Undercover escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Foi tão bom dar uma relida nos livros. No dia que esse filme sair, eu surto.
Boa leitura ♥



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Tudo aconteceu rápido demais para que Jane conseguisse absorver. 

Em um momento, estava caminhando pelos jardins do castelo, tentando escapar das empregadas que tentavam convencê-la a ir logo para o seu quarto, a mando da rainha Euphemia, que insistia em determinar um horário para a sua sesta.

A sensação de pisar descalça na grama, sabendo que era inapropriado, sentir o tecido do vestido prendendo nos galhos das árvores e poder cheirar todos os aromas delicados que as flores dos arbustos expeliam era o que fazia valer a pena aquelas pequenas quebras de normas.

E então, em outro momento, ela entrou em um corredor que quase nunca entrava, pois era um dos acessos dos empregados. O rei Fleamont estava lá, tentando conversar pacificamente com dois encapuzados que apontavam as armas para ele.

Só havia uma pessoa que não usava capuz, e foi ela quem apertou o gatilho.

Poderia ter morrido naquele exato instante. Não lembrava-se o porquê de ter sido poupada.

Lembrava perfeitamente do choro indecoroso que soltou, de como tentou manter seu pai com vida, enquanto gritava por ajuda, do aperto que ele deu em suas mãos, que cobriam o tecido coberto de sangue da camisa, dando o seu último sorriso.

E então as suas malas estavam sendo feitas e um monte de guardas fardados a escoltavam para dentro de um avião que ia para um destino que ela não podia prestar a atenção, pois ainda segurava com força em suas mãos o relicário ensanguentado.

Em que momento a sua vida tinha chegado àquele ponto?

Sabia que não era a princesa mais exemplar que existia no mundo, ganhando inclusive das loucuras executadas pela herdeira do trono italiano, mas não podia ser que merecesse passar por tanto sofrimento.

Aquele rosto ainda a assombrava. Quando fechava os olhos, podia reconhecer com facilidade, e cada vez menos fazia sentido. Cada vez menos acreditava que seu pai estava mesmo morto. Não podia ser real.

— Ihre Durchlaucht — uma mulher com o uniforme do palácio de Dortmund agachou-se à frente do banco em que Jane estava sentada, e pegou suas mãos com delicadeza, tentando separá-las do relicário — Komm schon. Heute.

Em algum momento, o avião tinha parado de voar e tinha pousado finalmente em seu destino, mas ela não poderia dizer quando que isso aconteceu.

Sua mão apertou-se em volta do relicário com mais força, como se temesse que fossem tirá-lo dela.

— Está tudo bem, você pode ficar com ele — a mulher pareceu notar isso, e pegou uma das mãos para poder ajudá-la a se levantar.

Por fim, Jane reagiu, levantando-se por conta própria, mas sem afastar a mão da moça. Isso seria muito rude de sua parte, quando só estava tentando ajudá-la.

Foi guiada para fora do avião e uma parte de sua mente reconheceu aquela paisagem do jardim. Tinha algo nada germânico no jeito que aquelas flores estavam localizadas.

A moça parou ao seu lado, curvando-se em um cumprimento, enquanto olhava de cabeça baixa para a frente. Jane seguiu o seu olhar, vendo a figura imponente e de cores claras da rainha Doralice recebê-la, ao lado do seu marido, o rei Charles.

Estava em Illéa.

— Jane, minha querida, como está? — Doralice aproximou-se, as mãos entrelaçadas entre si, à frente do corpo.

Era uma pose que ela também sempre tinha gostado de fazer.

Apesar de seu estado catatônico e da vontade de desatar a chorar outra vez, ela ainda era uma princesa, e não conseguia deixar de lado o protocolo em favor de suas vontades pessoais. Tinha crescido e sido educada daquela maneira.

— Bem, eu acho — hesitou, soltando por fim o relicário, deixando-o pender na gola do seu vestido — Obrigada pela hospitalidade, Vossa Majestade.

A primeira reação aparente de Doralice foi a de dizer para acabarem com aquelas formalidades, sendo que a tinha visto diversas vezes quando criança, mas conteve-se, assentindo.

— Seja bem vinda a Illéa, Jane — Charles também cumprimentou-a.

— Acho melhor nós entrarmos — a rainha sugeriu — Venha conosco.

Todos os funcionários que passavam por eles pareciam olhar com desespero para a mancha vermelha no vestido azul de Jane. Sentia pena de quem fosse precisar limpar aquilo mais tarde. Talvez fosse mais fácil pedir para que o queimassem de uma vez, pois não sentia que gostaria de voltar a trajá-lo depois daquele dia.

A primeira coisa que notou foi a ausência do príncipe. Não conseguia lembrar-se do nome dele, apenas que possuía a mesma cor de cabelo que a mãe, e perguntava-se a motivação disso. Achava um pouco de falta de educação por parte do rapaz.

— Gostaria de comer alguma coisa? — perguntou Doralice, assim que Charles abria as portas duplas da sala de reuniões deles.

— Não, obrigada, eu estou bem — Jane respondeu, sentindo que qualquer coisa que entrasse em seu estômago sairia pelo mesmo caminho que entrou.

— Sente-se, por favor — Charles indicou uma das cadeiras mais próximas das portas.

Se não estivesse tão acostumada a longas mesas de mogno, teria se assustado com o tamanho da sala de reuniões, ainda mais considerando que era uma reunião de três pessoas apenas.

— Para a sua segurança neste reino e neste castelo, ninguém além de alguns empregados pode saber que você é uma princesa — Doralice começou a dizer, depois de trocar um olhar com o marido — Isso inclui o nosso filho, Liam.

— Mas como Vossas Majestades planejam explicar a minha presença aqui? — Jane perguntou.

Parecia que tinha chegado no ponto sensível da conversa.

— Certamente sabe sobre os arranjos matrimoniais que Illéa utiliza para manter a aliança entre outros reinos e a paz para com nosso povo — disse Doralice.

— A Seleção — Jane concordou — Muitos reinos têm pensado em adotar a mesma medida, visto que parece a mais eficaz e justa.

— O nosso filho mais velho, Petuel, está de casamento marcado com uma plebeia — Charles interviu na explicação de sua esposa — O natural seria que Liam se casasse com uma herdeira de outro trono.

Jane assentiu novamente, estava ciente de como as coisas funcionavam em Illéa.

— No entanto, eu tive a ideia de que uma nova Seleção fosse realizada — Doralice disse — O povo está descontente com a escolha de Petuel e seria a maneira perfeita de te esconder.

Ela não respondeu imediatamente, tentando entender a estratégia.

A rainha tinha dito que ninguém poderia saber que ela estava lá, mas, no entanto, sugeria uma nova Seleção.

E por quê?

Nunca tinha escutado falar de duas seleções seguidas por dois filhos dos mesmos pais em toda Illéa, como estava acontecendo.

— Eu não entendo — Jane disse, lentamente — Como que uma nova Seleção pode agradar ao povo? Petuel é o herdeiro legítimo do trono, não importa com quem Liam se case.

— O povo se sente parte da Seleção, é como se a decisão deles importasse — ela explicou — E, geralmente, importa, mas Petuel escolheu a menos querida das selecionadas e isso causou um pouco de revolta.

Jane assentiu, ainda pensando na proposta.

Não é como se tivesse muita escolha. Provavelmente a segunda opção seria virar empregada do castelo, e essa certamente ela não aceitaria.

— A Seleção só é televisionada para Illéa? — quis apenas confirmar.

— Toda informação que passa para o exterior é controlada — Charles concordou.

— Tudo bem, então. Eu só preciso saber como que vai ser. Quero dizer, como eu devo agir, qual será meu nome e de qual província eu terei vindo, supostamente.

Doralice concordou, levantando-se de sua cadeira, pegando uma folha de formulário com o símbolo de Illéa carimbado no topo.

— Janeth Mirren, província de Angeles e Casta 5.

Jane pegou o formulário, vendo a sua foto olhá-la de volta.

Provavelmente tinham recortado em formato 3x4 de alguma foto em família que tinha, então não dava para enxergar o suficiente de seu vestido, e seu cabelo estava solto.

— Quis escolher um nome o mais parecido com o seu para que não tivesse problemas — disse Doralice — Pode pedir para as pessoas te chamarem de Jane, como se fosse um apelido. Quanto à casta, pensei em colocá-la na 4, como dona de loja, mas acho que quanto mais baixa a casta, menos prestarão atenção em você.

— Você sabe dançar, tocar instrumentos, não será um problema escolher — Charles concordou.

— Eu gosto de fotografar — Jane disse.

— Tudo bem, então, fotógrafa.

Voltou a olhar para a sua foto.

Janeth Mirren.

Precisava decorar aquele nome, a sua vida dependia daquilo.

— Muito bem, fico feliz de que tudo tenha sido esclarecido — disse Doralice — Agora, você terá a ajuda de Minerva McGonagall. Ela foi a orientadora da seleção de Petuel e agora será a sua e das outras selecionadas. Sempre que precisar de algo, fale com ela. O melhor será que Liam não nos veja muito juntas, poderá desconfiar.

— Só uma coisa.

Sentia-se mal por interromper a rainha. Teria que mudar aqueles modos, considerando que dentro de algumas semanas seria apenas mais uma selecionada.

— Onde ficarei até o anúncio dos nomes? — Jane perguntou.

♛♛♛

— Quarto para uma pessoa?

Ela nunca tinha usado calças em toda a sua vida e aquela era uma experiência desconfortável, mas as illeanas não dispunham de vestidos de luxo. Achava difícil que sequer usassem saias longas e soltas, pois o máximo que encontrou em sua mala foi uma saia curta e colada, feita de um tecido estranho, pesado.

Sentou-se em “sua” cama, observando o ambiente ao redor. Aquele não era um hotel ruim, precisava admitir. Se desejasse, o serviço de quarto limparia o quarto ao toque de uma campainha, o armário era espaçoso para poder colocar as roupas que a rainha tinha conseguido para ela, também podia escolher fazer suas refeições ali, em vez de precisar descer até o restaurante.

Estendeu a mão para afastar a cortina da frente da janela, observando a movimentação da praça da província. Voltou para perto da mala, abrindo-a para pegar a maletinha da câmera fotográfica.

Não era a mesma que usava em casa, mas não deixava de ser profissional. Suspirou triste, pensando nas coisas que tinha perdido nas últimas horas, tanto materiais quanto...

Sua mão foi para o relicário em seu pescoço, mas não atreveu-se a tirá-lo, sabendo que não suportaria olhar para as fotos que tinha dentro dele.

Não ainda.

Abriu a maletinha, pegando a câmera. Analisou-a com cuidado e voltou a olhar para a janela. Então, pôs a câmera dentro da maletinha e passou a alça em volta de seu pescoço. Pegou o cartão magnético do quarto de cima da mesa de cabeceira e guardou-o dentro do bolso traseiro da calça.

Odiava a falta de liberdade que a calça dava para ela caminhar, mas precisava admitir que os bolsos eram bem úteis e posicionados estrategicamente.

Conforme caminhava pela província, não conseguia entender como que Angeles, que era tão pequena no mapa do país, podia ser tão extensa. A cidade era distante o suficiente do castelo para que ela precisasse pegar o avião, quando tivesse que se reunir às outras selecionadas.

Passou em frente ao Departamento de Serviços Provinciais, que só tinha algumas pessoas com documentos em mãos e conseguia imaginar como que seria no dia seguinte, sexta-feira, quando o Jornal Oficial de Illéa anunciasse a nova Seleção.

Parou a um lado do chafariz, resolvendo que era o lugar perfeito para começar a fotografar. Deixou a maletinha em cima de um banco de praça e pegou tudo o que fosse necessário.

Fotografou o chafariz.

Fotografou a fachada dos hotéis e lojas, com pessoas passando sem parar para olhar dentro.

Fotografou a família que estava sentada ao pé do chafariz. A mãe e filha mais velha costuravam algumas roupas, enquanto as crianças corriam, brincando.

Observando tudo aquilo, questionava-se onde estavam as pessoas das castas mais baixas. Olhava para algumas pessoas que passavam, perguntando-se de que casta seriam. Era difícil de determinar somente com o olhar.

Tentava fotografar o modo como riam, falavam e caminhavam.

Precisou voltar para o hotel quando a noite começou a impedir suas fotos de serem vistas. Poderia usar o flash, mas não queria que soubessem que estavam sendo fotografados, podiam não gostar.

Tão estranho quanto a calça era andar com um sapato sem salto. Por sorte, não deram-na um tênis, pois não tinha ideia de como amarrá-lo, sapatilhas eram mais simples de serem colocadas.

Andar por todo o lado sem ser acompanhada e abertamente vigiada era uma sensação libertadora, mas precisar realizar tarefas simples como colocar o sutiã era completamente novo.

Certo que ela sempre dispensava as suas criadas para realizar algumas coisas, mas quando estava cansada demais para sequer caminhar era um peso tirado de seus ombros.

Decidiu descer ao restaurante, naquela noite.

Tudo ao seu redor era estranho. As mesas não eram longas e compartilhadas, geralmente uma mesa de dois lugares só tinha uma pessoa sentada. Parecia ser um tipo de ética entre os plebeus: somente quem se conhecia dividia a mesa, enquanto Jane passou a infância compartilhando suas refeições com desconhecidos.

O Jornal Oficial começou, chamando a atenção de todos do restaurante, inclusive os funcionários. Os gerentes não pareciam preocupados em repreendê-los.

Uma mulher de cabelos loiros, que não podiam ser completamente naturais, era a jornalista que dava as notícias, algumas vezes com intervenção do próprio rei Charles. Pelo cenário visto do televisor, dava para enxergar no fundo a família real, inclusive o que deveria ser o príncipe Liam.

Tinha lembranças muito vagas sobre ele. Quando a câmera se moveu, pôde ver o príncipe Petuel e sua futura esposa, Veta. Odiou-a assim que a viu, mais do que a jornalista.

— Agora, temos um anúncio importante a fazer — Rita Skeeter deu um sorriso empolgado, parecendo que explodiria de felicidade — A partir de amanhã, todos os lares com mulheres solteiras entre 16 e 20 anos receberão uma correspondência porque agora é a vez da Seleção do príncipe Liam.

Petuel e Veta pareceram não ter sido informados, pois as suas expressões de choque não disfarçadas contrastaram completamente com os sorrisos calmos de seus familiares.

— Deverão entregar o formulário no Departamento de Serviços Provinciais nos próximos 9 dias e então os nomes sorteados serão anunciados no Jornal Oficial de Illéa. Boa sorte a todas!

Assim que a música de encerramento foi tocada, os murmúrios estalaram no restaurante. Como se o tempo tivesse voltado de uma paralisia, os funcionários voltaram a servir às mesas e fazer o seu trabalho.

Jane deixou o guardanapo em cima da mesa, junto com o prato já vazio. Como estava sozinha e não precisava esperar que outros terminassem a refeição, levantou-se para ir até o seu quarto.

Por todo o caminho, só se falava sobre a Seleção.

Ela queria não precisar esperar por 9 dias para poder voltar ao castelo.


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Notas finais do capítulo

Dependendo de como as coisas fluírem, talvez o próximo capítulo seja do Liam. Ainda não me decidi se vai ter essa alternância de pontos de vista



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