Venha Comigo. volume 1: Uma Sombra de Gallifrey escrita por Cassiano Souza


Capítulo 1
Indo para perto


Notas iniciais do capítulo

Em um momento desse capítulo, vocês vão achar que eu estou excluindo a Doutora, a Jodie. Mas na verdade não, a explicação para isso estará no segundo capítulo, então peço compreensão. Neste capítulo será apresentado algo chamado ponto em colapso, vai parecer bem sem noção, mas a história não será sobre isso. Isso ainda terá o seu significado e uso dentro da história, então peço que não desistam de ler nesta parte. Obrigado espero que gostem, o capítulo está cheio de surpresas e loucuras malucas, kkkk. No começo deste capítulo, parece bem infantil, mas isso é só no começo mesmo, depois fica tenso.



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Em um ponto muito distante e escuro do universo, longe das galáxias e imerso no espaço profundo, cercado por nebulosas e rajadas de asteroides, residia uma base de testes bélicos Sontaran. Naquela área, terríveis tempestades de plasma, estrelas entrando em decadência e enormes interferências nos campos magnéticos dos corpos celestes das proximidades estão acontecendo. Planetas quebrando-se como ovos, super ondas gravitacionais e interferências nos equipamentos eletrônicos daquela base intrigam os Sontarans. Porque não sabem os terríveis motivos que geram essas incômodas assolações. Pois isso pode ser muito prejudicial, afinal aquela é a base de armas deles, e conhecemos o quão importante é isso para seres que vivem para a guerra.

Dentro do pavilhão de clonagem desta base, e em uma das principais salas de comando e monitoramento, quatro guerreiros estão operando os radares e interferômetros, a fim de descobrirem o que está acontecendo. Essas interferências misteriosas estão impedindo as armas, e até mesmo o campo de força da base de funcionarem, se tornando assim, um alvo fácil para os seus possíveis inimigos. Suspeitando que isso possa ser um ataque, um dos guerreiros questiona a um outro que está ao seu lado:

— Ainda não encontrei nada no meu escâner, e você?

— Nada, mas possivelmente um verme covarde que gosta de se esconder. Eu caçava alguns como estes nos pântanos de Dagobah.

— Os lasers de multi alvos estão inoperantes e o escudo como uma bexiga.

— Ainda bem que o comandante Strov não está aqui para ver isso.

Quando então, o comandante Strov, comandante principal daquela base, entra na sala. Irritado, com uma expressão em seu rosto de pura fúria e de paciência muito precária. Dizendo furioso aos guerreiros:

— Ouvi tudo atrás da porta! Novatos... Ainda não conseguiram nada?! Serão derretidos no mais terrível ácido e dados como sopa aos cachorros.

Os guerreiros,  tremulam as mãos operando os radares. E com uma face de medo e vozes bastante envergonhadas, um deles responde ao comandante, que estava logo atrás dele com uma expressão bastante séria encarando suas costas:

— Não senhor. Estamos trabalhando em competência máxima, mas até os radares estão sofrendo sérias interferências. Prometo que ainda hoje esmagaremos aquele verme, pela glória do império Sontaran.

Strov suspira profundamente. E ainda olhando com um olhar bastante fixo para aquele guerreiro, diz:

— É assim que se fala, soldado. Todos vocês, mexam se. Usem o rastreamento de OENI (Objeto Espacial Não Identificado) e encontrem o inimigo. Podemos estar sob ataque! Vocês têm 10 minutos de vida para provarem a sua utilidade.

E todos os guerreiros respondem em voz alta:

— Sim, comandante!

Então em um grande monitor, Strov olha esperançosamente, enquanto uma voz eletrônica responde como resultado do rastreamento:

— Rresultado: 0%, Nenhum sinal de OENI encontrado.

Strov  se irrita novamente. E olhando para cada um naquela sala, exclama furioso:

— Vocês ultrapassaram todos os níveis da incompetência! São piores que os Slitheen. Comigo não há segundas chances, serão completamente destruídos. Virar sopa para os cachorros seria uma honra para vocês. O que eu farei agora vai ser transforma-los em poeira!

Strov pega o seu bastão. Um objeto que apenas os Sontarans de alta patente possuem. Uma ferramenta multifuncional, e que também há a serventia de matar ou atordoar, e neste caso, matar.

— Fiquem todos de joelhos, prometo que não vai doer. Mas posso estar mentindo.

Todos os guerreiros se ajoelham e clamam agoniantemente por perdão. Suas testas suam de temor, e os seus olhos totalmente fechados de medo por seus momentos finais. Strov ergue o bastão lentamente, e  com um sorriso maléfico, diz debochado:

— Adeus!

Porém, neste mesmo momento, um dos guerreiros abre apavorado um dos seus olhos. Olha para o monitor, e apontando o indicador grita a Strov:

— OENI, OENI, OENI!!!

Strov suspira irritado, mas para ter certeza, se vira ao monitor. E o que ele avista junto de todos que estão ali, é nada mais nada menos do que um objeto de pequenas proporções. Parecido com uma espécie de mini cápsula de escape ou banheiro espacial, ou um tipo de caixote velho. Strov abaixa o bastão e observa curioso. Se aproxima do monitor, e calcula que aquele objeto espacial não identificado é a TARDIS. Vendo isso, toma uma pose de confiança, agora que acha que sabe com quem está lutando:

— Aquele armário de vassouras patético é a TARDIS. A máquina do tempo do Doutor. É este o nosso adversário? O lendário Senhor do Tempo intrometido.

Determinado, Strov ordena aos guerreiros que se levantem. E de braços cruzados atrás de suas costas e com um sorriso arrogante, olhava fixamente para o monitor avisava à todos:

— Temos muito trabalho a se-fazer, teremos Senhor do Tempo para o café.

 

***

 

Enquanto isso, na TARDIS.

A sala do console ardia em tom vermelho, com as luzes de emergência das velas dos castiçais em ativa. E o som dos sinos do claustro ecoavam por toda a nave. O Doutor se encontra ali também. Com uma face bem séria olhava para o monitor, enquanto com as mãos operava os controles para ligar o escâner, mas este nada o-dizia. O Doutor olha para todas aquelas luzes vermelhas piscando ferozes, e sorrindo diz:

— Parece estar nervosa hoje, tem certeza de que não quer um chá?

Quando imediatamente, no mesmo momento, Grace vem correndo com as suas roupas e cabelos todos molhados, descendo as escadas até a sala. Com uma expressão nervosa e bastante apavorada, respondendo:

— É claro que aceito, beberia qualquer coisa que me deixasse calma agora!

O  Doutor olha com uma cara meio confusa para Grace e responde com um sorriso desconcertado:

— Sem ofensas Grace, mas o chá é para a nave, a TARDIS está muito nervosa hoje. Mas tenho quase certeza de que isso não é a digestão.

Grace olha para o Doutor com uma cara espantosamente cômica e comenta:

— Então vejo que isso entre vocês já é quase como um relacionamento. Qual é a opinião dela sobre vivermos aqui? É ela quem está fazendo isso tudo com esse alarme e essas luzes? Eu estava no banheiro arrumando o meu cabelo, quando o chuveiro ficou maluco. Veja como eu estou!

Mas o Doutor nada se surpreende. Grace olha curiosa para ele, e percebe a sua seriedade e atenção operando os controles, enquanto olha atentamente para o monitor. Ela então pergunta:

— Você está sério demais, o que está havendo de errado? Um homem, uma tela... Diria que é futebol se você fosse humano.

O Doutor encara a Grace com um olhar desconfortável em negação ao que ela disse:

— Venha aqui, venha ver isto. - Chama a humana até o monitor.

— Espero que sejam boas notícias.

— Nem tanto, estas são as imagens que os escâneres  nos mostram de lá de fora. O que você acha, doutora Holloway? - Diz o Doutor cruzando os seus braços e encarando curioso as imagens.

Grace põe os seus óculos, cruza os braços e observa também. Sorridente, ela apontava os dedos para a tela:

— Aqui, é isto! Esse monte de naves e esta instalação espacial, é fantástico! Então é isso, são eles que estão provocando essa confusão toda?

Negando com a cabeça, ria o Doutor. E olhando para Grace, a pergunta:

— Realmente é só isso que você percebeu? Aqueles são apenas os Sontarans, eles são tão vítimas quanto nós. Aquilo é só a base de testes militares deles. Eles também estão sendo afetados.

— São aqueles que se parecem com batatas enormes, que vimos um dia desses naquela churrascaria vegana? - Pergunta mordendo os lábios.

— Eles mesmos, mas não é este o ponto.

— Então o que, então qual é o ponto? E este alarme que não para de tocar, qual o motivo? - Grace tampa os ouvidos.

O Doutor aponta o dedo ao monitor e questiona já sabendo do que se trata:

— O que você acha que é isto?

Grace observa com um olhar curioso e propõe:

— Bem, lembrando que não sou nenhum gênio, e em palavras humanas, eu diria que isso é uma coisa muito maluca do espaço tempo.

O Doutor sorri levemente e diz com uma voz bastante séria:

— Não, aquilo é uma coisa muito mais maluca ainda do espaço tempo.

Não compreendendo o que aquilo significa, Grace tirava os óculos, e cruzando os braços encarava o Doutor bastante apreensiva. O Doutor toca em alguns botões para ligar os interferômetros, e explica:

— Aquilo é um ponto em colapso. Eu nunca vi um desses antes, afeta tudo ao seu redor. Está causando tempestades de plasma pelo espaço, enfraquecendo os campos  magnéticos dos corpos celestes nas proximidades de bilhões de anos luzes de distância, causando decadências estelares, super ondas gravitacionais de proporções  impossíveis, e afetando todo e qualquer sistema eletrônico. Por isso a TARDIS está tão nervosa, e consequentemente os Sontarans também, afinal está bem perto do ninho deles.

Grace um tanto quanto boquiaberta, toma postura novamente endireitando os ombros, e pergunta:

— Então é por isso que estamos aqui, ajudar a base Sontaran? O que faremos?

O Doutor toca em algumas teclas do console, e no monitor, uma imagem com algumas escrituras e símbolos estranhos aparecem. Símbolos como círculos entrelaçados e cruzados entre si, números estranhos e pequenas escrituras. Olhando para Grace e apontando para o monitor explicava:

— É por isso que estamos aqui. O sinal veio daqui tecnicamente, mas está confuso. E não, isso não é dos Sontarans. É uma mensagem enviada direto para o banco de dados da TARDIS, mas não diz nela o nome de quem a mandou ou o ponto de envio, mas é de alguém amigo.

— Como você sabe que esta mensagem é de um amigo se nem tem remetente, nem endereço? Você deve ter uma espécie de super intuição!

O Doutor  toca em um botão e o monitor reproduz um Holograma dos símbolos da mensagem. Apontando o dedo, continua explicando...

— Sei que é de um amigo por causa disto. Este símbolo de dois círculos se cruzando e um traço no meio deles, este é um símbolo que os bancos de dados das TARDIS só põem em mensagens de outros Senhores e Senhoras do Tempo conhecidos.

Grace observava curiosamente sem entender muito bem, porque aqueles são símbolos Gallifreyanos afinal. Comenta ela:

— Não consigo ler nada. Já traduzimos até o nome do rei Dunoab, por que a TARDIS não traduziu isto?

— Porque é Gallifreyano e não pode ser traduzido.

— Se isto é mesmo a mensagem de um amigo, o que diz ela, o que ele quer?

— 00/2/7TP82, entendeu agora?

— E isso é uma senha, um código? Por que ele acha que você precisa?

— São coordenadas, quem me enviou isso quer que eu vá até onde elas possam me levar. Mas no histórico de bordo da TARDIS não há registros destas coordenadas antes. Este é um lugar completamente novo. - Diz o Doutor olhando entusiasmado para Grace.

— Você não está pensando em ir em um lugar totalmente desconhecido e possivelmente hostil, está? - Pergunta Grace com bastante espanto em seu rosto.

— Isso é o que nós fazemos!

— Pode ser o Mestre, pode ser uma armadilha, onde chegamos e somos explodidos! Nunca pensou nisso?!

O Doutor cruza os braços e olha serenamente com um olhar bastante profundo, respondendo a Grace:

— Sim, pode ser uma armadilha terrível, ou pode ser alguém pedindo ajuda, ou nós poderíamos ir embora e ignorar isso. Quem disse que isso é responsabilidade nossa? Mas você, Grace Holloway, o que faria a respeito? E se alguém precisar de nós?

Grace fica com um olhar de pura dúvida e medo. Com ombros caídos, ela aparentava estar bastante envergonhada, e confusa sem saber o que responder.

Após um suspiro, ela respondia:

— Tudo bem, tudo bem... Poderia ser mil armadilhas diferentes ou poderíamos ir embora sim, mas e se fossemos, quando nós fechássemos os olhos, conseguiríamos dormir com a dúvida de termos negligenciado a ajuda ou talvez o socorro de alguém?

— Nunca, eu não. - O Doutor sorria bastante esperançoso e possuía um pequeno brilho em seus olhos.

Ele logo opera algumas teclas do console, e um holograma do ponto em colapso é reproduzido a Grace.

— É naquele lugar onde o espaço está em colapso, é lá de onde os rastros da mensagem foram emitidos, consegui rastrear apenas isso.

— É lá que nós vamos entrar?! É loucura!

Os sinos do claustro, começam a tocar ainda mais intensamente. O Doutor percebe que algo está sendo mostrado no monitor. Ele percebe que são mísseis sontarans, vindo em direção a TARDIS. Dois apenas, porém de alta intensidade. Apavorado, começa a operar apressadamente os mecanismos do console, Grace o-encara sem entender.

— Isso não é um bom sinal, você está com pressa. Estou começando a pensar que é mesmo a digestão da TARDIS!

— Grace, lembra do que você falou sobre ser loucura entrar naquilo? Então eu sinto muito em te informar, mas teremos que encontrar um hospício para nós. Estamos sendo atacados por mísseis enormes, temos que seguir as coordenadas! - Disse em um tom de voz bastante empolgado, apesar das circunstâncias.

— Ou morremos aqui ou morremos lá. Por que tudo com você tem que ser tão perigoso?!

— Não conheço a Mary Poppins. - Responde bastante alegre.

O Doutor digita as coordenadas e puxa a alavanca, a TARDIS se desmaterializa, e então os mísseis acabam passando reto em direção ao espaço profundo.

Enquanto na base Sontaran, na sala de comando, Strov comentava observando por um monitor a escapatória do Doutor:

— O Doutor escapou, conseguimos fazer as armas funcionarem e ele consegue fugir, bem que me disseram que ele é escorregadio.

— Conseguimos travar o alvo. O caso está encerrado senhor? - Perguntou um dos operadores de armas.

— Nada disso, o Doutor pode ter escapado mas tem alguém que nos deve explicações. Mande uma mensagem para os nossos vizinhos. - Strov sorria debochado.

 

***

 

Então, agora com a TARDIS em plena viagem, o Doutor e Grace tentam se segurar no que podem. Com a TARDIS mais agitada do que sempre foi, desta vez parece estar mais violenta. Fagulhas são espirradas e os alarmes tocam como nunca antes, o Doutor tenta sem hesitação conter essa turbulência, operando os mecanismos de todas as maneiras possíveis.

— Já sei onde aquelas coordenadas vão nos levar. Para a morte! - Grita Grace.

— Não seja tão otimista, poderia ser pior. - Diz o Doutor gargalhando.

O Doutor percebe no marcador de materialização, que a TARDIS está prestes a se materializar em algum lugar, mas não será uma boa chegada.

— Segure-se Grace. - Diz ele em voz alta.

Um forte impacto é sentido na nave, o Doutor e Grace estão caídos no chão, a fumaça cobria sufocantemente o ar da sala. O Doutor se levanta devagar, meio dolorido, e então liga o exaustor de ar, que acaba sugando toda aquela fumaça.

— Grace, você está bem? - Pergunta tocando no rosto dela.

— Sim, eu estou bem, não vai se livrar assim tão rápido de mim. Apenas bati a cabeça.  Estou sentindo um galo enorme. Por que essa viagem foi tão maluca? - Pergunta Grace pondo a mão em sua cabeça e franzindo de dor a testa.

O Doutor estende a mão e ajuda Grace a se levantar, ela agradece-o. O Doutor começa a manusear alguns dos mecanismos do console. Liga os escâneres, mas eles não parecem estarem funcionando muito bem. O monitor está fora de sinal, Grace então vai até a porta, mas O Doutor a impede alertando-a:

— Não! Pare! Não sabemos o que nos aguarda lá fora. Os escâneres não me mostram nada, pode ser perigoso.

— Então o que a gente vai fazer? Vai ficar aqui dentro e esquecer o propósito de termos vindo?

— Porque pode ser perigoso. Não pegamos o equipamento necessário para defesa. - 'O Doutor abria uma gaveta no console.

— Mas você não usa armas, é por isso que eu te amo! - Diz Grace cruzando os braços.

— Nada de armas, nunca. Chave de fenda sônica apenas. - O Doutor mostra que foi isso que ele retirou da gaveta. — Você me ama?!

— Não, ainda não perdi a minha sanidade.

— É assim que se fala!

O Doutor vai até perto da porta onde está Grace, e pegando em sua mão dizia entusiasmado, porém em um tom moderado:

— Atrás desta porta há a chance de estarem as coisas mais perigosas e traiçoeiras do universo, ou talvez não... Mas não é isso que importa. O que importa é que este é um lugar novo, não apenas para você mas também para mim. A sensação que eu sinto agora é algo que não sinto há muito, muito tempo.

— Eu tenho medo, um lado meu me diz para sair correndo, mas o outro quer muito ir ver isso logo.

— Faremos isso no 3. - O Doutor segura em uma parte da porta e Grace em outra.

— Sempre no 3.

Então, o Doutor e Grace, após a contagem, abrem ao mesmo tempo as portas da TARDIS. Com um sorriso confiante em seus rostos, o que os dois veem ao abrirem as portas, é simplesmente a cidade de Londres,  Inglaterra, só que com a diferença de estar completamente arrasada, totalmente depredada, como se uma guerra tivesse passado por ali. Prédios e torres como o Big Bang recém queimados ao horizonte, são avistados muito facilmente e emanando bastante fumaça. Porém, apenas o silêncio neste ambiente, nenhum grito, nenhum choro, nenhum disparo. Logo as faces esperançosas do Doutor e de Grace, se transformam em faces de puro horror e espanto, as pernas do Doutor ficam trêmulas, e ele se recosta nas portas da TARDIS  sem querer acreditar no que os seus olhos estão vendo. Grace está absolutamente abalada, ela começa a chorar e pergunta:

— Esta é a Terra, meu mundo?

— Me recuso a acreditar, não pode ser!

— Era isso... Era isso o tempo todo, era um pedido de ajuda?! Está tudo destruído. Milhares de pessoas vivem aqui! E onde estão elas, Doutor, estão todas mortas? Diga, não minta! 

— Isso está errado, isso está muito, muito errado. Em tudo o que sei sobre o futuro próximo da Terra não existe nada deste tipo, não nesta escala. Quem nos chamou sabia que isso iria acontecer. - Responde também bastante surpreso.

O Doutor põe um dos seus dedos indicadores na boca, e então o-retira. Através disto, ele pode saber em que período eles podem estar.

— É 2004, estamos em 2004. - Diz o Doutor olhando para Grace.

— Isso é um tempo futuro para mim, mas que futuro seria este? Eu não vou aceitar isso. Às vezes, Doutor, eu não sei se estar com você é um sonho ou um pesadelo.

— Você acha que é minha culpa?

— Não! Não é isso. Eu nunca te culparia, por nada, nunca em minha vida. O que eu quero dizer é que... Quando você convida alguém para conhecer tudo do tempo e espaço, este alguém acha que tudo será bom até o final. Mas o problema é este... Às vezes a gente acaba achando o final.

Ao ouvir isso que Grace lhe havia dito, o Doutor permanece ali imóvel por alguns segundos, carregado de um aspecto pesaroso. O local onde o Doutor e Grace estavam era um parque de frente para alguns prédios históricos, que estavam também completamente arruinados, com apenas algumas paredes em pé.

Grace anda alguns metros em direção à esquina, e o Doutor a adverte:

— Não vá longe, pode ser perigoso.

— Não vou. Eu só quero respirar um pouco. - Diz ainda andando em direção da esquina.

Grace chega na esquina, e se apoia em uma parede das ruínas de um daqueles prédios históricos. Ela olha para a frente da rua e vê um velho senhor a 11 metros de  distância vindo em sua direção. Ele aparentava ter talvez 60 anos, usava um paletó velho, bem sujo e rasgado, calças listradas em xadrez e com suspensórios, gravata borboleta, tênis Mocassim vermelho e com cabelos longos e brancos, até pouco antes dos ombros.

Ele vinha apressadamente, como se estivesse querendo chegar logo em algum lugar ou fugindo de algo. Grace acha estranho, pois ele está mancando e bastante maltrapilho com roupas bem sujas, chamuscadas e rasgadas. Ele estava olhando para baixo e franzindo a testa com uma expressão de dor. Mal havia percebido que Grace estava próxima dali. Ele olha para a frente e a vê.

O sujeito simplesmente fica parado ali, pasmo vendo Grace olhar para ele, era como se ele já a-conhecesse. Quando então, na outra esquina que ficava a 4 metros de distância atrás deste senhor, surge um Dalek exclamando o extermínio. Apenas "exterminar", é o que aquele ser proclama:

— Exterminar!

— Corra! Saia já de perto dele! - Grita Grace.

Porém, este senhor está ali parado, surpreso em vê-la, não há tempo para escapar, a sua única reação foi olhar para trás. E então, aquele Dalek dispara o seu raio mortal, e extermina aquele velho homem. Grace grita horrorizada. O Doutor a escuta, e corre até a esquina onde ela se encontra. Chegando lá, o Doutor percebe que toda esta tragédia que se tornou o mundo, foi obra Dalek.

— É uma invasão Dalek, uma invasão Dalek à Terra! - Exclama o Doutor de sobrancelhas  em pé.

— Exterminar! - Diz o Dalek apontando a sua arma, e vindo em direção ao Doutor e Grace.

— Esta coisa matou aquele homem, e vai nos matar agora?! - Pergunta Grace.

O Doutor pega a sua chave de fenda sônica, e a aponta em direção de uma velha e arruinada parede que estava perto do Dalek.

O Dalek logo analisa:

— Este aparelho é inofensivo!

— Totalmente inofensivo. - Responde o Doutor, ele ativa a chave de fenda sônica e aquela parede desmorona em cima do Dalek, soterrando-o. — Esqueci de avisar que ela interage com outros objetos, mas até o vento derrubaria  essa parede.

Depois disto, Grace corre até aquele velho senhor caído no chão. Ele estava agonizando, com a sua respiração bastante ofegante e sem forças para se levantar. Grace chega até ele, e pega o seu estetoscópio, que ela sempre leva consigo em suas viagens, guardado em um bolso do seu casaco:

— O senhor está bem? Tudo ficará bem, fique tranquilo, eu sou uma médica, e aquele homem é o Doutor.

O velho senhor não diz nada, ele apenas treme bastante e continua respirando ofegante. Grace toca o pulso dele e vê que não há mais pulso, ela põe o estetoscópio no peito do pobre homem, e percebe algo estranho, como se o seu coração estivesse parando, mas não é só isso que ela percebe:

— Doutor, este homem está morrendo!

O Doutor vai correndo até Grace, e logo comenta:

— É o que acontece, ele foi exterminado, é isso que um raio Dalek faz, eu sinto muito, mas ele vai morrer.

— Não é só isso, ele tem quatro batimentos cardíacos, ele tem dois corações, como você! - Diz assustada e entregando o estetoscópio nas mãos do Doutor.

O Doutor encara também assustado o velho homem caído, já de olhos fechados e quase morto. O Doutor põe o estetoscópio no peito do estranho homem para ter certeza, e o que o Doutor ouve é exatamente o que Grace havia lhe dito. Quatro batimentos, bastante fracos, porém, ainda batendo. O Doutor encara Grace espantado sem acreditar no que acabara de ouvir.

— Doutor, isso significa que ele também é do seu povo!

— Sim, um Senhor do Tempo. Mas está morrendo, nunca saberemos quem ele é.

Quando de repente, o velho ofegante ali caído, agarra o paletó do Doutor, e puxa-o até ele. E sussurrando algo em seu ouvido, o Doutor permanece perplexo ouvindo o velho. O homem misterioso tira algo de seu casaco, algo embrulhado em um lenço vermelho e o entrega nas mãos do Doutor.  Depois disso, o pobre condenado acaba morrendo ali, de braços estirados no chão. O Doutor guarda o embrulho misterioso em um dos bolsos de sua calça, e se levanta encarando o cadáver.

— O que ele te disse? - Pergunta Grace.

— Não confie na presidenta!

— Desculpa. Como é que é?!

— Foi o que ele disse.

— Mas aqui é a Inglaterra. Não tem presidente, deve ser um primeiro ministro. Quem é o primeiro ministro?

— Ele sou eu.

— Doutor, este não é o melhor momento para brincadeiras.

— Eu estou falando sobre o cadáver, este homem no chão, sou eu, ele  é o Doutor. - Diz o Doutor com uma expressão triste fitando a amiga.

Grace o-encara assustada arregalando os olhos, o Doutor devolve o estetoscópio e ela questiona-o:

— Então foi ele quem nos queria aqui, ele que te passou as coordenadas?

— Não tenho certeza, mas nós estamos atrasados um dia após o envio da mensagem, não voltei pois achei que não faria diferença. Acho que devíamos estar aqui para evitar esta invasão, acho que isso foi ontem.

— Se nós estamos atrasados, então podemos voltar até ontem e evitar isto, nós temos a TARDIS!

— Não, nós não podemos. - Diz com um sorriso desanimado.

— É claro que podemos, você tem uma máquina do tempo, você disse que isto não iria acontecer!

— Eu também não queria, mas isso aconteceu, é um ponto fixo no tempo, eu não percebi, mas aconteceu e não podemos fazer nada agora.

— Ponto fixo.... ? Você está desistindo? Nós viajamos por aí mudando as coisas! Tudo parece que vai ficar ruim mas você aparece e deixa tudo bem novamente. Nós  já vimos o futuro, o mundo não acaba aqui! - Braveja Grace.

— Sim, eu mudo as coisas, mas Grace, existem momentos onde não podemos interferir nos acontecimentos, e este é um deles. O que aconteceu, aconteceu, é um fato e não podemos mudar isto. Não está mais em fluxo, só podemos evitar o que ainda está longe de nós ou o que era desconhecido, mas isto aqui, já se estabeleceu. E eu sei, é muito difícil, mas é o que temos agora.

— E se eu for a última da minha espécie, e esses Daleks tiverem matado todos neste planeta, você quer que eu me conforme?!

— Você não é a última.

— Como pode saber? Como você se sentiria se soubesse que é o último dos Senhores do Tempo?! - Questiona exaltada.

O Doutor olha triste para Grace, com olhos distante, pois talvez ele saiba uma das mais tristes e possíveis verdades que ele enfrentaria em seu futuro, de que um dia poderia ser o último dos Senhores do Tempo.

— Você não é a última humana, os Daleks matam muitas pessoas, mas são conquistadores, precisam de escravos para fazerem trabalhos braçais. Existem sobreviventes. Escravos, porém vivos.

O Doutor se abaixa até o cadáver e começa a vasculhar os bolsos dele.

— Você ainda nem percebeu, sabia? - Pergunta Grace.

— Não, mas um dia eu perceberei.

— Que eu te deixei morrer de novo, fiz isso quando nos conhecemos, lembra? Acho que sou uma fracassada. - Grace senta-se na calçada.

— Não foi sua culpa, e desta vez não podemos fazer nada a respeito.

— E quando ele vai se regenerar?

— Ele não vai se regenerar.

— Mas você já me disse que o seu povo tem a capacidade de burlar a morte, você se regenera e o corpo se refaz. Você já fez isto antes!

— Existe um limite de 13 regenerações, eu sou o oitavo ele é o décimo terceiro. Ele me disse, este é o meu fim. - Responde o Doutor ainda revistando as roupas do seu defunto.

— Pode ser mentira, não quero que este seja o seu futuro. Confia nele?

— Qual seria o sentido de mentir em um momento desses? E não há mais sinais vitais.

— E por que você está revistando o seu próprio cadáver? parece um abutre! Não respeita o seu próprio corpo?!

— Estou vendo se ele ainda possui algo de útil. Ele não está com a chave de fenda sônica, talvez tenha dado ela a alguém!

— Ou talvez ele não use mais isso.

— Muito difícil, eu sem chave de fenda sônica seria o mesmo que Harry Potter sem varinha!

— Eu vi o outro Doutor te dando algo. O que era?

Quando então, os sinos do claustro começam a tocar novamente. O Doutor e Grace, escutam os sons, porém os sinos parecem estarem mais barulhentos e ferozes do que antes haviam sido.

— Os sinos do claustro novamente, vamos para a TARDIS! - Pedia o Doutor.

— Deve ser coisa boa desta vez, é impossível que este dia se torne pior.

O Doutor e Grace correm apressados em direção a TARDIS.

— E o seu corpo, não vamos enterrá-lo? - Pergunta Grace enquanto correm.

— Claro que não!

— Você conhece uma coisa chamada amor próprio?

— Mandei ele embora, atrapalhava bastante.

— E a TARDIS do outro Doutor, você vai deixá-la abandonada?

— Um Senhor do Tempo e a sua TARDIS são conectados biologicamente. Eu morri, então ela também morrerá.

O Doutor e Grace, chegam até a barulhenta TARDIS. O Doutor abria as portas e adentra a nave com a sua companheira. Lá dentro, os sinos do claustro zumbiam constantemente e a sala do console estava vermelha como uma brasa, com todos aqueles alarmes vermelhos piscando em nome de algo possivelmente terrível. 

O Doutor começa a operar os controles, dos botões e alavancas. Ele olha para um dos medidores de energia da TARDIS, e percebe que há algo de muito errado acontecendo com a sua máquina do tempo.

— Os medidores de energia estão loucos! Há uma coisa muito ruim acontecendo!

— E eu achando que o dia não tinha como ficar pior. O que é agora, uma sobrecarga?

— Seria bom se fosse isso, é totalmente ao contrário, nossa energia não está extrapolando, nós estamos perdendo, e perdendo muita energia, e rápido. Se não desmaterializarmos  agora a TARDIS irá morrer.

— Então vamos embora. Rápido! O que faria isso, há algo roubando a energia?

O Doutor se apressa em desmaterializa a TARDIS, fazendo ela voltar para o vortex, deixando-a em pleno estado de voou. Observava que o medidor estava se acertando. Os sinos e os alarmes se desligam, e o Doutor continua operando alguns mecanismos.

— Doutor, este dia de hoje foi o dia mais maluco desde que eu comecei a viajar com você, ainda não entendi metade das coisas que vimos. Acha que está tudo bem agora com a TARDIS ou precisa recarregá-la?

— Está se normalizando, eu não sei porque isto aconteceu, mas acho que os nossos problemas estão muito, muito longe de acabar, existem três pontos que me intrigam agora.

— Três é pouco para o meu caso, acho que mil seria um número razoável.

— Primeiro, por que a TARDIS não reconheceu Londres, já que eu praticamente não saio de lá? Segundo, por que eu me chamaria até aqui, se eu sei que uma das regras fundamentais do meu povo é não cruzarmos as nossas próprias linhas temporais? E terceiro, como eu não percebi uma invasão Dalek nesta escala em um tempo tão próximo?

— Acho que se quisermos respostas teremos que pensar em algo, ou ir em algum lugar investigar alguém ou alguma coisa. Ou eu estou falando bobagem? O que você acha?

De repente, uma nova turbulência na TARDIS se inicia. Grace e o Doutor se seguram no console, e a turbulência continua insistente.

O Doutor opera os controles tentando parar aquilo, mas não obtêm resultado. A TARDIS está totalmente descontrolada e furiosa, o Doutor puxa o monitor e observa algo, estava ali, aquela velha escrita que não pode ser traduzida.

— Doutor, para onde está nos levando?! - Berra Grace.

— Não sou eu, a TARDIS está fora dos meus controles, a TARDIS foi hackeada!

— Como isto pode ser possível?! Quem seria capaz disso?

— Os Senhores do Tempo, o meu povo. Estamos indo para casa.

Grace encara assustada ao Doutor, afinal ela irá conhecer os famosos Senhores do Tempo, alguns dos seres mais antigos e poderosos do universo.O Doutor sorria para ela, e a segura firme em uma de suas mãos.

A TARDIS então percorre louca até o final do vortex, até que ela chegue a algum ponto do espaço tempo onde os Senhores do Tempo escolham para materializá-la.

 

 


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Notas finais do capítulo

Por favor, não se acanhe, você já é de casa, então não tenha vergona de comentar :)
Vocês pensaram que eu exclui a Jodie a Doutora, mas não. Nada disso, eu adoro ela, a explicação para o doutor velho manco 13° , está no próximo capítulo. Sobre alguns nomes na história, Mary poppins não é uma pessoa real, ela é uma personagem de um filme de 1964. Dagobah não é um nome inventado por mim, é um nome de um planeta da franquia Star Wars. Strov, eu achava que tinha inventado esse nome, mas então pesquisei e descobri que esse nome já existia, e que tem varias coisas com esse nome. E uma delas é um personagem de um jogo de RPG, The World Of Warcraft. O segundo capítulo acho que vou postar na terça ou quarta.