Undercover escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 16
Capítulo 15




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Jane odiava mangas bufantes, por mais curtas e discretas que elas fossem.

Mesmo assim, ela fez uma exceção para aquela noite. Preferia as mangas transparentes, postas por cima de seus ombros como se fossem uma jaqueta, do que os ombros nus por causa do vestido tomara que caia.

A parte de trás, pelo que pôde ver no espelho, fechava o vestido como se fosse um corpete, com o mesmo estilo de cadarço, mas era apenas decorativo. A saia era longa como sempre, mas bem afastada de suas pernas, os tecidos transparentes azuis sobrepondo-se até o momento em que não havia mais transparência a ser exibida.

— Eu acho que vocês não deveriam ir.

Reyna fechou o fecho do medalhão, virando-se para a sua mãe.

— Do que você está falando? — perguntou, rindo.

Jane soltou seu cabelo, que tinha afastado para ajudá-la a ter uma melhor visão do seu colo. O medalhão de prata não ficava muito bom com alguns vestidos, mesmo que não fosse tão grande ou grosso, mas ela não queria deixá-lo. Queria ter a presença da sua mãe consigo por aquela noite, mesmo que ela não estivesse realmente ali.

Não podia arriscar que Tom Riddle a acompanhasse direto para Illéa. Ela não sabia que era ele quem estava tentando matá-la, não poderia esperar tal dedução dela. Sabia o quão convincente e manipulador o conselheiro podia ser.

— Eu não estou com uma boa sensação sobre essa noite, Rey — disse Hope.

— Ei, o que pode dar errado? — Jane tentou tranquilizá-la, sorrindo.

— Da última vez, a senhorita teve uma crise alérgica e a senhorita Fran foi envenenada — Pomona respondeu por ela.

— Tenho certeza de que Liam tomou providências em relação a isso — disse Reyna, dando um olhar censurado a ela — E não é como se tivéssemos escolha. Estamos na Seleção, temos que seguir um cronograma.

— Eu sei — Hope segurou as suas mãos — Eu sei, minha filha.

— Se você quiser, a gente promete que não vai beber nada ou colocar qualquer coisa na boca — disse Jane.

Sirena deu uma única batida na porta, antes de abri-la.

— Se eu fosse você, tomaria cuidado com o que fala. Pode ser mal interpretada — ela brincou, sorrindo maliciosamente.

— Vamos, já estamos atrasadas — disse Jane, delicadamente, pondo uma mão no ombro de Reyna.

Ela assentiu, dando um último abraço na mãe ainda aflita.

— Aproveitem as comidas das cozinhas — sugeriu Jane, lembrando-se de como elas pareciam empolgadas da última vez para isso.

— Eu acho mais seguro que nós fiquemos aqui durante a festa — disse Pomona — Caso aconteça alguma coisa, será mais fácil de sabermos.

— Você sempre tão positiva, Pom — retrucou Reyna, parecendo irritada porque ninguém colaborava para a sua tentativa de acalmar a mãe.

Elas seguiram direto para o Grande Salão, daquela vez. Sem necessidade de pararem no Salão das Mulheres, como da outra vez. Ficariam ali esperando as suas companhias chegarem, enquanto as majestades lidavam com os jornalistas. Depois, não teriam um momento de sossego dos fotógrafos e repórteres.

— Eu não tive muita escolha — disse Sirena, nem um pouco animada com os seus visitantes.

Pelo seu tom de voz, Jane esperava que os próprios Orion e Walburga aparecessem pela porta, mas foram dois rapazes que ela nunca tinha ouvido Sirena falar sobre. No máximo, tinha escutado-a comentar sobre sua irmã mais nova, Regina.

— Eu não esperava por isso, chamaram o meu primo favorito — ela comentou.

— Por que não chamaram a sua irmã? — Jane perguntou, já que era o que fazia mais lógica para ela.

— Minha mãe nunca aceitaria que sua querida Regina recebesse os meus "restos" — Sirena revirou os olhos — Já a minha tia Druella está desesperada o suficiente porque Narciso não consegue manter um noivado e Andrew consegue afastar todos os pretendentes.

— Consigo ver quem é seu primo favorito.

Assim que eles aproximaram-se o suficiente, Sirena ignorou Narciso e foi abraçar Andrew, sorridente.

Jane conseguiu ver Reyna fazer uma reverência a um casal, que apenas ignorou. O homem pôs a mão no ombro dela gentilmente, enquanto a mulher a abraçava. Fabiane conversava com outras duas mulheres ruivas, uma ela sabia ser Artemisa. Amethyst fazia o cumprimento militar a dois homens iguais, um mais velho que o outro, o pai e o irmão dela, que faziam parte do exército de Illéa.

— Jane! É tão bom te ver! — ela foi pega de surpresa no abraço de Chernobyl.

Antes que pudesse retribuir, a loira afastou-se, as mãos ainda em seus braços, admirando o seu vestido.

— É como se você fosse a Cinderela — ela comentou.

— Eu acho que estou bem longe da Cinderela, Cher — respondeu Jane, sorrindo.

— Acho que você já conhece Pan — Cher gesticulou em direção ao noivo.

— É claro — Jane fez uma reverência, que foi correspondida.

— Meus sinceros agradecimentos por seu convite, senhorita — Pan disse.

— Eu quem agradeço a vocês por terem vindo.

Então os jornalistas entraram no Salão, acompanhados da realeza.

— Vamos, sorriam — Cher disse, ficando entre Pan e Jane, abraçando-os de lado, assim que um fotógrafo aproximou-se deles.

Assim que a música começou a tocar, Cher arrastou Pan para longe para dançarem. Ela tinha uma energia ilimitada, era difícil de acompanhar.

— Os meus patrões eram os únicos influentes que eu conhecia — Reyna estava conversando com Sirena, próximas da mesa de petiscos, como sempre.

— Você podia ter aceitado a minha ajuda — argumentou Sirena — Você não vai voltar a trabalhar para eles mesmo.

— Não, você fez muito bem — disse Jane, encostando-se com elas na pilastra — Os jornalistas querem uma explicação para as pessoas que convidamos. Como você explicaria duas pessoas que nem conhece? Além do mais, são o que você é.

— Queria ter chamado meus pais, mas minha mãe disse para que eu não me atrevesse — Reyna revirou os olhos.

Gintare aproximou-se, afastada do dono de uma editora e um colega de trabalho, também autor.

— É sempre melhor jogar limpo do que pedir convidados emprestado — ela disse, olhando para Jane significativamente — Não precisa saber somar dois com dois para saber onde que Snape conseguiu os seus "contatos".

Ela pôs uma cereja na boca, enquanto Jane olhava para trás.

Lucy conversava com Snape e os seus quatro convidados, provavelmente pessoas muito famosas da casta dois.

Seria ela quem ditava quem deveria ser eliminada da Seleção?

Como ela pôde pensar que Liam estava envolvido com essa sujeira?

— Ainda bem que eles não tem um filho, né? Ou você poderia se apaixonar — Sirena deu uma cotovelada de leve em Reyna.

— Talvez eu seja incapaz de me apaixonar, no final das contas — ela disse, sem sorrir.

— Se a Sirena se apaixonou, você consegue — disse Gintare.

As três ficaram em silêncio enquanto a autora se afastava.

— Que história é essa? — Jane perguntou a garota.

— Ela é mais louca do que a Cher — Sirena quase deu uma gargalhada — Eu? Apaixonada? Ah! Faça-me o favor!

Ela apanhou uma taça de champagne, que estava passando em uma das bandejas dos garçons que circulavam pelo salão, e esvaziou-a de um só gole.

Reyna lançou um olhar desconfiado para Jane.

— Vamos nos juntar as outras — ela sugeriu — Quem sabe descobrimos quem convidou quem.

As ex-selecionadas e as poucas atuais estavam em um canto do Salão, que era praticamente o centro das atenções dos fotógrafos, que tiravam fotos de longe para não atrapalhar as suas conversas.

— Eu tenho certeza de que é Celestina Warbeck, aquela cantora — Fabiane estava fazendo a aposta, os olhos fixos em uma das acompanhantes de Lucy.

Ou seria a de Snape?

— Não tem nada a ver com a Celestina — disse uma garota às costas de Jane — É a Glynnis Griffiths, aquela jogadora de...

De qual esporte era Jane não soube, pois Sirena olhou para trás e soltou um grito.

— Fala sério, vai dizer que nunca viu gêmeas antes, Black? — perguntou Fabiane, debochada.

Jane também olhou para trás e entendeu do que elas estavam falando.

A outra menina ruiva que Fabiane tinha trazido para a recepção era idêntica a ela.

— Para quem teve problemas de visão pelos últimos vinte minutos, essa é a minha irmã, Gideane — ela disse para o vento.

— Sua mãe tem um gosto horrível para nomes — comentou Artemisa.

— E você tem um gosto horrível para garotos — Fabiane alfinetou e, por algum motivo, ela corou.

— Não souberam? Acho que viraremos cunhadas bem em breve — Gideane foi mais direta — Temis está de olho no nosso irmão.

— Não sabia que tinham um irmão — disse Sirena.

— Bem, você não sabia que eu tinha uma irmã — Fabiane deu de ombros.

— Bom argumento.

Reyna pôs o braço ao redor de Jane, assim que um fotógrafo aproximou-se para tirar uma foto mais próxima do grupo. Elas tinham certeza de que, até o final da noite, estariam com as bochechas doendo de tanto sorrir.

Jane se distraiu das tentativas das garotas de definirem qual o filme que o ator, que Amora tinha levado como companhia, tinha feito, quando Liam entrou em seu campo de visão, conversando com algum dos convidados.

— Faz um tempo que vocês não conversam, não é? — perguntou Sirena, notando para onde seu olhar se dirigia.

— É, pois é... — disse Jane — Nós meio que ficamos brigados.

— Ele não parece querer voltar a falar contigo.

Reyna deu um olhar irritado a ela, mas não era mentira.

Todos aqueles encontros que ele estava tendo nos últimos tempos.

Os dois tinham brigado, ela quase não conseguia mais se lembrar do motivo, e desde então não tinham conversado. Ele queria que ela se desculpasse, provavelmente, já que pediu para Reyna falar com ela.

Jane ainda era orgulhosa demais para ir falar com ele.

— É, ele não parece sentir tanta falta — ela se viu dizendo — Eu espero que ele acabe com isso essa noite.

Olhou para trás das garotas sentadas à sua frente, vendo Edelweiss afastada do grupo, conversando com um dos primos de Sirena.

— Elas estão explorando as opções delas — foi o que Gideane disse, ao seu lado — Eu, sinceramente, acho esse assunto todo de casamento muito chato.

— Não vai ser complicado para vocês? — perguntou Jane — Fabi vai virar uma Três.

— Eu tentei me inscrever na seleção do outro príncipe. Aliás, me inscrevi nas duas, mas não passei em nenhuma — ela respondeu.

— É, eles não estavam brincando quando disseram que era sorteio — comentou Fabiane, decepcionada — Pode imaginar o quão legal seria ter gêmeas na competição?

O mais sorteio possível.

E escolher a dedo não tinha servido muito, já que ela muito em breve sairia.

Ela não esperava fugir para sempre mesmo.

— Nossa, eles realmente não têm a visão do marketing — disse Sirena, meio debochada.

— Eles tentam ser justos. Se eles escolhessem, muitas de nós não estaríamos aqui — disse Reyna.

— O quê? — Fran fingiu-se de ofendida, estava sentada em uma cadeira de rodas com um respirador portátil no nariz — Está dizendo que nós não somos bonitas ou suficiente?

— Ou talentosas o suficiente? — completou Cara, também fingindo estar ofendida.

— Eu acho que mesmo se houvesse uma escolha, seria exatamente esse grupo — opinou Jane.

— Talvez sem a Snape — disse Benny.

Ela fez uma careta sem perceber.

Não, se dependesse de Liam, Snape entraria mesmo assim, mesmo sem conhecê-la pessoalmente, disso ela tinha certeza.

Talvez seria até pior. Outras Snape.

Quem entraria em seu lugar? A futura rainha de Illéa? Ou alguma outra eliminada descartável?

— Os jornalistas estão se aproximando — Edge sussurrou — Eu acho que eles não vão tirar fotos, dessa vez.

Era cansativo ficar à mostra como se fossem parte de uma vitrine de uma loja. Sem poder conversar em paz, sem que fotógrafos e jornalistas ficassem incomodando. Era o mal de estar na Seleção. As ex-selecionadas nem preocuparam-se, continuaram tomando as suas bebidas e conversando, ignorando suas presenças, elas não precisavam mais aturar isso. Principalmente Barbara, que conversava com Noelia e Rachel, ignorando abertamente um jornalista que tentava perguntar algo a elas.

Liam escolheu esse momento para aproximar-se delas, talvez tirar um pouco das atenções sufocantes das câmeras, acompanhado de Cher e Pan. Apesar disso, os seus olhos estavam fixos nela e ele parecia estar indo em direção a ela.

— Senhorita Mirren.

Uma jornalista se pôs no caminho entre eles.

— É verdade que tem contato com a rainha Euphemia Potter da Nova Germânia?

Jane paralisou por alguns instantes, o seu cérebro tentando raciocinar como a conversa tinha começado daquela maneira. Liam e Cher estavam agora bem perto para escutar o que ela dizia, tinham inclusive parado a sua aproximação por causa da intervenção da jornalista.

— Não, eu não tenho contato com a rainha — respondeu.

Não era mentira.

— Mas você a conhece, certo? — a jornalista perguntou.

— Fui a Nova Germânia fotografar um casamento uma vez. Ela recebe pessoalmente os viajantes de países aliados — ela pôs uma mecha do cabelo para trás da orelha — Foi apenas isso.

— Não pensou em convidá-la para essa recepção? Ela seria a convidada de mais alta influência.

— Eu estou muito satisfeita quando minha convidada, obrigada.

Cher aproveitou a deixa para aproximar-se com Pan.

— E a Irlanda Oriental está muito satisfeita com o convite — ela delicadamente puxou a atenção da jornalista para si — Illéa tem sido um ótimo intermediário nas negociações de paz entre as Irlandas...

Jane afastou-se dos três, voltando para perto de Sirena e Reyna.

— Provavelmente será notícia amanhã — comentou Sirena — "Selecionadas e ex-selecionadas respondem grosseiramente aos repórteres".

— Não é obrigação delas participar desse show — disse Reyna, referindo-se às convidadas.

— Cher me salvou agora de uma bem insistente — disse Jane.

— Deve ser bom ser da realeza. Eles podem afastá-los educadamente e ninguém insistirá — Sirena resmungou.

— Sim, mas educadamente — retrucou Reyna.

Após os jornalistas afastarem-se, o grupo voltou a se reunir.

Liam tinha sumido mais uma vez. Era como se todo mundo resolvesse atrapalhar o que quer que ele estivesse querendo dizê-la.

— Ele, na verdade, é obrigado a ficar por perto — dizia Fran — Caso vocês precisem de mais aulas, mas ele não se importa de ignorar essa regra. Ele estava hospedado em um hotel, até que minha mãe resolveu convidá-lo para o quarto de hóspedes da nossa casa.

Claramente estava falando de Alec.

— Que moral da sogra, hein — zombou Gideane.

— Estamos noivos, mas meu pai quer esperar que eu me recupere para nos casarmos — ela continuou — Eu, pessoalmente, preferia me casar logo, caso algo aconteça comigo.

— Não diga isso! — reclamou Edelweiss, que tinha afastado-se de Andrew — Não vai acontecer nada contigo. Você foi medicada a tempo, está em tratamento, vai ficar tudo bem.

A ideia de que algo acontecesse com ela, assim como com as outras, era insuportável.

— A vida na Três é bem diferente — disse Petya para preencher o silêncio.

Todas concordaram.

— Imagine então você ir para outro país completamente diferente — comentou Cher.

— Como é um país sem castas? — perguntou Stelle.

— Parece tudo igual. Se pararmos para pensar, as castas são apenas um rótulo invisível. Ele não muda em nada na economia de um lugar.

— Um rótulo invisível que determina a sua vida — retrucou Deina.

— É, por isso eu prefiro a Irlanda.

Elas ficaram em silêncio novamente com essa declaração.

Algumas pareciam bem impactadas com o fato de um país sem castas ser exatamente semelhante a um com castas. Talvez esperassem que as castas justificassem uma economia melhor, uma sociedade menos violenta. Anneliese parecia esperar que uma sociedade em falta de castas fosse melhor do que uma com. E ainda muitos países pensavam em implementar esse sistema desigual.

— E se não acharmos algo que nos agrade fazer? — perguntou Cara, repentinamente — E se tivermos que nos contentar com uma profissão que não vá nos agradar?

— Nós fomos condicionadas a pensar que tínhamos opções bem limitadas de profissões e gostarmos delas — disse Rachel, que já devia estar acostumada a algumas linhas de pensamento em sua profissão de filósofa.

— Não, não é isso — Fabiane discordou — No meu caso e da Gide, nós realmente gostamos do que fazemos. Eu posso ter algo o mais semelhante possível dentro da casta Três para isso, mas... E quem não tem?

— Tem pessoas que realmente odeiam os seus trabalhos antes de mudarem de casta, mas tem quem realmente se identifique com o que faz. Isso não é lavagem cerebral — completou Gideane.

— Se vinte e cinco pessoas podem se tornar da Três, nove da Dois e uma pessoa da Um, por que mudar de casta é tão difícil? — perguntou Jane.

— Se você tiver muito dinheiro, ficar famosa no que faz mesmo sendo de uma casta mais baixa, você pode conseguir — disse Sirena.

Poder conseguir, não era o mesmo de conseguir.

— Mas se você já é famosa no que faz, recebe bem, gosta do que faz, pra quê mudar de casta? — perguntou Cher.

— Poder — respondeu Noelia, simplesmente — As castas representam poder.

— Isso é tão fútil — resmungou Fran.

— Não consigo imaginar o que Murissa deve estar fazendo como uma Três. Estar quatro castas acima faz alguém parar de roubar os outros? — perguntou Fabiane.

Noelia e Rachel fizeram uma careta à menção da ex-selecionada.

Tinha sido realmente sensato que nenhuma delas tivesse sugerido convidá-la.

— Cleptomania é patológico — disse Anneliese — Ela estava no palácio e continuou a roubar mesmo assim. Não existia a necessidade, mas ela criou essa necessidade. Não vai parar por causa de um emprego melhor.

— Para falar a verdade, eu nem sei se ela subiu para a Três — confidenciou Barbara — Ela roubou, não é? O príncipe foi muito gentil de não prendê-la por isso, mas realmente subir de casta alguém desse tipo é algo a se pensar.

— Ele não seria obrigado a fazer isso? Está nas regras da Seleção — disse Artemisa.

— Ele é o príncipe, ele faz o que quiser.

— Eu era costureira, vocês sabem — Petya comentou — É a casta dos críticos culinários.

— Ah! Sua malandrinha! — exclamou Deina deu uma cotovelada de leve nela — Se deu bem.

— Assim que voltar para Atlin, farei uma crítica sobre os alimentos servidos esta noite.

— E o que está achando do vinho, senhorita crítica? — perguntou Gideane.

Petya fez um teatro, cheirando a borda da taça lentamente e tomando um pequeno gole.

— O equilíbrio perfeito entre o doce e o amargo. Algo que você só encontra no palácio — ela declarou.

— Ao vinho do palácio — Fabiane ergueu a sua taça, debochada.

As outras seguiram o seu exemplo, com exceção de Fran, que estava bebendo apenas um copo de água.

— Eu estava pensando e acho que posso ser professora de gastronomia — disse Edge.

— A profissão de educador abrange muitas áreas — Noelia a respondeu.

— Essa era uma aula que eu gostaria muito de fazer — opinou Jane — Pena que McGonagall não considera algo necessário para selecionadas.

— Sabe, é um alívio não ter que mudar os costumes — disse Rachel — Não consigo imaginar o quão difícil está sendo para vocês.

— Minha querida, a nossa casa é um cômodo só nos estábulos de uma fazenda — Fabiane retrucou — Dormimos eu, Gide, Molan e nossos pais.

— Os conjuntos habitacionais estavam todos ocupados — Gideane explicou — Baffin deve ser uma das províncias com mais castas baixas do que altas.

— Resumindo: eu tô me sentindo muito bem por ser uma pequena parcela — ela disse — Vou comprar uma casa e contratar a minha família. Pintor de quadros pode pintar paredes também, não?

Gideane começou a rir com a comparação.

— Eu poderia me tornar professora de gastronomia também, mas eu estava pensando em virar cientista — comentou Deina.

— Um pouco contrário, não? — perguntou Sirena, sem intenção de criticar.

— Nem tanto. Existem alguns estudos sobre alimentos e alimentação, eu acho isso tudo muito interessante.

— Ela só não quer me copiar — brincou Edge.

— Eu já disse que vou me tornar veterinária — disse Benny, saindo da discussão.

— Eu não sei o que vou fazer — Edelweiss voltou para perto do grupo, depois de afastar-se para pegar um pote de morangos.

— Nem precisa se preocupar, daqui a pouco você sobe pra Dois — comentou Sirena, como quem não quer nada.

Edelweiss engasgou-se com as frutas.

— O quê? Eu disse algo de errado? — ela se fez de inocente.

— Não lhes falei sobre o meu novo projeto — disse Noelia — O palácio me contratou para fazer uma estrutura, eles ainda não entraram em detalhes sobre o que é, mas eu estava pensando em fazer um estilo mais moderno, sabem. O próprio castelo é muito medieval, embora seja efetivo contra ataques...

Ela começou a tagarelar sem fim sobre o projeto de arquitetura que estava desenvolvendo, assim como sobre outros que já tinha realizado e os diferentes tipos de arcos que existiam dentro da arquitetura. Rachel prestava atenção em cada palavra que ela dizia, encantada.

Alguns jornalistas pareciam tomar a presença de Anneliese como uma ofensa pessoal ao príncipe, considerando o modo como saiu, mas ela não estava interessada. Parecia mais interessada em olhar entre os convidados, parecendo procurar uma pessoa em particular.

Amora, que não tinha se juntado ao grupo — assim como Queensley, Chavelle e Gintare —, parecia estar evitando esbarrar com ou olhar para Anneliese. Isso lembrava a Jane de seu constrangimento quando conversaram sobre sua eliminação. Ela ainda não parecia ter superado isso.

— Como suas famílias levaram suas eliminações? — Sirena perguntou, assim que Noelia terminou de falar sobre o projeto.

Aquela pergunta parecia afetar mais às castas mais altas, como Barbara, Noelia e Rachel. Era engraçado estarem todas juntas, considerando que quase não se falavam durante a seleção — com exceção de Rachel, depois de um tempo.

— Meus pais jogaram na minha cara que a minha irmã mais velha, Roldana, está noiva de um rapaz influente e rico, enquanto eu fui incapaz de laçar o príncipe — respondeu Rachel, mal humorada.

— Eu não tenho contato com eles. Sou uma mulher independente, não dependo da casa deles nem do dinheiro — disse Noelia, sem intenção de ofender.

— Eu dependo. Ainda estou tentando decidir qual emprego seguir, são tantas opções tão difíceis — Barbara ficou pensativa — Talvez eu só vire política mesmo, mas do partido opositor.

— Isso seria algo interessante de se ver — apoiou Sirena, risonha.

Cher não parava quieta em seu lugar. Algumas vezes ela sentava-se perto de quem estava falando para poder escutar melhor e opinar, outras vezes ela se afastava para perto de Pan, que não participava da conversa delas.

Daquela vez, ela tinha voltado a sentar-se ao lado de Jane.

— Por que você não convidou a rainha para a festa? — ela perguntou completamente do nada.

As outras selecionadas ficaram quietas ao mesmo tempo, escutando a sua pergunta, apesar de ter sido baixa.

— Que rainha? — perguntou Noelia.

— Uma jornalista disse que ela podia ter convidado a rainha da Nova Germânia, Euphemia Potter — respondeu Cher.

— Eu...

Ela notou uma movimentação estranha quando um dos guardas do corredor dos quartos das selecionadas entrou no Salão e foi direto para a rainha.

Sirena e Reyna perceberam o seu olhar.

— O que será que aconteceu? — perguntou Sirena, o assunto de Euphemia já esquecido.

— Parece ter sido algo sério, ele está com uma cara — disse Reyna.

A rainha Doralice pôs as mãos na boca, parecendo perturbada. Aquilo chamou a atenção de muitas pessoas, de jornalistas a convidados. Até mesmo Lucy hesitou, provavelmente perguntando-se se haveria algum ataque rebelde naquele momento.

Não, eles não estariam tão "calmos" assim, caso fosse um ataque.

O príncipe Liam também notou a expressão de sua mãe e aproximou-se para saber o que aconteceu, preocupado. O rei Charles respondeu por ela em palavras baixas, a boca movendo-se rápido demais para que qualquer um pudesse fazer uma leitura labial de tão longe.

— Ele não era seu guarda, Fran? — Fabiane perguntou.

— Não, ele é de Snape — respondeu Rachel.

— Ah! Pronto! O que aquela esquizo fez agora? — resmungou Noelia.

— Esquizofrenia é uma doença, não um xingamento — retrucou Anneliese, irritada.

— Eles estão vindo para cá — disse Petya, agitada — Por que estão vindo para cá? Eles não deveriam avisar seja lá o que for para todos os convidados?

Era verdade. A rainha Doralice e Liam estava indo em direção ao grupo.

Todas levantaram-se de suas cadeiras, como forma de respeito e uma atitude um pouco defensiva também.

— Senhorita Mirren, poderia nos acompanhar, por favor? — pediu a rainha, sem olhá-la nos olhos.

Se fosse o príncipe a chamá-la dessa forma, Jane pensaria que tinha sido desmascarada, que sabiam sobre sua ascendência nobre, mas era a própria rainha e a expressão em seu rosto não mostraria... luto?

Conhecia aquele sentimento bem demais.

Jane aproximou-se dos dois, os olhos fixos na rainha, tentando entender o que estava acontecendo antes que saísse da boca de alguém. Sirena, Reyna e as outras garotas olhavam-na preocupadas, tão perdidas naquela situação quanto ela.

Doralice pôs a mão em suas costas, compadecida, acompanhando-a para fora do Grande Salão, que parecia ter parado com a saída dos monarcas.

O guarda tinha a sua arma desembainhada, como se houvesse alguma ameaça a ser combatida, que poderia ameaçar a segurança das Majestades. Mas se não era um ataque rebelde, o que poderia ser?

McGonagall e alguma criada que Jane não conhecia estavam à porta de seu quarto. A criada, assim que a viu, desatou a chorar, o que não facilitou a situação.

— Senhorita, recomponha-se, por favor — McGonagall disse, rudemente.

— O que está acontecendo? — Jane encontrou sua voz para perguntar.

Tinham matado a sua mãe? Era isso o que tinham vindo lhe dizer? Que sua mãe tinha sido finalmente morta por Tom Riddle? Que ela era, por fim, órfã?

— É melhor que ela veja, não há nada que possamos dizer — disse Liam, surpreendentemente frio.

Doralice abriu a porta e lhe deu espaço para entrar.

O seu quarto parecia na mais perfeita ordem, exceto pelas gavetas e armários abertos e esvaziados. Tinham recolhido as suas coisas nas mesmas malas que tinha levado ao palácio, estavam do lado de fora do quarto, prontas para serem levadas ao seu novo aposento.

Na sua cama se concentrava o motivo, um caos que ela não estava esperando ver. Havia um corpo coberto pelo que antes era um lençol branco, mas que agora estava coberto de sangue. Gotas de sangue estavam espalhadas pelo chão, embora fosse evidente a tentativa que alguns empregados tinham feito em tentar limpar.

McGonagall estava na posição certa para segurar os seus braços e impedi-la de cair, quando as suas pernas perderam a força.

— De quem é o corpo? — ela perguntou, incapaz de aproximar-se.

— Da senhorita Myrtle Warren — respondeu McGonagall com a voz tremida.


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