Blá Blá Blá escrita por ddiabolic


Capítulo 1
Yoki Cristina


Notas iniciais do capítulo

Espero que antes de tudo, vocês gostem e não desistam dessa história no primeiro cap! Boa leitura! ♥



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O amanhecer do dia foi silencioso com a morte da senhora Diara. Quando o sol finalmente se estendeu pelo horizonte, Yoki já não estava tão abatida quanto antes.

Em um pequeno cemitério, o corpo da velha que a garota tanto apreciava estava sendo jogado para dentro da terra. Tinha sido encontrado dentro de casa do jeito que o Deus da morte gostava: pronto para o trabalho.

— ... Eu andava tão atarefado... eu nem ao menos percebi quando minha mãe morreu... — Havia um som dramático-melancólico em sua fala — ela... ela estava tão tranquila... — O homem enxugou o pouco de lágrimas que lhe restava, usava um terno preto sem gravata — Ela morreu dormindo! Tem coisa mais bela e agridoce do que morrer dormindo?! — Enxugou um pouco mais d'água de seus olhos com um lencinho levemente bordado que possivelmente era de sua mãe.

O ar estava pesado e sem nuvens num céu borrado de seu azul feio e claro habitual.

Yoki observava aquele homem com olhos cerrados. Era um louco desprovido de princípios. A Sra. Diara viveu sua vida inteira sozinha enquanto ele andava por aí... fazendo o quê?! Odiava pensar nisso, comparar-se a isso a fazia querer vomitar.

— Entendemos sua dor, sr. Hélio. — Uma mulher em pé ao lado de uma grande estátua de pedra disse, levantando seu vestido negro ao fazer uma leve reverência — Alguém mais gostaria de se despedir?

Em volta daquele caixão revestido com uma manta branca e transparente, havia homens e mulheres com olhares triste e misericordiosos. Não havia realmente muita gente, pensando em como Sra. Diara dedicou sua vida a gentilezas e a amizade com as pessoas da cidade. 20 cabeças, como o pai de Yoki gosta de dizer.

A garota deu alguns passos até o caixão de uma madeira velha. Seu cabelo pintado de um tom gritante de laranja se destacava no meio mórbido e gélido do cemitério. Virou-se então, levando seus olhos verdes em direção a uma velha de óculos engraçados — Desculpe, senhora Márcia... não pude comparecer na aula de artesanato hoje — Disse com o olhar mais incompreensível possível e com a voz mais abatida que tinha, soltou um suspiro — Eu odeio suas aulas e odeio principalmente você — um piado doce de algum tipo desconhecido por Yoki cantou —, odeio o dia que tive a ideia brilhante de entrar nessa aula idiota! É tudo por causa do tempo livre. E daí? E daí o tempo livre? — A garota apontou para a mulher, sorrindo como uma tola criança que acabará de entrar no maior parque de diversões. Abriu a bolsa que carregava ao seu lado, deu um sorriso que espantou a mulher — Senhora Márcia — Eu só estou falando com você sobre isso aqui e agora, porque eu espero nunca mais te encontrar — Jogou tudo que tinha em cima do caixão, um relógio com o ponteiro travado, um livro meia-boca, revistas e pequenas folhas coloridas para pintar, páginas de seu diário totalmente dedicadas aquela senhora com um número de licença poética exuberante.

Um homem de meia idade pareceu assustado, junto de outras senhorinhas que só assistiam. Talvez dentro de suas cabeças estivessem dando gritinhos eufóricos diante a uma estrela tão brilhante como a Srta. Cristina.

— Y-yoki? — Márcia questionou, a senhora tinha cabelos pretos até o ombro, possuía um ar calmo e poucas rugas — Pare com isso, você sabe que estamos em um local onde se prioriza o respei-

— Não tentem me impedir — Yoki não deixou a mulher terminar a frase — ela era como uma avó para mim, querem provas...?

Possivelmente, naquele dia, - somente naquele dia -, ela não estivesse em seu 100% de estado mental. E possivelmente, isso não deva a fato algum.

— Não...! — Ela gritou chamando mais atenção, seus olhos verdes marejados não paravam em um ponto — Eu vou jogar todos os meus pertences aqui! — Disse se movendo para trás, empurrando alguns homens mais fracos e desviando dos possivelmente mais fortes — Eu estou perfeitamente bem — Cantarolou sorrindo — Estou perfeitamente bem. Isso aqui — Tirou uma chave do bolso menor da roupa. Ela era dourada e havia um nome escrito à mão, "Yoki Cristina". — Sim, essa chave, é meu último presente para...

Yoki parou sentindo uma batida em sua cabeça, procurou algo para se apoiar, sentiu uma pressão como estivesse se apagando em seu corpo, e a última coisa que se lembra é de uma multidão em sua volta.

★★★

Sua cabeça balançou enquanto uma luz preenchia seus olhos. Mexeu sutilmente seu braço, ainda tremendo e com uma forte dor de cabeça. Estava tonta suficiente para não conseguir se levantar ou mesmo tentar.

— Ela está acordando! Enfermeiras! Enfermeiras! — Uma voz feminina gritou próximo do rosto da garota. Sentia seu hálito e sua voz fina.

Ainda tonta, Yoki deixou a boca aberta tentando abri-la para dizer algo; um líquido viscoso saiu de sua boca, quase como um vômito. Sabia que estava no hospital, não era burra o bastante para perguntar "onde estou?"; mas então, talvez fosse burra o suficiente para não saber exatamente por que estava deitada ali soltando liquido pela boca.

As vozes misturadas pareciam ainda mais confusas enquanto perguntavam sobre como Yoki estava se sentindo ou se ela estava acordada esse tempo todo.

Descobriu por meio das enfermeiras que teve uma crise de nervoso, causada por possivelmente estresse. Ela achou esse discurso maravilhoso para apresentar ao seu pai que talvez dissesse algo como: "Pensei que coisas assim acontecessem apenas em filmes!".

Uma velha mulher fechou a boca da garota com auxilio de um pano branco, dizendo "Por favor, não babe aqui...", a outra soltou uma risada maquiavélica e disse, "Babe a vontade, Jane, cuide dela...".

As pupilas de Yoki voltou ao normal.

— Ela está com a pressão muito baixa — A mesma voz diz — Vamos medica-la antes de darmos alta para a garota. Qual o nome dela, Patrícia? Me traga a ficha.

Ela não conseguia se mover naturalmente. Parecia tão vulnerável quanto um peixe no aquário junto de seu maior predador.

— Yoki Cristina- — Uma outra mulher respondeu segurando uma ficha e parando abruptamente de dizer — Jane, o pai da garota está descontrolado, deixamos ele esperando lá fora por um tempo e...

As luzes pareciam grandes estrelas cadentes.

— Certo, certo, certo... — A voz de "Jane" disse — meninas, não fiquem com medo. Somos enfermeiras de alto nível, não somos?

Uma voz meio rouca respondeu "Jane, eu tenho muita sorte de te ter na equipe", a mulher de risada maquiavélica riu novamente, "Me deu forças", "Você está certa!".

Parecia aquelas novelas de radio em que se durava menos de meia hora. A garota sentiu-se prestigiada por aquele momento espontâneo das amigas enfermeiras. Se pudesse diria "Eu deixo minha vida em suas mãos, Jane".

Sentiu uma mão gelada abrindo sua boca e colocando uma pipula branco-cinza; — Querida, descanse um pouco. Amanhã iremos fazer mais exames.

Com uma certa urgência, as mulheres sairam do quarto frio e claro. Havia uma cama ao lado e uma janela fechada. Estava noite.

Lembrou-se do que havia acontecido de manhã.

Ela não sabia exatamente se Márcia gostava dela suficiente para estar deprimida, ou se o filho babaca da senhora Diara continuava sendo um babaca, Yoki desejou nem ao menos ter conhecido a velha, entretanto, ela ainda gostaria de compartilhar dos momentos bons ao seu lado.

Saiu de baixo dos lençóis brancos hospitalares, suas pernas bambas e seus braços fracos pareciam não querer funcionar.

— ... Parece que ela vai ter que pagar uma multa — Um homem comentou do outro lado da porta — Dizem que a garota foi muito mal-educada.

Nunca havia sido julgada como um risco, embora tivesse recebido um peteleco na cabeça para desmaiar e não causar mais problemas em um enterro.

A porta de madeira creme estava entreaberta. Havia um vidro médio padrão na mesma. Yoki, observou por detrás do pequeno espaço a conversa entre o policial e de um enfermeiro.

— Sim, sim — Ele respondeu provavelmente sorrindo, Yoki não conseguia dizer ao certo, as luzes ainda pareciam grandes estrelas — Já falamos que o pai dela. Ele disse que houve alguns fatores pessoais para isso ocorrer e que...

— Desculpe, Sr. Policial — O enfermeiro respondeu esboçando um sorriso maldoso, ou Yoki achou ser um. — Soubemos que a menina é louca. Jogou todos os seus pertences em cima do caixão de uma vizinha e xingou a professora... pobrezinha...

Yoki fechou a porta com pressa, amaldiçoou quem a levou para lá.Voltou a olhar para a janela, que detinha um céu escuro e cheio de estrelas. Parecia uma pintura de tão belo. Desejou ser realmente uma pintura, para que pudesse emoldurar e pôr em sua casa ou simplesmente ter para que suas visitas sentissem o doce gosto da inveja.

Foi em direção a ela. Havia grades. Percebeu que não era estava em um andar tão alto. Julgou-se no segundo ou terceiro... Estava tão escuro que mal podia ver o que havia no chão, parecia ser o estacionamento.

A rua logo a frente não estava movimentada, o poste de luz estava quebrado e um miado de gato fugiu a seus ouvidos. A pequena cidade onde morava não era tão bem dotada de habitantes e uma boa infraestrutura como as cidades grandes e capitais. Na verdade, era quase um verdadeiro sertão tecnológico.

Enquanto pensava na cidadezinha ou em chás da tarde, congelou ouvindo a voz clara de um homem que conhecia bem. Teve então, a ideia podre de fugir agora, fazer uma corda com os dois únicos lençóis que haviam ali e pular pela janela com grade.

— Isso é terrível! — Sua voz soou alta e clara. Yoki teve vontade de se jogar de lá mesmo; o que ela diria como desculpa para seu pai? Pensou bem, talvez um singelo "Desculpe-me".

— Pois bem... — Uma voz feminina concordou, falava mais baixo. — Era para estar agora sedada. Chegou muito violenta, não dizia coisa com coisa. A menina acordou de repente, desculpe, senhor... assine...

— Deus... — Seu pai interrompeu a mulher — Deus! Uma multa?

Com a porte fechada. Yoki voltou a se deitar como se nada tivesse acontecido deixando o quadro de estrelas de lado.

— Senhor... — A enfermeira disse. — O senhor tem que assinar aqui... olhe...

Yoki ouviu o barulho de papel sendo dobrado do outro lado da porta.

— Ela está acordada?! Ela não foi sedada? O que está acontecendo?!

— É normal... algumas pessoas tem reações diferentes, normalmente pessoas mais "elétricas." — A mulher explicou, mantendo o som da voz calmo — Como já foi informado... tivemos que... — A enfermeira começou a dizer, mas parando subitamente a porta ser aberta.

Suspirou, convencida que precisava de férias.

— Yoki Cristina! — Ela o ouve. — Yoki!... o que vocês fizeram com ela? Por que ela não responde? — O homem se aproximou — Ela não tinha acordado...? S-sedaram... s-sedaram Yoki Cristina de novo?

Alguém se aproxima mutuamente — Ela está bem, senhor.

— Isso é um acontecimento terrível! — Ele gritou. — TE-RRI-VEL!

— Senhor, por favor... — A enfermeira disse com calma.

A garota ouve uma barulho de corpo caindo no chão. E seu pai não diz mais nada.

— Nossos sedativos vão acabar, Cátia. Teremos que economiza-los daqui pra frente — Uma voz comenta. — Ah! Pegue a maca! Leve ele para outro quarto...!

Talvez fosse o seu maravilhoso destino ou sua sorte, nesse dia, ela não teria que explicar nada a seu pai estérico e preocupado.

Então, sentiu seu sangue atravessando suas veias e uma enorme estado de culpa. Teria de voltar ao cemitério para pegar suas coisas. Seu celular de ultima geração, suas folhas amassadas e o mais importante: sua chave personalizada. Talvez, quem sabe, se despedir verdadeiramente da Sra. Diara.

Estava cheia de problemas. Se fosse um pacote de plástico, Yoki explodiria. Mas não era, e isso a fez lembrar de uma conversa com a velha. "Problemas são coisas que não saltam." Ela dizia isso toda vez, a garota nunca entendeu realmente o significado daquela frase, talvez por não ter problemas suficientes para isso ou apenas por não ter significado algum. Gostava de acreditar na primeira opção.

Ouviu um tic tac estalando no quarto. Ouviu os poucos pisados pelo corredor.

Já era madrugada. Uma luz muito baixa estava pelo corredor do hospital, e alguns enfermeiros e médicos circulavam de vez em quando. Se alguém perguntasse para ela o que ela fazia fora da cama, ela simplesmente diria a verdade "Vou para o banheiro".

A chama ardente no corpo daquela jovem donzela se reviveu e os súditos aclamaram para sua fuga. Decretado: Fuga do hospital.

Tirou a roupa branca e suja do hospital, abriu sua mochila e encontrou uma roupa comum. Vestiu o vestido preto de regata, estava frio, pensou.

Sentiu-se brilhante. Não por estar prestes a fugir de madrugada de um hospital. Sentiu-se brilhante por algum motivo que não sabia exatamente dizer o qual.

Voltou a prestar atenção nos corredores. Olhou pelo vidro; estava silencioso e vazio dessa vez.

Estendeu a mão até a maçaneta, virou com cuidado e a abriu. Olhou mais uma vez para ter certeza que realmente não havia ninguém, e foi rápido até a ponta do corredor que parecia ter uma escada para baixo. Uma enfermeira olhou-a e seguiu em frente.

Desceu quase que correndo, ainda tremia. Jurou que se caísse ali afirmaria loucura.

Tentou a saída dos funcionários. Mas não sabia onde que ficava ou se existia esse lugar, e, poderia ser mais do que estranho uma garota cabalando dizer que para o possível guarda "Já marquei meu ponto, oh, capitão".

Saída normal? A recepcionista a pararia na hora. Na verdade, nem conseguiria chegar até lá.

Pular alguma janela de algum quarto abandonado? Era mais fácil Yoki Cristina quebrar seu joelho do que conseguir andar naturalmente depois disso. Definitivamente não.

Desceu a escada do segundo andar. Continuo andando para tentar encontrar logo um banheiro, de longe ouviu um barulho, como um canto frenético de uma torcida. A menina foi até a fonte de tal com sua curiosidade boba.

Havia uma salinha com a luz acesa, mas não tinha nenhuma janela ou algo do tipo. E aparentemente as pessoas lá comemoravam um aniversário, "... muitos anos de vida!...", diziam em vozes altas juntos "Eeehhh!"

Não havia ninguém pelos corredores. Sorriu ao ver a escada do primeiro andar. As luzes estavam ligadas e havia mais movimento, na verdade, mais pessoas do que ela imaginou. Porém, nenhuma deu importancia para a garota descendo os degraus.

— Paciente 4!! Estamos perdendo o... — Um médico passou correndo com pastas na mão por ela sem dizer nada.

Parecia uma cena de filme de terror. Paredes brancas manchadas de sangue, piso sujo e um teto cinza que já foi branco. Luzes amareladas prontas para começar a falhar a qualquer momento.

Yoki correu para o banheiro feminino que estava com um cheiro apodrecido. Pensou muito antes de vomitar ali... mas vomitou. E o cheiro do banheiro ficou pior. Estava com nojo de si mesma, se meteu em uma situação como aquela.

Lavou a boca, arrumou o cabelo ao máximo que conseguiu e fez o que sempre quis fazer; pulou a janela do banheiro do hospital. Que deu no estacionamento, na área direita. Suja e fraca, olhou em volta para ver se havia alguém por perto e se levantou rapidamente. 

Correu para o mais longe que conseguiu, ouvia apenas seus passos pesados sobre o gélido chão de pedra. 


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Notas finais do capítulo

Comentem o que acharam! Plz!


Ah! essa história tá bem mais completinha no Wattpad (tem epígrafe etc) Então caso se interessem por ler lá também, pode acompanhar https://www.wattpad.com/story/130626402-bl%C3%A1-bl%C3%A1-bl%C3%A1

e obrigada novamente por ler até aqui!



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