Blá Blá Blá escrita por ddiabolic


Capítulo 2
Deus da Imperfeição


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Espero que esse cap seja agradável! Boa leitura!



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Talvez pudesse escalar aquelas pequenas paredes do cemitério. Um metro, analisou bem, o cimento era liso. Sim, disse a si mesma, aquilo seria fácil. Embora fosse nojento; havia musgo crescendo por ali em toda parte.

Yoki sorriu ironicamente, imaginando se todo aquele seu esforço seria em vão, talvez alguém já tenha roubado suas coisas, aquela bela bolsa comprada em uma liquidação valia muito para ser deixada de lado. Imaginou também seu celular, aquele bendito celular... Provavelmente eles não estavam mais por lá, nem ao menos sabia se tinha achados e perdidos em um cemitério.

Seria espantoso não tê-los de volta.

— ... — Antes de ouvir um leve barulho, que mais parecia um murmuro, resmungo, ou súplica, deu de cara com o portão aberto. Continuou andando.

Pensou então, que estava com um pouco de sorte. Que tipo de idiota esquece o cemitério aberto? poderia roubar túmulos e sair da vida miserável que levava, mas isso seria estranho e errado demais.

O local dividia-se em duas áreas; a primeira era os salões extremamente grandes com faixadas completamente feias e complexas. A segunda era onde os mortos ficavam.

Mas antes disso, precisava-se andar por uma pequena estradinha vazia, cheia de árvores e estatuas de bustos que arrepiavam os pelos até do nariz. Yoki temeu passar por ali sozinha, não possuía medo, longe disso, era apenas preocupação.

O primeiro salão estava trancado. A garota atravessou pelos lados e não ousou olha-los.

Murmúrio. 

Yoki ouviu um murmúrio.

Por mais fino e longo que fosse, indecifrável e contido, aquilo era de fato, um murmúrio.

A porta do segundo salão estava aberta. Seu coração voltou a bater quase-que-comumente depois de entrar no recinto, concluiu que aquela forá uma péssima ideia - ou a melhor delas.

O vento frio tomou seus cabelos para o alto. Yoki fechou a porta atrás de si, o salão três ficava pela esquerda, a frente tinha os banheiros e lanchonetes públicos, e na direita estava o último salão que tinha de enfrentar para se deleitar com a paisagem mórbida do local.

Andou com pressa para lá.

Tomou um susto quando uma ave negra repousou sobre um galho de árvore seco. Sorriu, como era tola, a árvore e o pássaro era uma bela visão.

Ela conseguia ouvir seus passos sobre a grama, seus batimentos e sua respiração acelerada. Em pouco tempo, Yoki estava correndo desesperadamente até a entrada do último salão, teoricamente o de auxílio. O cimento do chão parecia brilhar com a luz branca de lua, o céu estava sem nuvens e com  pouco sinal de estrelas.

Yoki ouviu um assobiou naquele mesmo instante. Não havia ninguém por perto, analisou, apenas aquele pássaro negro, olhou para os lados tremendo e sentindo-se impotente, fraca e idiota.

Estava ela, Yoki Cristina, enlouquecendo tão cedo?

Desejou ter superpoderes, correr rápido ou ter uma super força. Mas o pássaro negro continuava a assobiar ou seja lá o quê, para ela. Ou para um outro alguém. De qualquer forma, era aterrorizador.

E então a jovem tropeçou em uma pedra, sentiu seu corpo ser suspenso no ar e como em câmera lenta, chocou-se com o... chão de mármore?! Yoki gritou bem mais do que podia. Algumas micro partículas pairavam em volta dela e sentiu um aroma diferente de tudo que já sentiu em toda a sua vida.

A garota se levantou e olhou em volta, estava em um "salão" escuro repleto de velas brancas na parede. Que sorte, pensou arrumando seu vestido preto, esse dia não tem como melhorar.

As velas, uma a uma, se apagaram, o cheiro de decomposição do local começava a aflorar. Parecia que todos os mortos daquele lugar resolveram juntar-se para alguma comemoração.

A jovem tentou abrir novamente a boca para dizer algo, as palavras não saíram, tentou correr, ir embora, fugir, mas desesperadamente, seu corpo estava em choque, não conseguia ver corretamente a sombra pairando sobre a última vela acessa, mas sentia o pesar no ar.

Yoki quase chorou de medo.

Ela jurou, por alguns segundos, ver um olho totalmente amarelo abrir e fechar com pressa. Pensou que certamente estava tendo alucinações. Gostou da ideia, tentou fixar em sua mente que isso não era real.

Seu coração disparava com força em seu peito. Yoki, sentia sua cabeça latejar, sua boca seca e sua mão suar cada vez mais. Droga, imaginou-se em um dia de verão, longo e quente.

Foi quando sentiu o frio manto gelado cobrir seu corpo, ela imaginou então, que esse ser era a morte, que ela tinha morrido há uns dez minutos atrás, naquele tropeção, teria batido a cabeça ou coisa assim. O frio se acumulou entre seus ombros, ela então deixou uma pequena lágrima escapar de seus olhos... mas pelo quê?

 Abra seus olhos — A voz parecia sofrer para sair. Era como uma doce canção de inverno. A voz era grave, escura e terrivelmente amável.

Então, tomou coragem e abriu os olhos.

— S..sim — Disse engolindo um seco e posteriormente, deixando mais lágrimas caírem — O-o quê? — Perguntou vendo o pássaro negro soltar algumas penas enquanto batia suas asas violentamente em cima do túmulo da senhora Diara.

Agora a pouco estava dentro de um salão esquisito, perto de alguma coisa mais esquisita ainda! Yoki suspirou cansada, sentiu um vento quente preencher o espaço.

Havia uma lápide escrito o nome da velha, "Diara Hernesto Degoríe", uma frase logo abaixo escrita de letras douradas, "Tudo é por ti, mama."

— Seu nome é Yoki Cristina — A voz disse, fazendo-a olhar para o pássaro, seus instintos mais primitivos diziam que era tudo por conta dele. Aquele maldito pássaro negro.

E se eu tentasse matá-lo? Pensou sem muita clareza. Não...é apenas um pássaro.

— Olhe para cá — Disse aquela mesma voz suave— Se vire, por favor, gosto de conversar olho-no-olho.

O quê...? Yoki se virou, dando de cara com uma estátua. Uma... estátua?

A pedra transformou-se em carne, fazendo curvas e cores se misturarem até então formar um homem de média estatura e com cabelos arrepiados. Seus olhos pareciam feitos de vidro.

— Merda... o que isso significa? — A garota gritou, observando a pele pálida do homem.

Ele abriu os grandes olhos amarelo-cinzento e sorriu lhe dizendo: — Quer mesmo saber, criança? Eu tenho uma tarefa para você.

Colocou as mãos em seu cabelo, eu só posso estar ficando louca, refletiu, acorde, acorde, acorde, dizia a ordem a si mesma. Abra seus olhos, Yoki!

— A questão é bem simples. Você — Apontou para a garota, o homem vestia uma roupa estranha e de época, tinha um sobretudo preto e um enorme laços nas costas — Irá matar uma pessoa para mim. — Sorriu mostrando-lhe as presas no lugar de dentes — Ele tem meu DNA, — riu como se fosse uma piada — Minha pele, meu cabelo — Yoki desejou que aquilo fosse um pesadelo, seria incrível acordar no hospital com uma enfermeira dizendo "você está incrível para voltar, Srta. Cristina." — Ele é uma besta do inferno solta, irá matá-lo por mim, essa é sua tarefa. — Terminou, lançando na garota um olhar de desafio. Esperava por uma resposta.

Yoki flexionava os muculos de seus olhos até doerem. Fechava-os sem uma solução clara sobre como agir e o que fazer.

Olhou para seus pés e apreciou o silêncio. Suas mãos estavam ligeiramente cobertas por sujeiras. Seus olhos ardiam por causa da maneira que os coçou, sua boca seca pedia água e tudo que ela podia fazer era sentir o vento em seu rosto, pouco a pouco, esfriando sua pele.

Yoki nem havia percebido o momento em que começou tremer... talvez desde sempre?

Percebeu então, que o seu coração estava em desespero. Parecia uma música apenas com notas altas de piano. Ele, indiferente, bateu lentamente. Conseguia ouvir as batidas entrarem em colapsos e uma a uma morrerem a renderem-se ao indesejável silêncio.

A luz brilhante da lua em seus olhos pré fechados a fez abri-los novamente.

— Um sonho...? — Se perguntou girando o rosto para olhar em volta, ela estava no mesmo lugar onde aconteceu sua queda. Aquilo de repente fez mais sentindo do nunca, tudo tinha sido um sonho.

Se levantou com cuidado. Sentiu algo se mexer em sua bolsa, algo se mexer em sua... bolsa?! Yoki gritou e saiu correndo em direção a saída, tirando sua bolsa de si, essa que ela tinha perdido e nem ao menos recuperado. Jogando a mesma no chão, ouviu o bater de asas logo atrás de si. O múrmuro se distanciava cada vez mais e então Yoki parou de correr.

Observou o vazio logo atrás de si. Almas vagando a noite não poderiam fazer nem um mal.

— Eu aceito o seu pedido, Pássaro Negro — Gritou para ninguém — Eu vou matar aquele que se parece com você.

Nada.

Então Yoki sorriu, como era tola de achar que aquilo era real. No mínimo teria de voltar para o hospital. Até gostou da ideia.

— Aceite o pedido de um Deus, e então será também transformada em uma — A mesma voz disse ecoando por todo o cemitério — Deusa do Blá-Blá-Blá; é com você.


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Notas finais do capítulo

Então! O que acharam?! Cometemmm, por favor!



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