Undercover escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 21
Capítulo Bônus




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/764251/chapter/21

(Antes do epílogo)

Liam não estava na cama quando Jane acordou. Talvez ele não tivesse sequer dormido lá naquela noite. Ela já esperava que isso acontecesse, apesar de ser frustrante da mesma forma.

Eles tinham opiniões divergentes em muitos assuntos, mas qualquer coisa envolvendo Illéa era delicado para ele, que tinha crescido naquele meio. Então Jane tinha passado tempo suficiente lá para saber que não queria que a Nova Germânia aplicasse o sistema de castas na sociedade, e ele não conseguia ver o que tinha de errado se eles podiam aprimorar esse sistema.

Discutiram. Ela dormiu sozinha.

Era tão ridículo que tinham discutido por causa de um assunto tão besta. Estava incrédula. Não pediria desculpas porque não via como que aquela discussão tinha se iniciado e pelo quê deveria pedir desculpas. Por ter opinião própria? Por dizer a verdade?

Nunca odiou tanto que as cortinas ficassem fechadas depois do nascer do sol.

Ficou na cama por uma meia hora, mesmo que não estivesse tão acolhedora e quente quanto era usualmente, até que sua mãe foi até o seu quarto para "acordá-la". Euphemia abriu as cortinas e só então notou que ela já estava acordada.

— Vamos descer, vocês têm correspondência.

O que poderia ser de tão importante?

Adiou ao máximo a sua descida, sentia-se muito indisposta. Encheu a banheira e foi tomar um banho demorado para ver se conseguia se animar um pouco mais, embora fosse difícil com a discussão com Liam. Seu humor desapareceria assim que ele abrisse a boca ou dirigisse outro daqueles olhares frios.

Sua mãe não voltou para apressá-la. Ainda estava na mesa do café da manhã quando Jane desceu.

— Você demorou — disse Euphemia, levantando-se — Vou pedir para chamarem Liam.

— Isso não é necessário. Estou sem fome — Jane seguiu para um dos escritórios do primeiro andar, sem dirigir um segundo olhar a mesa.

Sabia que ele estaria lá. Sua mãe seguiu-a rapidamente, os seus saltos soando contra o assoalho do corredor.

— Você deveria comer. Não pode ficar de jejum em uma viagem — ela sugeriu.

Jane abriu as portas duplas do escritório, sem pedir permissão para entrar. Era a sua casa, apesar de tudo.

— Para onde teremos que viajar? — ela entrou perguntando, sem olhar onde Liam estava — Algum problema na Irlanda?

— Não. Vamos para Illéa — Liam deu um envelope para Euphemia, que o entregou para Jane, que tinha sentado na poltrona de costas para os dois.

Ela puxou o papel de carta de dentro do envelope rompido. Reconhecia a letra de Petuel das vezes que se correspondia com Liam.

— Veta teve o bebê, então — Jane informou à mãe.

— Fomos convidados para o batismo — disse Liam — Será uma viagem breve.

— Então vou preparar tudo — Euphemia tentou deixá-los a sós.

— Eu vou com você — Jane foi em sua direção — Preciso preparar minha mala.

— As criadas podem fazer isso por você. Sei que odeia fazer malas.

Ela ignorou a fala da mãe, saindo do escritório junto com ela.

— Está tudo bem contigo e com Liam? — sua mãe perguntou, assim que ela chegou aos pés da escada, pronta para subir.

— Melhor impossível — mentiu.

Jane odiava aviões, mas aquela viagem parecia a pior que já teve. Pior até do que aquela que a levou para Illéa, no dia da morte de seu pai. Ainda bem que Veta e Petuel não eram educados o suficiente para recepcioná-los no aeroporto, pois assim que desceu não esperou para cumprimentar ninguém.

Precisou conter-se por todo o caminho até o castelo. Assim que chegou ao quarto em que ficariam, sentiu a bile subir pela garganta e foi até o banheiro. Ela tinha ficado enjoada a viagem inteira, era péssima com transportes, não importava se aéreos, terrestres ou marítimos.

Estavam em um dos quartos de hóspedes, não no quarto do príncipe, que Liam dormia quando morava lá. O bom do quarto do príncipe é que tinha o quarto da princesa ao lado, então não seriam obrigados a dormir juntos. Era o que ele queria, tinha deixado claro naquela manhã. Talvez ele reclamaria com Petuel.

— Você está bem? — Liam perguntou a ela, depois que as criadas os deixaram.

— Não me dou bem com voos, você sabe — respondeu.

— Descanse. Ainda temos tempo. Eu vou falar com Petuel.

Ela concordou. Deitou-se na cama, assim que o marido saiu do quarto atrás do irmão.

Aquilo não era uma reconciliação.

♛♛♛

Euphemia parecia estar fazendo um esforço para não incomodá-la com notícias sobre a Nova Germânia, já que nenhum memorando chegou com informações sobre as votações e discussões sobre a implantação de castas. Voltar para Illéa com essa pauta ainda em andamento apenas deixava o humor de Jane pior. Cada pessoa que era obrigada a cumprimentar tinha uma etiqueta invisível, uma posição conquistada injustamente. Ela não precisava saber da história inteira de Illéa para saber disso. Não era uma divisão justa, era uma punição.

Uma punição passada de geração em geração.

Jane podia não ter mais 16 anos, mas ainda achava casamentos e batismos bem entediantes. O dia estava quente e representantes de países aliados, como sempre, acompanhava o acontecimento. Só assim para as monarquias se reunirem em um só lugar. Um evento ou uma guerra.

Ela pôde ver Chernobyl do outro lado do salão, mas não sentia muita vontade de conversar. Lembrava-se de que Cher sabia identificar o que estava de errado com ela somente de olhar, e realmente não sentia vontade de desabafar sobre a sua briga com Liam.

— En nomine patris, et fili, et spiritus sancti — foi a única coisa que conseguiu prestar atenção na cerimônia inteira.

— Amen — todos responderam em uníssono.

Ela respondeu em um sussurro, alguns segundos mais atrasada que o restante.

Depois que Dudley Evans foi batizado, todos foram para o jantar que foi oferecido. Como Veta não tinha feito um chá de bebê, pelo que Jane se lembrava, muitos representantes estavam aproveitando aquele momento para dar presentes ao mais novo herdeiro do trono.

Ela não se lembrava de um herdeiro que chorasse e gritasse tanto, fosse a idade que fosse. Tentou não estressar-se com isso, embora uma leve enxaqueca começasse a surgir.

A pior coisa de ser rainha era, definitivamente, aquelas recepções as quais ela era obrigada a comparecer. Um simples olhar torto poderia ser mal interpretado e terminar com uma aliança, era pressão demais.

Seus pais eram muito melhores em lidar com isso do que ela jamais seria.

Se ela ao menos pudesse ver Sirena e Reyna, talvez seu humor melhorasse, mas o máximo que conseguiria era esbarrar com McKinnon pelos corredores ou com Hope nas cozinhas. Era algo, mas não a mesma coisa.

Após o jantar, aos poucos, alguns convidados foram se retirando educadamente e o ambiente foi esvaziando-se.

— Jane.

Ela olhou para trás e viu Cher aproximar-se, sempre tão alegre e serena.

Forçou um sorriso o melhor que pôde, já estava acostumada a fazer isso com tal perfeição que não era notada a diferença. A loira abraçou-a, recebendo alguns olhares repreensivos de Apolline e outras mulheres no salão.

— Minha nossa! — ela exclamou, ao se afastar-se dela, parecendo ter descoberto algo incrível — Meus parabéns!

— Pelo quê? — Jane perguntou.

Antes que Cher pudesse responder, Liam afastou-se de Petuel com uma expressão séria e foi para perto delas.

— Vamos — ele sussurrou no ouvido dela.

Desde quando ele decidia que horas ela se retirava?

Só não discutiu porque não estava se sentindo com forças para isso.

— Foi muito bom te ver, Cher — Jane voltou a abraçá-la para se despedir.

— Pelo bebê — ela sussurrou em seu ouvido, antes de voltar para perto do marido.

O quê?

Jane saiu do salão acompanhada por Liam, embora ele caminhasse mais á frente dela, afastado. Não estavam mais às vistas dos outros, não precisavam fingir que estava tudo bem.

"Pelo bebê". O que Cher tinha querido dizer com aquilo?

Então lembrou-se da sua pergunta.

Estava parabenizando-a por causa de Dudley?

Está bem que ela era tia daquela criança, mas não é como se ela fosse precisar conviver por tanto tempo com o bebê. Provavelmente da próxima vez que o visse, ele já teria cinco anos. Era assim que as coisas costumavam funcionar com as famílias.

E não é como se ela estivesse muito feliz com a ideia de Veta e Petuel terem um filho. Sim, eles precisavam de um herdeiro e eles tinham tentado por uns bons anos sem sucesso, mas ela não era sequer amiga deles para alegrar-se.

Cher não era do tipo que falava as coisas sem um motivo, então Jane ficou com aquela pergunta rondando a sua cabeça por um tempo.

♛♛♛

Ela estava grávida.

Abriu os olhos, assim que esse pensamento passou pela sua cabeça.

Sentou-se na cama, sem tomar o menor cuidado para não acordar Liam.

É claro! Fazia todo o sentido!

Cher tinha dito "parabéns pelo bebê" logo depois que a abraçou. Ela deve ter sentido a sua barriga. E o enjoo quando chegou a Illéa! Mesmo que ela sempre ficasse enjoada em voos, não se lembrava de alguma vez já ter posto tudo para fora. O cansaço que estava sentindo nos últimos dias, não relacionado a noites de sono ruins.

Jogou o edredom para o lado e caminhou até o banheiro. Não precisou acender a luz, o reflexo da lua iluminava perfeitamente o quarto e do banheiro. Liam também gostava da luz do luar, aparentemente. Enfim, ele nunca fechava as cortinas, não sabia para quê as tinham.

Puxou a camisola para sempre, expondo a sua barriga e ficou em frente ao espelho. Não havia uma grande diferença, mas era alguma coisa, considerando que ela não tinha alterações de peso, nem mesmo na menstruação. Pôs as mãos em cima da barriga e sentiu o quão dura estava. Tentou empurrá-la, mas ela quase não se moveu.

Estava grávida!

Soltou o ar, surpresa, e então fechou a boca, molhando os lábios ressecados.

Caramba, ela estava grávida. Era uma ideia assustadora. Encarou o seu reflexo levemente pálido, mas talvez fosse culpa da luz natural. Queria que a sua mãe tivesse vindo junto para que pudesse conversar com ela.

Poderia escrever uma carta, mas quantos dias levaria para chegar até lá e voltar com a resposta? Eles partiriam pela manhã de volta a Nova Germânia, assim como todos os outros países. Chegavam meio dia antes do batismo, permaneciam o dia inteiro e partiam na metade do próximo dia, ou pela manhã. Isso dava um saldo de permanência de dois dias, dependendo do ponto de vista.

Levou as mãos ao cabelo despenteado. Não ia conseguir dormir, precisava conversar.

A ideia de acordar alguém era perturbadora. A pessoa mais próxima a uma figura materna com quem poderia conversar era a rainha Doralice (ou ex-rainha?), mas não queria acordá-la àquela hora, mesmo sabendo que talvez ela não se importasse. Fazia muito tempo que não conversava com Hope, então também não se sentia confortável com a ideia.

Vermasseln.

— Liam, acorde — ela o sacudiu de leve.

Ele tinha sono leve.

Com uma respiração profunda, Liam abriu os olhos e piscou algumas vezes, confuso.

— Jane? O que houve? — ele perguntou, pondo o braço em cima dos olhos para escondê-los da luz da lua, que não estava tão forte, mas ainda perturbava aparentemente.

— Eu estou grávida — ela soltou sem delicadeza.

— Quê?

— Grávida — disse Jane.

— Grávida — ele repetiu e então pareceu acordar.

Liam enrolou-se nas cobertas, ao sentar-se na cama, agitado e esfregando os olhos para manter-se acordado.

— Grávida? Você está grávida? — ele perguntou.

— É o que eu estou dizendo, seu idiota! — ela perdeu a paciência.

Seu marido não pareceu importar-se com o fora, abraçando-a.

— Me desculpe pelas brigas, não vamos mais falar sobre isso — ele disse.

— O quê? — Jane afastou-o, indignada — Você ficou sem falar comigo por dias! E agora só porque eu disse que estou grávida vai ficar tudo bem?

— Eu já não aguentava mais esse silêncio... — Liam tentou dizer.

— Foi você que começou! A culpa disso foi sua!

Ela precisou lembrar-se de que não estavam em casa. E, mesmo que estivessem, eles iam acordar o castelo inteiro se ela mantivesse a voz em um tom tão alto.

— Eu sei, me desculpe — ele disse, parecendo realmente arrependido.

— Se você fizer isso de novo, vai se arrepender — respondeu, ainda magoada.

Virou para o lado, mas não conseguiu continuar irritada com ele quando sentiu os seus braços na sua cintura.

Ela caiu no sono rápido.

Esperaria para surtar quando chegasse em casa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Spin-off: https://fanfiction.com.br/historia/776142/Uncover/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Undercover" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.