Venha Comigo. volume 1: Uma Sombra de Gallifrey escrita por Cassiano Souza


Capítulo 6
Sem caminhos


Notas iniciais do capítulo

Olá! Primeiramente, peço desculpas pela demora na postagem deste capítulo, não queria ter demorado tanto, mas o tempo estava contra mim. Olha, para mim acho que agora este é o meu novo capítulo preferido. Muitas surpresas, diálogos, e um pouco mais de ação do que o anterior, revelações e mistérios, o de sempre. Este saiu muito mais grande do que os anteriores, e por isso, peço desculpas para você que talvez não goste muito de histórias assim. Mas não foi opcional, era como o capítulo estava destinado a ser devido aos seus blocos, tudo ocorreu espontaneamente, e então eu não poderia dividi-lo, pois estragaria o seu ritmo. Ao concluírem a leitura, vocês irão entender. Para ficar mais suave de descer este textão, sugiro que leia em algum momento de tempo e calma. Boa leitura.



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Continuando a trágica e iminente situação das centenas de naves Sontarans, e exageradamente munidas por poder de fogo, o “adeus” de Strov dá a largada para o infeliz uso dos multe-canhões. Armamentos esses, de pura e destrutiva energia de desintegração, apontados para a grande e civilizada Cidadela. Porém, após o engate que traria todo o capitólio ao chão, nenhum disparo é iniciado. Nada de fogo e ódio é jorrado pelos canhões, nenhuma das naves de toda a frota foi capaz de processar o que lhes foi incumbido. De dentro da nave mestra, os operadores tentavam solucionar aquela inimaginável falha múltipla. Vergonha, medo e tensão eram sentidos. 

— Não há sentido. Todas as nossas naves estão com os seus sistemas de armas corretos, mas não conseguem disparar! Senhor Strov, o que o senhor acha que faria isso acontecer? - Pergunta um operador de armas, operando a um computador.

— Isso é uma vergonha. - Braveja ele. — Esta era para ser a nosso vitória suprema, um chute no traseiro dos Senhores do Tempo. E no entanto... Estamos impotentes! Não existem falhas técnicas deste porte. Continuem tentando resolver.

Seguindo as ordens de Strov, os operadores continuam as frustradas tentativas por soluções. Mesmo, sem dizerem nenhuma palavra, os seus rostos envergonhados são o bastante para contar todo o fracasso a Strov. Enchendo os seus pulmões lentamente com um estressado aspiro, solta depois todo o ar armazenado esbravejando:

— Sei que são incompetentes, porém, desta vez devo admitir... A culpa não vem de vocês.

— E de onde ela vem então, senhor?

— Com certeza... De Gallifrey, um ninho de ratos e serpentes.

***

Na sala presidencial da Gallifrey paralela, o Doutor se encontrava rindo, enquanto o Ladrão, de olhos e ouvidos atentos, perto do seu aparelho de escutas. O Doutor, cansa-se de rir, e o Ladrão, cansa-se de esperar pelos tão aguardados disparos. Com isso, duvida e ódio era expressado por seus olhos, pois, apenas os sons dos motores Sontarans eram escutados.

— Isso está errado. Eu ouvi o som dos engates dos canhões, onde está agora o som das grandes explosões e da redoma e dos prédios caindo?! - Questiona-se o Ladrão. 

O Doutor, continuava calmo e calado, sem se importar com os incômodos que o Ladrão se intrigava. Percebendo isso, o Ladrão logo indaga ao Doutor:

— Foi você, não foi? Primeiro riu como um louco, e em seguida, fica calmo como uma manhã de primavera. O que você fez?

— Eu?! Eu não fiz nada, estou com as pernas acorrentadas e dentro de um prédio infestado de Daleks. Mas... Acho que o Doutor pode ter feito alguma coisa.

O Ladrão sorri falsamente:

— Acontece, que você é o Doutor.

— É, sou. Mas somos tantos, fica complicado às vezes.

— Está tentando me confundir? Isto só irá me irritar, e quando estou irritado, posso ser ainda mais maquiavélico.

— Interessante. O que foi mesmo que você disse ter roubado? 

— Você já sabe, o Anel de Safira Negra.

— Errado. O que você roubou foi um aparelho travador de sistemas conjuntos, disfarçado. Sabota mecanismos de sistemas multe-unitários, então... Perfeito para Sontarans.

— Quando você fez isso?!

— Eu já disse, não fui eu. Foi o Doutor, ele sabia que você roubaria o anel, mas ele foi rápido e o-roubou primeiro. Você... Caiu na armadilha.

— Entendi de quem fala. Se refere a sua versão paralela, o já falecido Doutor. Porém, se você sabe disto, é porque se encontrou com ele. Você sabe onde está o anel.

O Doutor, desvia o olhar, e silencioso, engole seco.

— Sim, você sabe. Onde está? - Insiste o Ladrão.

O Doutor responde se expressando com os ombros. O outro berra:

— Responda! Onde?! 

***

Na nossa Gallifrey, Romana continuava a sua caminhada pelo senado, ao seu até então rumo misterioso. Discretamente, Grace e Rustch, seguiam-na espreitando-se pelos cantos. E sem nem saberem do caos que acontecia no resto da Cidadela, logo, são surpreendidos pela chegada de mais Sontarans. Surgindo eles, de enormes clarões de luzes. Aquele, era o inesperado e violento ataque ao senado. Rapidamente, uma batalha já estava formada ali, soldados Sontarianos e soldados Gallifreyanos, todos em um tiroteio acirrado. Garce e Rustch, tentavam protegerem-se, agachados no chão.

— Isto não é possível! Apenas com teletransporte autorizados se pode entrar no senado. Como os Sontarans podem estar aqui? - Questiona Rustch.

— Deve ter sido a Romana. E pode ser perigoso, mas... Não podemos perder tempo nos escondendo aqui, devemos continuar ou vamos perde-la de vista. - Diz Grace.

Ao redor, apenas disparos a laser e soldados de ambas as raças caindo feridos, este, era o novo cenário presente no senado. Levantando-se depressa em-meio ao brutal embate, Grace e Rustch, prosseguem com todo o risco.

— Veja Grace, a Romana está pegando o elevador!

Romana adentrava aos elevadores. Grace comenta:

— Sim. E eu acho que já sei aonde ela vai. Acho que é ela quem está com a chave da TARDIS. Causa uma guerra e depois foge, parece até os presidentes do meu mundo!

Interrompendo a missão da dupla, um soldado Sontaran aborda Grace e Rustch, que sem recursos, acabam de mãos para cima e com uma arma apontada em suas direções.

— Parem! Escória Gallifreyana. Informem o seu nível de significância, preciso saber se devo captura-los ou destruí-los. 

A humana gagueja: 

— Bem... Eu e Rustch, somos... Amigos do Doutor.

— Do Doutor?! Nosso inimigo jurado.

O gallifreyano gagueja:

— Sim, mas... Eu e Grace também odiamos a presidenta!

— A presidenta?!

— Sim, a presidenta... Com certeza. A propósito, senhor, aquela ali... Não é ela? Você não acha, Grace?

— Sim, é claro. Ela... Está fugindo?! - Continua Grace. 

— Fugindo?! Onde?! - O soldado se vira.

Rustch, aproveita a chance, e soca fortemente com toda a sua vontade o ponto fraco que todo Sontaran possui, uma ventosa da nuca. Com isto, ele cai-se desacordado, Rustch, franze o rosto remexendo a mão. Depois, os dois trapaceiros continuam a sua missão.

— Como sabia que aquilo iria funcionar? - Indaga a ruiva.

— Sempre imaginei que um dia estaria de frente com algum dos inimigos do Doutor. Devo conhecer os seus pontos fracos.

Já de frente dos elevadores, Grace e Rustch devem tentar entender para aonde Romana tenha ido, e detrás deles, o fogo cruzado continuava urrando.

— Para onde a Romana deve ter ido? - Questiona Rustch.

— Bom... Se ela estiver mesmo com a chave, deve ter ido para a pista de materialização. Você consegue nos levar até lá?

— Se eu for esperto e usar a função de retorno ao último andar acessado...

Rustch, clica nas teclas necessárias. Porém, um outro guerreiro Sontaran, vendo a dupla de frente dos elevadores, entende aquilo como uma fuga, e corre para intervir, enquanto bravejava sobre destruí-los. Rustch, em uma ato de bondade, põe-se na frente de dois tiros dedicados à direção de Grace. O jovem garoto, logo cai ao chão, acompanhado dos chocados olhos que Grace havia tomado, e ajoelha-se ela a ele.

Mas agora, sem mais salvaguardas, a única atitude de Grace é por suas tremulas mãos para cima, e esperar pelo final do seu destino. Com uma arma apontada para a sua testa, Grace, permanecia estática e fervilhando em tesão. De repente, os seus olhos fecham-se, devido a vários estilhaços soprados próximos a ela. Isto, havia sido uma granada, lançada por um dos soldados gallifreyanos, e que acabou trucidando o Sontaran que ameaçava a doutora terrestre. Aliviada com este socorro, Grace não perde tempo em conversar com o seu amigo ferido, e segurando em sua mão, indaga com uma voz indignada:

— Rust, por que, simplesmente.... Por que você fez isso?

Ele sorri.

— Porque você é humana, apenas morreria. Já eu... Bem, está no sangue, é o que acontece se for do meu povo. Então isto não é tão mal.

— Tudo bem, regeneração. Mas mesmo assim, ainda está errado, não é algo para ser usado como um truque estupido. Você pelo-menos sabe como se faz?

— Não sei controlar, mas... É espontâneo também. E esta é a minha primeira vez, pode demorar um pouco para começar. - Rustch franzia a testa.

— Acho que vai demorar mesmo.

— Sim, e é por isso que você tem que continuar.

— Não vou continuar sem você! Não vou te deixar sozinho em um campo de batalha!

— Não se importe comigo.

Grace suspira relutante. Rustch insiste: 

— Porque se você parar para me esperar, então o meu sacrifício terá sido em vão. E você acabará morta ou ferida também.

— Mas...

— Nada de “mas”. O Doutor precisa de você. Ou pense o que ele se tornará e fará se encontra-la morta.

Grace, toma olhos de certeza:

— É realmente impressionante o-quanto você sempre está certo!

Rustch sorri. A humana se despede:

— Adeus Rust, e boa sorte. Quando mudar... Venha me encontrar depois.

— Você e o Doutor voltarão por mim?

Grace, respira pensando distante, mas, responde: 

— Sim! Você já é mais que bem vindo na TARDIS. - Rustch termina o sorriso, fortes dores franziam-lhe a testa. – Soldado! Civil ferido, não consegue se regenerar. - Diz Grace, gritando a um soldado, combatendo ali próximo.

— Aguarde, senhorita, logo chamarei um técnico de regeneração. - Respondeu ele. 

Beijando a testa de Rustch, e pegando a arma do Sontaran derrotado, Grace, entra sem mais delongas no elevador que Rustch havia programado. E partindo determinada, as portas fechavam-se lentamente e mostravam-lhe a sua última visão do terrível embate, e do seu amigo ferido.

***

Indo de um lado para o outro e discutindo com os seus próprios pensamentos, o Ladrão, tentava descobrir onde o Doutor poderia ter deixado o seu tão presado Anel de Safira Negra. O Doutor, continuava calado, e com a mais pura seriedade em seus olhos.

— Vamos lá. Bem... Se o Doutor lhe entregou o anel, então... Tenho certeza de que não está no outro universo. Você não confiaria em deixa-lo por lá, com ninguém. Mas também... Não pode estar aqui, eu te escâniei, e tudo que encontrei foi...

O Doutor fingia não estar escutando. O Ladrão brilha os olhos:

— Ohu, sim! Eu já sei.

— Não adianta fingir que já sabe.

— Não estou fingindo, Doutor. - O Ladrão vai até a mesa, e põe-se próximo aos objetos que havia retirado do Doutor. – Uma caixa de fósforos, ioiô, lanterna, um Guia do Mochileiro das Galáxias, um pacote de jally babies, e... Um cofre verbal portátil. O que será que ele guarda?

— Não sei. Mas talvez o endereço de onde mora a felicidade, igual naquele filme, quem sabe. 

Ladrão sorri irritado:

— Não brinque comigo. Este planeta é pequeno demais para mais palhaços, e eu exterminei todos eles.

O Doutor gargalha. O outro exige em voz alta:

— Apenas diga... Qual é a senha?!

— Só para encerrar este assunto, eu direi apenas uma vez... Eu não sei qual é a senha. E mesmo que a-soubesse e dissesse a você, não adiantaria nada. Você sabe, o anel não reconheceria como aparelhos bélicos as armas deste universo. E duvido que você tenha alguma arma de lá, aqui.

Irritado, o Ladrão atira o cofre em um espelho na parede, e o reflexo da fúria infantil que possuía, se mostra dividido em várias faces paralelas.

— Serão agora sete anos de asar. - Avisa o Doutor.

— Não tem problema, já vivi mais de mil com isso.

O azarado, encosta-se a mesa, com uma enorme e profunda expressão de conformidade, já não se importava tanto em ter sido enganado.

— Eu cumpri a minha promessa. O Doutor te derrotou, e ele não precisou de armas. - Relembra o Doutor.

— Incorreto, eu não fui derrotado. Mesmo que os canhões dos Sontarans não funcionem, eles ainda possuem as suas armas manuais, e eles não fogem da luta, mesmo que inferiores... Seguirão em frente.

— E irão morrer. Você os-guiou a uma batalha cega. Os Senhores do Tempo possuem tecnologias que dizimariam os Sontarans em segundos. Eles não tem chances.

— Mesmo assim, darão trabalho a Rassilon.

— E todo este sangue e suas mãos... Consegue estar confortável?

— As suas e as minhas mãos já estão tão sujas quanto um trapo de borralho, não faz mais diferença. Eu acho que não.

Os olhos do Doutor, vidram-se com estas palavras, era duro escuta-las:

— Toda esta obsessão... Acho que Romana não me chamou aqui apenas para tentar para-lo.

O Ladrão, desvia o olhar, e se concentra novamente em seu aparelho de escutas. Apertando botões e endireitava as antenas, urros de dor, ordens, e sons de disparos e depredação, são narrados pelo aparelho. O Doutor, permanece sério, e encarava aos debochados olhos que o Ladrão exibia.

— Escute toda esta ação, é melhor do que áudio-dramas! - Zomba o Ladrão. 

— Prazer em ver e ouvir a dor dos outros, traição e... Ódio em seu próprio sangue. Por que você se diz meu fã?

O fã, desvia os olhos:

— Acho que... Falta de opção. Acabei com todos os que poderiam ser interessantes.

— Errado, você não é um dos Maria vai com as outras. Poderia estar lendo as lendas sobre o Mestre, mas ainda assim... Escolhe o Doutor.

O Ladrão toma um bruto gole de seu Champanhe, e seca-se a taça:

— Que dia chato. Era uma tarde tão fria, foi quando eu cheguei aqui. A minha nave de Tempo E Dimensões Relativas No Espaço durou apenas alguns minutos, achei estranho, e fui explorar o planeta. 

— E encontrou o Doutor?

— Encontrei um garoto. Se refugiava em uma caverna, não tinha mais família. Você sabe, a guerra é uma fera faminta.

— Isso ainda não me diz nada.

— Ele te odiava. Sempre te odiou. Odiava o herói impossível, que acreditava na paz mesmo lutando por ela com as suas mãos todas vermelhas. Odiava o velho moribundo que abandonou o seu povo para correr e lutar pelos outros, e que só voltou porque viu que não haviam mais escolhas.

Peso e culpa, são postados na face do Doutor:

— Fiz algumas coisas das quais não me orgulho, mas fiz muito mais coisas das quais não me arrependo. Nunca me arrependerei de ter corrido e lutado por quem precisava.

— É uma boa perspectiva, mas nunca ganhará nada com isso. Continuando, o garoto me acolheu em sua caverna. Foi lá onde fiquei nos primeiros dias, nos tornamos melhores amigos. Ele era obcecado por você, mas, de uma forma contrária, e conhecia tantas histórias suas... Foi aí que eu te conheci. 

— E se tornou um “fã”? Não acho que você tenha entendido sobre quem é o Doutor.

— É claro que eu entendi. Entendi que ele é alguém que mesmo se vendo cercado, preso, perseguido, e humilhado... Sempre irá conseguir ir aonde quer, e nunca desistirá! Sempre verá a esperança. E é isso que eu me tornei a partir daquele momento. “É assim que eu serei” foi o que eu falei comigo mesmo. E por isso, irei conquistar com sucesso todos os meus objetivos! Obrigado, Doutor.

— Se fazer vinganças, destruir planetas, escravizar e roubar pessoas, foi o que você aprendeu com o Doutor, então... Sinto, mas você entendeu errado. Todo o sentido da minha história!

— Então qual, Doutor, qual é o sentido?! Isso, se houver algum.

— Onde está agora o jovem que te ajudou?

O Ladrão, estranha a mudança de assunto. Mas, responde:

— Está morto. Os Daleks o-mataram.

O Doutor, sorri decepcionado:

— Quando você disser em voz alta consigo-mesmo o porquê daquele garoto deveria estar vivo agora... Entenderá qual é sentido da minha história.

Os olhos do Ladrão, desviam-se em discórdia, porém, um certo brilho de saudades brotam-lhes trazendo recordações. o Doutor prossegue:

— Continuando sobre o que eu dizia antes... Acho que Romana não me trouxe aqui apenas para tentar para-lo, acho que Romana também me trouxe aqui para... Ajudar você. Ajudar você a se libertar dos muros de rancor onde você se esconde, e perdoar o seu irão.

Após alguns segundos de um silêncio cheio de discórdia e orgulho, o Ladrão, volta novamente a sua atenção para o seu aparelho de escutas. O Doutor e o Ladrão, encaravam-se calados, nenhuma palavra era mais lançado por algum deles. Porém, pela bugiganga do Ladrão, os urros da batalha continuavam a atormentar o Doutor.

***

Continuando a perseguição de Grace à Romana, chegava-se agora na pista de materialização, a traiçoeira presidenta. Marchava ela, em direção a TARDIS, porém, ainda estava a quinze metros da cabine azul, e Grace, também já chegando, logo avista a fugitiva, e entende as suas intenções.

— Romana! Pare! - Exige Grace, apontando o armamento sontariano. – Eu estou armada! Nunca atirei em ninguém, mas... Bem, temos uma primeira vez para tudo.

Romana, se vira rindo em desdenho:

— Quando eu te vi pela primeira vez... Pensei que você fosse meio patética, mas agora, vejo que você é muito mais patética ainda. Não tenho medo de ameaças de alguém tão próxima do Doutor.

— Eu tenho certeza de que você não é isso que eu estou vendo agora. Se o Doutor também é seu amigo... Então existe algo errado. Para aonde você está indo, e o que quer com a TARDIS?

— Eu estou... - Romana, se mostra confusa, a expressão que o seu rosto toma é apenas duvida e falta de respostas por suas próprias ações. – Ora, não importa! Eu não lhe devo explicações. E já disse, Não tenho medo de você. - Romana continua ao seu curso.

— E eu também já disse para parar. Estou armada, cansada e irritada, isso não é uma boa combinação, e um amigo meu se machucou por sua causa!

Romana, continua em provocação, e Grace, continua de mãos firmes na arma, apontada em direção da Senhora do Tempo. Enquanto prosseguia sorridente, debochava Romana da doutora:

— Os seus avisos soam como brisas campestres, nunca temeria isso. Você nem ao menos sabe como se faz para disparar com esta arma!

Grace olha confusa para o objeto:

— É, realmente eu não faço a menor ideia de como funciona uma arma Sontaran. Mas... Se ela tiver um gatilho, isso resume e facilita bastante coisa em minha vida. E ela tem. - Grace, continua aposta, e dá largos passos em direção a Romana. – Última chance, você vai parar ou não?

Romana, responde debochadamente em negação, fazendo um gesto com um dedo indicador.

Determinada, e ao mesmo tempo cheia de apreensão, representada pela sua respiração ofegante, Grace, comenta as suas últimas observações:

— Vocês regeneram, não é? Então não tem problema se eu fizer isso...

A humana, puxa o gatilho da arma, e no mesmo instante, um feixe a laser é disparado, mas, não atinge o alvo. Porém, continuando as tentativas, Grace, continua a disparar, e feixes são lançados muito próximos do alvo, mas, sem muito sucesso. Assim como muitos foram em direções avulsas, apenas dois, foi tudo que foi necessário, dois feixes atingem as costas de Romana. E imediatamente por ter sido danificado, esse fantoche do Ladrão logo cai no chão, espirrando faíscas e contorcendo-se, e chocando Grace com a cena.

— Me ajude... Me ajude... Eu não estou aqui... - Romana debatia-se agonizando.

— Eu não acredito que fiz isso! Atirei em uma pessoa?! - Grace lança para longe, a ferramenta assassina.

E logo, corre a doutora até a sua vítima, porém, antes que chegasse até ela, a imagem e forma que Romana possuía somem de seu corpo, restando apenas, uma misteriosa carcaça mecânica.

— Você é... Um robô?!

A sucata permanece calada, já havia morrido. E em uma das metálicas e engenhosas mãos da Androide, a chave da fabulosa máquina do tempo estava estendida.

Avistando a tão preciosa chave, Grace toma-a para si:

— Finalmente te encontrei, você está mais fujona do que Everett, Pete e Delmar. 

Prosseguindo, Grace parte em direção à TARDIS, para checar se o Doutor já havia lhe mandado alguma mensagem. Encarando a cabine,  comentava Grace já cansada de seu dia:

— O Rustch adoraria te ver. Sentiu saudades?... Passei por todos os tipos de coisas. Como foi o seu dia?... - Obviamente, a cabine continua calada. – É, viajar no tempo está afetando o meu cérebro, estou conversando com uma caixa. O que será que ainda me falta acontecer?

De repente, antes mesmo que Grace destrancasse a TARDIS, vários soldados chegam apressados na pista de materialização. Junto a eles, vinha Tridaro, esfregando ansioso as mãos. Grace, encara assustada aquela situação, não fazia a menor ideia do motivo pelo qual aquilo poderia estar acontecendo. Os soldados e Tridaro, põe-se de frente a uma área vazia de materialização, servindo como um espaço para um carro estacionar.

Olhando curiosa e encostando-se aos demais indivíduos, Grace, logo contempla a materialização de uma outra TARDIS, uma tipo-40. Encerrando os sons estranhos da chegada, a porta da máquina se abre, e um velho e sério homem com um enorme cajado futurista dourado e com uma de suas mãos vestida em uma interessante luva metálica, surge. Enquanto atravessava as portas da nave, o estranho sujeito murmurava:

— Eu ainda tinha três dias de conferências pela frente, tive que deixar Leela e Irving cuidando de tudo sozinhos. Você disse que estamos em guerra, de que diabos está falando, Tridaro?

— Sim, senhor presidente Rassilon. - Corresponde Tridaro. — A senhora Romana cometeu uma loucura, Sontarans estão invadindo toda a Cidadela, há saqueis e feridos por toda a parte. Perdão, mas tive que interrompe-lo, senhor.

Grace, tenta comentar, mas, Tridaro faz um gesto nervoso de silêncio a ela. Rassilon continua:

— Sendo assim, se esta é mesmo uma situação de emergência... Vamos à minha sala.

— Devo convocar o alto conselho?

— Não ouse, a incompetência aqui já ultrapassou níveis alarmantes.

Tridaro, sorri sem graça, e partem ele, o presidente, Grace e os soldados para a sala presidencial.

***

Na nave mestra Sontaran, Strov, continuava com os seus técnicos tentando reparar os canhões de multe-alvos, que ainda continuavam inoperantes. E enquanto Strov, analisava os monitores, um soldado vem até ele com um certo aviso:

— Senhor Strov, trago notícias da batalha.

— Perfeito! Tenho certeza de que estamos esmagando aqueles magrelos rosados.

— Não senhor.

Strov franze o queixo.

— Quer dizer... Sim senhor. Não importa! Está bem acirrado. O que eu vim informa-lo é de que o Rassilon está presente no planeta, está no senado.

— Aquele covarde enrugado... Se escondeu atrás do garoto ruivo! Outro covarde, e que alia-se ao Doutor, outro covarde maior ainda.

— O senhor fará alguma coisa?

— Se eu farei alguma coisa?! É claro que eu farei alguma coisa! Soldado, me dê a sua arma.

Obedece então o guerreiro:

— O que o senhor pretende com isso?

— Irei encontrar Rassilon! Você é muito lento, por acaso foi clonado ontem?

O jovem soldado, silencia-se em vergonha.

***

Já passando pela ante-sala da sala presidencial, dizia Tridaro que até mesmo ali havia sido invadido, mas, foi recuperado. Soldados de ambas as raças, de Sontarans e Senhores do Tempo, estirados estavam no chão. E entrando agora na sala, Rassilon e os outros, defrontam-se com Romana, sentada ela, recostada a mesa e franzindo-lhe a face, sentia ela fortes dores de cabeça. E por trás de onde estava, uma enorme entrada na parede esboçava vários cabos estranhos, e uma enorme maca metálica.

Com olhos decepcionados, Tridaro indaga:

— Então depois de todo o cinismo... Era para cá que a senhora tinha vindo?!

Romana permanece calada, mas, com uma face em busca de respostas.

— Você realmente ficou louca, ou andou se embriagando? Achei que fosse de confiança. - Diz Rassilon cheio de si.

Romana, nada dizia, não sabia explicar, parecia confusa, cansada e dolorida. Grace, sensibilizada, põe-se ela na conversa, afim, de defender a Senhora do Tempo:

— Parem com isso! Não julguem ou critiquem ela.

Rassilon encara curioso a Grace. A humana continua: 

— Ela não tem culpa, esta não é aquela mesma Romana. Aquela que fez toda esta loucura era um robô, era uma impostora usando a imagem dela. Eu sei disso porque eu... Matei ela. Desculpa, atirei em suas costas.

— Quem é você? - Pergunta Rassilon.

— Outra amiga do Doutor.

— Típico. Mas, se isto realmente for verdade... Quem seria o responsável? Não pode ser de origem Sontaran. O que você tem a dizer, Romana?

— Não sei de muito sobre o que aconteceu, as minhas memórias estão confusas. Minha cabeça dói. Não sei de muito a explicar, se eu descansar um pouco... Talvez consiga ajuda-los a entender isso.

Rassilon suspira impaciente. Grace, vai até um filtro de água próximo a mesa, e enche um copo, servindo ele a Romana:

— Beba tudo. Você está bem? Também odeio enxaquecas. As mulheres daqui tem enxaquecas?!

Romana, sorri franzindo a testa dolorida:

— Com certeza temos, nem imagine. Eu e a androide trocávamos informações constantemente, muitas involuntárias, mas me lembro de você, doutora Grace Holloway.

— Eu mesma, mas já o seu nome... Nem me atrevo a tentar falar.

— Nem eu. - As duas sorriem juntas.

Rassilon, liga os controles virtuais da mesa. Analisava e operava mecanismos em sistemas holográficos, observando aos dados de todo o caos gerado pelos confrontos:

— Existe algo chamado limite, e dizem que nada pode ultrapassa-lo. Mas, que mentira. A minha raiva já está a quilômetros do que se pode chamar de limite. Exijo falar com o líder superior destes Sontarans!

— Sim, senhor, irei providenciar agora mesmo. - Responde Tridaro.

Imediatamente, a aquele momento, a voz de Strov ecoava pelo lado de fora da sala, e logo, a porta se abre violentamente, sendo empurrada por ele mesmo e muitos das suas tropas. Os reforços de Rassilon, formam posição de defesa.

— Já estou aqui, não será mais necessário perder tempo me chamando. Nós somos diferentes de vocês, temos honra. - avisa Strov. — Por que mesmo precisa de mim, garoto?

O comandante Sontariano e o presidente de Gallifrey, encaram-se impacientes. Dos seus olhos, ódio era lançado frente à frente, como o fogo cruzado que ocorria porta afora.

***

Em quanto isso na Gallifrey paralela, o Ladrão e o Doutor, continuavam a escutar os infelizes sons gerados pela guerra. O Doutor, já se mostrava cansado daquilo, enquanto o Ladrão, sorria cheio de prazer, fitando o disperso expresso na face do Doutor. De repente, uma nova mensagem é recebida na mesa presidencial, e prossegue o Ladrão até lá.

— Olhe só, a minha caixa de mensagens está bombando hoje. O que será desta vez? Me lembra a minha juventude de 250.

Clicando no ícone virtual flutuante da mensagem, uma série de textos é mostrada, e logo, o Ladrão entende do que aquilo se trata:

— Ohu... Como eu queria poder xingar bem alto agora. Mas, estou com visitas formais, odeio formalidades. O meu androide me enviou isso, chegou atrasado porque está danificado, e se desativou. Algo o-danificou, e a sua conexão neural foi corrompida. Não posso reativa-la daqui.

— Então Romana está livre?! - O Doutor transbordava felicidade.

— Odeio gente esperta, já disse isso? Mas... Eu também sou esperto! A sala presidencial. Se a autoridade suprema foi tirada... Outra tem que ser convocada ao mesmo posto.

O Ladrão, volta para o aparelho das escutas, e começa a opera-lo de todas as maneiras. Tentava por suas antenas e botões, em busca de uma sintonia com a sala presidencial da nossa Gallifrey.

— Já sei o que quer. - Comenta o Doutor. — Quer ouvir a Rassilon. A quanto tempo não fala com o seu irmão?

O Ladrão, para um por instante em silêncio, mas, continuando, consegue a sintonia do áudio do local desejado. Vozes são escutadas, tensão e empolgação são sentidos na mesa, e o Ladrão, erguia boquiaberto as suas sobrancelhas, e um enorme sorriso dominava a sua face, enquanto o Doutor, apenas continuava sério.

— Esta voz, Doutor... É daquele careca irritadinho, Rassilon. - O Ladrão gargalha.

— Realmente, acho que você ama muito ele.

O Ladrão dá a língua.

Pela discussão, as vozes enaltecidas de Strov e Rassilon eram ecoadas pelo ambiente.

— Primeiramente, eu lhe informo que já avisei isto mais de mil vezes, vocês tentaram nos afetar, depois negaram, e em seguida afirmaram tudo que eu já havia dito. Nós temos o direito de defesa. - Comenta Strov.

— Isto foi tudo um engano, Romana estava fora de si. Mesmo me representando, ela não tinha poder para declarar uma guerra. Você deveria saber disso, ou será que vocês apenas almejavam sangue, por seu orgulho bobo? - Questiona Rassilon.

— Não almejamos sangue de forma grátis, o nosso império é maior do que isso. Todo o que fiz foi um ato de defesa em resposta. E o que eu quero agora é desafia-lo para um duelo, e encerrar os nossos conflitos.

Rassilon, suspira impaciente, e Strov espera a resposta. O presidente responde:

— Saiba que não estou interessado em nenhuma tolice deste tipo. Não irei começar mais brigas, e você nem possui direito para me desafiar. Ter aceitado esta guerra só o-deixa ainda mais sem autoridade aqui.

Strov, franze a testa irritado, e todos os seus soldados, chocam-se com a desfeita de Rassilon.

— Que covarde! Ele sempre foi assim, nunca teve a coragem que eu tenho. - Debocha o Ladrão, porém, tudo o que o Doutor e ele dizem, não poder ser escutado pelos indivíduos presentes na outra sala.

— “EU” sem autoridade?! - Murmura Strov. — Ter negado este duelo só me fez reforçar o que eu já imaginava ao seu respeito, Rassilon, o Senhor do Tempo cheio de egoísmo e pompa por seu posto. Você quer impor a sua soberania por cima da minha?! Não aceitou a minha alternativa, e não iremos retroceder!

— Se não quiser me escutar, estas serão as últimas palavras minhas que irá ouvir... Em nome de todos os Senhores do Tempo, eu peço pacificamente que se retirem do meu planeta. - Pede Rassilon.

Strov permanece silenciosamente carregado de fúria. o gallifreyano termina:

— Pois se pelo contrário, poderei resolver isso da forma mais terrível que exista.

— Guerreiros Sontarans nascem prontos para a batalha, não importa o-quanto tente nos amedrontar, vivemos e morremos pelo combate, não iremos retroceder, não somos covardes.

— Coitados. Somos milhões de vezes mais avançados que vocês, temos tantas tecnologias, tantos conhecimentos... Que poderíamos erguer impérios ou derrubar deuses. Possuo mil maneiras de destruí-los, mas, não quero isso. Tudo depende de você agora. O que vai ser?

— Você já sabe qual é a minha opinião, e já estou cansado de repeti-la. Então imagine o que eu lhe diria agora. É isso que vai ser.

— É, você não me deixa escolha. Tridaro, traga-me a lista das mil armas mais mortíferas do cofre do tempo.

— Não! Parem com isso! - Interrompe Romana, todos olham surpresos para ela. – Parem com esta bobagem, acham que expor poder é algo bonito? Você Strov, se orgulha em morrer... E você Rassilon, não se importa em matar. Acho que dariam um ótimo par. É assim que querem acabar?!

— Cale-se, garoto ruivo. - Rebate Strov. — Você é a última pessoa aqui que poderia reclamar de alguma coisa, foi você mesmo quem iniciou os nossos conflitos, e admitiu ser a responsável pelos nossos problemas! 

— Se para você eu fiz isso, saiba que eu nem ao menos me lembro dessa parte.

Strov entende errado. Romana explica-se:

— Não, eu não estou zombando. Fui manipulada, fui usada como um fantoche, aquela que reuniu-se com você não era eu, era um androide. Mas aquela máquina lhe causou um mal usando a minha imagem, então, eu me responsabilizarei por ela.

— Não acho que isso adiantaria mais alguma coisa.

— Adiantará, eu aceitarei o seu duelo no lugar de Rassilon, eu terminarei o que o meu fantoche começou.

Strov, se mostrava pensativo, parecia estar em conflito com os seus próprios pensamentos. A Senhora do Tempo insiste: 

— O que vai ser? É a minha vez de perguntar.

— Se estiver mesmo falando a verdade, eu aceito enfrenta-la.

— Obrigada. Mas devo avisa-lo de que não poderemos duelar agora.

— E por que não?! Está brincando comigo?!

— Não, senhor. Sei o-quanto cada um aqui merece o seu devido respeito, mas realmente não poderemos batalhar agora. Além de eu estar totalmente fragilizada, terei que usar as minhas últimas forças para ajudar um amigo. Sendo assim, o senhor irá embora, e em qualquer outro dia que marcar, estarei disponível.

Strov suspira relutante. Romana termina:

— Agora, se não aceitar isso... Então romperei o nosso acordo, e deixarei Rassilon fazer com vocês tudo de mais terrível que ele desejar. O senhor aceita?

— Você nunca foi nenhuma guerreira. - Diz Rassilon.

— Sim, mas pelo menos ninguém mais aqui além de mim irá se machucar.

Strov, permanecia calado, Sontarans são orgulhosos, não é nada fácil tentar faze-los pensarem diferente. Mas, vendo a bravura que aquela mulher havia tomado, tudo se torna mais fácil de aceitar ou enfrentar, e aquilo, poderia ser visto pelo comandante até mesmo como um espelho.

— Garoto ruivo, você seria um bom soldado. Aceito os seus termos, marcarei uma data para o nosso enfrentamento. Mas, espero que você esteja preparada.

— Estarei.

— Aguardarei ansioso por nosso duelo. Vejo que a sua bravura e sabedoria lhe distinguem muito de outros indivíduos aqui.

Rassilon permanece em sua pose confiante, frente a face de desprezo de Strov. E trazendo Strov a um de seus braços até próximo de sua boca, falava ele:

— Aqui é o comandante Strov. Nave mestra, informo... Cessar fogo, encerrem a batalha. Avise aos soldados, que voltem para as naves, estamos indo embora. Repito, estamos indo embora.

Depois de bater continências para Romana, Strov e os seus soldados, são todos tele-transportados da sala, e na cidadela, agem da mesma forma os outros. Com isso, os combatentes Gallifreyanos sorriam surpresos, e as famílias abraçavam-se felizes.

— Você foi fantástica! - Comemora Grace. — Achei que prolongaríamos este caos. Vou por você na minha lista de heroínas junto com Eleanor Roosevelt! Mas ter pego a responsabilidade de um duelo.... 

— Era a única forma de encerrar o derramamento de sangue, não há outra escolha. - Responde Romana. — Mas eu não me arrependo, aprendi com o Doutor que às vezes mesmo que perigosas todas as alternativas, não devemos ter medo, pois talvez não hajam outras. Eu apenas fiz o que era necessário. Em alguns momentos devemos nos arriscar ainda mais.

— Acho que isso ainda não aconteceu comigo.

— Então esteja pronta, um dia isso sempre chega para nós.

Ouvindo estes avisos, Grace olhava distante.  E de cima do domo da Cidadela, os Sontarans retiravam-se subindo velozes com as suas partidas em velocidade próxima a da luz. 

***

Da na nave mestra, em progresso de sua partida, encarava Strov as estrelas, e ao seu reflexo no frio vidro da grande janela da frente da nave.

— Saímos da luta... Nunca vi nenhum registro deste tipo nas batalhas do nosso império. Mas, me diga, conseguimos sair com algo de útil? - Pergunta Strov a um capitão.

— Sim senhor, conseguimos algo muito útil.

— Da última vez que me disseram isso me trouxeram uma toupeira cega e um veículo movido a estrume.

— Bem... Mas e se nós tivermos conseguido um veículo também, senhor? Um veículo do tempo...

— Um manipulador de vórtex?! Patético.

— Um manipulador de vórtex maior por dentro...

Strov, vira-se feliz, esta informação, o-fez esquecer de qualquer batalha mal sucedida.

— Capitão... Seja bem vindo ao mais novo cargo de sub-comandante. Era uma máquina destas à nosso favor que estava faltando, para o trunfo final do nosso império. Agora sim, toda a nossa glória se estenderá por todo o tempo e espaço. - Uma grande risada é tomada de Strov.

***

Ainda na mesa da Gallifrey paralela, o Ladrão sorria bastante contente, e esfregava as mãos cheio de ansiedade. Estava ele, empolgado pelo espetáculo que havia sido escutar Rassilon discutir. O Doutor, continuava sério a encara-lo.

— Adoraria falar com o Rassi agora. - Admite o Ladrão, manuseando o aparelho das escutas. – Queria que ele pudesse ouvir a minha voz. Ele se sentiria tão humilhado quando soubesse que tudo foi obra minha.

— Talvez exista uma maneira. - Avisa o Doutor.

— Do que está falando? Você quer dizer que talvez possa existir alguma forma ou você sabe alguma forma? 

— A minha chave de fenda sônica. Você pode usa-la como um componente complementar ao seu aparelho, servindo como um transmissor para as nossas vozes. Grace está na sala, ouvi a voz dela, e ela está com a chave sônica.

— Ridículo! Usaremos ela como um microfone?! Além disso, eu precisaria de seu código de rastreio e frequência, isto, se ela tiver algum. Quais são?

— Código, 040802. Frequência, WW8F0, e qualquer outra na verdade.

— Você tem estilo.

— Obrigado.

Com estas informações, o Ladrão imediatamente começa a operar ao seu aparelho. Com ele, mexendo em botões, pondo novos cabos, e endireitando as antenas, logo, um grande zumbido agudo é escutado. Isso havia sido as frequências alinhando-se.

***

Na sala presidencial da nossa Gallifrey, Grace e os outros, continuavam na presença do presidente, que operava ele aos sistemas da mesa. Romana, continuava recostada à mesa, com Grace fazendo-lhe companhia, e Tridaro, posando em espera por ordens. Curiosa com os acontecidos, vai Grace até Tridaro intrigada:

— Você me fala uma coisa?

— Sim, somos da mesma gangue agora. O que quer saber?

— A história do relógio do tempo final. Achei que realmente aconteceria, mas os Sontarans já foram embora.

— Você entendeu errado. Essa história não é sobre invasões de guerreiros sanguinários, não é nada disso. É sobre um rei orgulhoso e o seu reino precioso, e um deus malvado, cheio de ganancia e inveja.

— E... Vai ter final feliz? Parece um conto de fadas para adolescentes!

— O deus malvado cobiçava todo o mundo, cobiçava tudo o que o rei orgulhoso tinha. E o rei orgulhoso era orgulhoso justamente pelo que possuía. Então, vendo todas aqueles bens, o deus malvado quis tudo que fosse do rei.

— E roubou?

— Não, ele não queria simplesmente tomar. Ele queria humilhar o rei, era um rei que possuía muito mais orgulho que o próprio deus. E o deus malvado então deu uma escolha ao rei, de que, desse a ele de boa vontade tudo que tinha, pois se pelo contrário... Viria com os seus exércitos de mil demônios e acabaria com tudo o que se considerasse vivo.

— Mas o rei... O que ele escolheu?

— Ele era orgulhoso... Imagine agora o final do conto. 

— Mas se esta lenda é sobre deuses e reis... Onde estão os relógios?!

— Boa pergunta, ninguém sabe. - Responde embasbacado.

Em quanto Grace continuava ali de braços cruzados próxima a Tridaro, um constante e agudo bip duplo é escutado, e todos na sala encaram aos seus arredores.

— Mas que diabos é isso?! Desliguem esta porcaria. - Murmura Rassilon.

— Parece que vem do meu casaco! - Nota Grace. – Não pode ser o meu telefone, ficou na TARDIS.

Grace, percebe que os bips incômodos estão vindo da chave de fenda sônica, e retira-a de seus bolsos.

— O que eu faço agora?! - Pergunta ela, com o objeto em mãos.

— Aperte o botão. - Ordena Rassilon.

— “Apertar o botão” é este o slogan que usamos na Terra para vender produtos milagrosos. - Mas, fez o que lhe foi pedido.

Após apertar o botão, os bips cessam, e um último som agudo é encoberto por um constante e leve som estático de TV.

— Grace... Você está me escutando? - Todos ficam surpresos. – Aqui é o capitão da nave TARDIS, codinome... O Doutor.

— Doutor?! Sim, eu estou te escutando. Está tudo bem? Fico feliz que esteja vivo. Conheci um jovem que te adora e quase tive a cara explodida.

— Doutor eu estou livre, Grace derrotou a androide e eu consegui convencer os Sontarans a irem embora! -Avisa Romana

— Genial! Vocês duas fizeram um ótimo trabalho. Mas, ainda não posso pagar salários.

— Parem com esta estupidez! Não tive todo aquele trabalho para acabar escutando conversas de pessoas do bem! - Reclama irritado o Ladrão, e os outros, estranham a voz desconhecida.

— Grace, você não precisa estar com a chave sônica perto da cara como um microfone, pode por ela em cima da mesa? - Sugestiona o Doutor.

— Não estou com ela perto da cara! - Ela afasta da face.

Após Grace por a chave de fenda sônica em cima da mesa de Rassilon, o Doutor continua:

— Rassilon... ?

— Sim, Doutor. - Responde ele.

— Existe alguém aqui comigo que quer falar com você.

O Ladrão sorri provocante para o Doutor, que desvia os seus olhos carregados de curiosidade. Rassilon murmura:

— Alguém que quer falar comigo? Não quero falar com ninguém. Estou ocupado, diferente de você eu trabalho.

A debochada risada do Ladrão, rouba a atenção de todos, que continuavam sem entender quem era o individuo presente com o Doutor:

— Sabe o porquê em todas as suas regenerações você sempre teve problemas de calvasse, Rassilon?

E Rassilon, se mostra curioso ao ouvir a voz. A voz prossegue:

— É por causa do seu estresse. Por que você sempre tem que estar mal-humorado?

Rassilon, parece reconhecer a voz, os seus olhos revelam a sua surpresa, mas, a sua postura continuava totalmente calma.

— Zelador... - Diz Rassilon, aproximando-se da chave sônica.

— Não! Claro que não. - Negou a voz. — Já se esqueceu? Não há nada mais de Zelador aqui, sempre odiei esse nome. Sou o Ladrão há muito tempo.

— “Ladrão” não passa de um apelido fugas. Um auto apelido devido aos seus crimes. Sempre continuará sendo o Zelador.

— Tudo bem, Rassi.

Rassilon franze a face. O Ladrão pergunta:

— Como está sendo o seu dia, irmão?

— Fazer uma pergunta como essa, depois de tantos anos de desaparecido... Por acaso é você o responsável por este inferno que tomou a Cidadela?!

— Por que você sempre põe as culpas das suas desgraças em mim?! Eu nem fui bem sucedido! por que está irritado?!

Ódio, se pendurava nos olhos Rassilon:

— Sentimentos não podem ser medidos, mas se pudessem, o ódio que sinto agora está tão massivo que jamais poderia.

O Ladrão, ri provocando:

— É claro que poderia! Era só criar alguma forma de medição, utilizando algum símbolo de comparação visual e comportamental, para conversão em números.

— Pare de me provocar!

— E por que eu não posso te provocar?

Rassilon, permanece calado. O irmão prossegue:

— Você me provocava bastante quando éramos crianças, por que eu também não posso fazer isso?

— Não existe comparação entre as atitudes de dois velhos adultos e de duas crianças.

— Existe. Ainda mais... Se um destes adultos continuar o mesmo individuo ingrato, orgulhoso e egoísta que sempre foi.

— Se refere a mim? Vejo que o seu ódio também continua o mesmo. É por isso que voltou? O que quer agora, vingança, poder?

O Ladrão, permanece calado por alguns segundos, e com uma voz carregada de peso por suas lembranças, responde:

— Para entender isto, terá que se lembrar do passado.

Rassilon, se afasta da chave sônica. O Ladrão continua:

— Era uma tarde quente de inverno, estávamos nos gramados vermelhos dos campos de nossos pais. Eu deveria ter oito anos e você quinze, talvez.

— Não me lembro tanto de minha infância o-quanto eu gostaria.

— Mas eu tenho certeza que deste momento você se lembra. - Em um silêncio relutante, Rassilon engole seco. O irmão prossegue. – Brincávamos de duelos de espadas de madeira. E eu tinha certeza de que você estava trapaceando, vivia me enganando, eu era o mais novo... Era fácil. Eu sempre saía cheio de hematomas com aquelas pancadas.

— Não me diga que é por isso?! E se for, saiba que era você quem não conhecia os modos da brincadeira.

— Tenha paciência, você irá entender! Continuando, depois de uma dessas brincadeiras, eu estava caído e machucado no chão, chorava e admirava você ao mesmo tempo. Você então se exibia vitorioso, sorria cheio de provocações e apoiava a sua espada num ombro, enquanto olhava para mim cheio de orgulho próprio.

— Isso ainda não é nenhuma resposta para mim.

— Cale-se! Voltando ao assunto, eu já estava cansado de tanto perder, me levantei e jurei a você que um dia eu o-derrotaria, que um dia você estaria caído diante os meus pés. Você se lembra dessa parte?

— Não tenho certeza.

— Você tem sim, eu sei que tem! Depois que eu te jurei aquilo, você respondeu que apenas cairia diante de mim quando eu pudesse realmente provar isso. Então você saiu zombando, mas antes disso... Disse; “volte mais forte do que eu, prove um dia que chegará ainda mais longe do que eu irei chegar”. E aqui, estou eu, isso, foi uma jura para mim. Irei provar que sou muito mais poderoso, irei derruba-lo. Mas não pense que a causa principal foi aquela briguinha. Eu faço isso por todo o desprezo que você sempre teve comigo.

— Estrelas, galáxias, civilizações inteiras, viraram pó desde este tempo ao qual você recorda. Querer trazer isso à tona só mostra o-quanto você continua fora de si.

— E você continua o mesmo irritadinho exibido.

— Com licença, posso interromper? - Pergunta o Doutor.

— Claro que pode, eu já disse... Você é de casa! - Diz o Ladrão.

O Doutor, então questiona a ele:

— A fenda é uma parte fundamental do seu plano, mas ela não pode ter sido feita por você, já que para chegar aqui você teve que passar por ela. Como ela já existia?

— Parabéns, bem observado. Sim, não fui eu quem a criou, foram os nativos. Um caminho para fugir da Guerra do Tempo, mas nem chegaram a usar, coitados.

— Guerra do Tempo?! - Pergunta Rassilon surpreso.

— Sim, Guerra do Tempo! Não se faça de desentendido, Rassi.

— E o seu objetivo? Quer atravessar com os Daleks pela fenda e destruir o seu irmão? - Pergunta o Doutor.

— Errado, muito errado. Eu poderia mesmo fazer isso se quisesse, você sabe. Mas não é isso que quero. - Todos se mostram curiosos. – O meu objetivo, não é destruir Rassilon, é humilhar Rassilon. Isso, seria a prova definitiva que ele me pediu, e de que eu fui sim muito mais longe!

— Você nunca obterá sucesso! - Afira Rassilon irritado.

— Indo direto ao ponto, o meu plano é o seguinte... Ou você, senhor presidente, me entrega Gallifrey... Ou, eu a tomarei à força, com os meus milhões de Daleks insanos.

Rassilon, franze completamente a sua face, ódio, impaciência, e ira, destacavam a sua expressão. Todos os outros se mostravam apreensivos, e o Ladrão, ria desenfreado, Grace e Romana, olhavam-se amedrontadas.

— Ladrão... - Entra Grace na conversa. – Você guarda todo este ódio, toda esta magoa por tanto tempo. Mas e se... Rassilon lhe pedisse perdão, você abriria mão de sua vingança?

— Sim... - Entra Romana. – Foi por isto que induzi o androide a chamar o Doutor, você precisa abrir mão disso. E não só você, Rassilon também precisa.

O Ladrão ri soluçante. Rassilon responde entediado aos comentários:

— Doutor, vejo que as suas ajudantes estão cada vez mais estupidas. Prefiro ver Gallifrey ser invadida novamente enquanto lutamos, do que entrega-la de mãos beijadas ao Zelador! E não pedirei nenhum perdão!

— Mesmo que isso seja difícil, não possuímos outras alternativas, e acho que você deveria pensar melhor. - Diz o Doutor.

— Está pedindo para que eu entregue o nosso planeta nas mão de um lunático?!

— Claro que não! Só estou dizendo que vocês poderiam dialogar de uma forma melhor até acabarem chegando a algum lugar.

— Basta, não quero mais ouvir as suas bobagens. Doutor, você aqui é o que menos pode opinar. Fugiu de seu povo, abandou a sua casa, fique quieto.

Os olhos nervosos do Doutor, esvaem-se tristes. O Ladrão zomba:

— Nossa! Somos muito parecidos, adorei a sua dureza. Por pouco não somos irmãos gêmeos. 

— Na verdade não somos mais irmãos, de forma nenhuma. Nós já nos regeneramos tantas vezes, que o sangue que corre em suas veias não é mais o mesmo que percorre as minhas. - Nega Rassilon. 

O Ladrão, desfaz o seu véu de deboche, as palavras que o seu irmão lançara, haviam sido como perdas em suas costas, ou um punhal rompendo a última artéria do seu coração. Comenta ele, cabisbaixo, encarando o Doutor:

— Viu, Doutor? É por isso que sou o Ladrão, é por isso que deixei de ser o Zelador. Estava cansado de fazer de tudo pelo bem daqueles que não se importavam comigo, seguia tantas regras. Roubar, era a minha vingança, era o que me fazia me sentir melhor.

— Não precisa mais ser assim. - Corresponde o Doutor. — Eu já disse, continuar tocando nos calos dos seus corações só fará mal a você mesmo. Mude.

— Não. Mas se eu fizesse, seria apenas se Rassilon mudasse primeiro.

— Ainda estamos ouvindo. E não mudarei nada! - Avisa Rassilon.

— Ótimo! também não quero saber de mudanças! E não existem mais outras alternativas, virei com os Daleks.

— E se fizer isso... É porque é um tolo. Se estiver mesmo mancomunado com os Daleks, com certeza eles estão apenas lhe usando. - Avisa Rassilon.

Sons agudos de batidas constantes em madeiras são ouvidos. O Ladrão, estapeava a sua mesa, gargalhando das alegações do irmão:

— A verdade é que qualquer um usa qualquer um o tempo todo, e temos interesses parecidos. Mas, ainda assim, eu sou o chefe aqui. E dos meus subordinados posso assegurar esta confiança.

— Como você poderia assegurar isso? Os Daleks podem muito bem extermina-lo. Qual o seu artificio? - Questiona o Doutor.

— Ora, não tenho artifícios! Tudo que tenho é Davros ao meu lado!

— Davros?! Isto é algo totalmente inconcebível de se acreditar! - Afirma Rassilon.

— Ok. Vocês querem conversar com ele? O meu sócio é muito prestativo.

— Continuarei sem fé em suas palavras. Você sempre foi um mentiroso, sempre com alguma mentira mais estapafúrdia que a outra.

— Herança genética.

— Parem de tagarelar. Prove o que disse, mostre-nos o seu braço esquerdo. - Ordena o Doutor em autoridade.

— Tudo bem... Farei isso.

O Ladrão, traz até a mesa um velho e largo monitor, que estava jogado num canto da sala, e conecta a ele, vários cabos e opera alguns de seus mecanismos. Imagens embaralhadas em preto e branco, são processadas pelo aparelho, isto, ainda nada significava ao Doutor.

— Olha só que imagem linda! É isto que chamamos de alta definição em Fulltrash. Já estamos conectados, tudo que precisa agora é esperar o final do processamento.

O processamento, logo conclui-se, revelando aos poucos para o Doutor a enrugada face do pai dos Daleks.

— Chamou, meu mestre? - Pergunta Davros ao Ladrão, e todos os que o-conhecem chocam-se com a voz. – Qual seria o propósito desta conferência de vídeo? Eu estava bastante ocupado com os nossos assuntos.

O Ladrão, encara sorridente ao Doutor.

— Quem é esse Davros? - Pergunta Grace a Romana.

— Um velho e brilhante homem que tentou usar a inteligência que tinha para salvar o seu povo. Porém, foi através desta mesma inteligência que ele destruiu aqueles que queria proteger. Ele é o criador dos Daleks.

Grace, permanece sem palavras.

— Olá, Davros, meu amigo. - Cumprimenta o Ladrão. – Tive que te atrapalhar, perdão. É que...  O meu irmão e o Doutor não querem acreditar que somos do mesmo time agora, acredita? Eu sei, bobagem. 

— Não querem acreditar? O Doutor e Rassilon sempre foram teimosos. Em Skaro temos um nome parecido para os dois, mas não quero ofende-los. Eu e o Ladrão formamos uma aliança, com a minha ajuda ele conseguirá o que deseja, e o meu império crescerá ao mesmo tempo. 

— Crescerá para a lama. - Diz Rassilon em zombaria. – Não importa quantas vezes jure lealdade, se não se é leal. Isto, não passa de uma grande bobagem, e não irão me enganar.

— É tudo verdade! Por que você tem que ser tão cabeça dura? Odeio ser o seu irmão nessas horas. - Reclama o Ladrão. 

— Ladrão... Eu não sei que tipo de truque poderia ser mais este, mas para cessarem as duvidas... Quero mais uma prova. Davros? - Pede o Doutor.

— Legal. Escutou, “meu sócio”?

— Sim. O Doutor... Um peregrino fugitivo que responde e questiona as lamúrias do universo. É sempre tão poético. Que tipo de prova deseja, Doutor?

— A prova é... Ordene aos Daleks que estão atrás da porta desta sala que entrem e jurem lealdade ao Ladrão.

Todos acham estranho. Davros prossegue:

— É algo tão simples como isto que você deseja como prova? Não será nenhum problema. Eu esperava  mais contundência de sua pessoa. Mas, se é isto que deseja... - ele ordena. — Soldados em guarda exterior a sala presidencial, entrem!

— Não existem Daleks atrás da porta. Eles são proibidos de ficarem aí, quando eu recebo visitas. - Avisa o Ladrão, engolido seco.

O Doutor, sorri largo, e o Ladrão, o-observava confuso:

— O que foi agora? Estes seus surtos epifanicos sempre são sinônimo de coisas ruins.

Olhando firme para o Ladrão, diz o Doutor com uma firme foz autoritária:

— Rassilon, feche a fenda.

— Fechar a fenda?! - Interrompe o Ladrão. – Mesmo que feche, aqui também é Gallifrey, eu posso reabri-la.

— Você quer mesmo que eu a feche? - Indaga Rassilon.

— Sim, eu quero. - Confirma o Doutor. — O Ladrão poderá abri-la, mas mesmo assim isto demorará talvez pelo-menos dois dias. Podemos atrasa-lo com isso.

— Não importa! - Resmunga o Ladrão. — Abrirei o caminho novamente e passarei com as minhas hordas!

— Poderá abrir, mas eu continuarei fechando. Sabe o-quanto isto soou ridículo? - Todos olham estranho para Rassilon. – Será como uma brincadeira.

— Então vamos começar.

— Esperem, tenho uma mensagem para o meu fã. - Avisa o Doutor, e com os ombros, o Ladrão expressa desentendimento. O fã responde. – Já descobri tudo o que eu precisava, acho que esta é a hora de dizer... Tchau, tchau.

— "Tchau, tchau"?! Para aonde você está indo? Está com as pernas acorrentadas!

O Doutor levanta-se da mesa normalmente, e ajeita aos seus trajes, vendo-se pelo espelho quebrado.

— Como assim?! Como você escapou?

— Primeiramente... Você não deveria ter deixado tantos talheres sobre a mesa. Quem você acha que ensinou tudo que Houdini sabia? - O Doutor revela de suas mangas uma dupla de talheres.

— Admito a sua eficiência. Mas ainda odeio gente esperta.

No monitor por onde Davros se apresentava, uma faca é lançada, e atingindo a imagem de sua face, faíscas, são expelidas, e encerram assim, a conversa com o sócio. Enquanto o Doutor, tirava o pó das mãos:

— Desculpa, eu já estava cansado daquela cara feia.

— Pretende fugir, Doutor?

— É claro que sim!

— Daleks! Temos um novo voluntario à extermínio aqui!

Fazendo um gesto com a sua mão, em despedida do Ladrão, o Doutor corre até a porta, enquanto o Ladrão, ria em desdenho.

— Rassilon! Feche a fenda! - Berra o Doutor.

Rassilon, dirige-se para a sua mesa:

— Pode deixar. 

— Doutor! O que está acontecendo?! - Pergunta Grace nervosa.

— É algum plano? Boa sorte! - Grita Romana.

— Tchau! - Grita o Doutor por último, já saindo apressado da sala.

— Não adianta sair vivo da sala se sairá morto do prédio, Doutor. O senado inteiro está infestado de Daleks. - Adverte irritado, o Ladrão.

Manipulando os mecanismos computacionais de sua mesa, Rassilon, iniciava agora o processamento para fechar a fenda, usaria para isto, a avançada tecnologia de domínio de espaço-tempo que o seu povo possui.

— Zelador, estou trancando a sua passagem.

— Feche. Eu irei arromba-la mesmo.

— Sinceramente... Se era para você voltar, eu não queria que tivesse sido assim.

Os olhos do Zelador enchem-se de lagrimas, mas, isto, ainda assim, nada não significara, pois, o seu orgulho e ira ultrapassavam a sua capacidade de perdão. Mas, Rassilon despede-se:

— Adeus. 

— Cala a boca. - Despenca o irmão. 

Um jato de energia, é direcionado da nossa Gallifrey até a fenda, e fecha-a, interrompendo assim, temporariamente as ambições do Ladrão. Com isto, o sinal de comunicação entre os dois universo logo é cortado, restando apenas um agoniante som agudo, ecoando pelas duas salas. E como já finalizada a comunicação, Grace recolhe a chave de fenda sônica.

— O Doutor disse “tchau”. Se ele disse isto é porque está indo a algum lugar, para fazer alguma coisa. Conheço ele, sei que ele pensou em algo. - Afirma Romana confiante, à Grace.

— Tomara mesmo que tenha pensado. O Ladrão tem os Daleks ao seu lado, o que será que poderá acontecer ao Doutor? 

— Tudo. E tudo é possível. Até mesmo nós ajudarmos ele.

— Você... Tem algum plano? Estamos em um outro universo!

— Plano? Quem precisa de plano? Duas mulheres desempregadas, três corações, uma chave sônica, e um amigo em perigo. É isso que temos, e nem barreiras multe-universais poderão nos parar.

***

Pelos escuros e depredados corredores do senado paralelo, corria o Doutor desesperadamente, até, algum rumo até agora desconhecido. E de alto-falantes, espalhados por todas as partes, ouvia-se a debochada voz do Ladrão, tentando provoca-lo, usando de muitas pirracentas chacotas. Além, desta perseguição oral, vários Daleks, também partiam em busca do fugitivo, clamando apenas uma coisa:

— Exterminar!

— Exterminar!

Esgueirando-se, pulando, correndo e esbarrando, o Doutor tentava desviar-se dos mortais raios Daleks, que tanto buscavam a ele. Avistado uma prateada porta em um estreito corredor repleto de escrituras, corre o Doutor até lá. Era esta, a porta do destino ao-qual ele buscava desesperado. Apresado, puxa as maçanetas da porta, e no impulso de adentrar a passagem, é interrompido. Pois, ao invés de outro cômodo, o que havia ali era nada mais do que uma bruta e imponente parede de pedras. Nervosamente chocado, deslizava o Doutor as suas mãos pela parede, afim, de encontrar talvez uma passagem secreta.

— O que está fazendo? É mimica? - Pergunta a voz do Ladrão, ecoando por alto-falante próximos à porta.

Vários Daleks, chegam até o corredor. Encaravam eles a alguns metros, as costas do Doutor, que agora, se colocava de mãos para cima e virava-se desconsolado. 

— Não me diga que correu tanto para morrer detido por uma parede. Ridículo, acho que não sou mais seu fã. - Diz um Dalek, sendo dublado pelo Ladrão.

— É, eu fui detido por uma parede. Sem armas, sem aliados, sem super poderes, ou... Recompensas. Este sou eu. Sou o Doutor, mas além disso, sou um doutor. Acredito que fui chamado para te ajudar, mas para isso... Só depende de você agora.

Em alguns longos e tensos segundos sem respostas, encarando apenas os frios olhos dos Daleks, ouvia agora o Doutor as palavras do seu paciente:

— Eu não quero ajuda. Eu não preciso de sua ajuda, para nada. Mas se precisasse... Não seria de um Doutor sem um diploma de verdade. Eu estou bem, Doutor, este sou eu! É o que eu me tornei, e já é tarde demais para mudar.

Os Daleks, apontam as suas armas. O Doutor, apenas fica calado, e com olhos sérios, se mostrava pronto para o melhor ou para o pior.

— Exterminar! - Clamam ferozes, todos os Daleks ao mesmo tempo.

Tendo-se como alvo, e sendo mirado por muitos disparos, fecha o Doutor aos seus olhos, instintivamente. Talvez, esta seja a hora de acabar a sua jornada. Porém, como um milagre, uma azul e velha caixa materializava-se sobre o ele. Os raios Dalek são repelidos pelo campo de forças da nave, e estava a salvo o Senhor do Tempo. Que sorrindo surpreso, admirava os seus arredores.

— De onde veio isso?! É trapaça! - Murmura o Ladrão, vendo a imagem do Doutor sumindo-se aos poucos por trás da madeira azul.

— O que você dizia antes? Acho que sou eu quem não o-quer mais no meu fã-clube agora.

A imagem do Doutor é finalmente coberta, e imediatamente, no mesmo instante, a nave carregadora de esperança vai embora, com o seu passageiro. Enquanto os Daleks, continuavam os seus tolos disparos. O Ladrão, murmurava a derrota:

— Mas que... Droga!

— Afirmativo! - Responde um Dalek.

— Você falou sério?

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Então... O que vocês acharam do capítulo? Legal, cansativo ou legal e ao mesmo tempo cansativo? Espero que tenham compreendido o tamanho do capítulo, para mim não dava para dividi-lo ou diminui-lo. Quando li ele depois de pronto, tive a impressão que ele é legal, mas você sente em um certo ponto que ele já deveria ter acabado.
Sobre alguns acontecimentos: O Rustch não irá mais voltar. Simplesmente dei este spoiler. Eliminei ele da história porque agora neste novo ponto que a Fic chegou, a Grace e a Romana é quem estariam em segundo destaque fora do Doutor. Então o Rustch ficaria muito no canto, pois agora a nossa Romana está livre, e ele já contribuiu no que estava destinado. (dei um tiro nele e ele era uma homenagem!) kkkkkkkkkk talvez ele volte em alguma possível Fic futura, não sei muito bem, pois não sei se vocês gostaram dele.
Aquele objeto misterioso que o Doutor-manco deu ao Doutor no primeiro capítulo, era o tal cofre verbal portátil, que foi mostrado apenas agora. Achei que seria uma forma inesperada e interessante de resolver sem mais conflitos cansativos e complicados o caso com os Sontarans. Acho que se estendesse muito este conflito faria a história perder-se um pouco do foco, já que eu não escrevo essa história por capricho de ações violentas, e sim por relacionamentos. E para concluir ainda mais esse caso, pus Romana se responsabilizando pelas consequências, e não irei por o duelo dela contra o Strov na história, porque algo como isto não acrescentaria nada de interessante, já que o caso já está 99% resolvido.
Aquilo que o Doutor falou, de “o endereço de onde mora a felicidade”, é uma referencia que fiz a um filme chamado, “Onde Está a Felicidade”, mas também existe um livro chamado “ Onde Mora a Felicidade”.
Os três nomes que a Grace citou também são personagens de um filme. O Brother, Where Art Thou? É o nome desse filme, a sua sinopse é (Ulysses Everett McGill está tendo dificuldade para se ajustar a sua pena de trabalhos forçados no Mississippi. Ele consegue fugir da cadeia junto com Delmar e o desajustado Pete. O trio prepara-se, então, para ir atrás de uma fortuna em tesouros enterrados. Sem nada a perder e ainda com as algemas, eles vivem uma incrível aventura) se passa nos anos 30, mas é uma produção dos anos 2000, então é algo bem contemporâneo para a Grace. A Eleanor Roosevelt que a Grace citou foi primeira-dama dos Estados Unidos de 1933 a 1945. Apoiou a política do New Deal, criada por seu marido e primo de quinto grau, o presidente Franklin Delano Roosevelt, e tornou-se grande defensora dos direitos humanos. Como o gatilho que a Grace puxou, a Wikipédia facilita e resume bastante a nossa vida kkkkkkkkkkk.
Uma correção, eu desde o capítulo passado venho chamando a Romana impostora de "androide" e isto está incorreto, androide é apenas aquele rôbo que é feito para pareçer uma pessoa em termos de homem. Eu então deveria ter chamado a Romana de " ginoide" pois esta é a expressão certa para androides femininos, mulheres. não corrigi isto neste capítulo porque no anterior já tinha feito errado.
E aí, o que achou do capítulo? Se tiver alguma duvida conte para mim também. Até mais, e muito obrigado.
Assim como este capítulo, o proximo com certeza também demorará para ser feito e postado, você tem alguma sugestão para que talvez eu possa usa-la nos proximos? e como será que a TARDIS veio roubar a sena?