Undercover escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo saiu de controle kkkkkkkkk



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O meu nome é Janeth Mirren.

O meu nome é Janeth Mirren.

O meu nome é...

Batidas na porta interromperam os pensamentos de Jane.

Ela suspirou. No dia anterior, durante o Jornal Oficial de Illéa, os nomes da selecionadas finalmente tinham sido revelados. No exato momento em que sua foto apareceu no televisor do restaurante, as pessoas olharam para ela.

Era uma princesa, estava acostumada a receber atenção, mas ela não estava vestida como princesa, aquelas pessoas não sabiam e não podiam saber que ela era uma princesa, e as pessoas nos palácios costumavam olhar discretamente, não dar aquelas encaradas desconfortáveis.

— Então, você fala germânico?

Supunha que era natural que as assistentes do castelo estivessem interessadas em verificar se as informações de sua ficha eram verdadeiras. Para a sua sorte, a rainha só tinha escrito verdades.

— Natürlich — Jane respondeu.

— Não entendi nada — ela riu, voltando a olhar para a ficha.

Confirmou mais algumas informações e entregou os documentos que a rainha tinha preparado para aquele momento, incluindo um histórico médico. Não duvidava que sua mãe tinha ajudado a fornecer tudo aquilo, era surpreendente a pressa que tiveram para deixar tudo pronto a tempo.

— Certo, senhorita Janeth, agora eu preciso te deixar ciente das regras da Seleção, tudo bem? — a mulher perguntou — Você vai precisar assinar um termo, assim que eu terminar de dizê-las, para certificar de que você está ciente delas.

— Tudo bem — Jane respondeu, perguntando-se que tipo de regras poderiam ser essas.

— Em primeiro lugar, você sabe que se for descoberto que você não é virgem...

Quase tinha se esquecido das regras arcaicas de Illéa.

— Eu conheço as normas — Jane interrompeu-a.

— Está bem, agora preste atenção: amanhã você participará da despedida na praça de Angeles, como acontecerá em todas as províncias. Você usará o uniforme de todas as selecionadas, que já deixamos separados para você — ela apontou para a sua cama — Os guardas permanecerão na porta deste hotel, garantindo a sua segurança até que você saia. Assim que a despedida ocorrer, será levada de carro até o aeroporto, onde irá aguardar por outras quatro selecionadas.

A ideia de ter que usar calças outra vez a desagradava, e perguntava-se em que lugar colocaria a flor. Era para amarrar na blusa, como se fosse um noivo?

— Não poderá desistir da Seleção, somente o príncipe Liam pode dispensá-la. A Seleção pode demorar dias ou anos, terá que permanecer no castelo até o seu fim, ou até a sua dispensa. Você não arranjará os seus encontros com o príncipe, ele a procurará. Não pode sabotar ou brigar com outras participantes. Se for descoberta roubando, batendo ou causando estresse a outras selecionadas, podendo prejudicar o seu relacionamento com o príncipe, estará nas mãos dele se irá dispensá-la ou não. Contudo, posso dizer de imediato que o príncipe Liam não é do tipo que suporta agressões.

Jane perguntava-se se ela tinha decorado todas aquelas regras porque era sua função ou porque a Seleção de Petuel tinha sido tão recente. Sem saber o que dizer, e não querendo interrompê-la, apenas concordava com a cabeça.

— Só poderá ter um relacionamento amoroso com o príncipe. Se for descoberto envolvimento com os guardas ou qualquer outra pessoa, será considerada traidora da Coroa e a pena é a morte. Se quebrar as regras de Illéa, receberá a punição adequada para o crime cometido. Só poderá comer ou vestir roupas fornecidas pelo palácio, para a sua própria segurança.

As roupas podiam ser envenenadas da mesma forma que a comida?

— Terá que ser cortês com os fotógrafos e repórteres, não poderá impedi-los de ver seus encontros com o príncipe.

— Eu sou fotógrafa — Jane interrompeu-a, apenas para declarar que aquela era uma regra estúpida.

— Eu preciso dizer todas as regras, senhorita Janeth, é parte do protocolo.

Sempre tinha odiado os protocolos. Eram sempre regras estúpidas que precisavam ser aplicadas em situações em que não havia a menor necessidade.

— A cada semana que permanecer no castelo, sua família será recompensada financeiramente. Como os seus pais são falecidos, os cheques serão entregues diretamente a você. Se não fizer mais parte da Seleção, será designado um assistente para ajudá-la a superar esse momento. Ele te ajudará a arrumar uma nova moradia — a mulher olhou ao redor, pensando se ela tinha alguma casa própria, para começo de conversa — e um novo emprego. A partir do momento em que pisar no castelo, você será uma Três. Sua família não. Se você se tornar parte da Elite, então você será da Casta Dois.

A única coisa que ela queria era que a palavra “família” não fosse mencionada.

Só conseguia assentir, pensando em como sua mãe estaria, imaginando como seria se seu pai estivesse vivo, até se todos eles fossem simples moradores de Illéa. Como tudo seria diferente.

Tentou não distrair-se. Apesar de odiar protocolos, havia regras que, caso desobedecidas, custariam a sua cabeça. Não queria que a rainha Doralice precisasse intervir a seu favor, já estava abusando de sua hospitalidade o suficiente.

— A Elite será o grupo reduzido de 10 pessoas. Quando se tornar uma, você aprenderá sobre os deveres de uma princesa adequadamente. Até lá, não é permitido perguntar ao príncipe sobre os detalhes.

Quase riu com essa regra.

Ela sabia perfeitamente bem os deveres de uma princesa.

— Somente se ganhar a Seleção, você e sua família se tornarão integrantes da Casta Um. E então, você casará com o príncipe Liam e será coroada princesa de Illéa, assumindo as responsabilidades do cargo. Outra coisa...

A mulher parecia contrariada, mas continuou:

— Se o príncipe pedir qualquer coisa de você: um beijo, sair para jantar... — ela não continuou, sem olhá-la — Você não pode negar.

Jane assinou o termo que certificava que estava ciente das regras e que era virgem, sem entender a reação da assistente.

Por que parecia tão constrangida?

— Boa sorte, senhorita Janeth. A sua província conta com você.

Quase disse-lhe que a escolha era do príncipe e não dela, mas resolveu não responder à frase ensaiada. Ela nem estava competindo realmente para estressar-se com isso. Provavelmente nunca mais veria aquela mulher novamente.

♛♛♛

A praça nunca esteve tão cheia antes.

Parecia que toda a província de Angeles tinha ido para aquele lado da cidade prestigiar a sua selecionada, a sua representante. Jane esperava que não se decepcionassem muito quando ela não ganhasse.

Permaneceu sorrindo e acenando, como tinha sido ensinada a fazer desde criança. Não conseguiu escutar direito as palavras do prefeito, mas não considerou que seriam importantes, já que ninguém realmente a conhecia, e muito menos o prefeito da província.

— Muito obrigada por todo o apoio que estão me dando hoje, isso é muito importante para mim — tinha ensaiado aquele discurso no dia anterior, já que o prefeito sempre passava o microfone para a selecionada na despedida — Prometo que farei o meu melhor.

Considerava desnecessário falar muito mais.

Inclinou-se ligeiramente para agradecer pelos aplausos, identificando uma câmera gravá-la por todo o percurso até o carro.

Como ela morava o mais perto do palácio que as outras, seria a primeira passageira do avião, que passaria nas províncias vizinhas, antes de ir direto para o castelo: Likely, Sonage, Fennley e Zuni.

Não precisou levar suas malas para dentro do avião, o que foi um alívio, não sabia se teria força o suficiente para isso, já que aparentemente elas não tinham rodinhas. Ou ela não tinha descoberto como ativá-las, era uma hipótese também.

Pegou um livro de diplomacia da mala, agradecendo por ter uma capa falsa do lado de fora. Não gostaria de responder perguntas sobre o porquê de estar estudando sobre materiais que somente princesas tinham acesso. Ela não podia deixar que aquele tempo a atrasasse de seus estudos e, além do mais, não tinha o que fazer. Estava sozinha até que o avião pousasse em Likely.

Devia ter se passado apenas uma hora quando o avião pousou no aeroporto de Likely, mas ainda precisou esperar um pouco para a chegada não muito cronometrada da selecionada.

— Como essas pessoas enrolam, não é?

Jane tirou os olhos do livro para observar a menina de cabelos negros ondulados e os olhos em uma mistura perfeita entre azul e cinza sentar-se em uma das poltronas do lado oposto.

— Se fosse por mim, tinha chegado muito mais rápido — ela continuou dizendo, não interessada se estava sendo escutada ou não — Acordei de casa cedo, a praça ainda estava vazia quando saí. Os guardas queriam que eu voltasse para dentro.

— Isso é ansiedade para chegar ao castelo? — perguntou Jane, considerando de melhor tom responder.

— Ansiedade para sair de casa — e então ela ficou pensativa — Eu sou uma Dois. Você acha que eu vou virar uma Três por entrar na Seleção?

Jane fechou o seu livro, também pensando na hipótese.

— Não, acho que não — concluiu.

— Droga — a garota pareceu irritada.

— Mas por que você quer descer de Casta? — perguntou, sem conseguir entender.

— Sabe, não tem muita coisa pra fazer na Casta 2 — ela sorriu — Acho que quanto mais alta, você deveria poder escolher por profissões se outras castas. Quero dizer, e se eu quiser ser uma faxineira?

Jane riu, mesmo achando que aquele não era o real motivo. Talvez fosse uma questão pessoal demais para expor à primeira menina que conhecia.

— Bom, mas, se você não ganhar, ficará na mesma casta de qualquer forma — disse, sem entender muito o porquê das castas mais altas estarem tão interessadas naquela competição, a não ser que houvesse real interesse no príncipe Liam.

— Mas eles te realocam — ela respondeu — Espero que realoquem mesmo se eu sair amanhã.

Era bem improvável que uma mulher tão linda saísse tão cedo.

— Sou Jane — resolveu apresentar-se, quando a conversa pareceu terminar.

— Sirena — a outra respondeu, olhando pela janela — Vamos para onde agora?

— Fennley, eu acho — Jane respondeu.

— Isso é tão desnecessário. Você é de Angeles, pode ir de carro até lá! — Sirena gesticulou abertamente — E ter que ficar indo de província em província é realmente desnecessário.

— Eu não sei se os reis dispõem de 35 jatinhos particulares, você sabe.

Por um momento, imaginou tantos aviões indo buscar as selecionadas. E se algum deles esbarrasse no outro chegando a Angeles?

— Haja um aeroporto para abrigar tudo isso — disse Sirena — E garagem também.

Por fim, ela deu de ombros e deitou-se, seu corpo ocupando três cadeiras.

— Me acorde quando chegarmos — pediu.

Jane olhou impressionada para ela por alguns instantes.

Queria ter essa liberdade para agir e facilidade para dormir em qualquer canto.

Então pensou... Ela era uma Cinco agora, ou era o que todos pensavam. Que mal teria em quebrar alguns protocolos?

Começou deslizando lentamente as costas pela cadeira, quebrando a pose ereta com que estava sentada. Depois de alguns minutos desistiu, sentindo um pouco de dor nas costas. Então tirou as sapatilhas de seus pés, ficando descalça, e puxou as suas pernas para cima do banco.

Satisfeita com sua rebeldia, pensando no que sua mãe diria se a visse assim, voltou a ler o livro de diplomacia.

Não prestou muito a atenção nas selecionadas de Fennley e Zuni, que preferiram conversar apenas entre si, como se já se conhecessem. Não quis apresentar-se ou saber o nome delas também.

E então finalmente chegaram a Sonage, onde uma mulher de cabelos loiros e olhos azuis claros completou a equipe de selecionadas da região oeste do país.

A loira olhou a todas de cima a baixo, demorando seu olhar para a pose em que Jane estava sentada e em como Sirena dormia. Então soltou uma risada debochada, como quem dizendo que já tinha ganhado aquela Seleção.

Sentiu o sangue ferver, mas manteve-se calma por fora, lendo o seu livro.

— Espero que essa viagem não demore tanto tempo, estou exausta — ela disse, sentando-se próxima das outras duas.

Sim, devia ser muito exaustivo não passar as últimas horas em um avião.

Jane permitiu-se revirar os olhos.

Não precisava ser uma gênia para saber que ainda ouviria falar muito o nome daquela garota.

Já estava começando a anoitecer quando o avião pousou pela última vez no aeroporto de Angeles.

Apesar de Jane estar acostumada a multidões, ela nunca esteve realmente dentro de uma. Vários illeanos estavam lá fora para recebê-las, alguns segurando cartazes, mostrando a sua torcida.

Sirena simplesmente ignorou a sua foto em um deles, parecendo mal humorada por precisar acordar de seu sono.

Jane perguntou-se se ela sequer dormiu à noite. Para alguém que foi a primeira a chegar na praça, ela parecia ansiosa demais para sair de Likely.

Conforme via nomes em cartazes, um pouco tonta pelos flashes, repreendia-se por não ter decorado quem seriam as suas concorrentes. Respirava fundo, o caminho até o estacionamento parecia cada vez mais longe.

— Ei, você tá legal? — Sirena a cutucou.

Tentou sorrir ou acenar, mas não conseguiu, então cruzou os seus braços em frente à sua barriga, como se isso fosse ajudá-la a respirar melhor.

Sirena percebeu e passou o seu braço por seus ombros, sorrindo como se nada estivesse acontecendo.

Foi um alívio finalmente chegar ao carro. Encostou o seu rosto no vidro do carro, tentando acalmar os seus batimentos cardíacos, perguntando-se o que tinha de errado consigo.

— Que patética — a loira disse, ao ver o seu estado.

— Está se olhando no espelho, Lucy? — Sirena respondeu, no mesmo instante.

As duas trocaram um olhar irritado.

— Você tem medo de multidões? — ela perguntou em voz baixa, para que nem Lucy nem as outras duas voltassem a se intrometer no assunto.

— Eu não sei — respondeu Jane.

Pôs a mão na janela, tentando abri-la para respirar ar puro.

— Não, senhorita — o guarda, que acompanhava ao motorista no trajeto, disse rapidamente — Não pode abrir a janela. É perigoso.

— Acho o ar daqui de dentro mais perigoso — Sirena murmurou.

Jane sorriu fracamente e fechou os olhos, tentando se acalmar.

Estava decididamente mais tranquila quando o carro atravessou o portão, precisando parar logo atrás de um carro, que tinha acabado de chegar com mais cinco selecionadas.

Sirena deu uma piscadela para ela, antes da porta lateral se abrir e ela ser puxada por uma das preparadoras. A outra guiou Jane pelo mesmo caminho, para um grande salão cheio de biombos e funcionários. Era ali que cuidariam da imagem de todas elas.

— Sente-se aqui — a mulher puxou uma revista de cima de uma das cadeiras giratórias, como uma que ela via no escritório de seu pai, e deixou-a em cima da penteadeira — Já vão vir cuidar de você. Não saia daí!

E então ela voltou para ajudar na recepção de outras selecionadas.

Não gostaria de estar no lugar daqueles empregados naquela noite.

— Sou Minerva McGonagall — uma mulher de cabelos presos em um coque aproximou-se com uma prancheta em mãos — Eu serei a sua orientadora nessa Seleção.

O jeito como falou “sua” a lembrou do que a rainha Doralice tinha dito. Minerva seria uma das poucas a saber sobre ela.

— Agora, nós vamos tirar fotos do antes, para mostrar a mudança de transformação — ela disse e elevou a voz para chamar um dos fotógrafos.

Jane quase se ofereceu para ajudar os fotógrafos, que pareciam perdidos no meio de tanta informação visual.

— Sorria, colega de profissão — um especialmente simpático aproximou-se dela.

Riu, sem poder evitar, e sentiu o flash. Assim que ele terminou, deu uma piscadela e afastou-se novamente.

Jane ficou sentada, vendo a movimentação da sala, até que sentiu alguém puxar o seu cabelo. Virou-se, indignada, vendo uma moça com roupas pretas e um avental branco na frente.

— Calma, garota. Ninguém vai vender o seu cabelo aqui — a mulher fez uma piadinha, acalmando-a.

Antes que pudesse se desculpar, a cabeleireira virou-a novamente em direção ao espelho, ajeitando a sua posição e pegando um avental para colocar na frente de sua roupa também.

— Como você planeja exibir a sua imagem?

Jane alertou-se novamente pelo uso de palavras.

— A minha imagem? — perguntou.

— Sim. Você quer parecer mais inocente, sedutora,divertida...?

Era possível parecer divertida com o cabelo?

— Eu quero cortar — disse Jane, sentindo-a tirar a rosa branca de seu cabelo e colocá-la em cima do balcão.

— Certo. Só as pontas?

Levantou a sua mão até acima do ombro. A mulher abriu a boca em choque.

— Tudo isso? Você tem certeza? — perguntou, jogando o cabelo dela para a frente, somente para torná-la ciente do comprimento do próprio cabelo — Princesas não costumam ter cabelos curtos.

Justamente por isso.

— Bem, eu não sou uma princesa — Jane sorriu, feliz.

A cabeleireira parecia contrariada, mas concordou.

— Vai tingir? — perguntou, pegando a tesoura de uma das gavetas.

Negou com a cabeça.

Não conseguia se imaginar loira, ruiva ou com o cabelo castanho.

— Eu nunca vi um cabelo tão bem tratado, não vou ter trabalho algum com você.

Por um momento, parecia que ia perguntá-la como que conseguia, mas por sorte não o fez.

Jane não saberia como explicar. Era sempre outras pessoas que faziam. Naquela semana, no hotel, só tinha usado o shampoo e o condicionador que já estavam no banheiro.

Pouco depois, ela chamou outras duas mulheres. Uma delas cuidava de suas unhas, que já estavam com algumas cutículas da última semana sem cuidados, enquanto a outra passava loções nas suas pernas e braços.

Cheirava a morango. Precisou controlar-se para não enfiar o seu nariz em seu braço.

— Qual cor?

Jane não estava acostumada a pintar as unhas. Fazia parte do protocolo só usar cores neutras.

— Eu gostei desse azul esverdeado — ela indicou com a cabeça, já que as mãos estavam ocupadas.

Elas pareceram aprovar a escolha.

Logo depois que elas saíram, uma outra mulher apareceu para fazer a sua maquiagem.

— Uma maquiagem leve? — ela sugeriu.

Devia ser a única sugestão que Jane aceitou de primeira naquela noite.

Olhando para o lado, viu Sirena quase dormir, enquanto seu cabelo era lavado.

— Pronto, querida — a maquiadora disse — Agora você vai para aquele canto ali. Uma das araras tem o seu nome e você pode escolher o que vai vestir hoje.

Jane levantou-se da cadeira, concordando.

Aparentemente, tinham separado os vestidos para toda a semana. Não demorou a reconhecer o vestido azul no meio de todos aqueles.

Ele era seu. Tinha levado em sua mala, quando chegou em Illéa.

Puxou-o do cabide e foi se trocar, percebendo que ele combinava perfeitamente bem com a cor das unhas. Assim que terminou, uma mulher fixou um broche prateado com o nome “Janeth Mirren”, antes de guiá-la para outra área cheia de mais cadeiras e mais biombos.

Um fotógrafo tirou uma foto sua, quando estava despreparada, e saiu antes que ela pudesse reclamar. Devia estar horrível no “depois”.

A mesma mulher que a guiou até ali, sentou-se em uma cadeira à sua frente, puxando um tripé com uma câmera para a sua frente.

— Agora você vai responder a algumas perguntas. Tudo bem? — ela perguntou.

— Está bem — respondeu Jane, encostando as costas na cadeira.

Olhou para cima, sorrindo ao ver Sirena passar, parecendo entediada.

Voltou a olhar para a câmera quando uma luz vermelha acendeu-se.

— Isso que eu chamo de uma grande mudança — a mulher começou a falar, com um tom de voz mais alto e forçadamente simpático do que antes, como se estivesse atuando — O que fizeram com você?

— Eu pedi que cortassem o meu cabelo mais curto — Jane sorriu.

Imaginou sua mãe em casa vendo a mudança, antes de lembrar-se que a Seleção não passava nos televisores internacionais. Não simultaneamente, pelo menos.

— Ficou realmente adorável. Por que escolheu esse vestido? — ela perguntou.

— Eu me sinto... — Jane passou as mãos pelo tecido da saia — Em casa. Ele me faz me sentir em casa.

— Você é uma das quatro selecionadas da casta cinco. Como se sente em relação a isso?

— Na verdade, eu não tive a oportunidade de conhecer as outras ainda, mas tenho certeza de que nós iremos representar bem a nossa casta.

A entrevistadora parecia surpresa por sua falta de conhecimento e interesse na concorrência.

— Já que não conhece às outras, quem você fotografaria, só olhando pela beleza?

— Sirena.

Não hesitou na resposta.

— Como a experiência da Seleção tem sido até agora?

Estressante.

— Confusa, eu acho.

— Acha que a sua transformação vai impressionar? Tem medo de que alguma das outras meninas tenham ficado melhor?

— Não cortei o cabelo para impressionar. Cortei porque eu quis. E não tenho medo de como as outras tenham ficado, com certeza elas ficaram bem melhores.

Ela ficou encarando-a por uns instantes, parecendo bem confusa com as suas respostas, antes de desligar a câmera e levantar-se.

— Certo. Espere naquele sofá até que venham buscá-la.

Jane seguiu pelo caminho que ela tinha apontado, quase afundando de tão confortável e macio que era o sofá.

Sirena veio ao seu encontro não muito tempo depois, sentando e levantando várias vezes, parecendo divertir-se em afundar no sofá. Ela quase não tinha mudado o seu visual, e seria uma completa loucura se o tivesse feito.

— É loucura que tenham passado loção na gente, sendo que tem gente que vai tomar banho, já que passamos horas de viagem — ela começou a falar, ainda brincando com o sofá — E nos maquiamos e vestimos só para tirar fotos e responder perguntas. Logo depois, iremos para nossos quartos.

— Ah! Não brinca! — Jane reclamou.

A outra apenas riu.

Duas selecionadas aproximaram-se. Uma olhava assustada para Sirena, como se ela fosse uma louca que fosse matar a todos ali, e a outra nem olhava para elas. Olhava para o chão, como se temesse que um buraco a engolisse a qualquer momento.

— Venham, tentem fazer isso — disse Sirena, e depois virou-se para Jane — É muito confortável.

— Dispenso — ela disse na mesma hora.

— Não seja chata!

Levantou-se do sofá e a que olhava estranho para Sirena arregalou os olhos, pensando que elas começariam a se bater ali mesmo, mas Jane apenas jogou-se de volta para o sofá, afundando as duas bem mais baixo do que Sirena tinha conseguido antes.

McGonagall aproximou-se das quatro, olhando repreensora para Jane e Sirena, que tentaram esconder o sorriso. A menina ao lado dela afastou-se, parecendo assustada pela companhia repentina.

— Sigam-me. Irei apresentá-las ao castelo e depois as guiarei até seus dormitórios.

Sirena jogou-se no sofá uma última vez, antes de segui-la para o corredor, junto com Jane e as outras duas.

— Você sabe o nome delas? — Jane perguntou em voz baixa, mas tudo soava absurdamente alto por ali.

— Por que eu saberia? — Sirena parecia surpresa por sua pergunta.

— Você sabia de Lucy.

— E quem não conhece Lucy Malfoy?

Jane ergueu as sobrancelhas, como que dizendo “eu”.

— Vocês sabem quem é Lucy Malfoy? — Sirena perguntou às outras duas.

— A loira — a mais baixa respondeu, parecendo ter medo até da própria sombra.

— Que específica — reclamou, sem parecer satisfeita.

A outra finalmente parou de olhar para o chão.

— Não, eu não sei. Isso realmente importa? — disse, parecendo cansada.

Jane sorriu para ela.

Calaram-se quando McGonagall abriu uma das portas.

— Aqui é a Sala de Jantar. Os seus lugares já estão marcados. Sugiro que comecem a decorar, pois depois de amanhã, essas plaquetas irão sumir.

Jane aproximou-se e viu que estava sentada entre Sirena e Reyna Lupin. À sua frente sentava Lucy Malfoy.

— Isso que eu chamo de falta de sorte — Sirena deu uns tapinhas estranhos nas costas de Jane.

Ela lembrava-se de ver as pessoas fazendo isso em meio de um abraço quando iam consolar quem estava chorando.

— Onde acabaram de sair é o Salão das Mulheres, onde passarão grande parte de seu tempo. Ali é o Grande Salão, onde ocorrem as festas e banquetes — McGonagall fechou a porta, indicando o outro lado — Jantariam ali se fossem muitas.

— Ela acha 35 pouco? — Sirena murmurou.

McGonagall mostrou a sala onde gravavam o Jornal Oficial de Illéa e também o escritório onde os monarcas trabalhavam, que era proibido para elas.

Jane não sentia vontade de voltar lá. Não era grande coisa. Mas os olhos de Sirena brilharam quando escutou a palavra “proibido” ser pronunciada.

— O segundo andar é onde os seus quartos ficam. O terceiro andar é da realeza, portanto, estão proibidas de ir lá em cima — McGonagall continuou, sem parecer notar o brilho perigoso no olhar de Sirena — O resto do castelo conhecerão com o passar do tempo. Vou mostrar-lhes os seus quartos. Acompanhem-me.

Jane cruzou os dedos, torcendo para ter boas vizinhas de porta.

— Não preciso dizer que não devem ir lá fora sem permissão, eu espero. Também espero não precisar repetir o regulamento que vocês assinaram quando foram selecionadas — ela olhou severa para as quatro, como que esperando que alguém a contrariasse — Muito bem. As suas coisas já foram levadas para os seus quartos. Se quiserem mudar algo na decoração, basta avisarem às criadas. Vocês terão três ao seu dispor.

A mais baixa deixou a boca cair, como se fosse algo surreal para ela ouvir que teria três para cuidarem dela. A outra pareceu empalidecer à menção das criadas, mas nada disse.

— Antes do jantar, se reunirão no Salão das Mulheres para a exibição do Jornal Oficial de Illéa.

O estômago de alguém roncou e Sirena precisou lutar contra um ataque de risos. A mais baixa das quatro corou, parecendo envergonhada.

— Então, deixo-as aqui.

Elas percorreram o segundo andar, procurando por seus nomes nas placas em frente às portas.

— Parece que somos vizinhas — a menina falou pela primeira vez, ainda pálida, parando em frente à porta que dizia “Reyna Lupin”.

A outra entrou, sem se despedir, no quarto que indicava “Petya Pettigrew”.

— Até daqui a pouco, Jane — Sirena deu uma piscadela para ela, antes de girar a porta da maçaneta e entrar no seu quarto.

O que mais queria naquele momento era que pudesse deitar na cama e descansar, nem lembrava-se mais que não tinha comido desde o almoço.

As criadas já estavam desfazendo sua mala quando Jane entrou no quarto, e pararam imediatamente, como se tivessem feito algo de errado.

— Não roubei nada — uma delas disse imediatamente, largando um dos vestidos.

A outra olhou de olhos arregalados e indignada para a que falou.

— Ninguém roubou — ela tentou esclarecer — Nós só estávamos...

— Desfazendo as malas — Jane completou.

— Isso! — as três concordaram no mesmo momento.

— Eu notei — ela observou a decoração do quarto.

É, ela iria mudar algumas coisas sim.

— Bem, continuem — disse Jane, ao notar que elas ainda estavam paradas, olhando-a assustadas.

Foi como se tivessem recebido um choque. Voltaram a pegar os seus vestidos e colocá-los dentro do armário. Os livros foram imediatamente para a estante, mas nem todos couberam lá, então precisaram espalhar por algumas gavetas.

Jane sentou-se na cadeira ao lado da cama, observando-as curiosa, sem querer atrapalhar.

— Vocês foram criadas na Seleção do príncipe Petuel? — fez uma das perguntas que estavam rondando a sua cabeça.

— Sim, senhorita — a que parecia a mais velha das três respondeu, enquanto dobrava uma calça.

Jane conteve o impulso de mandá-la jogar a calça pela janela.

— Isso não é... Cansativo? — perguntou.

A que estava perto do armário aproximou-se para colocar um livro na mesa de cabeceira, mas ficou por lá mesmo, inclinada.

— A Seleção foi muito rápida — ela fofocou, os olhos arregalados dramaticamente — E a nossa selecionada foi eliminada rápido. Aliás, eu acho que na primeira semana foram 13 eliminadas.

Jane arregalou os olhos. 13? Tão rápido?

— Myrtle! — a mais velha repreendeu, fazendo a outra voltar ao trabalho rapidamente.

— Eu não sei ainda os seus nomes — disse Jane, assim que elas terminaram de desfazer as suas malas.

— O meu nome é Pomona — disse a mais velha — Essas são Myrtle e Hope.

Hope apenas levantou o olhar quando seu nome foi chamado, mas manteve-se calada e quieta durante todo o momento.

— Prazer em conhecê-las — Jane sorriu — Sou Janeth Mirren, mas me chamem apenas de Jane.

Assim que a apresentação acabou, ouviram batidas na porta. Antes que Jane pudesse levantar-se, Myrtle correu para a porta.

— Eu atendo — disse, como se estivesse competindo com alguém, mas Hope e Pomona nem se moveram.

Sirena entrou rapidamente, com aquele sorriso aberto típico dela.

— Pensei que haveria alguma diferença nos quartos, mas parece ser tudo igual — ela comentou — Estava entediada, então resolvi ficar aqui com você.

— Eu estava a ponto de ficar — confessou Jane, também sorrindo.

— Não vou tirar esse vestido. Acho o maior desperdício de tempo a gente ter que se vestir de novo.

Apesar de não terem combinado sobre isso, Jane também não planejava trocar de roupa.

— Peguei essa revista lá do Salão das Mulheres, estava pensando na gente conferir quem são as selecionadas, já que a gente tá completamente perdida nessa zorra — Sirena mostrou a revista.

Jane deu de ombros, parecia uma boa ideia.

Só tiraram os sapatos para poderem deitar na cama mais confortavelmente.

Myrtle, Pomona e Hope ficaram em um canto do quarto, como espectadoras silenciosas, mas Jane já estava acostumada a isso, e Sirena aparentava estar também.

— Eu nunca esperei ver tantas garotas da Casta Sete antes — ela confessou — Na Seleção do irmão, não tinha nem da Seis.

— Azar, eu suponho — Jane deu de ombros — É tudo feito em sorteio, não é?

Exceto a província de Angeles.

Sirena olhou para ela, como se fosse ingênua demais.

— Não. Todo mundo sabe que é manipulado — ela disse — Acha mesmo que Lucy Malfoy foi selecionada? O pai dela é conselheiro ou sei lá o quê do rei.

Jane surpreendeu-se.

— Primeiro ministro — disse Myrtle, antes de receber uma cotovelada de Hope.

Elas resolveram ignorar para evitar constrangimentos e voltaram seus olhos para a revista.

Lembrava-se de alguns nomes, mas os que realmente conseguiu decorar foram os da sua casta: Fabiane Prewett, Thalia Rowle e Stelle Podmore.

— É, não deixa de ser predominância Dois e Três — concluiu Sirena, depois de um tempo.

A porta abriu-se sem que houvesse batidas antes. McGonagall olhava transtornada para elas.

— Senhorita Black — disse, olhando aliviada para ela.

— Não podia sair do quarto? — Sirena perguntou inocentemente.

♛♛♛

Jane estava com a cabeça deitada no ombro de Sirena, as duas sentadas no sofá, vendo as imagens da saída de todas as selecionadas com comentários de Rita Skeeter no Jornal Oficial de Illéa.

— As câmeras não puderam captar a chegada de Sirena Black, ela já estava na praça quando começou a organização da despedida.

Algumas selecionadas olharam espantadas para Sirena, que nem desviou o olhar da TV.

— Reyna Lupin parecia extremamente desconfortável, foi a mais rápida a sair. Isso pode dar uma impressão bem desfavorável para ela. Esperemos que essa imagem mude conforme a competição aconteça.

Era realmente irritante quando cada uma era citada e todas olhavam para ela.

— Janeth Mirren realmente impressionou hoje. De todas as selecionadas, eu diria que ela é a mais misteriosa. Ela saiu de um hotel, não houve despedidas e foi a única a não ter um cartaz torcendo por ela na recepção do aeroporto.

Lucy parecia extremamente satisfeita com isso. Apenas algumas olharam para Jane, mas pareciam divididas entre a curiosidade e a pena.

Ela não representava uma ameaça para aquelas garotas.


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