Ótima ideia — ouviu-se dizendo.

Pegou a maletinha da câmera fotográfica e foi até a porta.

— Obrigada, Hope — disse, antes de sair.

Esgueirou-se pelos corredores do segundo andar. Não era proibido caminhar, mas era proibido ir até os jardins. Aproximou-se de uma das portas do corredor menos agitado, que não tinha guardas. Era uma porta de correr de vidro, que podia se passar facilmente por uma janela. Deslizou-a para o lado, as mãos prensadas contra o vidro, olhando para trás para ter certeza de que ninguém iria impedi-la.

Sentir o ar puro a fez sentir-se melhor instantaneamente e perguntou-se o porquê daquela proibição. Se estavam tão preocupados, poderiam pelo menos criar uma estufa dentro do castelo para que elas pudessem ir, seria mais confortável e “seguro”.

Do que eles tinham tanto medo, afinal?

Trocou as lentes da câmera e deu uma limpada com a barra do vestido, antes de começar a fotografar as plantas. Identificou dálias, flores provinciais de Sonage, as margaridas de Clermont, amarílis rosas como as que Sirena usava no dia em que vieram ao castelo. Elas não combinavam entre si, mas eram como um arco íris com tantas cores reunidas no mesmo espaço.

Virou-se para pegar mais filme na mala, quando percebeu o príncipe sentado no banco do jardim, observando-a. Há quanto tempo estava ali?

Sabia que o correto era curvar-se ou pedir desculpas por estar fora sem permissão, mas apenas manteve-se olhando-o com a câmera nas mãos.

Liam parecia que ia dizer algo, mas pareceu desistir de ideia.

— É melhor você voltar para dentro — ele disse — É perigoso aqui fora.

— É mesmo? Então Vossa Alteza não deveria estar aqui fora — Jane retrucou, atrevida.

— Preciso zelar pela segurança de vocês neste castelo.

Liam levantou-se do banco e Jane perguntou-se o que esperava ver de diferente.

Uma marca de batom na gola da camisa?

— Tenho certeza de que os guardas exercem bem esse trabalho — voltou a virar-se para as flores.

— Janeth...

— É Jane.

De repente, estava irritada.

Irritada com Liam, irritada com Chavelle, irritada com o assassino...

Estremeceu, lembrando-se de seu rosto. Ela precisava esquecer disso.

— A senhorita está bem?

Não sentia mais a mínima vontade de ficar do lado de fora, vendo as rosas vermelhas derrubando a água que tinha regado-as, como se fosse sangue. Sentiu vontade de vomitar.

— Eu preciso ir — sussurrou, pegando a maleta e indo para a porta de vidro.

Caminhou rapidamente para dentro, quase correndo pelos corredores, até chegar em seu quarto. Deixou a maletinha em cima de sua cama e foi direto para o banheiro.

— Senhorita Jane! — exclamou Pomona, ao vê-la passar direto por elas.

Myrtle deixou um gritinho escapar quando escutou-a vomitar.

Hope foi a primeira a segui-la, ajudando-a a lavar a ponta de seu cabelo, que tinha ido para a frente e sujado um pouco, e a sua boca. E então começou a desamarrar o laço do seu vestido para trocá-lo.

Jane olhou sua imagem pálida pelo espelho, começando a chorar.

Não parecia nada com uma princesa, naquele momento.

— Por favor, senhorita, não chore — Hope parecia agoniada.

— Tem algo que podemos fazer pela senhorita? — perguntou Pomona.

— Sirena — foi o único nome que conseguiu pensar.

Pomona foi rapidamente para o quarto ao lado.

— Você está horrível, Jane — foram as primeiras palavras que Sirena disse.

Deitou-se na cama, tentando fazer a sensação do nó da garganta e do estômago embrulhado sumirem.

— Esbarrei com Liam no jardim — ela murmurou.

— E sentiu vontade de vomitar? — brincou Sirena — Já estão nessa etapa do relacionamento?

— Pelo menos não vomitei nele — tentou fazer piada.

— Isso seria certamente muito engraçado.

Batidas na porta interromperam a conversa entre elas.

Pomona foi abrir a porta e afastou-se rapidamente.

— Senhorita Mirren, eu sou o doutor Thickey. O príncipe Liam me mandou aqui para verificar o seu estado de saúde — o homem apresentou-se, aproximando-se da cama com uma maleta branca em mãos.

— Ótimo — disse Sirena, antes que ela pudesse reclamar, levantando-se do seu lado para dar espaço ao médico — Ela vomitou e tenho a impressão de que está muito pálida.

O doutor Thickey verificou os seus batimentos cardíacos, pôs a mão em sua testa para ver se não estava com febre ou fria demais e também verificou a sua pressão.

— Eu estou bem, foi só um mal estar passageiro — Jane tentou justificar-se.

— Eu poderia dizer que os ares do palácio fazem mal a muitas selecionadas. Uma já me procurou com sintomas de alergia à mudança do tempo — o doutor comentou — Mas com você morando em Angeles é realmente estranho. Talvez seja apenas um mal estar mesmo, eu me sentiria mais confortável que as suas criadas me avisassem caso isso ocorra outra vez.

Hope e Pomona concordaram rapidamente.

— Tomou as vitaminas? — Thickey perguntou, e Jane pôde ver a sua ficha na prancheta dele, com todas as suas informações.

— Que vitaminas? — ela perguntou.

O médico pareceu espantado por sua pergunta.

— Todas as selecionadas abaixo da casta três recebem um suplemento alimentar. Não recebeu um? Eu preciso verificar se as suas amigas receberam. Se só você não recebeu, certamente foi uma falha.

Ele rabiscou na folha de papel, antes de levantar-se.

— Vou pedir para trazerem aqui essas vitaminas. Talvez esse mal estar seja causada pela falta de alguma delas.

Thickey despediu-se de suas criadas, conversando baixo com elas para que prestassem atenção na Jane.

Ela sabia que as vitaminas não eram causa do seu problema. Era estresse pós traumático. Não precisava ser uma médica para unir o fato de pensar na morte de seu pai e passar mal em seguida.

— O príncipe chamou um médico para você — comentou Sirena, assim que o doutor saiu.

— Eu não entendo — disse Jane, olhando para o teto — Se eu tivesse passado mal na frente dele, faria sentido, mas...

Ela revirou os olhos, voltando a se sentar.

— Ele viu que você não parecia bem e ficou preocupado. Achei isso meigo.

Foi a vez de Jane revirar os olhos.

Ele mesmo tinha dito que era seu dever como anfitrião e monarca zelar pela segurança das suas selecionadas, considerando que uma delas seria a sua futura esposa. Pensar nisso fez o seu estômago embrulhar, mas não de enjoo.

— Ainda bem que não foi intoxicação alimentar — disse Jane — Eu não me perdoaria se tivesse alergia a brigadeiro.

— O que é isso? — perguntou Sirena.

Ela riu, olhando para Hope, que sorria.


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